Os Pais de Barros na toponímia paulistana
A partir dos últimos anos do século XIX, inicia-se o processo de parcelamento das velhas chácaras que
circundavam a área urbanizada de São Paulo, cidade então em franca expansão física, motivada pelo pleno
florescimento econômico da atividade agroexportadora e pela intensa política imigrantista desenvolvida pelo
governo paulista. Isso daria oportunidade para que os loteadores pertencentes à família Pais de Barros
prestassem homenagens aos familiares mais ilustres, de modo que seus nomes ficassem para sempre gravados
na memória dos paulistanos.
Como vimos, ainda no ano de 1885, aproveitando o novo sistema de numeração de casas então adotado e as
novas placas de ferro esmaltadas nas cores branca e azul que seriam empregadas na identificação dos
nomes das ruas da Capital, o vereador, proveniente de Sorocaba, Coronel Manuel Lopes de Oliveira,
sem dúvida antigo correligionário dos Aguiar e dos Pais de Barros, propôs a alteração do nome de duas
vias da cidade, em memória a dois personagens históricos vinculados ao Partido Liberal.
A Rua Alegre passaria a ser conhecida como Rua do Brigadeiro Rafael Tobias (hoje Brigadeiro Tobias) e a
Rua de D. Ana Rosa, nome conferido pelo próprio Senador Queirós homenageando a lembrança de uma antiga
senhora benemérita, seria desde então Rua do Senador Queirós, hoje avenida desse nome.
Na chácara do Barão de Sousa Queirós, havia desde muito uma via que a cortava de fora a fora, fazendo a
ligação entre o caminho de Sorocaba (Rua da Consolação) e a Praça da Alegria ou Largo dos Curros (atual
Praça da República). Talvez fosse essa a antiga Rua Franca nunca identificada pelos historiadores da
cidade, que teria tomado mais tarde o nome de Beco e depois de Rua de São Luís. Sem dúvida, uma alusão ao
santo onomástico do primitivo proprietário daquelas terras, o Brigadeiro Luís Antônio de Sousa.
Das ruas traçadas no Arouche, uma limita um dos lados do hospital da Misericórdia e lembra a “benemerência”
interessada dos Pais de Barros, com o nome de Rua Marquês de Itu. Nas proximidades, há outra via dedicada
à memória do Barão de Tatuí e ainda outra com o nome de Martim Francisco, político liberal da família
Andrada, aparentado com a Marquesa de Santos, esposa do Brigadeiro Tobias.
Na antiga chácara do Barão da Limeira, cerca pertencente ao velho convento franciscano, transformado em
Academia de Direito em 1827, adquirida em leilão pelo barão ainda nos anos de 1840, a baronesa viúva
abriria a Rua Brigadeiro Luís Antônio (1894), em outra homenagem ao rico e influente pai de seu marido.
E, anteriormente, em 1882, a baronesa havia anunciado a intenção de abrir ruas nas terras de sua
propriedade situadas a oeste da cidade, entre elas a futura Barão da Limeira, o que permitiria a
interligação de vários bairros em formação: Santa Cecília, Campos Elísios e Bom Retiro.
Nas antigas terras do 1º Barão de Piracicaba, além das já mencionadas Rua Paula Sousa e a vizinha
Washington Luís, existe até hoje a Rua Antônio Pais, que dizem se referir a Antônio Pais de Barros,
marido de Maria Pais de Barros, proprietários de um dos palacetes erguidos na chácara, ao qual já nos
referimos. Há também uma Vila Aguiar de Andrada, que é o sobrenome do engenheiro Eduardo, marido de
Elisa Tobias de Aguiar, parenta e herdeira da Marquesa de Itu. Eduardo foi o autor da pitoresca Vila
Marquesa de Itu (1914-1919), hoje tombada, construída na parte posterior do lote do antigo palacete
demolido.
Quanto à D. Maria Angélica, nos primeiros anos do século XX daria continuidade ao retalhamento da sua
Chácara das Palmeiras. Como vimos em texto publicado em número anterior deste Informativo (nº.12),
ao nomear as novas vias públicas abertas em suas terras, fazia, em geral, referência a membros de sua
família ou a antigos correligionários políticos. A Rua Conselheiro Brotero, por exemplo, traz à lembrança
o nome do José Maria de Avelar Brotero (1798-1873), ilustre professor da Academia de Direito, pai de
Frederico Dabney de Avelar Brotero (1840-1900), este por sua vez sogro de um filho já então falecido de
Maria Angélica. Ela também celebrou o sobrenome do marido morto, abrindo a Alameda Barros, e o título
de sua sogra, Leonarda de Aguiar, uma de suas tias-avós, atribuindo o nome de Baronesa de Itu a uma
outra rua. Com relação à Dr.Gabriel dos Santos (1816-1858), aberta já nos anos de 1910, perpetua a
lembrança de um aliado político de um parente ilustre, o Brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar, no tempo da
Revolução de 1842, e a Brasílio Machado refere-se a Brasílio Augusto Machado de Oliveira (1848-1919),
outro membro pertencente às hostes liberais do tempo do Império.
Não devemos nos esquecer ainda da conhecida Avenida Pais de Barros, no bairro da Mooca, aberta em
terras pertencentes a Rafael Aguiar Pais de Barros. Como vimos, foi graças a ele e seus amigos que se
inaugurou em terrenos municipais especialmente aforados, situados nesse arrabalde, o Clube de Corridas
Paulistano, mais tarde denominado Jockey Club. E também da Rua Nicolau de Sousa Queirós, aberta em terras
do Instituto Ana Rosa, entidade assistencial, até hoje sob administração dos sucessores do Senador
Sousa Queirós, transferida na passagem do século XIX para o antigo Largo Guanabara,
atual Dona Ana Rosa, e desde 1947 localizada na Vila Sônia.
Eudes Campos
Seção Técnica de Estudos e Pesquisas
Fontes
- SÃO PAULO (Cidade). AHMWL. Banco de dados da Seção de Denominação de Logradouros Públicos. (fichas referentes às ruas mencionadas no texto).