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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, março/abril de 2006
Ano 1 N.5


Edição temática







































Números anteriores:

01 (jul/ago)
02 (set/out)
03 (nov/dez)
04 (jan/fev)

Verão em São Paulo: enchentes

A presente edição do Informativo AHMWL complementa o número anterior, inspirado na temporada de verão, tomando como o tema as enchentes e alagamentos na cidade de São Paulo.

O conjunto de artigos e notas procura apontar como essas ocorrências são presenças de longa data no panorama paulistano e como refletem, em extremo, parte da relação de seus habitantes com a natureza. Ou, em outras palavras, o conjunto de conexões dinâmicas da sociedade com o meio ambiente ao longo de quatro séculos.


Agostini, Angelo, 1867.
Detalhe de capa da revista O Cabrião, de 24 de fevereiro de 1867,
com charge apresentando os personagens Pipelet e Cabrião
num barco em meio à Rua do Imperador
(atual lado esquerdo da Praça da Sé).

Cabriâo. 2.ed. São Paulo: Editora UNESP/Imprensa Oficial, 2000.

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  • BIBLIOTECA

  • No final do verão, intensificam-se as chuvas, e disso pode advir desastrosas conseqüências. Pensando nisso, a Biblioteca preparou para o Informativo de março uma seleção de obras que têm por tema os rios paulistanos e as possíveis enchentes que podem ocorrer nessa época do ano.


    VERÃO: ENCHENTES
    • AB´SABER, Aziz Nacib. São Paulo ensaios, entreveros. São Paulo: EDUSP: IMESP, 2004. 518p.
    • AZEVEDO, Aroldo de. A cidade de São Paulo: estudos de geografia humana. São Paulo : Editora Nacional, 1958. 4 v.
    • BRUNO, Ernani Silva. História e tradições da cidade de São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1984. 3 v.
    • DIAGNÓSTICO cartográfico ambiental do Município de São Paulo. São Paulo: Prefeitura, 1992. 32p.
    • GANHITO, Renato; SPLIATTI, Solange. Tietê: o rio de São Paulo. São Paulo: Abooks, 2002. 123p.
    • IMAGENS de São Paulo: Gaensly no acervo da Light, 1899-1925. São Paulo: FPHESP, 2001. 179p.
    • JARDIM, Evandro Carlos; MUSA, João; MENDES, Ricardo. São Paulo anos 20, andar, vagar, perder-se. São Paulo: Melhoramentos, 2003. 144p.
    • PORTO, Antonio Rodrigues. História urbanística da cidade de São Paulo: 1554 a 1988. São Paulo: Carthago e Forte, 1992. 189p.
    • ROCHA, Aristides Almeida. Do lendário Anhembi ao poluído Tietê. São Paulo: EDUSP, 1991.
    • SÃO PAULO (Cidade). Prefeitura Municipal. Melhoramentos do rio Tietê em São Paulo: Relatório. São Paulo, 1926.
    • ________. ________. São Paulo, 1950.
    • SÃO PAULO (Cidade). Secretaria do Meio Ambiente. O Rio Pinheiros. São Paulo, 2002. 96p.
    • SÃO PAULO (Cidade). Secretaria Municipal de Planejamento Urbano. Plano Diretor estratégico do Município de São Paulo 2002-2012. São Paulo: SENAC, 2004. 307p.
    • SÃO PAULO de Piratininga: de pouso de tropas a metrópole. São Paulo: O Estado de S.Paulo: Terceiro Nome. 2003. 256p.
    • SEGAWA, Hugo. Prelúdio da Metrópole: arquitetura e urbanismo em São Paulo na passagem do século XIX ao XX. São Paulo: Ateliê, 2000. 184p.
    • SESSO JUNIOR, Geraldo. Retalhos da velha São Paulo. São Paulo: Gráfica Municipal, 1983. 348p.

    CDs, LIVROS E TESES RECEBIDOS

    • IZZO JÚNIOR, Alcino. Paisagem cultural brasileira: Região Sudeste. São Paulo: Editora Terceiro Nome, 2000. 159 p.
    • LE COADIC, Yves-François. A Ciência da informação. 2.ed. Brasília: Briquet de Lemos Livros, 2004. 124 p.
    • LEMOS, Carlos A. C. A República ensina a morar (melhor). São Paulo: Hucitec, 1999. 108 p.
    • LOFEGO, Silvio Luiz. Memória de uma metrópole: São Paulo na obra de Ernani Silva Bruno. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2001. 133 p.
    • MORAES, José Geraldo Vinci de. Metrópole em sinfonia: história, cultura e música popular na São Paulo dos anos 30. São Paulo: Estação Liberdade, 2000. 333 p.
    • MORAES, Rubens Borba de. 4. ed. O bibliófilo aprendiz. Brasília, DF: Briquet de Lemos Livros; Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2005. 207 p.
    • NIEMEYER, Carlos Augusto da Costa. Parques infantis de São Paulo: lazer como expressão de cidadania. São Paulo: Annablume: Fapesp, 2002. 180 p.
    • OLIVATO, Paulo. Edifícios corporativos: Aflalo & Gasperini: Família Atrium. São Paulo: Ateliê Editorial: Giro, 2004. 59 p.
    • PADILHA, Marcia. A cidade como espetáculo: publicidade e vida urbana na São Paulo nos anos 20. São Paulo: Annablume, 2001. 144 p.
    • PONTES, José Alfredo Vidigal. 1932: o Brasil se revolta; o caráter nacional de um movimento democrático. São Paulo: Terceiro Nome: O Estado de S. Paulo, 2004. 208 p.
    • ROSSO, Mauro (Org.). São Paulo, 450 anos: a cidade literária. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 2004. 335 p.
    • SÃO PAULO: 90 colorfotos. Rio de Janeiro: Céu Azul de Copacabana, [2005?]. 96 p.

    PERIÓDICOS RECEBIDOS

    • BOLETIM: Informativo da Associação dos Arquivistas Brasileiros. Rio de Janeiro: Associação dos Arquivistas, n. 1, jan./jul. 2004.
    • ESTUDOS HISTÓRICOS: antropologia e arquivos. Rio de Janeiro: FGV, n. 36, jul./dez.2005.
    • FRAGMENTOS DE CULTURA. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, v. 15, n. 10, out. 2005.
    • ______. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, v. 15, n. 11, nov. 2005.
    • HISTÓRIA CIÊNCIAS SAÚDE: Manguinhos. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, v. 12, n. 3, set./dez. 2005.




  • LOGRADOUROS

  • São Paulo entre as águas frias, fundas, rasas ...
    ... das pacas, dos tamanduás e até "do diabo"


    Augusto Emílio Zaluar, português de nascimento, visitou São Paulo no ano de 1860. Dos pontos que observou na cidade, ele dedicou especial atenção ao Rio Tamanduateí e, numa noite em seu quarto, ao observar a tranqüilidade daquelas águas, inspirou-se:
      Ao longe, no meio da vasta campina, brilhavam, como uma toalha de prata, as águas adormecidas do Tamanduateí
    Zaluar não foi o único a se encantar com os rios e ribeirões paulistanos, muitos outros estrangeiros também manifestaram a mesma opinião. Dentre eles, por exemplo, estavam os franceses Saint-Hilaire e Debret. O primeiro era botânico e do mesmo Tamanduateí ele diria que o rio “serpenteando através das pastagens úmidas, [dava] mais encanto à paisagem.” Esta paisagem, por sinal, incluía a Várzea do Carmo, atual Parque D. Pedro II, a qual ele definiu como uma “planície sem acidentes que apresenta uma encantadora alternativa de pastagens rasteiras e de capões de mato pouco elevados [...] nas partes em que há mais água, o solo é entremeado de montículos cobertos de espessos tufos de relva.” Debret, por sua vez, observou o rio e, transpondo essa imagem para a tela, produziu uma das mais belas aquarelas que se conhece sobre a São Paulo dos inícios do século XIX.

    Debret, Jean-Baptiste. Entrada de São Paulo pelo caminho do Rio de Janeiro, 1827
    Entrada de São Paulo pelo caminho do Rio de Janeiro:
    aquarela de Jean-Baptiste Debret, 1827.
    LAGO, Pedro Corrêa do. Iconografia paulistana no século XIX.
    São Paulo: Metalivros, 1998.

    Nada a estranhar nessas linhas: qualquer viajante que chegasse à cidade no século XIX teria a sua vista tomada não apenas pelo pequeno núcleo urbano no topo da colina como, também, pelos rios e ribeirões que cercavam a cidade, estes dispostos tal e qual uma moldura. Para aqueles que procediam do Rio de Janeiro ou de Santos, por exemplo, o Tamanduateí estava a serpentear junto aos seus pés. Aliás, um de seus afluentes, na margem esquerda, recebia justamente o nome de Lavapés, numa clara alusão ao antigo costume de os viajantes lavarem os pés antes de entrar na cidade. Para outros, vindos do interior – de Campinas, Jundiaí, Itu ou Sorocaba –, São Paulo se descortinava exibindo o baixo casario e as inúmeras igrejas que povoavam a paisagem com suas torres altivas. Porém, para entrar na cidade era necessário, antes, atravessar o Ribeirão Anhangabaú, que cercava o núcleo pelo lado oeste. Este, por sinal, recebeu um nome derivado do Tupi e que significa Rio das Águas assombradas ou Águas do demônio; de Anhangá (mau espírito, diabo) + y (rio). Nesse caso, é preciso notar que Anhangabaú é uma alteração de Anhangavay, como escreviam os antigos paulistanos.

    Desde os primórdios da cidade os rios e ribeirões desempenharam um papel fundamental para o desenvolvimento da cidade. Nesse sentido basta lembrar que a escolha do sítio original para a fundação da cidade obedeceu este critério, ou seja, a preferência recaiu numa colina onde, de um lado, estava o Tamanduateí e, de outro, o Ribeirão Anhangabaú. E os cursos d´água eram importantes por dois motivos principais: forneciam alimentos através da pesca e, ao mesmo tempo, encaminhavam para longe a sujeira (lixo e esgoto) produzida pelos moradores. Infelizmente, este segundo uso prevaleceu, o que redundou em conseqüências desastrosas.

    Antes disso, porém, os rios e suas várzeas eram utilizados pela população como locais de confraternização (o que hoje chamaríamos de área de lazer), de brincadeiras e jogos. De fato, e desde os primeiros tempos da cidade, o Rio Tamanduateí e sua várzea já constituíam pontos de encontro, onde se desenrolavam experiências e combinações amorosas que, vez por outra, chamavam a atenção dos legisladores pelos possíveis exageros. Em 1576, por exemplo, e ao falar da necessidade de limpeza nas duas únicas fontes de água que existiam na cidade, uma “indo para o rio tomandoati e outra detraz das cazas de Joane Anes”, o então procurador da Câmara, Lourenço Vaz, aproveitou o momento para denunciar um certo abuso praticado pelos rapazes contra as índias, então chamadas de negras da terra:
      ... e requereu o dito procurador na dita Câmara que muitos mancebos solteiros que iam às fontes pegar nas negras e as afrontavam ao que eles oficiais mandaram que fosse apregoado que todo o mancebo assim solteiro como casado que se achar pegando em alguma negra que vá a fonte ou ao rio pague cinqüenta réis [de multa] para o conselho pela primeira [vez] e pela segunda [vez] cem réis.
    Nos séculos seguintes, continuou este, o rio e suas margens, como um local privilegiado para banhos, principalmente nos dias de forte calor, quando então “bandos e bandos de indivíduos de ambos os sexos, iam banhar-se no Tamanduateí e nas lagoas por ele formadas no seu extravasamento”, conforme relatou o historiador Taunay.

    Referindo-se ao que acontecia nos rios da cidade pelos anos de 1700, o Padre Manuel da Fonseca escreveu que “era costume antigo em São Paulo, ou porque fosse maior a sinceridade daqueles tempos, ou porque estando menos povoada esta terra, [saíam] seus moradores no tempo do verão, nas horas em que o calor do sol mais acendia, a banhar-se nos rios Tietê, Tamanduateí, que com suas águas regam aquela cidade.”

    O único incômodo que havia nesses banhos, notou Taunay, “vinham a ser as picadas de mosquitos, então inumeráveis e insuportáveis, volantes sanguessugas que buscavam sua vida nos sangue alheio”. Continuando por todo o século XIX, os banhos no Tamanduateí somente foram desaparecer por volta de 1890, e isto por força da repressão policial, “talvez por causa dos espetáculos de nudismo ou pelo perigo que ofereciam essas atividades [...] sobretudo quando praticadas por menores”, disse Ernani da Silva Bruno.

    Num tempo em que essas divertidas experiências já estavam sob a mira da polícia, o memorialista Afonso A. de Freitas descreveu um episódio muito interessante. Disse ele que, sob o comando do Major Manuel Vieira (um veterano da Guerra do Paraguai), os policiais chegavam a cercar as duas margens do Tamanduateí, no trecho da Rua Glicério. Nos primeiros pegas, alguns nadadores (apelidados de sapos), foram pegos pelos soldados, já que haviam cometido o erro de deixar suas roupas nas margens, “mas foi só dessa vez. Nos cercos que se seguiram a saparia, desconfiada e já prevenida, de roupas em trouxas amarradas à cabeça, saltava para a água à chegada da polícia e, então o vereis: chufas, ditos ferinos, agudos, picantes, fervilhavam sobre os policiais que em terra esbravejavam impotentes.” Muitas vezes os urbanos acampavam à beira da corrente, à espera dos infratores. Mas eles nadavam rio abaixo até as matas da chácara de D. Ana Machado, pela altura da atual Rua Conde de Sarzedas, e assim conseguiam burlar a vigilância dos perseguidores. Nessas batidas, o mais temido pela garotada era um guarda urbano, tipo espantadiço e nervoso, que se tornou popular entre os freqüentadores do rio pelos nomes de Assombração e Espanta-Gato: era o sargento João Francisco de Paula, falecido aos 80 anos em 1917.

    Tradição perdida na São Paulo do século XXI, os banhos de rio hoje ficaram na memória e nos livros de história. E não é para menos, uma vez que a própria cidade não respeitou a natureza, não conservou seus rios e ribeirões e, muito pelo contrário, escondeu-os sob grossas tubulações embaixo da terra.

    Vamos ver alguns deles:
    • Rio Tamanduateí (Rio dos Tamanduás, na língua tupi): corria ao lado da atual Rua 25 de Março. Após ser canalizado, sua várzea no trecho junto á colina central (então conhecida como Várzea do Carmo), transformou-se no Parque D. Pedro II.
    • Ribeirão Anhangabaú: Canalizado, ele corre por galerias subterrâneas e atravessa todo o vale de mesmo nome. Aliás, o mesmo ocorreu com seus afluentes, ou seja, com o Ribeirão Saracura (encanado sob a Avenida 9 de Julho), com o Ribeirão do Bexiga (encanado entre as Ruas Japurá e Santo Amaro) e com o Itororó, na realidade curso superior do Anhangabaú, que corre por baixo da via 23 de Maio na encosta norte do espigão ocupado pela Avenida Paulista.
    • Ribeirão Pacaembu (Rio das Pacas, na língua tupi): Canalizado e coberto, seu traçado segue por galerias sob a Avenida Pacaembu.
    • Córrego da Água Branca: com nascente nos altos do Sumaré, este córrego corre em tubulações sob a Avenida Sumaré até a altura do estádio da S. E. Palmeiras quando, então, junta-se ao Córrego da Água Preta, este com nascente no bairro da Pompéia. Daí por diante, e com o nome de Córrego da Água Preta, ele deságua no Rio Tietê.
    Além desses regatos que, com seus nomes, ainda hoje marcam a rede viária da cidade, temos também alguns bairros famosos com seus nomes vinculados às águas. Dentre eles, destacamos:
    • Água Rasa: sua denominação lembra antigos aspectos de dois riachos que margeiam o bairro: o Córrego do Tatuapé e o Córrego Capão da Embira. O primeiro deles, após retificação, corre ao lado da Avenida Salim Farah Maluf e, o segundo, ao lado da Avenida Vereador Abel Ferreira. Naquela região, o leito dos dois ribeirões não eram muito profundos e facilmente extravasavam, formando uma várzea. Daí, então o nome de Água Rasa, aplicada ao bairro.
    • Água Funda: localizado na zona sul da cidade, ao lado do Parque Estadual das Fontes do Ipiranga (ou Parque do Estado, que abriga o Jardim Botânico e o Jardim Zoológico), este bairro se caracteriza pelo um grande número de regatos. Um deles, inclusive, é a nascente do famoso Riacho do Ipiranga.
    • Água Fria: localizado na zona norte, alguns autores apontam ser esta denominação uma referência ao Córrego da Água Fria. Entretanto, nos antigos mapas da região, nenhum curso d´água com este nome foi localizado. Como a atual Avenida Água Fria era a antiga Estrada da Água Fria, é bem possível que a maior referência seriam as águas frias da Serra da Cantareira, importante manancial que abastece a cidade de São Paulo.
    E já que estamos tratando de águas, rios e ribeirões, finalizamos com uma pequena seleção com antigas imagens do Rio Tamanduateí.


    Luís Soares de Camargo



    Palliére, Arnaud Julien.  Várzea do Carmo, 1821.
    Várzea do Carmo em 1821, aquarela de Arnaud Julien Pallière, 1821.
    Ao chegarem do Rio de Janeiro ou de Santos, e já na entrada da cidade pelos lados do Brás, os viajantes tinham o privilégio de observar esta paisagem.
    LAGO, Pedro Corrêa do. Iconografia paulistana no século XIX.
    São Paulo: Metalivros, 1998.

    Azevedo, Militão Augusto de. Várzea do Tamanduateí, 1862.
    Várzea do Tamanduateí, foto de Militão Augusto de Azevedo, c.1862.
    Interessante notar os diferentes usos do rio feitos pelos moradores, usos esses denunciados pela presença de lavadeiras e tropeiros.
    Acervo PMSP/SMC/DPH/DIM

    Azevedo, Militão Augusto de. Vista do Brás, 1862.
    Vista do Brás, foto tomada da antiga Ladeira do Carmo (atual Avenida Rangel Pestana) e onde se pode observar, ao fundo, o Rio Tamanduateí num período de cheia.
    Foto de Militão Augusto de Azevedo, c.1862.
    Acervo PMSP/SMC/DPH/DIM

    Calixto, Benedito.  Inundação da Várzea do Carmo, 19xx.
    Inundação da Várzea do Carmo (detalhe do panorama), óleo sobre tela de Benedito Calixto, tomada da colina central em direção nordeste.
    Acervo do Museu Paulista da Universidade de São Paulo.
    LAGO, Pedro Corrêa do. Iconografia paulistana no século XIX.
    São Paulo: Metalivros, 1998.

    Azevedo, Militão Augusto de.  Várzea do Tamanduateí, ca.1860.
    O Rio Tamanduateí correndo ao lado da Rua 25 de Março; ao fundo, o mosteiro de São Bento. Foto de Militão Augusto de Azevedo, c.1862.
    Acervo PMSP/SMC/DPH/DIM




    Obras de referência:
    • ACTAS DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. São Paulo: Archivo Municipal de S. Paulo,1914. v. 1. p. 95. (sessão do dia 14/04/1576)
    • BRUNO, Ernani da Silva. História e tradições da Cidade de São Paulo. São Paulo: Hucitec; PMSP/SMC, 1984.3v.
    • FONSECA, Padre Manuel. Vida do venerável Padre Belchior de Pontes (1753). São Paulo: Melhoramentos, s/d.
    • FREITAS, Afonso A. de. Tradições e reminiscências paulistanas. São Paulo: Livraria Martins, 1955.
    • SAINT-HILAIRE, Auguste. Viagem à Província de São Paulo. São Paulo: Livraria Martins, 1945.
    • TAUNAY, Afonso de E. História da Cidade de São Paulo no século XVIII. São Paulo: Divisão do Arquivo Histórico, 1951.2v. 2ª parte.
    • ZALUAR, Augusto-Emílio. Peregrinação pela Província de São Paulo (1860-1861). São Paulo: Livraria Martins, 1953.


    Serviços: A Seção Técnica de Logradouros é responsável pela pesquisa e orientação aos interessados sobre nomes de logradouros paulistanos. A documentação está disponível para consulta através do atendimento ao público.
    Conheça também o site Dicionário de ruas (parceria AHMWL e Plamarc), onde através de um banco de dados é possível realizar pesquisas sobre denominações de logradouros paulistanos.


  • MANUSCRITOS

  • A enchente de 1º de Janeiro de 1850 (primeira parte)

    Eudes Campos


    No dia 1° de janeiro de 1850, abateu-se sobre a capital paulista um intenso temporal, cuja lembrança manteve-se viva por longo tempo na memória paulistana. É fato que a cidadezinha daquele tempo estava habituada às enchentes de verão, que desde sempre alagavam anualmente as várzeas dos Rios Tietê e Tamanduateí, isolando-a no alto da colina onde se achava implantada. Mas, ao que parece, até então São Paulo nunca sofrera tão graves danos dentro dos limites de sua área urbanizada.

    A trovoada principiou às 5 horas da tarde e se prolongou até as 11 horas da noite, provocando o transbordamento do Tanque do Bexiga, também chamado Reúno. O Ribeirão Anhangabaú cresceu repentinamente e suas águas arrasaram 15 casas de taipa, danificaram 12 e ainda derrubaram a velha Ponte do Acu, ou da Abdicação, construída em 1809 e localizada no cruzamento da atual Avenida São João com o Parque do Anhangabaú, mais ou menos nas proximidades do Edifício dos Correios. Cronistas antigos fizeram ainda questão de ressaltar que no desastre houve três vítimas fatais.

    As conseqüências dessa inundação foram inesperadas, mas a lição que a população tirou delas perdurou. Foi a partir daí que os paulistanos, tão afeiçoados à taipa e só empregando o tijolo em obras de pequena importância, decidiram adotar métodos construtivos mais resistentes à presença da umidade, ao contrário do que acontecia com paredes de terra socada, que simplesmente desabavam ao entrarem em contato direto com a água.

    Oito dias após o sinistro, um engenheiro polonês, de nome Cristino Wysevski, com experiência profissional de 12 anos em pontes e estradas da França, e cuja contratação pelo governo provincial foi autorizada pela Assembléia em 1848, redigiu à Câmara Municipal um ofício em que recomendava se adotasse a alvenaria de pedra ou tijolos para substituir o sistema construtivo predominante nas construções da cidade, a terra apiloada. Em sua opinião a taipa só era admissível na execução de muros de cercados, e as novas construções deveriam adotar alicerces de pedras ou tijolos. No caso de sobrados, os pavimentos térreos deveriam ser totalmente construídos de tijolo ou pedra e cal.

    Um dos primeiros moradores a pretender reconstruir sua casa, de acordo com um novo método, foi o empreiteiro de origem alemã Henrique Henrichsen, o primeiro arrematante da reconstrução da Ponte da Abdicação. Henrichsen solicitou à edilidade paulistana uma data de terra para reerguer a moradia destruída na enchente. Queria reconstruí-la em melhores condições e garantia que com ela
      O lugar [ficaria] aformoseado por um edifício novo, de uma construcção especial, e ainda não vulgarizada nesta Cidade.
      (Apud. SANT’ANNA, Nuto. São Paulo Histórico. São Paulo: Departamento de Cultura, 1937-1944. 6v. v.1.p.168 e 169.)
    É possível que a forma especial de construir acima mencionada implicasse no emprego da alvenaria autoportante de tijolos, técnica ainda não empregada em São Paulo, mas que os construtores estrangeiros que trabalhavam na cidade, em geral alemães e portugueses, dominavam muito bem.

    Depois da enchente, é fácil encontrar em anúncios de jornal menção a casas em cuja construção haviam sido empregados tijolos. Um sobrado que estava sendo levantado junto do Anhangabaú, localizado, portanto, justamente na área afetada pela cheia de 1850, foi edificado “com muitas boas madeiras sobre alicerce de pedra e cal, com paredes de tijolos” (Correio Paulistano, 10 de fevereiro de 1855). Neste caso, a obra provavelmente não foi executada conforme a técnica da alvenaria autoportante de tijolos, como supomos seja o caso anterior, mas com uma estrutura autônoma de madeira cujos vãos estruturais foram vedados com tijolos, sistema de construção misto muito usado nos meados do século XIX para substituir a taipa. Temos ademais conhecimento de um outro anúncio referente a sobrado localizado no Piques, n.11, também nas proximidades do Anhangabaú. Este muito importante porque nele se afirma ser a construção “a mais solida possivel”, pois “tudo construido de pedra e tijolo” (Correio Paulistano, 6 de outubro de 1860).

    Anos depois, no periódico Doze de Maio de 8 de junho de 1863, um artigo que questionava os “melhoramentos materiaes” introduzidos na Capital parece confirmar que a etapa de transição técnica da taipa ao tijolo nas edificações da cidade (1850-1870) fora iniciada pela cheia de 1850:
      Se olharmos para a edificação [paulistana] alguma coisa há na realidade de novo, mais sólido e de melhor gosto, graças a inundação de 1850, que lançou por terra oitenta e tantas casas [sic!] da antiga edificação de terra e bosta; mas isto é em relação aos particulares, porque no diz respeito a obras publicas nada vemos por ahi que attraia a attenção.
    Note-se que o exagero cometido pelo autor do artigo no número de casas destruídas, revela antes de mais nada o terror que a pacata população da cidade sentia ao se recordar da violência de tal inundação.

    Quanto à velha Ponte do Acu, projetada e construída pelo engenheiro militar português Daniel Pedro Muller, considerada pelos visitantes estrangeiros a mais bela ponte de cantaria da cidade de São Paulo, acabou sendo refeita de acordo com o projeto do engenheiro alemão Hermann Bastide e construída segundo a técnica tijoleira pelo engenheiro francês Aquiles Martin d’Estadens, entre 1851 e 1853. O resultado porém foi decepcionante. Sobre a aparência da obra, um artigo publicado em jornal paulistano (Doze de Maio, 8 de junho de 1863) teceu o seguinte comentário mordaz:
      Havia no Açú [sic] uma bellissima ponte do tempo dos Aracatys, de pedra de cantaria, garbosa, elegantemente construída, uma verdadeira obra d’arte.
      A innundação de 1850 levou essa ponte, e o progresso material construio no lugar uma massa bruta, pezada, informe, irregular, brutal, estupida, que faria vergonha ao mais ordinario pedreiro.
    Vemos assim que a inundação de 1850 parece ter tido um papel crucial na renovação dos sistemas construtivos da arquitetura paulistana nos meados do século XIX. Numa segunda etapa, o grande agente de mudanças seria representado pela ferrovia Santos-Jundiaí (1860-1867), que, ao criar uma enorme demanda de tijolos para serem empregados nos trabalhos de construção da estrada de ferro, acabaria por motivar as olarias paulistanas a produzirem intensamente um tipo de material que até então era difícil de ser encontrado, o tijolo. Convém ressaltar que tudo isso aconteceu muito antes da chegada à Capital das grandes levas de imigrantes italianos (a partir dos anos 1880), o que desfaz um dos tradicionais mitos da historiografia paulistana que afirma terem sido os capimastri os introdutores da alvenaria autoportante de tijolos na cidade de São Paulo. Quando os mestres-de-obras italianos começaram a liderar os canteiros de obras, já encontraram a arquitetura da cidade perfeitamente adaptada à técnica tijoleira.



    Enchente e indenização em São Paulo, no ano de 1850 (segunda parte)

    Guido Gustavo Venturini Flud Alvarenga


    No primeiro dia do ano de 1850 uma forte chuva castigou a região central da cidade de São Paulo. O vale do Ribeirão Anhangabaú foi severamente inundado pelo escoamento natural das águas, atingindo principalmente pessoas pobres que aí residiam.

    A tempestade foi tão inusual e sua força tão devastadora que a cidade de Santos angariou donativos (435$000) por meio de subscrição pública para que fossem distribuídos entre os sinistrados.

    O Conselho de Vereadores da Câmara Municipal de São Paulo criou então uma comissão encarregada do levantamento dos prejuízos causados pela enchente.

    Em 27 de junho do mesmo ano a comissão apresentou os cálculos dos prejuízos estimados em sete contos de reis, mas mandou pagar a oito cidadãos a quantia de um conto e novecentos e oitenta mil reis. Transcrevemos abaixo parte do documento a título de exemplo.
      Calculo do prejuizo que soffrerão com a innundação do Anhangabahy, em 1° de Janeiro do corrente anno, as pessoas mais pobres e desvalidas.
      1º - José Manoel, sapateiro, homem honesto, velho e de pouca fortuna. Possuia 3 casas junto á ponte de Lorêna em uma das quaes morava, e alugava as outras. A innundação destruio-lhe inteiramente os predios, arrebatou-lhe todos os moveis, e o deixou em estado de não ter ao menos o mais indispensavel. As informações obtidas a cerca do prejuizo, que soffreo, fazem-no ainda excedente a dois contos e quinhentos mil reis.[...]
      (1)
    Apesar do prejuízo calculado inicialmente, a indenização proposta ao sapateiro José Manuel foi de apenas 625 mil reis. Abaixo a reprodução da imagem do documento.


    Fundo: Câmara Municipal de São Paulo, Grupo Conselho de Vereadores, 1850


    Nota
    1. Trecho do parecer da comissão encarregada do levantamento de prejuízos causados pela enchente de 1º/01/1850 a particulares.
      Fundo: Câmara Municipal de São Paulo, Grupo Conselho de Vereadores. Acervo da Seção Técnica de Manuscritos do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís.

    Serviços: A Seção Técnica de Manuscritos atende de segunda-feira à sábado, das 9 às 17 horas.


  • ESTUDOS & PESQUISAS

  • Inundações na cidade de São Paulo

    Uma pequena amostra de documentos referente ao tema, inclusa nas séries documentais Atas da Câmara e Registro Geral, pertencentes ao Fundo Câmara Municipal de São Paulo, é aqui comentada através das transcrições editadas pela municipalidade entre os períodos 1914-1951 e 1917-1946, respectivamente.

    Assentada no cimo de uma colina pouco elevada, a São Paulo de Piratininga achava-se rodeada por inúmeros cursos d’água. O sopé da colina era banhado pelo Rio Tamanduateí e pelo Ribeirão Anhangabaú, enquanto mais afastado, ao norte, corria o Rio Tietê. Desde o século XVI, os arredores de São Paulo sofriam cheias regulares durante a estação das chuvas. Naquela época, essas inundações apresentavam um aspecto muito positivo, pois transformavam a colina em verdadeira península, garantindo a segurança da vila durante os meses de verão.

    Alagamentos na cidade de São Paulo durante o século XIX

    No início do século XIX, observamos que os alagamentos se haviam tornado um grave problema para o Poder Público, especialmente na localidade denominada Várzea do Carmo. De acordo com Richard Morse (De Comunidade à Metrópole: Biografia de São Paulo, 1954):
      Por volta de 1820 e ainda por várias décadas depois, a cidade ficava periòdicamente isolada com a enchente de seus dois rios próximos. O sinuoso Tamanduateí, inundando a várzea do Carmo, infligia à cidade 'nevoeiros importunos, humidades, defluxos e reumatismos', privando-a também de terras produtivas.
    De fato, ao longo do oitocentismo a questão dos alagamentos mostrou-se insistente, numa época em que já surgiam demandas de outras ordens, relativas à limpeza pública, ao abastecimento de água, à poluição, principalmente do Rio Tamanduateí, bem como a preocupação com doenças até então desconhecidas. Fizemos um apanhado de alguns documentos significativos, que dão uma idéia de como os problemas relativos às enchentes eram vivenciados pela população, além de revelar o papel que desempenharam os cursos d’água mais próximos da cidade no seu cotidiano durante aquele período.

    Várzea do Tamanduateí, ca 1890.
    Rio Tamanduateí, em imagem tomada do ponto próximo à Rua da Figueira, em direção à Várzea de Santa Rosa, por volta de 1890.
    Acervo PMSP/SMC/DPH/DIM

    No ano de 1822, por exemplo, o governo provisório expressava sua preocupação com relação ao alagamento do Tamanduateí, já que esse fenômeno impedia os costumeiros passeios dados pela população na Várzea do Carmo. Nesse documento, surge uma curiosa reclamação dos moradores da região:
      [...] todos padecem grandissimos encommodos no tempo das aguas por ficar o caminho intransitavel, [...] esta [várzea] tem ficado sempre no miseravel estado de terem nella morrido animais empantanados á vista da cidade [...] (Registro Geral, de 11.04.1822).
    No ano seguinte, encontramos um ofício do governo da Província dirigido ao Senado da Câmara, abordando as conseqüências decorrentes de intervenções recentes no curso do Tamanduateí. O governo alertava para a urgente necessidade de seu encanamento, em virtude dos problemas e doenças que o rio vinha causando à população:
      A soberba elevação dos homens pretendendo superar as Altas Ideias do Supremo Autor da Natureza, a repetir nesta cidade a scena da Torre de Babel, pela qual projectaram os Gigantes combater o Céu, propuzeram-se a inverter o natural despenho do rio Tamandatehy [...] são notorias as sensiveis consequencias em prejuizo publico da população [...] cujas aguas estagnadas annualmente produzem halitos pestiferos de hervas curtidas, e corpos corruptos, cujos effluvios communicados aos habitantes pela athmosphera motivam as frequentes epidemias que opprimem a humanidade, com indizivel estrago, especialmente de crianças, que resistem menos, ás tosses convulsivas, sesões e erysipelas e mais enfermidades extranhas no paiz. (Registro Geral, de 04.09.1823).
    No ano de 1824, o Senado responde ao presidente da Província num tom melancólico, que soa quase como um "manifesto ecológico", ao dar explicações sobre o não encanamento do Rio Tamanduateí:
      Este delicioso rio outrora mais feliz, desde a Gloria té á Luz corria em torno pelas faldas do continuado monte, que forma a base desta cidade. Então a vargem em frente da mesma era uma aprazivel e deliciosa campina, tão enxuta, que por ella toda se transitava calçado de pé, e de cavallo a sahir em uma ponte então debaixo de São Bento, e se hoje desgraçadamente lamentamos o inverso, não foi obra da natureza [...] (Registro Geral, de 28.07.1824).
    Sabe-se que toda a área no bairro do Brás compreendida entre o Rio Tamanduateí e a atual Rua Piratininga era freqüentemente inundada. E que a localidade denominada Várzea do Carmo, trecho do Rio Tamanduateí entre as Ruas do Gasômetro e Tabatinguera, mesmo sendo passível de inundações, constituía até o início do século XX um importante referencial de sociabilidade dos paulistanos.

    Ainda em 1824, lamentava-se a perda da várzea como área de deleite da população, tornando-se um lugar de águas paradas, contaminadas e propícias a produzir moléstias:
      [...] e mais proprietarios, cujas casas ficam para a parte do rio Tamandatehy que servindo a vargem contigua ao dito rio de recreio, nella no tempo da secca faziam os moradores os seus passeios.[...] Desappareceram estas commodidades logo que para exgotarem a vargem superior que fica para a parte da Penha se abriram valas, e as suas aguas largadas sem direcção vieram formar os estagnos, que hoje se vêm na vargem contigua a esta cidade. (Registro Geral, de 02.06.1824)
    Também em outras partes da cidade havia o problema de enchentes. Mais ao norte, por exemplo:
      [...] no fim do aterrado Santa Anna, da parte desta cidade, em tempo de aguas, as mesmas avançam até o fim do mesmo aterrado, em forma que é preciso os de pé passarem com agua por cima do joelho, e com muito custo; sendo muito mais custoso, e vergonhoso ás mulheres quando alli chegam, por ser aquelle logar muito frequentado de gente, e lhes não ser tão decente o arregaçarem o fato, como os homens, dentre os quaes alguns por curiosidade se demoram alli, tomando por divertimento as faltas, e o pejo das mulheres [...]. (Registro Geral, de 26.07.1824)
    Vemos assim que inundações ocorriam desde sempre nas proximidades da cidade, não sendo, portanto, novidade os paulistanos reclamarem e exigirem soluções por parte do Poder Público. Mas, foi no ano de 1850 que São Paulo conheceu um fato singular, uma grande enchente provocada pelo transbordamento das águas do Ribeirão Anhangabaú. O desastre aconteceu dentro da área urbanizada e por isso derrubou uma ponte, destruiu casas e causou mortes desde a região do Bexiga até o Acu.

    Em relatórios oficiais e notícias da imprensa datados das décadas finais do século XIX são feitos apontamentos sobre problemas relacionados com a falta de água para consumo, a falta de condições sanitárias e a umidade excessiva na cidade, bem como sobre a proliferação de doenças, principalmente a febre paludosa, que levou muitos paulistanos ricos a procurar tratamento na Europa. Apenas a partir de fins do século XIX é que começaram a ser impostas medidas saneadoras efetivas por parte do Poder Público.

    Várzea do Tamanduateí, 1918.
    Rio Tamanduateí, no ano de 1918, em imagem tomada do ponto próximo à Avenida Rangel Pestana, em direção à Rua do Gasômetro.
    Aurélio Becherini
    Acervo PMSP/SMC/DPH/DIM

    As enchentes na atualidade

    Apesar de as enchentes continuarem sendo a causa de insônia de muita gente, a diferença entre os problemas enfrentados durante o Império e agora está no fato de que os problemas ambientais ganharam maior dimensão. Aos agravantes da industrialização e da intensa urbanização, com o avanço da cidade por áreas antes intocadas, somaram-se problemas mais graves como erosão de encostas, destinação de lixo e poluição das fontes de água potável.

    A situação contemporânea continua basicamente a mesma. De um lado, envolve ações humanas como a destinação do lixo (doméstico e industrial) e a questão do adensamento das áreas urbanas, que promovem a impermeabilização dos solos; de outro, envolve fatores naturais, como os aspectos climáticos, por exemplo, o regime das águas. O Poder Público, por sua vez, encontra-se em nova situação. Não é apenas responsável pelas obras necessárias, mas cada vez mais é agente imprescindível na determinação das políticas ambientais para as cidades.

    Concluímos, assim, que as mesmas águas – que outrora foram tão atraentes a ponto de nas proximidades delas se instalar a São Paulo de Piratininga –, de símbolo de vida, tornam-se muitas vezes, veículo de angústia, de medo e até mesmo de morte. A partir de resultados tão desastrosos, produzidos pelo progresso em geral, parece inevitável imaginar a atual São Paulo sem algumas obras:
      [...] a retificação, a canalização e, posteriormente, a construção de vias expressas de tráfego isolaram o Rio Pinheiros do convívio com a população, antes mesmo de suas águas estarem contaminadas pela poluição. Os moradores de São Paulo, portanto, não se identificam com o rio que se estende quase sem vida na calha delimitadas pelas avenidas e até o ignoram.
      (texto encontrado no tópico Rio Pinheiros, no site http://www.aprenda450 anos.com.br)
    E, a partir do exemplo do Rio Tietê, cujas águas eram tão puras que até o início do século 20 era possível nadar nelas e realizar as famosas Regatas, no trecho que atravessa a cidade de São Paulo, hoje é um verdadeiro rio "morto", enfeando e entristecendo nossa cidade. Diante de tudo isso, uma pergunta, embora utópica, se impõe de modo inevitável: como seria a cidade de São Paulo se pudessem seus rios se tornarem límpidos e navegáveis?

    Rosiane Maria de Melo
    socióloga - AHM/DPH



    Detalhe de planta de Affonso A. de Freitas, destacando intervenções sobre o trecho do Rio Tamanduateí no século XIX: (1) trecho retificado no ano de 1848, e (2) detalhe do novo leito do Rio Tamanduateí (construído entre 1896-1914).
    FREITAS, Affonso A. de. Tradições e Reminiscências Paulistanas. 3. edição. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, [s.d.]. (Coleção Paulística, v.IX).
    Várzea do Tamanduateí, ca 1890.





  • INTERCÂMBIO

  • A caixa do arquivo:
    o edifício especializado e as condições ambientais


    Fugindo a uma abordagem técnica, na busca de incorporação na prática corrente daqueles que de alguma maneira mantêm uma atividade profissional ligada a arquivos, é possível apontar alguns cuidados a serem tomados para evitar que a edificação provoque danos ao acervo que ela tem por fim conservar.

    O edifício de um arquivo deve constituir um ambiente o mais estanque possível, inacessível às alterações tanto de temperatura como de umidade para que o ambiente não se transforme ele mesmo num vetor de geração de microrganismos e insetos destruidores de papel.

    Se imaginarmos a sede de um arquivo equivalente a uma caixa em que se acondicionam livros, esse modelo pode facilitar toda e qualquer relação de cuidados e observações em relação à construção. Assim como as caixas devem ser fabricadas com especificações adequadas, o prédio também deve atender em suas especificidades ao tipo de uso a que ele se destina.

    Infelizmente é mais usual a instalação de arquivos em prédios já existentes do que numa construção especialmente projetada para essa finalidade. É também verdadeiro afirmar que apesar do conhecimento e interesse dos arquitetos no momento de propor as necessárias adaptações do antigo edifício ao novo uso, nem sempre é possível a incorporação total das propostas, seja por motivos econômicos, seja por restrições de espaço ou até por se tratar a edificação de imóvel com valor histórico-arquitetônico, protegido por lei de tombamento.

    Uma vez feita a escolha do prédio, novo ou antigo, em que será instalado o arquivo, faz-se necessária a garantia da saúde plena da edificação. Em especial no que se refere à presença de umidade, pois por maior cuidado que se tenha com os documentos, se a construção que os custodia não apresentar boas condições ambientais o acervo se deteriorará rapidamente. Para tanto, alguns itens da construção devem receber permanente manutenção, a fim de que seja assegurada a integridade física das peças documentais nele depositadas.


    A seguir indicamos alguns itens que merecem atenção constante:

    1. Cobertura/ Telhado

    Deve-se estar sempre alerta em relação à presença de pontos de infiltração de água pluvial, sejam eles decorrentes de problemas de impermeabilização da laje, da ausência de vedação na estrutura de coberturas de vidro ou policarbonato, da presença de telhas quebradas, da corrosão ou o mau dimensionamento de calhas e rufos, ou até mesmo de fissuras presentes em reservatórios de água.

    A estrutura do telhado deve estar sadia, construída com madeiras de qualidade e imune a insetos que possam comprometer a sua integridade. É essa estrutura que mantém o telhado estável e sem deformações, as quais por vezes provocam a movimentação de telhas e por conseqüência causam a infiltração de águas pluviais.

    Outra providência a ser considerada é a limpeza das calhas, especialmente se o prédio onde está o acervo se encontrar próximo a áreas arborizadas.

    No forro, manchas de umidade provenientes de infiltração. A caixa do arquivo
    Após o reparo das infiltrações, o forro necessita de restauração para eliminar o desprendimento do revestimento. A caixa do arquivo
    Calhas obstruídas causam transbordamentos de águas pluviais, refletindo nas áreas internas da edificação. A caixa do arquivo
    Fissuras no forro provocadas por infiltrações decorrentes da movimentação da estrutura do telhado infestada por cupins. A caixa do arquivo


    2. Estrutura e Alvenaria

    Toda e qualquer trinca ou rachadura que venha a ser notada na edificação é um caminho em potencial para ocorrência de umidade através de infiltrações.

    Não raro nos deparamos com a presença de vegetação nascendo em fissuras entre o piso e a construção, às vezes em platibandas e até mesmo nos parapeitos das janelas. Essas plantas encontram condições de sobrevivência dada a presença de umidade nesses pontos. Quanto mais tempo aí permanecerem, mais grossas serão suas raízes, maior será seu peso e, conseqüentemente, mais graves serão os danos causados à edificação.

    Procedimentos na recuperação da fachada, evitando novas infiltrações. A caixa do arquivo
    Ponto crítico de infiltrações: tijolos sem revestimento próximos do piso. A caixa do arquivo
    Desenvolvimento de vegetação entre a alvenaria e a pavimentação, abrindo“caminhos” para infiltração. A caixa do arquivo
    Três problemas numa única parede: cano furado, alvenaria sem revestimento ou impermeabilização e presença de vegetação no encontro entre o piso e a alvenaria. A caixa do arquivo



    3. Fachada

    Pode parecer inconseqüente o descolamento do revestimento da fachada, mas não é. O revestimento externo não tem como única função embelezar o edifício; é um elemento de proteção contra a penetração de umidade, devendo por isso ser mantido íntegro.


    4. Águas externas e internas

    Outro tipo de umidade presente nas construções é aquela proveniente do próprio solo. Arquivos não devem ser construídos em locais onde o problema pode ocorrer de forma mais intensa – como na proximidade de rios, em áreas de baixadas ou em regiões com o lençol freático “alto”. Caso seja inevitável, deve-se tomar medidas que impeçam eventuais danos ao acervo. No caso de subsolos, as cortinas de contenção de terra devem ser impermeabilizadas, garantindo a segurança do ambiente.

    Já em regiões propícias a enchentes, pesquisas em registros metereológicos e consultas entre a população local poderão esclarecer qual a altura máxima que os alagamentos costumam atingir, evitando-se a guarda do acervo em nível abaixo daquela altura.

    Como se não bastasse o perigo das águas externas, há também o perigo das águas internas. O termo se refere a todas aquelas que fazem parte do organismo da edificação. Elas ocupam as tubulações de abastecimento do prédio, tanto para consumo humano como para serviços, e a rede de hidrantes (para casos de Incêndio). O armazenamento dessa água poderá se dar em caixas, tanto superiores como inferiores, e sua distribuição se faz pelo barrilete.

    Vistorias freqüentes nas tubulações, nos pontos em que se conectam com as caixas, é uma ótima profilaxia, pois permitem identificar eventuais vazamentos existentes. Essas conexões são aparentes, e geralmente nas junções e curvas dos tubos é que ocorrem gotejamentos.

    Já as prumadas e ramais (descidas e pontos d‘água do prédio) ficam embutidos nas paredes. Assim, os vazamentos só se evidenciam quando as manchas de umidade aparecem. De qualquer forma, imediatas providências devem ser tomadas, a fim de evitar que a umidade aumente, prejudicando o acervo conservado no edifício.

    Outro foco de umidade advém dos dutos de ar condicionado. Os dutos, quando não vistoriados regularmente e mantidos em boas condições, poderão apresentar vazamentos de água condensada através de furos e ou desencaixes. Quando estas tubulações não estiverem aparentes, deve-se observar a presença de sinais indicativos: ocorrência de manchas no forro ou no revestimento das paredes nas imediações dos dutos.



    Feitas as recomendações, devemos considerar que a sede de um arquivo, assim como os documentos aí guardados – e até nós mesmos –, temos um tempo de vida que poderá ser maior ou menor na medida que saibamos, e possamos, prevenir as doenças e os males precoces. Nesse sentido, jamais poderemos zelar pelo conteúdo de um arquivo de modo dissociado do trato do invólucro arquitetônico que o protege, sob pena de estarmos pondo ambos em sério risco.


    Arquiteto Breno Berezovsky



    Infiltrações provenientes da cobertura são denunciadas por manchas no forro e paredes. A caixa do arquivo
    A umidade das infiltrações pode causar o descolamento da película de pinturas parietais. A caixa do arquivo
    Infiltrações próximas de instalações elétricas podem causar curto circuito, e conseqüentemente resultar em incêndios. A caixa do arquivo
    Estruturas metálicas que sustentam coberturas de vidro ou similares devem estar constantemente em observação, especialmente quanto à vedação nas juntas das peças que compõem a cobertura. A caixa do arquivo



    Lacunas de revestimento promovem a infiltração de águas pluviais no interior da edificação. A caixa do arquivo
    Tubulação furada, no caso um coletor de águas pluviais que ao invés de conduzir a água para a rede pública, deságua-a no meio do percurso, causando danos à edificação. A caixa do arquivo
    Processo de deterioração da edificação provocado por problemas causados pela água: primeiramente, a corrosão do cano; depois, o desprendimento do revestimento e a lavagem contínua desagregando o próprio tijolo. Tubulação de coleta de águas pluviais, desaguando no encontro do edifício com a pavimentação do piso. A caixa do arquivo
    Revestimentos danificados permitem que as infiltrações tornem o ambiente interno úmido e insalubre. A caixa do arquivo
    Tubulação de coleta de águas pluviais, desaguando junto ao encontro do edifício e a pavimentação do terreno A caixa do arquivo




  • RESTAURO EM PAPEL

  • ÁGUA + PAPEL = DESASTRE

    Uma das características do verão é a ocorrência de chuvas fortes e as conseqüentes inundações, fatos estes que nos motivam a comentar sobre os danos provocados pela água nos livros.

    Restringiremos as orientações destinadas aos acervos domésticos, pois pressupomos que instituições públicas ou privadas possuam planos de prevenção de desastres e de atendimento em caso de emergências.


    I. Situações em que a água provoca desastres:
    1. inundações;
    2. ruptura de canos de água ou de esgotos;
    3. entupimento de calhas e ralos;
    4. problemas na cobertura do imóvel;
    5. utilização de água no combate ao fogo;
    6. imprudência humana.
    II. Danos provocados pela água em livros
    1. deformação nos suportes devido ao fato de seus componentes (revestimentos, papelões, papéis, cadarços e linhas) absorverem a água em quantidade e de forma distintas;
    2. perda de parte dos elementos estruturais dos papéis. Estes, molhados ou mesmo depois de secos, poderão rasgar, enrugar ou distorcer;
    3. solubilização dos adesivos e das tintas;
    4. o caulim e a caseína que revestem o papel couché, em contato com a água transformam-se em adesivo. Livros e revistas impressos neste tipo de papel, quando molhados tornam-se blocos compactos, com as folhas coladas umas às outras, quase sempre de maneira irreversível;
    5. surgimento de colônias de fungos e bactérias;
    6. a água em acidentes é quase sempre portadora de resíduos, lama, lodo, impurezas ou outros elementos que ficam depositados nos materiais.
    III. Medidas preventivas:
    1. conhecer a localização e funcionamento de todos os registros do imóvel;
    2. fazer manutenção permanente, sobretudo das redes elétrica e hidráulica, do telhado;
    3. jamais guardar livros e documentos:
      • a menos de 10cm do piso:
      • sob ou próximos a canos de água, dutos de vapor, equipamentos de refrigeração e janelas;
      • em áreas vulneráveis a inundações (por exemplo: subsolos).
    4. ter em casa ventilador, estoque de papel absorvente, luvas descartáveis.
    5. orientar as pessoas responsáveis pela limpeza dos ambientes a não utilizarem baldes de água próximos ao acervo;
    6. próximo de livros não fumar nem consumir líquidos e alimentos;
    7. fechar as janelas ao sair de casa.
    IV. Em caso de acidente:
    1. manter a calma;
    2. estabelecer prioridades segundo critérios de importância e extensão do dano (tintas solúveis, papel couché, etc. );
    3. transportar o material para um ambiente seco e ventilado;
    4. ligar o ventilador direcionando-o para o teto;
    5. colocar os livros em pé, sobre papéis absorventes, com as folhas entreabertas;
    6. os livros e revistas impressos em papel couché devem ser colocados em pé, abertos, e ter as suas folhas separadas imediatamente. Assim devem permanecer até a secagem completa;
    7. nos demais livros, intercalar a cada 7 folhas uma folha de papel absorvente que deverá ser substituída e retirada do ambiente sempre que molhada;
    8. observar que o tempo de secagem não é o mesmo para os diversos materiais e tipos de papéis;
    9. colocar os livros na posição horizontal, sob peso, sem papéis absorventes, assim que estiverem secos;
    10. jamais secar os livros sob o sol ou próximos a fontes de calor pois estes provocam danos na estrutura dos materiais acelerando o seu envelhecimento e descolorindo as tintas;
    11. jamais acondicionar livros úmidos ou molhados em material plástico para evitar o desenvolvimento de colônias de fungos e bactérias;
    12. buscar a orientação de um conservador profissional.
    Após a ocorrência de um desastre nenhum livro ou documento voltará a ser como era originalmente!


    Maria Isabel Garcia
    Sheila Cypukovas


    com a colaboração de
    Ruthe Helena Camargo Ferreira


    DICA: no site do projeto CPBA - http:www.cpba.net - estão disponíveis informes sobre o tema




  • CCAD

  • CCAD: atividades no período e
    Tabelas de Periodicidade


    No início de 2006, três novas Comissões Setoriais de Avaliação de Documentos (CSA) foram nomeadas e devidamente publicadas no Diário Oficial da Cidade de São Paulo: a CSA da Secretaria Municipal de Planejamento, a CSA da Secretaria Municipal do Trabalho e a CSA da Secretaria Especial da Pessoa Com Deficiência e Mobilidade Reduzida.

    Ainda neste período, a CCAD – Comissão Central de Avaliação de Documentos – recebeu da Comissão Setorial de Transportes e da Comissão Setorial de Esportes, Lazer e Recreação os primeiros estudos para elaboração de suas Tabelas de Temporalidade.

    A Comissão Central de Avaliação de Documentos, em conjunto com as Comissões Setorias, tem estabelecido mecanismos que possibilitam a criação de um processo de avaliação, seleção e destinação dos documentos produzidos pela administração pública, como as Tabelas de Temporalidade.

    As Tabelas de Temporalidade são instrumentos de trabalho que registram o tipo de conjuntos documentais públicos, definem os prazos para sua guarda em função de seus valores legais, fiscais, administrativos, etc. e determinam prazos de transferência, recolhimento e eliminação de conjuntos documentais.

    As Tabelas de Temporalidade são elaboradas pelas CSAs de cada Secretaria, Autarquia ou Empresa Pública Municipal, respeitando as especificidades de cada órgão. Posteriormente, são analisadas e aprovadas pela CCAD, que as encaminham para homologação e publicação no Diário Oficial da Cidade de São Paulo. A oficialização das Tabelas de Temporalidade possibilita a eliminação de documentos rotineiros e desprovidos de valor, a guarda e o acesso ao patrimônio documental público.

    Abaixo, os tópicos inclusos no modelo da Tabela de Temporalidade, de acordo com o Decreto 46.400, de 28 de setembro de 2005.
    • Código do documento
    • Série documental
    • Prazo de guarda (em anos)
      • fase corrente
      • fase intermediária
    • Destinação final
      • eliminação
      • guarda permanente
    • observações



    Fátima Colacite Pessoa de Oliveira





  • LINKS APOIO





  • Mapa de localização
    Mapa de localização AHMWL

    Serviços: Visita Monitorada - O Edifício Ramos de Azevedo, projetado pelo escritório técnico de Ramos de Azevedo, foi inaugurado em 17 de abril de 1920 para receber os cursos de eletrotécnica e mecânica da Escola Politécnica. A partir de dezembro de 1999 tornou-se sede do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís (DPH), da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.


    Para agendar visitas monitoradas, utilize o e-mail:
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    AHMWL
    Pr.Cel Fernando Prestes n.152
    São Paulo - SP
    01124-060


    tel: 55-11-3326-1010








    Acesso
    Metrô Tiradentes


    funcionamento:
    segunda-sábado
    9:00-17:00













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    Prefeitura da Cidade de São Paulo - 2005-2006 (c)



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    Cidade de São Paulo

    José Serra
    Prefeito da Cidade de São Paulo

    Carlos Augusto Calil
    Secretário de Cultura

    José Roberto Neffa Sadek
    Secretário Adjunto

    Paulo Rodrigues
    Chefe de Gabinete

    Walter Pires
    Departamento do Patrimônio Histórico

    Liliane Schrank Lehmann
    Divisão do Arquivo Histórico Municipal "Washington Luís"