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Via Elevada Presidente Costa e Silva, 24 de janeiro de 1971
imagens do acervo fotográfico do AHSP
Num domingo ensolarado, véspera do 417º aniversário de fundação de São Paulo, a Via Elevada Presidente Costa e Silva é inaugurada.
Uma seleção de registros fotográficos realizados pelos profissionais lotados no Gabinete do Prefeito sobre esse momento é apresentada nesta edição do Informativo AHSP,
procurando caracterizar o impressionante conjunto incorporado ao acervo do AHSP em 2012, por transferência do Museu da Cidade de São Paulo. Daquela cobertura
integram o acervo 30 fotografias preto e branco, sem autoria conhecida.
Documentação administrativa por excelência, essas imagens dão continuidade a uma longa tradição de produção fotográfica sobre obras e serviços realizados pela Prefeitura de São Paulo,
cuja origem remota pode ser identificada na coleção a partir da década de 1920. Sua concepção, produção e sistematização no decorrer desse período refletem ainda o
desenvolvimento, e novos norteamentos, de campos conexos como a assessoria de imprensa, marketing político e social etc.
Certos conjuntos trazem ainda registros que, indo além, permitem vê-los como crônica social, e, excepcionalmente, considerando a desgastante rotina
de trabalho desses fotógrafos, como momentos de qualidade visual inesperada.
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Multidão em frente ao palanque com autoridades montado junto à rampa
de acesso leste, na confluência da Rua da Consolação com Rua Amaral Gurgel,
ponto de conexão com trecho subterrâneo sob a Praça Roosevelt.
Para todo o conjunto, fotógrafo não identificado.
Fundo PMSP, Grupo Gabinete do Prefeito.
Acervo AHSP
O palanque
A oportunidade parece única. A inauguração da via elevada, já conhecida antes mesmo da abertura como 'minhocão', estabelece o vínculo final da grande ligação leste-oeste, iniciada ao final da década de 1960.
Obra de engenharia de grande porte, com seus 3,6 quilômetros, construída em 11 meses, ela integra o conjunto de intervenções de escala regional concebidas a partir da década de 1920. A primeira, a retificação do
Rio Tietê, e sua ocupação por grandes vias de circulação, e a segunda, a conhecida ligação em Y invertido, atravessando a cidade de norte a sul,
formada pelas Avenidas Tiradentes, Nove de Julho e 23 de Maio. Por fim,
a ligação leste-oeste, articulando o sistema conhecido como Radial Leste, Praça Roosevelt e Via Elevada, que em conjunto com as
intervenções mencionadas estruturam o tecido da metrópole da segunda metade do século XX.
O privilegiamento do transporte individual, representado pelo automóvel, expressa o espírito de desenvolvimento daquele período histórico.
Constituem essas ações o resultado final da "escola de pensamento urbano" que é articulada
por técnicos da década de 1920 na gestão urbana dos grandes centros brasileiros.
A entrega da via elevada, no contexto do milagre econômico da primeira fase da ditadura militar brasileira abalado com a recente crise mundial do petróleo,
é um momento a ser explorado nos moldes de um horizonte de comunicação audiovisual em reconfiguração.
Em contraste com os registros do momento anterior, como destaca a coordenação responsável pela coleção fotográfica do AHSP, as inaugurações algo improvisadas, em
pequenos palanques ou discursos sobre caminhões, dá lugar a eventos mais complexos.
A homenagem pretendida ao Marechal Artur da Costa e Silva (1899-1969), segundo presidente do regime, há pouco falecido, é relevante e garante ao evento a presença de autoridades
de todos os escalões. Um grande palanque é erguido junto à rampa de acesso ao elevado, na conexão com a Praça Roosevelt. Decorado com flores e faixas de elogio ao governador Abréu Sodré (1917-1999), ao
prefeito nomeado Paulo Maluf e ao futuro governador Laudo Natel, em segundo mandato com início em março seguinte, o evento conta também com a presença de Iolanda Costa e Silva (1910-1991),
viúva do marechal, do arcebispo Paulo Evaristo Arns, dos ministros da Justiça — Alfredo Buzaid — e da
Fazenda — Delfim Neto, além dos comandantes do II Exército, 4ª Zona Aérea e VI Distrito Naval.
Autofalantes são instalados ao longo do elevado, transmitindo os discursos, enquanto a multidão recebe bandeirinhas de papel. A imprensa registra a abertura, entre o registro coloquial e a crítica. Destaque
da primeira página do jornal Folha de S. Paulo, no dia 25, sob a chamada Cidade recebeu a via elevada com grande tomada aérea da multidão,
registro visual revelador da escala das ações, a notícia informa ainda a abertura no dia de aniversário da cidade da Av. dos Bandeirantes,
parte das grandes vias expressas em implantação em complemento aos alargamentos de logradouros, ação em larga escala
que a própria Rua da Consolação sofrera poucos anos antes na gestão Faria Lima (1964-1969).
A multidão, o evento de massa, a presença da imprensa audiovisual posicionada em pontos estratégicos integram o planejamento. O tom coloquial, porém, que os registros trazem com a proximidade
do público, apenas indica o grau de controle espacial que esses eventos ganharão gradativamente até o final do século.
Parte da imprensa, desde os momentos iniciais da obra, registra o debate sobre as implicações urbanas imediatas, ao cortar em via elevada um longo trecho residencial plenamente estabelecido. É o que faz
com regularidade o jornal O Estado de S. Paulo. O artigo 'Minhocão' aberto, sem repercussão esperada, na edição de 26 de janeiro, parece se ajustar com perfeição como narrativa complementar
as imagens aqui apresentadas. O jornal fez severa crítica antes e depois da inauguração, apontando o uso político pelo prefeito, que assumiria meses depois o cargo de secretário estadual de transportes.
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Palanque, de grandes dimensões, recebe autoridades, entre elas, o prefeito indicado Paulo Maluf, o governador Abreu Sodré e seu sucessor, por eleição indireta, Laudo Natel.
Ao lado, placa comemorativa é descerrada pela viúva do marechal Artur da Costa e Silva.
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Evento de massa, a inauguração cercada de grande aparato foi vista como oportunidade para anúncio de ocasião.
No detalhe do registro original, com autoridades e seguranças em primeiro plano, destacam-se os cartazes manuais da grande loja de departamentos Clipper, junto ao Largo Santa Cecília,
que oferece produtos da sessão de modas com entrada de 1 Cruzeiro.
A ocorrência, por seu tom gaiato, não passa desapercebida e é registrada na imprensa
(OESP, 26 de janeiro de 1971).
O cortejo
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Após os discursos, corte de fita e descerramento de placa, as autoridades seguem em caravana de carros pela pista centro-bairro. Os batedores indicam o status das
autoridades presentes.
Na imagem acima, o cortejo percorre o trecho da Rua Amaral Gurgel; nas imagens abaixo, na Praça Marechal Deodoro, no cruzamento com Rua Albuquerque Lins,
autoridades como os dois governadores e o prefeito deixam os carros oficiais, caminhando em meio à multidão.
O gesto, que a presença das câmeras de televisão deslocadas para cobertura e
de repórteres diversos, como os dois detalhes dos registros originais indicam,
revela nesses procedimentos seu planejamento cuidadoso.
O cortejo segue até o ponto extremo da Via Elevada, após percorrer cerca de 3,5 quilômetros.
A cobertura do evento encerra-se laconicamente, nos últimos registros no Largo Padre Péricles.
A grande obra de engenharia viária, embora pequena frente ao seu impacto regional imediato, torna-se marco simbólico da
política de transporte voltada para o deslocamento individual, expressão da longa e tardia "era do carro" brasileira.
Para conhecer mais sobre o acervo fotográfico do AHSP acesse
Conheça também o portal Acervos artísticos e culturais da Prefeitura de São Paulo
A cobertura de eventos reunida no Grupo Gabinete do Prefeito
não está totalmente disponibilizada online, mas há acesso pleno
mediante consulta local a ser agendada por ou telefone:
3396-6035.
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