PMSP/SMC/DPH
São Paulo, outubro de 2010
Ano 5 N.27 

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  • ESTUDOS & PESQUISAS
  • Pequena contribuição para o estudo da indumentária dos primeiros paulistanos


    Eudes Campos
    Seção de Estudos e Pesquisas




    | Introdução | Os trajes quinhentistas... | A evolução dos trajes... | Glossário | Fontes |


    Glossário

    O presente glossário foi organizado com o propósito de atender as necessidades específicas do assunto que nos interessa aqui, os trajes paulistanos dos séculos XVI e XVII. Como de praxe nestes casos, recorremos a antigos dicionários, os quais nem sempre consignam a definição que melhor cabe à indumentária usada no período em foco, detalhe ao qual os historiadores brasileiros muitas vezes não deram a merecida atenção. Em alguns casos, conseguimos corrigir esse tipo de falha.

    • Aleonado ou leonado - “Da cor que tira a russo, como a do cabello do Leão” (BLUTEAU, 1712-1728). Fulvo, pardacento.

    • Algodão - Fio ou tecido que se fabrica com os pelos muito longos, achatados, por vezes retorcidos, entrelaçados e geralmente brancos que reveste as sementes de certas espécies do gênero Gossypium, da família. das malváceas. (Houaiss). Em São Paulo, a produção doméstica do algodão foi muito importante durante os séculos XVI e XVII. Nos sítios das redondezas, plantava-se o algodão e fiavam-no. Servia para tecer camisas, ceroulas, gibões de guerra (escupis), toalhas de mesa e de mãos, lençóis e redes de dormir, segundo Sérgio Buarque de Holanda (Caminhos e fronteiras). Quando havia muitos escravos no sítio, a produção aumentava. No início, fardos de algodão chegaram a servir de moeda de troca.

    • Amorado - Que tem a cor da amora; arroxeado, morado (Houaiss). Cor de calçado feminino nos inventários paulistas.

    • Anágua - “Saya de lenço [lençaria] que se põe logo sobre a camisa” (MORAIS/BLUTEAU, 1789). Termo que durante certo tempo substituiu a vasquinha e as saias nos inventários paulistas, entre 1643 e 1667.

    • Armador - Peça superior dos trajes masculino e feminino, citada em inventários paulistas. Aparentemente substituía corpinho, cuja última ocorrência nos inventários paulistas é de 1651. Suas características não são conhecidas. Nos inventários paulistas são às vezes confundidos com os coletes. Estes não tinham mangas, mas os armadores tinham, em geral, avulsas, feitas com tecido que contrastava com o resto da vestimenta. O armador sobrepunha-se ao gibão feminino, e, parece, à roupeta masculina. Ocorre nos inventários paulistas datados entre 1638 e 1667.

    • Barragana, ou antes Barregana - Pano tecido com pelo de cabra, resistente à chuva; tecido de lã forte (Houaiss).

    • Barselana - Tecido antigo de características desconhecidas.

    • Beatilha - “Lençaria muito fina. Touca de beatas, ou freiras, donde tomou o nome esta lençaria” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Bedém - Capa de couro ou de esparto contra a chuva; túnica mourisca, curta e sem mangas. (BLUTEAU, 1712-1728) (MORAIS/BLUTEAU, 1789). “Capa Mourisca; Capa d’agua” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Belbutina - Belbute fino. Belbute era tecido antigo de algodão grosso e pesado, que semelhava o veludo (Houaiss). Aparece em inventários paulistas.

    • Berne - “Panno fino escarlate. Outros escrevem Berneo”, diz o Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806. Notar que berne era um tecido de lã grosseiro, segundo o historiador Boucher, e aqui aparece como tecido fino. Incongruência que infelizmente não pôde ser superada.

    • Bernéu - Capa comprida, e grosseira (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Bocaxim, ou antes bocassim - Antigo tecido de algodão encorpado, que servia para forrar trabalhos de tapeçaria, cortinados etc. e era usado como divisória de ambientes (Houaiss). Nos inventários e testamentos aparece como forro de peças de vestimenta.

    • Bombazina - Fustão com dois anversos (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Borzeguim - “Bota até o meio da perna, atada, e justa á perna” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Bragas – “Hoje he huma especie de ceroulas, de usaõ os pescadores e tintureiros, & outros” (BLUTEAU, 1712-1728). ”Calças largas” (MORAIS/BLUTEAU, 1789).

    • Braguilha - Peça do vestuário masculino surgida no século XV com as calças ajustadas feitas de tecido e compostas de pernas separadas. Protegia a região genital, impedindo que fosse vista frontalmente a fralda da camisa, sobre a ceroula. Tomou a forma de um bolso para melhor acomodar as partes sexuais masculinas. No século XVI foi ganhando destaque à custa de muito enchimento, chegando a ter a forma de um falo ereto. Deixou de ser usada por volta de 1590, sendo substituída por uma abertura simplesmente abotoada.

    • Bretangil ou bertangil - “Panno de algodão que ha entre os Cafres (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806) [Cafres – indivíduos de uma população africana banta, afim dos zulus, não muçulmana, do Sudeste da África]; certo tecido de algodão (azul, preto, vermelho) que se exportava de Cambrai (França) para a África oriental e que aí também se fabricava (Houaiss).

    • Bretanha - Lençaria de linho, fina, que se trazia da Bretanha (MORAIS, 1831); tecido branco muito fino, de linho ou de algodão (Houaiss).

    • Burato - “especie de panno de seda, de que as mulheres antigamente faziaõ mantos” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Barberisco - Tecido antigo de características desconhecidas.

    • Bombachas - “Calçoens de seda, que ou se trazião com tufos, ou garambazes [?], erão muito largos, & se atavão pellos juelhos (BLUTEAU, 1712-1728). As bombachas citadas nos inventários paulistas dos anos de 1650 parecem ter sido largas ceroulas, às vezes decoradas com rendas. De uso proibido por lei suntuária portuguesa (Pragmática de 1668), na tentativa de evitar o consumo supérfluo de rendas estrangeiras.
      Peças usadas externamente pelos antigos gaúchos, as bombachas não passavam de “ceroulas fofas”, depois transformadas em “calças muito largas”.

    • Burel - Tecido áspero de lã, de cor parda ou acinzentada, usado na Idade Média pelos camponeses mais rústicos e adotado para a confecção dos hábitos conventuais dos frades menores.

    • Cabeção - “A parte superior da vestidura que cinge o pescoço, & se poem a volta cozida, ou abotoada `a roupeta ou casaca” (BLUTEAU, 1712-1728). “A parte de capa, & c., ao redor do pescoço.” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Na verdade, deduzimos pelos inventários que cabeção começa a substituir a palavra mantéu a partir do século XVII. Na época, a palavra gola era reservada para designar a peça de ferro circular que os homens de armas usavam no pescoço. Ver mantéu.

    • Cabrestilho - Nas meias sem pé, alça que passava sob essa parte do corpo, para manter a peça esticada. A solução já existia em antigas calças de tecido (chausses à étrier, em francês) e segundo François Boucher teria surgido no início do século XVI. Com esse tipo de meias, usavam-se escarpins ou escrupins para cobrir os pés antes de calçar as meias e os sapatos. Ver escarpim.

    • Calamaço – “Tecido antigo de seda” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Provavelmente o calhamaço citado num inventário de 1710, como tecido com o qual foi confeccionada uma saia preta era o calamaço e não o rústico calhamaço, como vem consignado no documento.

    • Calhamaço – “Certo panno grosso de linho de que ha muitas castas” (BLUTEAU, 1712-1728).” Ver calamaço e canhamaço.

    • Cambraia - Tecido muito fino, translúcido e levemente lustroso, de algodão ou de linho, usado em lenços, adornos, etc.(Houaiss). Primitivamente fabricado em Cambrai, na França.

    • Camelão - “Certo pano, que se fazia de pello de camelo, donde lhe veyo o nome. Camelaõ, hoje he pano; de pello de cabra e laã, ou seda. Ha camelaõ de Hollanda fino, camelaõ de laã grosso, camelaõ de França ralo &c [...]” (BLUTEAU, 1712-1728).

    • Camisa - Peça de roupa usada tanto por homens quanto por mulheres. Vestida diretamente sobre a pele, quase sempre de cor branca e de tecido fino de linho, algodão, lã ou seda. Tinha amplas proporções e suas fraldas atingiam quase os joelhos, no caso masculino, e quase os tornozelos, no caso feminino. Nos inventários paulistas aparecem às vezes com bordados de cor, tradição de origem mourisca que foi adotada pelos espanhóis e depois divulgada pelo resto da Europa.

    • Campanha - Tecido antigo de características desconhecidas.

    • Canequim - “Lençaria fina de algodão da India” (MORAIS,/BLUTEAU, 1789).

    • Canhamaço – “A estopa do canamo ou estopa grossa do linho gallego § lençaria feita della”(MORAIS/BLUTEAU, 1789).

    • Capote - “Especie de manto, de que usaõ os homens, comprido até os pés, com cabeção” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Carassulilho - Pelo contexto do trecho do inventário paulista (1638) de que foi tirada essa palavra, deduz-se que era um tipo de ornato de roupas, feito, no caso, de ouro.

    • Carrião - Tecido antigo, de características desconhecidas.

    • Casaca1 - Peça do vestuário masculino do século XVI que se punha por cima da roupa no lugar da capa. Tinha o aspecto de um casaco feito de tecido espesso com mangas e abas compridas. Decorado com galões e forrado de peles, ia até a altura da metade da coxa.

    • Casaca2 - Peça de vestuário que compunha o traje à francesa usada em São Paulo a partir da década de 1670, na fase de abandono dos trajes espanhóis usados por cerca de 120 anos. Abandono esse que se deu em consequência direta da Restauração portuguesa, ocorrida em 1640. Originária do costume militar, a peça se chamava em francês justaucorps, por ser ajustada ao corpo. Foi adotada pelo traje civil francês por volta de 1670. Com mudanças de detalhes, continuou em uso até o meio do século XVIII, quando seu corte e ornamentos se simplificaram, tornando-se então l’habit, ou seja a casaca tal qual conhecemos hoje (BOUCHER, p. 434).

    • Capa - “Vestidura, que se traz por cima das outras, & fora de casa” (BLUTEAU, 1712-1728). Segundo Boucher (p. 228 e 428), a capa espanhola durante o século XVI tinha capuz e forma circular, sendo pouco usada depois de 1550. A partir dessa data foram adotados no país outros modelos vindos da Alemanha ou da Europa Central, em forma de capa curta ou meio-longa, o ropón, menos incômodo e mais adaptado ao porte de espadas longas, do tipo espanhol ou italiano. Sua forma variava pouco, embora tivesse nomes diferentes: ferreruolo, boêmio, balandran, fieltro e capa. Estes últimos modelos munidos de capuz, que será a marca distintiva desta peça usada na Espanha, em Portugal (ver a figura do português representada por Vecellio), e alhures durante parte do século seguinte.

    • Cassa - Tecido fino, transparente, de linho ou de algodão (Houaiss). Usado em São Paulo no século XVII para fazer mantéus.

    • Catassol - Tecido como o camelão, mas muito fino, e lustroso (Houaiss). Ao que parece, o tecido tinha aparência furta-cor, dado o significado da palavra acatassolado.

    • Cetim - Tecido de seda lustroso e macio cuja trama não aparece no lado avesso (Houaiss).

    • Chamalote - Fazenda de textura similar à do tafetá, cuja trama produz efeitos ondulados no lado direito do tecido (Houaiss). Em inventário de Mécia de Siqueira (1648) é chamado de “chamalote de águas”, em razão dos efeitos ondulados que o tecido apresenta.

    • Chapéu - Havia os de uso masculino e os de uso feminino. Quando de uso feminino, podiam ser de feltro preto, tal como registrado na mulher portuguesa de Cesare Vecellio em 1590. Pequeno, de aba estreita e copa arredondada e baixa, ornado com trancelim de seda ou de prata. Até hoje sobrevive em trajes folclóricos portugueses, sob formas diversas. Em documentos do século XVII, às vezes é mencionado chapéu com seu véu. O véu era um lenço grande que cobria a cabeça e ombros femininos sob o chapéu. Modo até hoje visto em mulheres que ainda trazem indumentárias regionais ibéricas. Foi também usado desse modo em São Paulo até inicio do século XIX. Nos inventários ainda são citados chapéu de cor, em geral, femininos. Quando de uso masculino, foram localizados um de Segóvia e um de Bardá. Havia também os da terra. Eram em geral pardos e pretos. Ver sombreiro.

    • Chapim - “Calçado de mulher; era de quatro, ou cinco solas de sovereiro para fazer mais alta a estatura. Coturno trágico. Hoje he um calçado de sola para se calçar com çapato.” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). A definição demonstra que havia dois tipos de chapim: um para ser usado sozinho, outro para ser calçado com botinas, conforme os inventários e testamentos paulistas. Não são mais citados nos inventários paulistas depois de 1655.

    • Chouriço - Deduzimos que fosse um saco em forma de rolo, feito de tecido e cheio de enchimento, que costurado na altura da cintura da anágua servia para entufar as saias. Peça citada no inventário de Gaspar de Cubas, de 1648.

    • Cochonilho - O cochonilho encontrado em inventário paulista (1644) se refere ao corante carmesim, naquela época produzido no México e na América Central, e cuja fonte é a cochonilha-do-carmim, inseto homóptero (Dactylopius coccus), da família dos datilopiídeos, que se alimenta de cactáceas. A fêmea do inseto produz a substância de que se tira o referido corante. O corpo do inseto era dessecado, moído e fervido. Sabe-se que nesta época os tecidos de cor vermelha eram os mais caros, em razão dos corantes utilizados.

    • Colete - Peça superior dos vestuários masculino e feminino, segundo os inventários paulistas.“Especie de gibão sem mangas” (BLUTEAU, 1712-1728); Ocorre nos inventários paulistas datados dos anos entre 1613 e 1665, às vezes confundidos com os armadores.

    • Corpinho - Peça superior do vestuário feminino. “He a modo de gibão, sem abas” (BLUTEAU, 1712-1728). Desaparece dos inventários paulistas em 1651, sendo substituído por outras denominações: colete, armador e gibão.

    • Cotão - Tecido antigo de algodão resistente (Houaiss). Ao que parece, era nome de uma peça de vestuário masculino, segundo um inventário paulista de 1623.

    • Crepe - “Derivase do Francez Crepe. He hum panno muyto leve, & mais transparente, que filele. He feito de seda crua, & engomada.” (BLUTEAU, 1712-1728). Ver filele.

    • Cuecas - Segundo Bluteau (1712-1728), eram calções interiores atados nos joelhos, que se usavam “por amor do frio”. Eventualmente podiam ser usados externamente. De acordo com os inventários paulistas, eram feitas com os mesmos tecidos das demais peças exteriores masculinas, fazendo parte dos conjuntos chamados vestidos ao lado dos calções (inventário de Francisco Cubas Preto, 1673). Deduzimos então que eram essas cuecas a tradução lusa das rhingraves francesas, verdadeiras testemunhas do acelerado processo de afrancesamento da vestimenta masculina portuguesa após a Restauração (1640). Ver rhingrave.

    • Damasco - Tecido de seda ornado, em alto-relevo, com fios para cetim ou tafetá, originário da cidade de Damasco (Síria) (Houaiss).

    • Damasquilho - Tecido de seda ou lã, menos encorpado, que imita o damasco ('tecido'); damasquim (Houaiss).

    • Droga - Fazenda ligeira de seda, ou lãa (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Duquesa – “Duqueza, tambem he o nome de certo panno de laã”(BLUTEAU, 1712-1728).

    • Escarpim ou escrupino - “Calçado de ponto de meã, ou de lençaria para calçar por baixo da meã” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Subentendem-se as meias de cabrestilho, que não tinham pé. Ver cabrestilho.

    • Espiguilha - Galão estreito, às vezes em ouro ou prata (Houaiss).

    • Estamenha - Tecido de lã leve (Houaiss).

    • Ferragoulo - Gabão largo com cabeção [gola larga e pendente], capuz e mangas curtas, segundo Houaiss. Essa definição, que remonta a Bluteau (1712-1728), não condiz com o ferragoulo usado em Portugal e no Brasil durante o século XVI e XVII. Ver herreruelo ou ferrereulo.

    • Fraise (francês) - Volta de folhos que se punha em torno do pescoço, engomada e tesa. Em Espanha chamada gran gola (BOUCHER, p. 433).

    • Festo - “Uma droga grosseira. Lobo: mantéo de festo” (MORAIS/BLUTEAU, 1789).

    • Filele - “Filèle. Certo panno delgado de Laã, que trazem de Berberia.” (BLUTEAU, 1712-1728).

    • Fustão - “Especie de lençaria, que he tecida de cordões” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Tecido de algodão ou de trama de algodão com cânhamo ou linho. Feito originalmente no Cairo, no bairro de Fustat.

    • Gabão - Capote de mangas, com capuz, de que usaõ os camponesez (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Capote de mangas ou casacão, com capuz e cabeção ('espécie de gola') (Houaiss).

    • Galão - ver passamane.

    • Gasa - “Tela de seda o hilo [linho ou cânhamo] muy clara y fina” (Diccionario de la Lengua Espanõla - Real Academia Espanõla); gaze, em português.

    • Gibão - Peça superior dos trajes masculino e feminino. Punha-se diretamente sobre a camisa. Ajustado ao corpo, tinha mangas longas e pequenas abas. No traje masculino foi substituído pela véstia francesa em fins do século XVII. No traje feminino, manteve-se citado até o último inventário paulista estudado, datado de 1710, substituindo o termo corpinho.

    • Golilla (espanhol) - “Adorno hecho de cartón forrado de tafetán u otra tela negra, que circundaba el cuello, y sobre el cual se ponía una valona de gasa u otra tela blanca engomada o almidonada usado antiguamente por los ministros togados y demás curiales” (Diccionario de la Lengua Espanõla - Real Academia Espanõla). Ver gasa.

    • Gorgorão - Tecido encorpado de seda, com relevos formando finos cordões, originalmente fabricado na Índia (Houaiss).

    • Gravata - Usada em França desde mais ou menos 1670, substituiu o rabat. Tratava-se de um pedaço de linho bordejado de rendas, amarrado em torno do pescoço. A partir de 1670, o arranjo complicou-se, com o acréscimo de vários laços de fitas vermelhas ou azuis, que enriqueciam a aparência do conjunto. Muito trabalhosa de vestir, logo passou a ser vendida montada numa fita, que podia ser facilmente atada no pescoço. Foi substituída mais tarde pela gravata à la Steinkerque (1692), que era um longo pedaço de linho com rendas envolvendo negligentemente o pescoço num nó, cujas pontas eram passadas pela sexta botoeira da casaca (justaucorps) (BOUCHER, p.431), tipo de gravata que aparece em figurino publicado na Pragmática portuguesa de 1698. Em inventário paulista de 1688 são citadas toalhas de pescoço, que não sabemos dizer se são gravatas do primeiro tipo aqui descrito ou rabats. A gravata com laços de fitas aparece sendo usada em retrato de D. Afonso VI por volta de 1670 e também em retrato de D. Pedro II, de Portugal, obra datada do período 1683 e 1687. Ver rabat.

    • Grise - Tecido de lã pardacento usado especialmente em certos hábitos monásticos; gris, griso, (Houaiss).

    • Guarda-infantes (guardainfante, em espanhol) - “Armaçaõ de varios arcos de ferro, compridos, & estreitos, & estes se cobrem com fitas, que se lhe enrolaõ, que se pegaõ em hum côs, que ajusta nas cinturas das molheres; & da parte, que fica para as costas, tem um arco, que chamaõ, Arco de levantar; a saya, que o cobre, chamaõ, Roupas, porque agora se costumaõ vestir somente huã, que não há muito annos se vestiaõ duas, & a primeira se chamava Polheira, & em cima destas ficavam as roupas, que saõ abertas pella parte de diante” (BLUTEAU, 1712-1728). O guarda-infantes era uma armação para entufar as saias usada pelas damas espanholas (e depois pelas portuguesas) a partir dos anos de 1630 mais ou menos. Sucessor do verdugo, usado durante todo o século anterior, e antecessor dos paniers franceses, que seriam adotados nos Setecentos na França e, depois, em toda a Europa ocidental. O verdugo era uma armação em forma de sino, enquanto o guarda-infantes era achatado na frente e atrás, mas muito volumoso lateralmente, na altura das ancas (BOUCHER, p.278). Atingiu sua dimensão máxima por volta de 1660. Depois, no reinado de Carlos II (1661 -1700). perdeu muito de seu porte, sendo conservado nas cerimônias de corte até o início do século XVIII. A transformação da armação de forma cônica no guarda-infantes deu-se por etapas. Houve um período, no início do século XVII, em que a vasquinha ganhou pregas em torno da cintura, o que tirou o aspecto de sólido geométrico da silhueta feminina, pois a saia já não acompanhava perfeitamente a superfície superior do cone da armação, ganhando as ancas um volume arredondado. No retrato de Isabel de Bourbon (1602-1644), de autoria de Velázquez, datado de década de 1620 (coleção privada, Nova York), percebe-se que a projeção horizontal do verdugo também não era mais circular, mas elíptica e que o volume nas laterais na altura das ancas começava a aumentar, sem porém perder a forma campaniforme. No retrato da mesma rainha, datado de 1632, ainda de autoria de Velázquez (Kunsthistorisches Museum, Viena), constata-se que a saia tomou uma forma mais ampla e arredondada, perdendo a semelhança com o cone. No quadro hoje identificado como a imagem de Maria de Rohan (1600-1679), duquesa de Chevreuse, datado da época em que por motivos políticos se refugiou na Espanha, entre 1638 e 1639, obra pintada por Velázquez e hoje conhecido pelo nome de Mulher com Leque (Coleção Wallace), percebe-se que a armação já havia ganho a forma característica do guarda-infantes, embora tendo ainda pequenas proporções: ancas bem arredondadas e salientes e queda quase perpendicular das fraldas da saia. Após o período áureo da armação, entre os anos 1650 e 1660, muito conhecido graças aos retratos femininos da família de Filipe IV (1605-1665), executados por Velásquez, vê-se nas várias pinturas existentes tendo por tema a efígie da Rainha Maria Luisa de Orléans (1662-1689), que as saias tiveram o seu volume drasticamente reduzido entre 1670 e 1685. Agora com muitas pregas, desciam de modo a se alargar na base. Finalmente um quadro de 1690, de autoria de Claudio Coello (1642-1693) (retrato de Teresa Francisca Mudarra, hoje no Museu do Prado), nos faz entender as últimas transformações do traje feminino espanhol, antes de desaparecer no reinado do rei Bourbon, Felipe V, sob o forte influxo das modas francesas. A armação, ao que parece, retomou o modelo campaniforme, mas as saias agora caíam em largas pregas sobre ela, havendo uma longa cauda.

    • Gingão da Ìndia - “Certo panno, que se lavra nas terras do Mogol”(BLUTEAU, 1712-1728). Bluteau grafa guingão.

    • Herrereulo ou Ferreruelo (espanhol) - “Capa corta con cuello y sin capilla” (Diccionario de la Lengua Espanõla - Real Academia Espanõla). Capa longua com gola de veludo, sem capuz, usada na Espanha pelos homens no século XVI (BOUCHER, p.433). No Museo del Traje, em Madrid, foi exposta há anos uma capa-ferreruelo vermelha de origem catalã que não possui gola.

    • Holanda – Tecido de linho muito fechado, manufaturado nos Países Baixos, segundo Bruno (p. 98).

    • Holandilha - Pano de linho grosso engomado ou encerado, de fazer entretela dos vestidos (MORAIS,1831).

    • Hopalanda - Grande vestido exterior, com largas mangas evasês e colarinho alto, usada por homens e mulheres no século XIV e XV. Quase sempre feito de tecido espesso e ornado (BOUCHER, p. 434). Forrado de peles, apresentava grandes pregas, que eram mantidas presas na cintura com cintos que podiam ser extremamente estreitos e longos ou, ao contrário, bem largos. Ver petrina.

    • Lamê - Diz-se de ou tecido em cuja confecção ou ornamentação se utilizam fios laminados de metal (originalmente ouro ou prata) que lhe dão aspecto brilhoso ou cintilante (Houaiss). Citado em inventário paulista de 1643.

    • Lençaria - “Todo o tecido de linho, ou de algodão” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Lenço - “Panno de linho, que a gente traz na algibeira para se assoar,& alimpar o rosto do suor” (BLUTEAU, 1712-1728). “Pedaço de tela de linho, ou algodão, de que se usa para limpar o rosto, &c., e se traz na algibeira; as mulheres usão de lenços ao pescoço, e para a cabeça com varios feitios”(MORAIS/BLUTEAU, 1789).

    • Linho - Tecido feito das fibras de uma erva anual (Linum usitatissimum) usado na confecção de trajes finos e leves (Houaiss).

    • Loba - “Vestidura antiga roçagante. Vestido clerical. Vestido de luto antigamente” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). “Vestido escolástico antigo; consta de túnica aberta, que sobrepõe por diante, sem mangas, e de uma capa talar; também era vestido de dó [luto] antigo” (MORAIS/BLUTEAU, 1789). Citada num dos inventários paulistas de 1652, essa vestidura de luto solene era chamada loba cerrada nas Ordenações Filipinas (Livro V, Tit, 100). Só poderia ser usada durante 30 dias, em caso de luto por pai, mãe, filho, filha ou outro descendente, genro, nora, sogro, sogra e cunhado. Em caso de luto por tio, sobrinho e primo-irmão só seria permitido trazer capa de dó que não passasse da metade da perna. A loba foi objeto de restrições na Pragmática de 1677, que proibiu o luto comprido para evitar que se tivessem gastos desnecessários com lutos ostentosos.

    • Lona - Tecido forte, de linho grosso, de algodão ou de cânhamo (Houaiss). Fabricada originalmente em Olonne, cidade da França, de onde veio o seu nome.

    • Londres - Talvez pano de lã usado para fazer saia ou vasquinha. Seria aparentemente importado da Inglaterra.

    • Mantéu - “No trajo antigo, era peça de adornar o pescoço de varias feições, enrocado [pregueado], desfiado, d’abanos [com pregas em forma de tubos ou ondas, igual ao enrocado, segundo Bluteau, 1712-1728], á Balona [colarinho de camisa que voltava sobre os ombros e peito] &c. nos retratos antigos até o del-Rei D. Sebastião se vem os taes manteos § Alguns erão lizos, ou antes hum colarinho mui largo com abas caídas sobre o peito, como ainda hoje trazem as crianças” (MORAIS/BLUTEAU, 1789). Deixou de ser citado nos inventários paulistas em 1652. A peça também era chamada gorgeira.

    • Mantilha - “Mantilha de mulher. He uma espécie de veo, ou capa sem cabeção, nem talho, à medida do pescoço, que se poem sobre a cabeça, ou hombros; algumas saloyas a trazem pela cintura. A mantilha he mais comprida que capinha, & menos authorizada que manto. He mais usada nas Provincias, que na Corte. Mantilha de bicos, era a modo das mantilhas, que hoje se usaõ, mas com grandes bicos para diante. Ainda hoje ha ciganas, que usam dellas.” (BLUTEAU, 1712-1728) .

    • Manto - “Especie de véo, com que cobre a mulher a cabeça, & às vezes o rosto, ao sahir fóra de casa. Ha mantos de burato de seda, & de burato de laã, & seda, mantos de resplendor, de suprilho, de requeimadilho, de fumo, de cristal, & mantos de pelo” (BLUTEAU, 1712-1728). No tempo de Bluteau, o manto só cobria a cabeça e o rosto da mulher e era feito de tecido ligeiro, mas na Idade Média e até o inicio do século XVII, em Portugal, o manto era feito de tecido pesado de lã e cobria a figura inteira da mulher. Nos inventários paulistas eram comuns os mantos de sarja e de baeta, que continuaram sendo usados até o século XIX. Nos inventários mencionam-se também, excepcionalmente, “manto de gala com suas fitas azuis” (inventário de Marina de Chaves, 1617) e “manto da Glória” (inventário de Pascoal Leite Pais, 1664), sem que conheçamos a exata aparência dessas peças.

    • Marrelana ou merrelana - Tecido antigo, de características desconhecidas.

    • Melcochado - Seda de várias cores ou furta-cores (MORAIS, 1831).

    • Meia - “Parte da vestidura que cobre a perna, e pé, feita de ponto de malha de fio de lâa, seda ou linha “(MORAIS/BLUTEAU, 1789). Havia duas espécies de meias, a comum, ou de pé, e de cabrestilho (ver esse nome). Ao que parece, em São Paulo eram usadas apenas nas indumentárias de gala ou de festa. Na faina diária, os paulistas preferiam talvez andar de pernas nuas e até sem sapatos. Sérgio Buarque de Holanda fala sobre esse hábito em Caminhos e fronteiras. Eventualmente os brasileiros do interior andavam de alpargatas, segundo testemunhos de contemporâneos.

    • Mescla - Tecido fabricado com fios de tons ou cores diferentes ou constituídos por fibras de matérias diversas (Houaiss).

    • Merlim - Tecido ralo e engomado como a tartelana.

    • Mosquilho - Tecido antigo, de características desconhecidas.

    • Ouro falso - latão; fio de prata e cobre usado, a partir do século XVI, para executar bordados, substituindo o fio de ouro, de modo a tornar o material mais econômico, produzindo um efeito visual semelhante, segundo Manuela Pinto da Costa (Glossário).

    • Palheta -  Lâmina muito fina, ou tirinha flexível de prata ou outro metal (ouro ou ouro falso), que se vendia em carretéis. Servia para bordar, segundo Bluteau (1712-1728).

    • Palmilha - Tecido antigo, de características desconhecidas.

    • Panico - Aparentemente o mesmo que panico-rei ou paninho. Espécie de algodão muito fino, originário da Índia (Houaiss).

    • Pano da Serra - Pano grosseiro, semelhante ao burel, segundo Manuela Pinto da Costa (Glossário).

    • Paratudo - Tecido antigo, de características desconhecidas.

    • Parilha - “Panno de lã, que vem a ser o mesmo que saragoça bayxa” (BLUTEAU, 1712-1728).

    • Passamane - Fita ou galão entretecidos a fio de ouro, prata ou simplesmente seda ou algodão. Servia para decorar peças de roupa, em geral, acompanhando as costuras.

    • Pelote - “Vestidura antiga como vestes de abas grandes” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). No século XVI, chamava-se pelote a peça que ia por cima do gibão. Sua aparência variava. O pelote visto por Fernão Cardim em uso pelos paulistanos de 1585, deve ter sido o traje antiquado usado pelas camadas populares, folgado, com mangas e comprido até os joelhos. O pelote usado pelas camadas superiores da sociedade portuguesa de então era curto, com abas pequenas, e ajustado ao corpo, em geral sem mangas, deixando ver as mangas do gibão. Talvez se tenha confundido mais tarde com a roupeta. Ver roupeta.

    • Pelúcia - Tecido de lã, seda etc. felpudo de um lado e liso de outro, com fios menos densos e mais longos que o veludo (Houaiss).

    • Periquito - No Minho, o topete da cabeça (1806). Apanhado de cabelo enrolado em espiral ou em forma de concha, e fixado na cabeça por meio de grampos, varetas; coque, birote (Houaiss). Não se sabe se essas definições correspondem ao que diz Frei Vicente do Salvador sobre o traje paulista depois da chegada de D. Francisco de Sousa (c.1540-1611) em 1599.

    • Perpetuana - “Droga de lã de que ha varias sortes” (MORAIS, 1831).

    • Percalete - Tecido antigo de características desconhecidas.

    • Pertina - Ver petrina.

    • Pestana - “Peça que cobre o bolço do vestido, &c.” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Petrina - “Cinto com fivela, com que antigamente se cingiaõ por cima do vestido.” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). A petrina é uma peça que chegou a ser mencionada nos inventários e testamentos paulistas, segundo Silva Bruno. Numa passagem conhecida de Fernão Cardim aparece pertina, que deve ser entendida como petrina, ou pretina. Esse cinto foi visto em São Paulo no tempo de Cardim (1585), mas seu uso remontava ao século XV, quando se usavam hopalandas. Ver hopalanda.

    • Picote - Tecido grosso de algodão eventualmente produzido de modo doméstico em São Paulo no início do século XVII, segundo Lima (p.133). Isso é confirmado por Buarque de Holanda em Caminhos e fronteira e por um inventário de 1616 que traz calções feitos com picote da terra. De acordo com Bluteau (1712-1728), o picote, grosseiro e de cor cinza, nada mais era que burel, ou seja um rústico tecido de lã.

    • Picotilho - Picote de melhor qualidade e menos grosso (Aulete).

    • Pinhoela - Antigo tecido de seda ornado com círculos aveludados (Houaiss).

    • Portalegre - Ao que parece, tecido de lã feito na cidade portuguesa desse nome, no Alto Alentejo, importante centro de produção de lanifícios no século XVI. Num dos inventários paulistas há menção a uma saia de portalegre florentina (inventário de Francisco Rodrigues Barbeiro, 1623), citação que não se repete em nenhum outro inventário. Supomos seja equivocada essa declaração de procedência, baseando-nos para isso numa observação feita por Bluteau (1712-1728) sobre o fato de Portalegre ser cidade rica “pelo trato de pannos de cor que nella se tecem”.

    • Primavera - Espécie de tecido de seda ornado de flores e matizes (MORAIS,1831)

    • Rabat - Palavra francesa que deve ser traduzida por cabeção. No presente estudo é usada especificamente para indicar o modelo usado na França entre 1650 e 1670, quando estava em moda um tipo de cabeção nunca usado na Espanha. Uma gola postiça de renda estreita dos lados e que na frente se prolongava até o peito, sendo atada por meio de um ou dois pares de cordões, providos de borlas nas pontas (BOUCHER, p. 264). Em inventário paulista datado de 1688, aparecem toalhas de pescoço, que supomos sejam cabeções de modelo francês, a menos que, o que nos parece pouco provável, se refiram às primeiras gravatas brasileiras. Ver gravata.

    • Rás ou antes rasa - Citado por José de Anchieta como sendo tecido caro usado pelos moradores da Bahia, conjuntamente com veludos e sedas. Rás ou Raz eram os panos d’Arras, antiga cidade flamenga, depois francesa, que a partir do século XIV passou a fabricar famosas tapeçarias decorativas para cobrir paredes de ricas residências, peças que chegaram a ser exportadas para Portugal. Na passagem de Anchieta, porém, salvo engano, o nome do tecido deve ser rasa, pano de lã de que havia vários tipos (BLUTEAU, 1712-1728). Talvez rasa seja o raso, citado por José de Alcântara Machado em seu Vida e morte do bandeirante (1929).

    • Raso - Ver rás ou antes rasa.

    • Raxa - [Antigo] pano grosso, de algodão (Houaiss). Nos inventários paulistas há menção a raxa proveniente de Florença (inventário de Martim Rodrigues, 1612). Bluteau (1712-1728) fala que havia raxas de Florença, Segóvia, Inglaterra, Covilhã, etc.

    • Raxeta – “Sorte de raxa mais delgada” (MORAIS,1831). Lima (p.133) afirma que esse tipo de tecido era eventualmente fabricado de modo doméstico em São Paulo no início do século XVII. No inventário de Henriqueta da Costa, datado de 1616, cita-se um calção de raxeta florentina, o mesmo acontecendo no inventário de Catarina de Pontes de 1621, onde há uma saia desse tecido. Há também menção a uma saia de raxeta fradenha no inventário de André Martins, de 1613, certamente um tipo de raxeta usada na confecção de hábitos de frades. Bluteau (1712-1728) fala em raxeta de Segóvia, de Inglaterra, da França, de Xalão [?] e Montalvão. A raxeta era um pano de lã raso, sem pelos, e com muitas cores, mesclado.

    • Recamadilho (ou antes requeimadilho, segundo Bluteau) - Tecido antigo de características desconhecidas.

    • Rengo - “Panno de algodão, que vem do Oriente” (BLUTEAU, 1712-1728).

    • Retrós - Fio torcido de seda.

    • Rhingrave - Peça do guarda-roupas masculino, usada na França entre 1652 e 1675. Tratava-se de um extravagante culote de extrema largura, com pregas abundantes que lhe davam aparência de saia, não deixando perceber a divisão existente entre as pernas. Usada sobre calções, então muito largos e bufantes, que poderiam ser visíveis ou não sob a rhingrave. Estava provida de curiosa decoração feita com tufos de fitas (as chamadas fitarias citadas nos inventários paulistas), tanto na cintura (petite oie), como nas barras inferiores da peça (BOUCHER, p.256). Aparece sendo usada de forma bastante discreta em retratos do príncipe D. Teodósio (c.1653), por exemplo. Supõe-se que foi usada no Brasil sob o nome de cuecas, que aparecem em inventários. Ver cuecas.

    • Riscadilho - Tecido barato de algodão com riscos coloridos; riscadinho (Houaiss). Seria esse o riscadilho?

    • Roca - “Tira estreita, de que se usava antigamente nas mangas do vestido, nas calças” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). São as tiras de tecido que durante cerca de oitenta anos decoraram não só os trajes espanhóis, mas europeus em geral. Na Espanha foram abandonadas nos anos de 1650, ao que parece.

    • Roupão - “Vestido talar, largo, e aberto por diante, que se traz por caza” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Veste masculina ampla e comprida vista em uso em São Paulo por Fernão Cardim em 1585. Nome do saio feminino quinhentista e seiscentista a partir de meados do século XVIII, segundo Alcântara Machado. Ver saio.

    • Roupeta - Nos meados do século XVI, essa vestimenta masculina devia ter a aparência da ropilla espanhola, sendo vestida sobre o gibão. A ropilla era larga na cintura, tinha aletas na parte superior das cavas e mangas perdidas, deixando ver as mangas do gibão. A partir de determinado momento, talvez se tenha confundido com o pelote, termo aparentemente caído em desuso no século XVII, e substituído pela palavra roupeta, mesmo quando a peça tinha a aparência de pelote.

    • Roupetilha ou roupetinha - Talvez o mesmo que roupinhas, tal como definidas por Morais/ Bluteau (1789). Vestidura de mulher, que se apertava por diante, chegava até a cintura e tinha manga até meio braço ou manga inteira. Nos inventários paulistas aparece sendo usada com anáguas (supostamente, saias menos rodadas e decoradas que a vasquinha). Havia a versão infantil para meninas, de acordo com o regimento dos alfaiates de 1587. Em geral, essas peças eram feitas de tecido encorpado (sarja, baeta e serafina acabelada). Muito citadas em inventários paulistas datados dos anos de 1649-1656.

    • Ruão - Certa qualidade de linho tosado que se fabricava na cidade desse nome (Aulete).

    • Saia - “Vestidura da mulher, que lhe cobre o corpo da cintura para baixo” (MORAIS/BLUTEAU, 1789).

    • Saio - Esse abrigo feminino é assim definido por Morais/Bluteau (1789): “como a roupa aberta de hoje, mas com a differença de ter mangas perdidas até o colo do braço abertas no sangradouro [parte interna da articulação do braço, onde se fazia a sangria], e por esta abertura se enfiava o braço não o querendo cobrir com toda a manga; e a cauda do vestido era de quatro quartos, ou por mais enfeite de 2 sómente; tinham no cotovelo hum bolso grande”. Em São Paulo essa peça foi introduzida no século XVI e ainda era usada, com modernizações, no início do século XIX. Debret viu-o sendo vestido no Rio de Janeiro. A definição dada por Bluteau está conforme o saio espanhol que se usava no início do século XVII, dada a forma ampla das mangas, descrita como tendo um bolso grande na altura do cotovelo, em que, segundo Bluteau (1712-1728) as mulheres metiam o que queriam.

    • Saltimbarca - Vestidura rústica, espécie de roupeta aberta dos lados. (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Ocorre em inventários paulistas datados entre1638 e 1642.

    • Samarra - Amplo e longo casaco aberto na frente, com mangas em geral bufantes no alto, frequentemente forradas de peles e muito decoradas com passamanes e galões. Apareceu por volta de 1490, transformação em rica vestimenta de uma roupa de pele de ovelha usada pelos camponeses espanhóis (BOUCHER, p. 428).

    • Saragoça - Tecido grosso de lã escura. O nome vem da cidade espanhola onde era fabricado esse tipo de tecido. (Houaiss).

    • Sarja - Tecido entrançado de lã, algodão ou seda, usado para confecção de roupas (Houaiss).

    • Sarjeta - Ao que parece, um tipo mais delgado de sarja.

    • Sarjilha - Tecido antigo de características desconhecidas.

    • Seda - Substância filamentosa e brilhante que constitui o casulo do bicho-da-seda ou fio feito com essa substância (Houaiss).

    • Serguilha - Tecido de lã encorpado e sem pelos; seriguilha, sirgo, sirguilha (Houaiss).

    • Serafina - Espécie de baeta encorpada, geralmente com desenhos, segundo Manuela Pinto da Costa (Glossário). Nos inventários paulistas aparece uma variedade acabelada, ou seja felpuda, tal como a baeta.

    • Sombreiro - Chapéu de homem adotado na Espanha no começo do século XVII, mas já usado desde muito tempo na Ibéria, e em uso em toda a Europa durante o seiscentismo. Chapéu leve, com ou sem pluma de avestruz, que os espanhóis levantavam do lado direito (BOUCHER, p. 441). Cesare Vecellio em 1590 mostra a figura do português e do galego usando esse tipo de chapéu.

    • Soprilho - Droga de seda muito leve, e rala. (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Tabi - Certo tipo de tafetá, grosso e com ondas. O nome vem de um bairro de Bagdad, onde era fabricado (Houaiss).

    • Tafetá - Tecido ligeiro de seda (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Tecido lustroso feito de fios de seda retilíneos e bem tapado, segundo Manuela Pinto da Costa (Glossário).

    • Taficira ou antes tafeeira – Era uma espécie de chita [isto é; pano de algodão de pouco valor, estampado] da Índia, segundo Manuela Pinto da Costa (Glossário).

    • Tela - Tecido formado por fios (de lã, seda, linho, ouro etc.) (Houaiss).

    • Telinha, ou antes telhilha - Tela muito fina (Houaiss).

    • Tiroela - Estofo de seda que vinha de Castela (MORAIS,1831).

    • Toalha de toucar - Silva Bruno em seu O equipamento da casa bandeirista segundo os antigos inventários e testamentos coloca a toalha de toucar entre as peças de higiene e banho (p.79), mas esse tipo de toalha, de fato, constituía um tocado feminino. Remontava à Idade Média e compunha-se de um pedaço de tecido branco, que posto sobre a cabeça, tinha uma ponta caindo em frente à esquerda, e outra à direita. Esta era passada sob o queixo e jogada para trás sobre o ombro esquerdo. É o véu branco que cobre todas as representações de Nossa Senhora. Em geral, era feito de linho ou de algodão. Na tela portuguesa Chafariz d’El-Rei, cobria a cabeça das escravas, da mesma maneira como cobria a cabeça das portuguesas humildes, como as peixeiras que, no início do século XVIII, trabalhavam no Mercado da Ribeira Velha em Lisboa. Podia ser confeccionado em vários tecidos: linho, algodão, cambraia, volante e seda.

    • Touca - “Adorno de lençaria, de que usaõ as mulheres “(Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806).

    • Trancelim - “Trança estreita de fios seda, &c. para cingir chapeos, &c.” (Novo Diccionario da Língua Portugueza, 1806). Nos inventários paulistas aparecem trança, madeixa e laçada de chapéu significando trancelim, às vezes feito com fios de prata.

    • Tritaina - tecido antigo de características desconhecidas.

    • Valona (espanhol) - Cuello grande y vuelto sobre la espalda, hombros y pecho, que se usó especialmente en os siglos XVI y XVII. (Diccionario de la Lengua Espanõla - Real Academia Espanõla). Mantéu à Balona. Ver mantéu.

    • Veludo - Tecido que tem o avesso liso e o lado de fora coberto de pelos macios, cerrados e curtos (Houaiss).

    • Verdugo (espanhol) – Ver guarda-infantes.

    • Véstia - No século XVII, quando se divulgou a moda francesa para homens, a véstia (veste, em francês) era a peça que tomou o lugar do gibão, ficando entre a camisa e a casaca. Geralmente, eram feitas de rico tecido a parte da frente da peça e as mangas. O resto da vestimenta, em tecido de forro. De início, a véstia era muito longa, até os joelhos, mas aos poucos foi encurtando, até virar o gilet (colete), sem mangas, usado na França desde os meados do século XVIII (BOUCHER, p. 443). Em alguns inventários aparece a palavra gueta, que achamos seja corruptela acaipirada de véstia, conforme os inventários de Jerônimo Bueno, de 1693, de Antônio Leite Falcão, de 1694, e de Antônio Rodrigues do Prado, desse último ano.

    • Vestido - Nos inventários e testamentos paulistas aparece às vezes a combinação de duas peças do vestuário masculino feitas com o mesmo tecido, por exemplo: gibão e roupeta; capa e roupeta; ferragoulo e roupeta; calções e roupeta. No século XVII, vestido era o conjunto completo composto de capa ou ferragoulo, gibão, roupeta e calções, todos da mesma cor ou do mesmo tecido. Quando foi adotado o traje à francesa (habit, em francês), o conjunto completo, ou vestido, passou a ser: capa, casaca, véstia (depois substituída pelo colete) e calções. No vestuário feminino também havia conjuntos de peças executadas com o mesmo tecido, por exemplo, saia e gibão, saio e saia, saio e vasquinha, anágua e roupetilha. O vestido feminino era composto das seguintes peças, da mesma cor ou do mesmo tecido: saio, gibão, saia ou vasquinha.

    • Volante - “Tela muito rara de linho, ou lã” (MORAIS/BLUTEAU, 1789). Tecido leve e transparente, próprio para véus e outros ornamentos (Houaiss).

    • Volta - “A tira de panno, que cinge o pescoço, pregada no cabeção do jubão”(BLUTEAU,1712-1728)




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    Para citação adote:

    CAMPOS, Eudes. Pequena contribuição para o estudo da indumentária dos primeiros paulistanos. INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 5 (27): out.2010. <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>

     
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