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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, julho/agosto de 2006
Ano 2 N.7


Edição temática
























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Cidade em transe: comoção em São Paulo

Diante da onda de violência que tomou conta da cidade de São Paulo em meados do mês de abril próximo passado, por conta dos ataques generalizados perpetrados por facção do crime organizado, muitos paulistanos se têm perguntado se porventura a cidade teria experimentado situações de comoção semelhantes no passado.

A resposta é, infelizmente, afirmativa. Já na época da fundação da pequenina vila piratiningana, no século XVI, a população, angustiada, sofria ataques de índios e, ao longo de sua história, passou por epidemias e outras inquietantes perturbações da ordem pública, conforme veremos no texto elaborado na Seção de Logradouros. Só para nos restringir ao início do século XX, podemos mencionar três acontecimentos dramáticos que perduraram na lembrança dos antigos habitantes: a greve de 1917, a epidemia de gripe espanhola em 1918 e a revolução de 1924. A Seção de Manuscritos, por sua vez, irá recordar outro momento de comoção em São Paulo: a Revolução de 1932.


Com esta edição, o Informativo AHMWL completa um ano de circulação, procurando valorizar o fundo documental sob guarda da instituição, bem como a memória urbana de São Paulo.

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  • BIBLIOTECA

  • Para este número do Informativo, a Biblioteca do AHMWL selecionou algumas obras de seu acervo relativas aos principais temas enfocados.


    MOVIMENTO GREVISTA DE 1917
    • BARROS, Edgard Luiz de. Desenvolvimento e planejamento urbano em São Paulo durante a República Velha. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, n. 195, p. 33-48, 1982.
    • BEIGUELMAN, Paula. Os companheiros de São Paulo. São Paulo: Símbolo, 1977. 111 p.
    • BLAY, Eva Alterman. Eu não tenho onde morar: vilas operárias na cidade de São Paulo. São Paulo: Nobel, 1985. 332 p.
    • CARTA, Mino. Histórias da Mooca (com a benção de San Genaro). Rio de Janeiro: Berlendis & Vertechia, 1982. 91 p.
    • CAVALCANTI, Pedro; DELION, Luciano. São Paulo: a juventude do centro. São Paulo: Grifo, 2004. 193 p.
    • DEBES, Célio. Washington Luís: 1ª parte 1869-1924. São Paulo: Imesp, 1994. 364 p.
    • FAUSTO, Boris. Histórias do Brasil. 11. ed. São Paulo: Edusp, 2003. 657 p.
    • GUNN, Philip; CORREIA, Telma de Barros. Vilas operárias: o mundo fabril penetra na cidade. In: São Paulo metrópole em trânsito: percursos urbanos e culturais. São Paulo: Senac, 2004. p. 82-89.
    • HARDMAN, Foot; LEONARDI, Victor. História da indústria e do trabalho no Brasil (das origens aos anos 20). São Paulo: Ática, 1991. 336 p.
    • LEITE, Márcia de Paula. O movimento grevista no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1987. 76 p.
    • LOPREATO, Christina da Silva Roquette. A semana trágica: a greve geral anarquista de 1917. São Paulo: Museu da Imigração, 1977. 70 p.
    • ROLNICK, Raquel. A cidade e a lei. 3. ed. São Paulo: Studio Nobel, 2003. 242 p.
    • SEVCENKO, Nicolau. O renascimento modernista de São Paulo na década de 1920. In: BUENO, Eduardo (Org.). Os nascimentos de São Paulo. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004. p. 191-205.


    GRIPE ESPANHOLA DE 1918
    • AMERICANO, Jorge. São Paulo nesse tempo: 1915-1935. São Paulo: Melhoramentos, 1962. 423 p.
    • BARROS, Edgard Luiz de. Desenvolvimento e planejamento urbano em São Paulo durante a República Velha. Revista do Arquivo Municipal, n. 195, p. 33-48, 1982.
    • BERTOLLI FILHO, Cláudio. A gripe espanhola em São Paulo, 1918: epidemia e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2003. 393 p.
    • BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. São Paulo: TAQ, 1979. 399 p.
    • CARNEIRO, Glauco. O poder da misericórdia: a Santa Casa na história de São Paulo. São Paulo: [s.n.], 1986. 2 v.
    • DUARTE, Paulo. Os mortos de Seabrook. São Paulo: Hucitec, 1979. 436 p.
    • HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE: Manguinhos. Dossiê gripe espanhola no Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, v. 12. n. 1, jan./abr. 2005. 234 p.
    • MEMÓRIA urbana: a grande São Paulo até 1940. São Paulo: Emplasa, 2001. 3 v.
    • 450 anos de história da medicina paulistana. São Paulo: Imesp, 2004. 368 p.
    • RELATÓRIO de 1918 apresentado à Câmara Municipal de São Paulo pelo prefeito Washington Luis Pereira de Sousa. São Paulo: Casa Vanorden, 1919. 2 v.
    • SÃO Paulo (Cidade). Prefeitura. Annaes da Camara Municipal de São Paulo, 1918. São Paulo: Typ. Piratininga, 1918. 504 p.


    REVOLUÇÃO DE 1924
    • AMERICANO, Jorge. São Paulo nesse tempo: 1915-1935. São Paulo: Melhoramentos, 1962. 423 p.
    • ANDRADE, Euclides. A força pública de São Paulo: esboço histórico 1831-1931 ( Fac-símile). São Paulo: Imesp, 1982. 238 p.
    • BARROS, Edgard Luiz de. Desenvolvimento e planejamento urbano em São Paulo durante a república Velha. Revista do Arquivo Municipal, n. 195, p. 33-48, 1982.
    • BOSI, Ecléa. Memória e sociedade. São Paulo: TAQ, 1979. 399 p.
    • CARNEIRO, Glauco. História das revoluções brasileiras: da revolução da República à coluna Prestes: 1889/1927. Rio de Janeiro: Cruzeiro, 1965. 354 p.
    • ______. O poder da misericórdia: a Santa Casa na história de São Paulo. São Paulo: [s.n.], 1986. 2 v.
    • CARTA, Mino. Histórias da Mooca (com a benção de San Genaro). Rio de Janeiro: Berlendis & Vertechia, 1982. 91 p.
    • CAVALCANTI, Pedro; DELION, Luciano. São Paulo: a juventude do centro. São Paulo: Grifo, 2004. 193 p.
    • CORRÊA, Anna Maria Martinez. A rebelião de 1924 em São Paulo. São Paulo: Hucitec, 1976. 201 p.
    • DEL PICCHIA, Menotti. A longa viagem: 2ª etapa. São Paulo: Martins; CEC, 1972. 274 p.
    • DUARTE, Paulo. Agora nós! Chronica da revolução paulista, com os perfis de alguns heroes da retaguarda. São Paulo: [s.n.], 1927. 359 p.
    • FAUSTO, Boris. História do Brasil. 11.ed. São Paulo: Edusp, 2003. 657 p.
    • FERREIRA, Barros. Meio século de São Paulo. São Paulo: Melhoramentos, 1954.
    • FORJAZ, Maria Cecília Spina. Tenentismo e aliança liberal (1927-1930). São Paulo: Polis, 1978 111 p.
    • A HERÓICA pancada: Centro Acadêmico XI de agosto: 100 anos de luta. São Paulo: Memojus, 2003. 127 p.
    • HISTÓRIA & ENERGIA. A Light e a revolução de 24. São Paulo: Departamento de Patrimônio Histórico/Eletropaulo, n. 4, set. 1987. 117 p.
    • HOSPITAL Santa Catarina: 90 anos de história. São Paulo: DBA, 1995. 108 p.
    • MEMÓRIA urbana: a grande São Paulo até 1940. São Paulo: Emplasa, 2001. 3 v.
    • MORSE, Richard M. De comunidade a metrópole: biografia de São Paulo. São Paulo: Comissão IV Centenário, 1954. 335 p.
    • PORTA, Paula (Org.). História da cidade de São Paulo: a cidade na primeira metade do século XX. São Paulo: Paz e Terra, 2004. v. 3.
    • 450 anos de história da medicina paulistana. São Paulo: Imesp, 2004. 368 p.
    • ROLNICK, Raquel. A cidade e a lei. 3. ed. São Paulo: Studio Nobel, 2003. 242 p.
    • SÃO Paulo: 450 anos. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2004. 491 p.
    • SOARES, José Carlos de Macedo. Justiça: a revolta militar em São Paulo. Paris: [s.n.], 1925. 517 p.
    • SOUKEF JUNIOR, Antonio. Cem anos luz. São Paulo: Dialeto, 2000. 91 p.
    • ______. Estrada de ferro Sorocabana: uma saga ferroviária. São Paulo: Dialeto, 2001. 116 p.
    • VELTMAN, Henrique. A história dos Judeus em São Paulo. 2.ed. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1996. 142 p.


    REVOLUÇÃO DE 1932
    • ÁLBUM de Família. São Paulo: Martins, 1954.
    • AMARAL, Antônio Barreto do. Pedro de Toledo. São Paulo: IHGSP, 1969. 238 p
    • ______. “Um documento inédito da revolução constitucionalista”. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, n. 186, p. 32-44, 1974. 423 p.
    • AMERICANO, Jorge. São Paulo nesse tempo (1915-1935). São Paulo: Melhoramentos, 1962. 423 p.
    • ANHEMBI. São Paulo: [S.n.], 1950-1962.
    • BARROS, Guilherme de A. A resistência do túnel. São Paulo: Piratininga, 1933. 233 p.
    • BITTENCOURT, Adalzira. A mulher paulista na história. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 1954.
    • BORGES, Vavy Pacheco. Memória paulista. São Paulo: Edusp, 1997. 239 p.
    • BRAGA, Edgar. A senha (versos). São Paulo: Impressora Comercial, 1935. 6 p.
    • BRUSSOLO, Armando. Basta de mentiras. São Paulo: [S.n.], 1933. 154 p.
    • CALMON, Pedro. "O movimento constitucionalista" In: História do Brasil. 2. ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1963. v. 6.
    • CAMARGO, Ana Maria de Almeida (Org.). São Paulo, 1932. São Paulo: Arquivo do Estado; Imesp, 1982. 94 peças variadas.
    • ______ (Coord.). São Paulo uma longa história. São Paulo: CIEE, 2004. 241 p.
    • CAMARGO, Aureo de Almeida. Roteiro de 32. São Paulo: [S.n.], 1972. 60 p.
    • CARNEIRO, Glauco. O poder da misericórdia: a Santa Casa na história de São Paulo. São Paulo: [s.n.], 1986. 2 v.
    • CAVALCANTI, Pedro; DELION, Luciano. São Paulo: a juventude do centro. São Paulo: Grifo, 2004. 193 p.
    • CORREIO PAULISTANO, São Paulo, 9 jul. 1954.
    • CRUZES PAULISTAS. Os que tombaram em 32, pela glória de servir São Paulo. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1936. 516 p.
    • DIÁRIO DE SÃO PAULO, São Paulo, 9 jul.1954.
    • DUARTE, Paulo. Palmares pelo avesso. São Paulo: Instituto Progresso Editorial, 1947. 422 p.
    • ELLIS JÚNIOR, Alfredo. A nossa guerra. São Paulo: Piratininga, 1993. 330 p.
    • O ESTADO DE S. PAULO, São Paulo, 9 de jul. 1954.
    • FARINA, Duílio Crispim. Medicina no planalto de Piratininga. São Paulo: Pannartz, 1981. 336 p.
    • FAUSTO, Boris. História do Brasil. 11.ed. São Paulo: Edusp, 2003. 657 p.
    • FERNANDES, Florestan. “A revolução constitucionalista”. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, n. 132, p. 23-35, mar. 1949.
    • FERRAZ, José Ben-Hur de Escobar. A guerra do setor norte, [S.l. : s.n], 1933, 196 p.
    • FERREIRA, Barros. Meio século de São Paulo. São Paulo: Melhoramentos, 1954. 95 p.
    • FERREIRA, Tito Lívio. História de São Paulo. São Paulo: Biblos, [1900?]. v. 2
    • FIGUEIREDO, Euclides. Contribuição para a história da Revolução Constitucionalista de 1932. São Paulo: Martins, 1954. 324 p.
    • FOLHA DA MANHÃ, São Paulo, 9 jul. de 1954.
    • FOLHA DA TARDE, São Paulo, 9 jul. 1954.
    • A GAZETA, São Paulo, 9 jul. 1954.
    • LEITE, Aureliano. Causas e objetivos da revolução de 1932. Revista de História, São Paulo, v. 25, p. 139-166, 1962.
    • ______. Páginas de uma longa vida. São Paulo, Martins, [S.d].
    • ______. Subsídios para a história da civilização paulista. São Paulo: Saraiva, 1954. 599 p.
    • LOBO, Roberto Hadock. Pró Brasilia Fiant Eximia. São Paulo: Bandeirante, [S.d.]. 179 p.
    • OSÓRIO, Manuel. A guerra de São Paulo. 2. ed., São Paulo: Americana, 1932.
    • PACHECO, José de Assis. Revivendo 32. São Paulo: 1954.
    • PAULA, Ernesto de (Dom). São Paulo do meu tempo. São Paulo: Ave Maria, [S.d.].
    • PAULISTÂNIA: documentário. São Paulo: Clube Piratininga, 1939-1979.
    • PEREIRA, A. Batista. Diário da capela. São Paulo: Saraiva, 1933. 146 p.
    • PIRES, Cornélio. Chorando e rindo... São Paulo: Nacional, 1933. 256 p.
    • PIRES, Mário. “O poema do nosso orgulho...” No cinquentenário da revolução constitucionalista de 1932. São Paulo: Arquivo do Estado, 1982. 40 p.
    • A POLITÉCNICA em armas. In: Escola Politécnica: 100 anos. Rio de Janeiro: Expressão e Cultura, 1993.
    • PONTES, José Alfredo Vidigal. 1932: o Brasil se revolta. São Paulo: Terceiro Nome, 2004. 208 p.
    • PORTA, Paula (Org.). História da cidade de São Paulo: a cidade na primeira metade do século XX. São Paulo: Paz e Terra, 2004. v. 3.
    • RAMOS, Agostinho. Recordações de 32 em Cachoeira e setores. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1937. 453 p.
    • RENARD, Antoine. São Paulo é isto! São Paulo: [S.l. : s.n.]., 1933. 212 p.
    • REVISTA DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS. São Paulo, 1937-.
    • REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO. São Paulo, 1894-.
    • SALGADO, Júlio Marcondes. “Vida militar e epopéia de 1932”. Revista do Arquivo Municipal, São Paulo, n. 137, p. 87-108, out./dez. 1950.
    • SÃO Paulo: 450 anos. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2004. 491 p.
    • SARAIVA, João. Em continência à lei. Episódios da revolução constitucionalista. [S.l. : s.n.], 1933. 190 p.
    • SCHMIDT, Afonso. São Paulo dos meus amores. São Paulo: Paz e Terra, 2003. 250 p.
    • SOUKEF JUNIOR, Antonio. Estrada de ferro Sorocabana: uma saga ferroviária. São Paulo: Dialeto, 2001. 116 p.
    • TOLEDO, João. São Paulo: variações sobre motivos da história paulista. São Paulo: Metodista, 1939.

    LIVROS E TESES RECEBIDOS

    • ACERVO dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. São Paulo: Imesp, 2004. 113 p.
    • ANTUNES, Fátima Martin Rodrigues Ferreira. Futebol de fábrica em São Paulo. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Faculdade de Filosofia, Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. 1992.
    • COLEÇÃO Mário de Andrade: religião e magia, música e dança, cotidiano. São Paulo: Edusp; Imesp, 2004. 446 p.
    • DAVIES, Stuart. Plano diretor.Tradução de Maria Luiza Pacheco Fernandes. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2001. 57 p. (Museologia, 1)
    • DIAS, Luiz Sergio. Quem tem medo da capoeira? Rio de Janeiro: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2001. 201 p.
    • FERNANDES, Nelson de Nóbrega. Escolas de samba: sujeitos celebrantes e objetos celebrados: Rio de Janeiro, 1928-1949. Rio de Janeiro: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2001. 153 p.
    • GONÇALVES, Aureliano Restier. Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro: terras e fatos. Rio de Janeiro: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2004. 401 p.
    • KESSEL, Carlos. A vitrine e o espelho: o Rio de Janeiro de Carlos Sampaio. Rio de Janeiro: Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, 2001. 125 p.
    • MARCÍLIO, Maria Luiza. História da escola em São Paulo e no Brasil. São Paulo: Imesp; Instituto Braudel, 2005. 485 p.
    • MASON, Timoth. ,b>Gestão museológica. Tradução de Maurício O. Santos; Patrícia Ceschi. São Paulo: Edusp; British Council; Fundação Vitae, 2004. 96 p. (Museologia, 7)
    • MUSEUMS and Galleries Commission. Educação em museus. Tradução de Maria Luiza Pacheco Fernandes. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2001. 26 p. (Museologia, 3)
    • ______. Planejamento de exposições. Tradução de Maria Luiza Pacheco Fernandes. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2001. 32 p. (Museologia, 2)
    • OSTROWSKY, Maria de Sampaio Bonafé. Sistemática Integrada para controle de inundações em sub-bacias hidrográficas urbanas. Estudo de caso: a bacia do córrego Pirajuçara sob o enfoque da integração de obras com ações de educação e percepção ambiental. 2000. 2v. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo-FAUUSP. São Paulo. 2000.
    • PERES, Elena Pájaro. A inexistência da terra firme: a imigração galega em São Paulo, 1946-1964. São Paulo: Edusp; Imesp, 415 p.
    • RESOURCE. The Council for Museums, Archives and Libraries. Acessibilidade. Tradução de Maurício O. Santos; Patrícia Ceschi. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2005. 120 p. (Museologia, 8)
    • ______. Parâmetros para a conservação de acervos. Tradução de Maurício O. Santos; Patrícia Ceschi. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2004. 154 p. (Museologia, 5)
    • ______. Plano para a certificação de museus na Grã-Bretanha/Da Austrália a Zanzibar. Tradução de Maurício O. Santos; Patrícia Ceschi. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2004. 208 p. (Museologia, 6)
    • ______. Segurança de museus. Tradução de Maurício O. Santos; Patrícia Ceschi. São Paulo: Edusp; Fundação Vitae, 2003. 59 p. (Museologia, 4)
    • SÉRGIO Milliet – 100 anos: trajetória, crítica de arte e ação cultural. São Paulo: ABCA; Imesp, 2004. 248 p.

    PERIÓDICOS RECEBIDOS

    • ESTUDOS. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, v. 32, n. 11, nov. 2005.
    • ESTUDOS AVANÇADOS. São Paulo:Instituto de Estudos Avançados/USP, v. 20. n. 56, jan./abr.2006
    • FINESTRA. São Paulo: Arco Editorial, abr./maio/jun.. 2005.
    • FRAGMENTOS DE CULTURA. Goiânia: Universidade Católica de Goiás, v. 15, n. 12, dez.2005.
    • HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE: Manguinhos. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, v. 13, n. 1, jan./mar. 2006.
    • MONUMENTOS. Lisboa: Edifícios e Monumentos Nacionais, n. 24, março 2006.
    • PROBLEMAS BRASILEIROS. São Paulo: SESC, n. 375, maio/jun. 2006.
    • REVISTA D’ART. São Paulo: CCSP, n. 12, 2005.




  • LOGRADOUROS

  • Medo e sobressaltos em São Paulo

      Na história da cidade, o temor à varíola transformou o nome bexiga num termo maldito e que não deveria ser pronunciado. Eis porque, nas últimas décadas do século XIX, os moradores do bairro do Bexiga (alcunha do antigo proprietário da região que fora atacado pela doença) solicitaram a troca desta denominação para Bela Vista, sendo prontamente atendidos.


    No decurso de seus 452 anos de existência, a cidade de São Paulo passou por inúmeras crises, não sendo poucos e nada desprezíveis os momentos de sobressaltos generalizados vividos pela sua população.

    Nesse sentido, vale lembrar que desde o momento de sua fundação, em 1554, a antiga vila sofreu com o ataque de tribos que não aceitavam a implantação do novo núcleo. Vivendo sob ameaças constantes, a população foi obrigada a se proteger e, a exemplo do que ocorria nas cidades medievais, os paulistanos foram obrigados a construir postos de observação à distância para evitar ataques de surpresa, bem como edificaram um muro de proteção ao redor da cidade.

    Dos primeiros, a história registra a existência do Forte Emboaçava, estrategicamente localizado na confluência dos rios Tietê e Pinheiros, no atual bairro da Lapa. Aliás, Emboaçava significa, na língua tupi, o lugar por onde se passa, termo este bastante representativo uma vez que indicava a existência de antigas trilhas indígenas no local. Como posto avançado de defesa da vila, o atual bairro da Lapa viveu, no século XVI, seus momentos de medo e sobressaltos, sempre em alerta quando se avistava a movimentação de índios que procediam do Jaraguá (ao norte) ou do Morumbi e Butantã, nos quadrantes sul e oeste.

    Sobre os antigos muros – ou paliçadas – que cercavam a cidade, sabemos de sua existência através de relatos da época, inclusive alguns inscritos pelos próprios vereadores nas Atas da Câmara Municipal, hoje custodiadas por este Arquivo. Apesar da imprecisão sobre sua real extensão e localização, a muralha certamente acompanhava a colina central desde a atual Igreja do Carmo até o Mosteiro de São Bento, passando, é claro, pelo Pátio do Colégio e Rua Boa Vista. Os flancos leste e oeste da cidade eram os mais perigosos, motivo pelo qual o cacique Tibiriçá (amigo dos portugueses) instalou a sua aldeia no atual Largo de São Bento, um ponto estratégico para a defesa do núcleo, uma vez que dali se descortinava uma ampla vista.

    Não podemos desconsiderar, portanto, que o signo do medo (aqui representado pela guerra contra os índios) esteve presente em São Paulo desde seus primórdios.


    Epidemias, doença e morte

    Entretanto, não eram apenas os ataques indígenas que colocavam a cidade em polvorosa. Outros males estavam a rondar os habitantes e, dentre eles, nenhum mereceria tanta atenção quanto a varíola, então conhecida como bexigas. A doença aterrorizava os paulistanos, e isso desde pelo menos 1564 (cerca de 10 anos após a fundação), época em que ocorreu o primeiro registro oficial de uma epidemia na cidade. Doença antiga, naquela oportunidade as bexigas teriam atacado com especial virulência os poucos moradores da então vila de Piratininga, produzindo mortes e incapacitando muita gente. O estado de penúria era geral; os vereadores, aturdidos com a situação, registraram na sessão da Câmara de 29 de abril de 1564 que “... as doenças foram muitas e as bexigas mataram muita gente e os que escaparam estão ainda que não podem trabalhar.”

    A partir desse primeiro surto epidêmico, as bexigas não mais deixaram a cidade. A sua ocorrência, quase anual, causava medo aos paulistas, como apontou o médico português João Rodrigues de Abreu em 1714:
      Na cidade de São Paulo e em muitas outras do País dos Paulistas [...] são morbos endêmicos as bexigas e é rara a pessoa a quem cometam que não matem. São tão medrosos os seus habitantes desta queixa que até desconfiam de ouvir falar nela
    Cerca de cem anos depois deste relato, o padre Manuel Aires de Casal teve a oportunidade de observar a mesma situação e, num primeiro momento, ficou surpreso com o pavor “... que os paulistas tinham das bexigas”. Porém, logo em seguida ele completava reconhecendo que este mal ...
      ... é que mata a maior parte dos que morrem, quando delas são atacados. Em se dizendo a um doente que seu mal são bexigas, ei-lo já abatido, e sobremaneira descorçoado: muitos nem querem sujeitar-se a remédios, nem tomar alimentos, persuadidos que não podem vencer a moléstia.
    A varíola causava horror aos paulistas, mas não por acaso, como fizeram ver os vereadores respondendo a uma consulta do governador em 1798:
      O horror que os povos desta capitania têm a esta moléstia, não provém de um terror pânico, nem nesta parte tem vossa excelência que desabusá-los: ele provém de uma longa experiência, que tantas vezes se tem feito funesta aos nossos olhos.
    Na história da cidade, o temor à varíola transformou o nome bexiga num termo maldito e que não deveria ser pronunciado. Eis porque, nas últimas décadas do século XIX, os moradores do bairro do Bexiga (alcunha do antigo proprietário da região que fora atacado pela doença) solicitaram a troca desta denominação para Bela Vista, sendo atendidos.

    E foi ainda devido ao pavor das bexigas que, em 1875, seria iniciada a construção do Hospital de Isolamento (atual Emílio Ribas) na Av. Dr. Arnaldo. Este Isolamento, que substituiria um outro existente no Areal no bairro de Santana, daria início ao complexo hospitalar hoje existente nos altos do Araçá.

    Hospital de Isolamento
    Hospital da Câmara Municipal, ou dos variolosos, depois denominado Hospital de Isolamento. Desenho de Jules Martin.
    Pequeno hospital construído entre 1879 e 1880, com planta de autoria do engenheiro Wallace da Gama Cochrane
    (CAMPOS, Eudes. Arquitetura paulistana sob o Império. 1997. Tese de doutorado em arquitetura – FAU USP, São Paulo. V.3)
    Fonte: DIM/DPH/SMC


    Celso Garcia, poeira e tuberculose

    Ainda sob o impacto da calamitosa situação vivenciada por ocasião da gripe espanhola em 1918, no dia 1º de fevereiro de 1919 foi apresentado na Câmara Municipal paulistana o Projeto de Lei nº 7 que estipulava:
      Considerando que está demonstrado pela ciência e pela observação médica, que a tuberculose pulmonar e outras moléstias contagiosas das vias respiratórias se transmitem ativamente pelos produtos da expectoração; e sendo indispensável por em prática medidas profiláticas que embarguem ou restrinjam a disseminação do mal por esta via de propagação, a Câmara Municipal decreta:

      Art. 1º - Fica proibido cuspir ou escarrar no piso dos tramways
      [bondes], carros ou no chão dos lugares cobertos acessíveis ao público e nas ruas da cidade.

      Parágrafo único - Ao infrator será imposta a pena de multa de 10$000
      [Dez mil Réis] e a de oito dias de prisão na hipótese de repetição da infração.
    Apesar de nos parecer inusitada, esta proposta foi aprovada, dando origem à Lei nº 2.186, de 25 de março de 1919. A partir de então, os paulistanos estavam proibidos de cuspir ou escarrar nas ruas, bondes, teatros, cinemas, etc. Explícita nesta medida de força estava o pavor diante da recente epidemia de gripe e, também, o medo da tuberculose: "... doença mais mortífera que a tuberculose não há", diziam os vereadores Carlos Petit e José Oswald em 1900; e completavam o seu temor dizendo que todo o cuidado era pouco, pois este mal "...invadia tanto a choupana do pobre quanto o palácio do rico." Recém-descobertos como a fonte de diversos males, os micróbios, podemos dizer, acabaram por democratizar as doenças.

    Com base em informações divulgadas pela própria medicina daquela época, o imaginário popular construiu uma pavorosa imagem dos maléficos germes: estes, antes de antes de atingirem o corpo, viajavam através do ar como que ancorados em minúsculos grãos de poeira. Estes, ao serem aspirados, contaminariam o corpo. E poeira era o que não faltava na São Paulo das primeiras décadas do século XX. Muitas ruas, por exemplo, ou não recebiam qualquer tipo de calçamento, ou então eram revestidas com macadame, sendo esta uma técnica em que se sobrepunham camadas de terra batida e pedregulho. Com o aumento da circulação de pessoas e carros, nuvens e nuvens de poeira levantavam-se dessas ruas, invadindo a cidade. Não por outro motivo, o então vereador Celso Garcia alertava num de seus últimos discursos pronunciado em abril de 1908, já que ele morreria no dia 30 de maio do mesmo ano:
      As poeiras se distinguem em várias espécies: a poeira orgânica, isto é, sem vida, formada de partículas de palha, de seda, de lã, de ervas secas, de folhas de árvores, etc., e a poeira organizada, isto é, com vida própria, constituída por todas as variedades de micróbios. A poeira mineral, por último, de minúsculos fragmentos de carvão, de macadam, etc. Para transmissão de certas moléstias, da tuberculose, por exemplo, essas três qualidades de poeira se combinam, produzindo cada qual seu efeito. A poeira formada pelos germens de moléstias não é, per si, tão perigosa. Há, porém, a segunda poeira, formada por pequenos fragmentos de palha, de folhas secas, de algodão, etc. Qual é o papel desta poeira? É o de servir de condutor aos germens das moléstias. Exemplifiquemos. O gérmen de certa moléstia, colocado numa felpa de algodão ou de palha, vai a atmosfera, é conduzido a grandes distâncias. Si não houvera esse condutor, o micróbio, com peso específico superior ao do ar ambiente, com tendência natural a recair no solo, não seria tão perigoso. O micróbio está para o condutor, como a mecha para o balão. A mecha, abandonada no espaço, cai. Mas, ligada ao balão, atravessa grandes distâncias. Eis, pois, a combinação das duas poeiras. Qual a ação da última poeira, a de macadam? A poeira de macadam, conforme dizer dos higienistas, exerce grande influência sobre a transmissão de certas moléstias. A poeira organizada, com vida própria, formada de micróbios, conduzida pela poeira orgânica (felpas de algodão, etc.) invadindo o organismo, não provoca, por si a moléstia. Outras condições são necessárias. Pasteur, quando fazia suas célebres experiências, costumava, si não me engano, moer vidro para dá-los aos animais em que ia inocular a infecção carbunculosa. É que, para haver contágio, reprodução ou pululação de germens, é necessário uma lesão anterior ou solução de continuidade.O papel da poeira do macadam é o mesmo. Formada de partículas de pedra, umas arredondadas outras de forma oblonga, etc., vai provocar lesões apropriadas ao desenvolvimento dos germens patogênicos. Ora, o gérmen da moléstia, levantado na atmosfera, conduzido pela poeira orgânica, pode ir invadindo o organismo, [aproveitando-se das] lesões causadas pela poeira mineral. Não se diga que eu estou contando novidade sobre esta questão. [...]
    A poeira que tomava conta de São Paulo – especialmente a produzida pelo calçamento do tipo macadame – foi então entendida como altamente prejudicial à saúde; e dentre os locais mais poeirentos da Capital, nenhum deles superava a região do Brás, aqui incluindo a antiga Avenida da Intendência, motivo, aliás, do discurso do vereador.

    Tanto o bairro quanto a própria avenida, disse Celso Garcia em março de 1908, ora estava "envolta em nuvens de pó, ora mergulhada na lama ... o bairro estava abandonado”; outros vereadores chegaram a calcular que "... o pó ali existente era de mais de quatro dedos ... motivo pelo qual muitos casos de broncopneumonia" haviam sido registrados entre os moradores.

    O Brás, local onde estavam situadas as grandes indústrias, era, também, a moradia do operariado paulistano. A grande greve de 1917, por exemplo, eclodiu na Mooca e no Brás. Mas o bairro, apesar de contribuir com grande parte das rendas municipais e de ser o mais populoso da cidade, não recebia a mesma atenção dos poderes públicos, ao contrário de Higienópolis ou Campos Elísios, reclamava Celso Garcia. O Brás tinha o seu defensor, e de tal maneira que, logo após o seu falecimento, em maio de 1908, a antiga Avenida da Intendência passou a ser chamada de Av. Celso Garcia.

    Dos antigos medos que aterrorizaram a cidade no passado, muitos deles deixaram de existir. Entretanto, outros vieram para tomar o seu lugar. E no interior da cidade, seja no passado, seja no presente, podemos exercitar a sua localização, inclusive geograficamente.

    Luís Soares de Camargo



    Fontes primárias impressas:

    ANNAES da Camara Municipal de São Paulo, 1908. São Paulo: s.n.,1908.

    ANNAES da Camara Municipal de São Paulo, 1919. São Paulo: s.n, 1919.

    ATAS da Câmara da cidade de São Paulo, 1562-1596. São Paulo: Divisão do Arquivo Histórico, 1967. v.1.

    LEIS e actos do Municipio de S. Paulo do anno de 1919. 2ª edição. São Paulo: Graphica Paulista, 1935.

    REGISTRO geral da Câmara municipal de S. Paulo, 1796-1803. São Paulo: São Paulo: Typ. Piratininga, 1921. v.12.



    Bibliografia:

    TAUNAY, A. de E. História da Villa de São Paulo no século XVIII, 1701-1711. São Paulo: [s. n..], [c.1900].

    CASAL, Manuel Aires de. Corografia brasílica ou Relação histórico-geográfica do Reino do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia ; São Paulo: Edusp, 1976.


    Serviços: A Seção Técnica de Logradouros é responsável pela pesquisa e orientação aos interessados sobre nomes de logradouros paulistanos. A documentação está disponível para consulta através do atendimento ao público.
    Conheça também o site Dicionário de ruas (parceria AHMWL e Plamarc), onde através de um banco de dados é possível realizar pesquisas sobre denominações de logradouros paulistanos.


  • ESTUDOS & PESQUISAS

  • A greve de 1917



    No ano de 1917 ocorreu um movimento popular inédito em São Paulo: uma greve geral, deflagrada no mês de julho, conseguiu paralisar durante três dias todas as atividades essenciais da Capital. A população paulistana, que já deveria estar acostumada aos tumultos resultantes de movimentos grevistas, tais como os ocorridos durante as paralisações de 1906 e de 1907, testemunhou, aturdida, uma seqüência progressiva de incidentes graves que desembocaram na maior greve da história da cidade de São Paulo.

    A carestia de vida, que vinha assolando a população pobre da cidade desde 1916, e as péssimas condições do trabalho operário, que vigiam na época, foram as principais razões desencadeadoras do movimento. Além do aumento contínuo nos preços dos produtos alimentícios, os trabalhadores tinham de enfrentar a constante adulteração e falsificação dos alimentos, que naquele ano atingiu proporções alarmantes. As condições de trabalho dentro das fábricas eram igualmente indescritíveis: salários de fome; mais da metade da mão-de-obra empregada nas fábricas constituída de mulheres e crianças e crianças menores de 14 anos freqüentemente recrutadas para desempenhar tarefas noturnas.

    Em março de 1917, os anarquistas, reunidos no Centro Libertário de São Paulo, decidiram deflagrar um movimento popular de indignação e protesto contra a exploração do trabalho do menor. A presença de um número expressivo de operários nas manifestações animou os anarquistas a organizarem os trabalhadores com o objetivo de tornar eficaz a ação política coletiva.

    A primeira liga operária foi constituída no mês de maio na Mooca, bairro fabril onde funcionavam importantes indústrias têxteis. Depois, surgiram em outros bairros de trabalhadores: Belenzinho, Lapa, Água Branca, Brás, Cambuci, Bom Retiro, Vila Mariana e Ipiranga.

    A grande greve começou com o seguinte incidente: os tecelões do Cotonifício Crespi, a maior fábrica têxtil da cidade, localizada na Mooca, reivindicaram à direção da fábrica um aumento entre 10 e 15 % e o fim do desconto de 2% mensais em favor do Comitato Italiano Pro-Patria, um tributo de guerra criado durante a Primeira Grande Guerra pelos industriais italianos e imposto aos seus trabalhadores de toda e qualquer nacionalidade. Diante da recusa da direção em atender os reclamos dos operários, estes decidiram paralisar o trabalho.

    Operários de outras indústrias, inclusive de algumas situadas no interior do Estado, resolveram aderir ao movimento, levando vários estabelecimentos fabris a ficarem sem atividade durante os meses de maio e junho. A partir daí, o movimento grevista foi-se expandindo e os confrontos entre grevistas e a polícia tornaram-se freqüentes. Numa assembléia realizada em 8 de julho, os anarquistas conseguiram que fosse declarada greve geral em São Paulo e, no dia seguinte, durante as hostilidades entre grevistas e forças da ordem pública sucedidas no Brás, em frente da fábrica de tecidos Mariângela, de propriedade de Francisco Matarazzo, foi mortalmente ferido a bala o sapateiro espanhol José Ineguez Martinez.

    Militantes anarquistas e socialistas decidiram então aproveitar o clima de comoção que se espalhara pela cidade para transformar o enterro do jovem anarquista de 21 anos em uma grande manifestação popular de repúdio à brutalidade policial.

    Na manhã de 11 de julho, uma multidão de cerca de 10.000 pessoas, a pé, acompanhou o féretro, que, saindo do Brás, atravessou o centro da cidade em direção ao Cemitério do Araçá. Na frente do cortejo, havia uma comissão formada por mulheres que carregavam bandeiras vermelhas. O percurso incluiu a Avenida Rangel Pestana, a antiga Ladeira do Carmo, as Ruas 15 de Novembro e São Bento, o Viaduto do Chá, a Rua Barão de Itapetininga, a Praça da República e as Ruas Ipiranga e Consolação. O cortejo foi vigiado o tempo todo de perto por tropas policiais.

    A cerimônia fúnebre teve início ao meio-dia, com vários oradores discursando em português, espanhol e italiano, já que naquela época quase a totalidade do operariado paulistano era de origem imigrante. Dentre os que discursaram se destacaram Edgar Leuenroth, redator do jornal A Plebe, periódico então recém-lançado e que se tornaria veículo muito importante de divulgação de idéias anarquistas, e Teodoro Monicelli, redator de um jornal socialista chamado Avanti. Depois do enterro, muitos dos participantes do cortejo se dirigiram à Praça da Sé, onde foi realizado um comício assistido por cerca de 3.000 pessoas. Após o evento, manifestantes enfrentaram a polícia e cenas de violência varreram a Capital, com apedrejamentos, tiros, saques, espancamentos e prisões.

    Diante do agravamento da situação, o Secretário da Justiça e da Segurança Pública, Elói Chaves, procurou adotar um tom conciliatório, assumindo o papel de mediador entre os operários grevistas e os patrões.O industrial Jorge Street reconheceu publicamente como justas as reivindicações do operariado, no que foi seguido por outros industriais. O Comendador Rodolfo Crespi, no entanto, dono do cotonifício onde explodira o estopim da greve, manteve-se inflexível.

    O Comitê de Defesa Proletária reuniu-se na noite do dia 11 de julho, com representantes de 36 associações operárias com o objetivo de reunir num único memorial as reivindicações comuns a todas as categorias profissionais.A pauta incluiu não só as aspirações dos grevistas, mas também as da população paulistana ”angustiada por prementes necessidades, considerando a insuficiência do Estado no providenciar de outra forma que não seja a repressão violenta”.

    Quando a pauta de reivindicações do CDP se tornou pública em 12 de julho por intermédio dos jornais, São Paulo simplesmente parou. A Capital amanheceu sem víveres, sem energia e sem transporte. O comércio fechou as portas e toda a atividade industrial foi interrompida. Nunca um acontecimento de tal ordem ocorrera no Brasil.

    Entre os dias 9 e 16 de julho, cerca de 100.000 trabalhadores de uma grande variedade de categorias cruzaram os braços. Muitos não tinham o que reivindicar, paralisaram apenas por solidariedade. Embora historiadores de hoje interpretem a mobilização do operariado de 1917 como o resultado de uma luta conjunta, arquitetada pela enérgica militância anarquista, o próprio Edgar Leuenroth definiria, mais tarde, a greve desse ano como um movimento espontâneo, uma manifestação explosiva, decorrente “de um longo período de vida tormentosa que então levava a classe trabalhadora”.

    Em conseqüência da paralisação, uma agitada multidão invadiu as ruas e o Delegado Geral transferiu-se para o Brás, principal bairro operário, para aí instalar seu quartel-general. O Centro foi ocupado pelas forças policiais e, mais tarde, 7000 praças do Exército foram trazidas do interior para conter as massas. O deslocamento de tropas federais para auxiliar as forças paulistas, além de criar apreensão na população, demonstrou bem a dificuldade que as autoridades estaduais encontravam para retomar o controle da situação.O próprio presidente do Brasil, Wenceslau Brás (1914-1918), pediu para ser mantido informado acerca do desenrolar dos acontecimentos na capital paulista.

    O dia 13 foi o mais sangrento da semana de paralisações. Uma menina de 12 anos que se encontrava no portão de casa foi vítima de uma bala perdida durante um conflito sucedido no bairro de Santa Cecília. Também o pedreiro Nicola Salerno, de 28 anos, recebeu um tiro fatal nas desordens ocorridas na Rua Augusta e mais um homem morreu na Rua Oriente. Houve ainda outros incidentes, entre eles um sucedido na Praça da Sé. A imprensa operária garantia, no entanto, que inúmeras haviam sido as mortes provocadas pela truculência policial.

    Os jornalistas resolveram então tomar partido dos grevistas, constituindo a Comissão de Imprensa. Essa comissão publicou nos jornais um manifesto simpático à causa operária e se prontificou a intermediar as negociações entre o capital e o trabalho. Por outro lado, o comício operário realizado no dia 14 de julho no Hipódromo da Mooca, que contou com cerca de 3.000 participantes, decidiu persistir na continuação do movimento grevista até a vitória final.

    As negociações começaram no sábado, dia 14, e prosseguiram no dia seguinte. O presidente do Estado, Altino Arantes (1916-1920), e o secretário da Justiça assumiram o compromisso de libertar todos nos indivíduos presos por terem participado da greve, reconhecer o direito de associação e de reunião, desde que exercido dentro da lei e da ordem pública e de envidar esforços para impedir a alta desenfreada dos preços, bem como a adulteração e falsificação dos gêneros alimentícios. O Governo se comprometeu também a fazer cumprir a legislação vigente que regulamentava o trabalho nas fábricas e estudar medidas para impedir a ocupação de mulheres e crianças em trabalhos noturnos.

    O prefeito da Capital, Washington Luís (1914-1919), por sua vez, comprometeu-se a aumentar o número de feiras livres, nas quais os trabalhadores conseguiam comprar por menos, e fazê-las funcionar duas vezes por semana. Segundo seu relatório datado de 1918, porém, não se dispôs a controlar os preços dos artigos de primeira necessidade, com a alegação de que a medida só seria eficaz se fosse tomada na esfera federal.

    As concessões feitas pelos industriais foram discutidas pela Comissão de Imprensa com os seis representantes escolhidos pelo Comitê de Defesa Proletária para negociar um acordo. Esse comitê, informado das concessões e das promessas feitas pelos industriais e pelos representantes do Governo, decidiu aceitar a proposta conciliatória e submetê-la aos grevistas.O acordo foi firmado por 13 representantes dos jornais paulistanos, 11 industriais, o presidente do Estado, o prefeito da Capital e o secretario da Segurança Pública. Os demais patrões envolvidos no conflito de classes foram convidados a comparecer na sede d’O Estado de São Paulo para assinar o “compromisso do dia 14”. Os signatários se obrigavam a cumprir as resoluções e designaram a comissão de jornalistas para fiscalizar o cumprimento do acordo.

    Pela primeira e única vez, a imprensa teve um papel singular e decisivo na resolução de um conflito de classes. Foi investida de um poder moderador para mediar um acordo entre patrões e empregados.

    O Comitê de Defesa Proletária aconselhou por meio de um manifesto a aceitação do acordo por parte dos trabalhadores, reconhecendo que as concessões representavam uma vitória proletária.

    Na segunda-feira, dia 16, 10.000 trabalhadores se reuniram ao meio-dia em frente ao Teatro Colombo, no Largo da Concórdia, no Brás, para deliberar sobre a proposta do CDP de aceitar o acordo. Às 16 horas, outro comício foi realizado no Pavilhão da Lapa. Ao mesmo tempo, no bairro do Ipiranga, outras 1.500 pessoas acatavam a proposta de retorno ao trabalho feita pela CDP.

    A suspensão da greve foi anunciada com alarde pela imprensa. O jornal anarquista Guerra Sociale assinalou a vitória dos trabalhadores sobre o governo e os industriais, mas principalmente sobre si mesmos, pois na luta encontraram sua própria consciência.

    Depois de uma semana de conflitos e trágicos acontecimentos, a cidade de São Paulo foi aos poucos retomando sua vida normal. No dia 16, o comércio reabriu as portas e os bondes tornaram a circular plenamente. Quanto às fabricas, seus apitos só voltaram a soar na manhã do dia 17, de acordo com a deliberação dos grevistas.

    A grande greve de 1917 finalmente acabara e São Paulo nunca mais veria uma movimentação grevista de tamanha envergadura. As conquistas dos trabalhadores foram, contudo, efêmeras. O Estado se aparelhou e a partir de setembro desencadeou uma operação de desmantelamento do movimento operário, por meio de detenções, espancamentos, fechamento de organizações e, sobretudo, esforços para expulsar lideres estrangeiros do País.


    Eudes Campos



    Veja ainda o link:
    1917: os olhares de um empresário e do chefe do executivo municipal


    Documentação primária

    SÃO PAULO (Estado). FUNDAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO DA ENERGIA E SANEAMENTO. MACCONNEL,W. G. Annual Report 1917. São Paulo: São Paulo Tramway, Light & Power Co. Ltd, 1918. p.1-3. (Relatório datilografado em inglês, datado de 24 de janeiro de 1918, assinado pelo superintendente da época e submetido ao Vice-Presidente da Companhia, no Rio de Janeiro.)


    Obras de referência consultadas

    HALL, Michael. O movimento operário na cidade de São Paulo, 1890-1954. In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra, 2004. 3v. v.3.
    LOPREATO, Christina da Silva Roquette. A semana trágica; a greve geral anarquista de 1917. São Paulo: Museu da Imigração, 1997.

    SOUSA, Washington Luis Pereira de. Relatorio de 1917 apresentado á Camara Municipal de São Paulo pelo Prefeito Washington Luis Pereira de Sousa. São Paulo : Casa Vanorden, 1918. p. VIII e IX.




    A gripe de 1918



    Entre as imagens simbólicas de maior força e longa permanência no imaginário humano encontram-se as referências a doenças e epidemias repentinas e devastadoras. E talvez sejam elas, as que todos nós partilhamos através de experiências próximas e de grande intensidade.

    Não é necessário, no caso brasileiro, o deslocamento temporal de alguns séculos, para reencontrar os surtos de cólera, da peste bubônica... Basta um quarto de século para enfrentar todo o estigma da fase inicial da AIDS, entremeado por tabus e obscurantismo. Ou mesmo, nos últimos anos, toda a especulação ao redor da gripe aviária. A fragilidade do Estado e da sociedade civil parecem similares a qualquer outro momento ao longo de cinco milênios de história ocidental ao enfrentar antes das causas reais as imagens míticas.

    O episódio da gripe de 1918, conhecida também como a gripe espanhola, instaurou em todo o mundo em seu curto período de expansão uma alteração excepcional da rotina diária. Apesar disso, apenas num período recente a bibliografia disponível pode contar com estudos detalhados, entre eles, no caso paulistano, o livro A gripe espanhola em Sâo Paulo, 1918: epidemia e sociedade, a partir da dissertação de mestrado pela USP (História) de Claudio Bertolli Filho (2003, Paz e Terra). Estudos do gênero integram toda uma produção das últimas décadas voltadas para as condições de saúde e higiene, e a difusão de novos conceitos, ideologias e técnicas a partir do final do século XIX.

    Entre os documentos disponíveis, na esfera do governo municipal, sobre a epidemia é relativamente referenciado o relatório do prefeito Washington Luís (1870-1957), cujo período administrativo cobre o intervalo 1913-1919. Denominado Officio n.477, o relato apresenta “as providências tomadas pela municipalidade durante a epidemia de grippe, e de acordo com a resolução n.131, de 26 de outubro de 1918, da Câmara”.

    Incluso no Relatório de 1918 apresentado a Camara Municipal de São Paulo pelo prefeito Washington Luis Pereira de Sousa (1919, Casa Vanorden, p.80-127), o documento teve ainda uma edição isolada, publicada pelo mesmo editor no ano de 1918. Uma cópia desta versão está disponível no link abaixo, em formato PDF, cedida pelo Museu Republicano, de Itú (MRCI-USP). A versão inclusa nos relatórios dos prefeitos pode ser consultada no acervo do AHMWL.

    A leitura do documento, que apresenta as providências tomadas pelo Executivo a partir da resolução n.131, de 26.10.1918, que dá ao prefeito “poderes extraordinários e excepcionaes”, permite recuperar parte da situação em que se encontrava a cidade e como o governo respondeu às demandas. Criticado por pesquisadores como Claudio Bertolli, que vêem o registro em sua parcialidade, ainda assim o relatório de Washington Luis permite identificar a magnitude dos acontecimentos e as alterações das dinâmicas urbanas ocorridas entre 17 de outubro e 30 de novembro.
      Eis o que foi feito neste período de seis semanas. Em melhores mãos, mais promptas, mais efficazes, mais intelligentes teriam sido as providências postas em pratica. A cidade de São Paulo tem que se contentar com o Prefeito que escolheu. (1918, p.29).
    O tom com que Washington Luis finaliza o seu relato é surpreendente, talvez uma pista para compreender o impacto da epidemia. A qualidade do texto permite, mais do que um simples relatório administrativo, entender a progressão da doença, o número de mortes, a estratégia adotada. Qualidade que pode ser entendida considerando o perfil intelectual do seu autor, conhecido também por sua produção historiográfica sobre São Paulo colonial. Nesta perspectiva, poucos estudos como o ensaio "O historiador Washington Luis", de Celio Debes, publicado na Revista do IHGBSP, em 1990, apresentam alguma reflexão. Os remanescentes de sua biblioteca pessoal, depositados no Arquivo do Estado, juntamente com sua documentação textual, basicamente epistolográfica, além do conjunto sob a guarda do MRCI-USP, que inclui registros de pesquisas, catálogos da biblioteca pessoal, todo esse conjunto aguarda investigação detalhada.

    O teor literário do relato, nas devidas proporções, remete ao texto clássico de Daniel Dafoe (1660-1731), um dos marcos precursores do romance - Um diário do ano da peste-, que esboça o quadro londrino do século XVIII. Em uma narrativa que procura apresentar registros dos acontecimentos, sob rigor administrativo, desenvolve-se uma história, um foco paralelo, que revela as concepções ideológicas na escolha da perspectiva de ação.

    Cinco dias, conforme indica o texto, marcam o intervalo de difusão da gripe entre as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. O foco da ação é evitar a interrupção de serviços, através de medidas como a contratação imediata de substitutos dos empregados municipais impossibilitados de comparecer ou vítimas da doença. A estimativa inicial era de 6 a 8 mil casos/dia numa população com 500 mil habitantes.

    Entre os itens aos quais a prefeitura dedicou esforços imediatos estavam a alimentação da população, visando garantir o abastecimentos de carnes, aves, leite e lenha, a limpeza pública (cujos empregados receberam um aumento salarial emergencial de 10 a 15 por cento), além da manutenção de serviços terceirizados como iluminação pública, telefonia e serviços funerários.

    Os enterramentos/dia subiram de 27 para 300, num total de 8.040 vítimas (corrigido para 7.103 na errata) em 45 dias de duração da epidemia, ao invés do patamar esperado de 1.350 mortes no mesmo período.

    Além da resolução n.131, de 26.10.1918, emitida pela Câmara Municipal, que deu ao prefeito poderes excepcionais, basicamente voltados a aplicação de recursos e aumento de agilidade administrativa, sucedem-se outros na esfera do Executivo:
    • ato n.1269, de 15.10.1918, que cassa, “por motivos de interesse público, todas as licenças especiaes concedidas pela Prefeitura para o funccionamento de bilhares e botequins com diversões”;
    • ato n.1270, de 25.10.1918, que dá “instruções para substituições de empregados municipaes”, permitindo a substituição imediata dos servidores e a obrigatoridade dos empregados comunicarem a ausência em caso de moléstia;
    • ato n.1274, de 07.11.1918, que suspende “temporariamente, as tabellas de preços e classes para a execução do serviço funerário”, e garante a quem não tiver recursos o fornecimento de caixão e transporte gratuito ate os cemitérios para os enterramentos, suprime temporariamente os carros para transportes de coroas e restringe o acompanhamento dos cortejos às pessoas da família dos falecidos;
    • ato n.1276, de 16.11.1918, que cria a Diretoria de Salubridade Municipal, cujas atribuições incluíam a fiscalização dos serviços contratados para enterramento (Irmandade da Santa Casa e empresa Rodovalho Junior, Horta & Companhia), o fornecimento gratuito de caixões a indigentes, bem como o transporte dos caixões; e
    • ato n.1278, de 18.11.1918, que declara de utilidade pública, para desapropriação judicial, áreas para expansão do Cemitério do Araçá.
    Em 30.11.1918, o ato n.1284, revogaria todos os atos provisórios gerados pelo combate à epidemia.


    Veja o texto completo (PDF):
    Ofício n.477 (62p.)

    Ricardo Mendes



    A revolução de 1924



    Tal como o levante do Forte Copacabana ocorrido no Rio de Janeiro em 1922, o movimento armado deflagrado dois anos mais tarde em São Paulo tinha por meta derrubar o governo federal e instaurar uma república depurada, livre dos desmandos cometidos pelas oligarquias instaladas no poder. Liderados pelo tenente-coronel Isidoro Dias Lopes, hoje nome de rua paulistana, os revoltosos entraram em São Paulo em 5 de julho, permanecendo na cidade até a madrugada do dia 28 do mesmo mês, na esperança de que reforços aliados engrossassem a marcha que fariam sobre a Capital Federal para depor o presidente Artur Bernardes. Os reforços jamais chegaram e durante esses vinte e três dias São Paulo tornou-se alvo das tropas legalistas que começaram a bombardeá-la de modo indiscriminado.

    O clima de terror estabeleceu-se rápido. Os revoltosos fizeram do quartel da Luz o seu quartel-general e expulsaram o presidente do Estado de São Paulo do Palácio dos Campos Elísios. Com o recrudescer da violência, os paulistanos que não fugiram para o interior ficaram a mercê de todo tipo de desordem: bombardeios, tiroteios, saques, roubos, incêndios e até estupros. Tentando evitar o pior, uma comissão liderada pelo Prefeito Firmiano Pinto (1920-1926) e José Carlos de Macedo Soares, presidente da Associação Comercial de São Paulo, procurou estabelecer o diálogo com os revoltosos e com as forças legalistas, no esforço de não perder de vez o controle sobre o maior centro econômico do País.

    O clima, no entanto, era de verdadeira guerra. As tropas legalistas estacionadas desde a Penha até o Cambuci disparavam obuses sobre vários bairros periféricos e o Centro e aviões despejavam bombas sobre a população desarmada. Entrincheirados, os revoltosos acabaram por atrair a simpatia de parte dos paulistanos, que atribuíam toda sorte de abusos às forças da legalidade. Os dias foram-se passando e, pouco a pouco, a situação começou a favorecer as tropas leais ao Governo Federal. Por fim, diante da terminante negativa expressa pelas forças legais de interromperem os bombardeios, os revoltosos retiraram-se da cidade à noite, de trem em direção ao interior, sem terem sido percebidos pelo inimigo.

    O saldo dos combates foi dramático: cerca de 500 mortos, 4.800 feridos, edifícios públicos e privados danificados ou arruinados, indústrias incendiadas, sedes de empresas e armazéns saqueados, praças e jardins públicos devastados, calçamento a paralelepípedos desmanchado por ter sido usado na formação de trincheiras, animais mortos pelas ruas, grave ameaça de desabastecimento. A vida cotidiana da cidade ficou suspensa durante os dias de conflito e o pavor de uma possível sublevação das camadas mais desfavorecidas, que viesse subverter a ordem social à maneira da Revolução Russa (1917), atormentou os setores conservadores.

    Afinal, restabeleceu-se a paz, mas os principais interlocutores que procuraram manter a ordem na Capital acabaram acusados pelo Governo Federal de terem sido coniventes com os revoltosos. Macedo Soares, por exemplo, foi preso e seguiu para o exílio, só retornando três anos depois. Quanto a Isidoro Dias Lopes, estaria de volta à cidade em 1930, onde aguardaria com as forças armadas sulistas a chegada de Getúlio Vargas, vencedor da revolução que pôs fim à autoritária e elitista Primeira República.

    Ainda hoje é possível admirar as marcas das balas e granadas na velha chaminé da antiga usina de força e luz ao lado do Quartel do Batalhão Tobias de Aguiar, local onde se aquartelaram os militares sediciosos. A construção, situada na Rua João Teodoro, é tombada e permanece como símbolo dos tumultuosos acontecimentos de 1924.


    Eudes Campos


    Veja ainda o link:
    1924: imagens da revolução


    Obra de referência consultada

    História & energia. A Light e a Revolução de 1924. São Paulo, Departamento do Patrimônio Histórico/ Eletropaulo, n.4, setembro de 1987.





  • MANUSCRITOS

  • 1932 – Revolução, prisão e exílio


    O Movimento Constitucionalista de 1932 está completando neste mês de julho 74 anos de sua eclosão. Dramático e importante acontecimento da história republicana brasileira, foi a expressão da insatisfação dos paulistas com os descaminhos da Revolução de 1930, e serviu basicamente para convencer o governo provisório de Getúlio Vargas da necessidade de por fim ao caráter discricionário do regime então vigente, o que só aconteceria quando a Constituição de 1891, tornada sem efeito, fosse substituída por uma nova carta constitucional.

    No dia 9 de julho de 1932 rompeu na capital paulista a Revolução Constitucionalista, liderada pelo general Isidoro Dias Lopes, o mesmo militar que atuara como líder do levante de 1924 e que voltara a São Paulo em 1930 para se reunir a Getúlio Vargas, que chegava vitorioso do Rio Grande do Sul. Contando com a participação de vários outros remanescentes do movimento de 1930, a Revolução de 32 obteve amplo apoio de diversos segmentos da sociedade paulista, sobretudo de suas camadas médias.

    Em 10 de julho, Pedro de Toledo, que até então exercia o cargo de interventor federal no Estado de São Paulo, acabou nomeado presidente constitucional paulista: Durante os meses de conflito, São Paulo viveu um verdadeiro esforço de guerra: as indústrias se mobilizando para atender as necessidades de armamentos e a população se unindo à chamada Campanha do Ouro para o Bem de São Paulo ou se engajando nas fileiras para enfrentar as forças contrárias. Abaixo, livreto vendido pela Associação Comercial de São Paulo em benefício dos órfãos do movimento:

    O brasão de armas
    Fonte: AHMWL/DPH/SMC - Fundo particular Carlos de Souza Nazaré


    Linhas de fogo
    Acima, imagens de batalhas ocorridas no Vale do Paraíba.
    Fonte: AHMWL/DPH/SMC - Fundo particular Carlos de Souza Nazaré


    Isolado pela não adesão dos Estados do Sul e de Minas Gerais – que, embora apoiando a luta pela constitucionalização, se mantiveram fiéis ao governo provisório de Getúlio Vargas –, fracassou o movimento paulista, havendo sido assinada a rendição em 1.º de outubro de 1932. Os principais líderes revolucionários tiveram, de início, cassados seus direitos políticos2.

    Nos dias 8 e 9 de outubro, um grupo de líderes do movimento foi convocado a comparecer à antiga Estação do Norte, da Estrada de Ferro Central do Brasil (atual Estação Roosevelt, hoje fundida à Estação do Brás) para embarcar rumo à Capital Federal (Rio de Janeiro). Durante o trajeto até a estação e o embarque, diversas manifestações populares ocorreram de forma espontânea em apoio aos presos políticos.

    No Rio de Janeiro, os líderes foram conduzidos inicialmente para a Casa de Detenção e, dias depois, para a Casa da Correção, onde prestaram depoimentos no inquérito aberto pelo regime de Vargas. Seguem foto e relação dos presos recolhidos à Casa de Correção.

    Presos
    Fonte: AHMWL/DPH/SMC - Fundo particular Carlos de Souza Nazaré


    Relação de presos
    Fonte: AHMWL/DPH/SMC - Fundo particular Carlos de Souza Nazaré


    Em 1.º de novembro, os presos foram transferidos para o navio-presídio Pedro I e dias depois mais uma vez transferidos, agora em alto-mar, para o navio Siqueira Campos, que seguia rumo à Lisboa, dando início assim a um curto período de exílio que se encerraria em julho do ano seguinte, quando o Governo Provisório autorizou o regresso dos presos ao Brasil. Abaixo, foto da correspondência enviada pela Embaixada Brasileira em Lisboa ao exilado Carlos de Sousa Nazaré3, hoje nome de rua paulistana.

    Apesar da derrota em armas, o movimento, além de servir para agregar ainda mais os paulistas em torno de um exaltado ideal de paulistanidade, que perduraria por longos anos, contribuiu significativamente para acelerar o processo constitucionalizante do País. Getúlio Vargas concordou em reativar a comissão que elaboraria o anteprojeto de Constituição por meio da criação de novos partidos, cujos candidatos concorreriam à Assembléia Nacional Constituinte a ser estabelecida em 1933. E, em 1935, finalmente, foi eleito governador constitucional do Estado de São Paulo um membro da elite paulista contrária a Getúlio, Armando Sales de Oliveira, criador da Universidade de São Paulo (1934). Mas a ilusão de democracia pouco duraria; foi sufocada pelo golpe de 1937 desferido pelo próprio Vargas, que conseguiu impor ao Brasil por oito anos a ditadura do Estado Novo.

    Relação de presos
    Fonte: AHMWL/DPH/SMC - Fundo particular Carlos de Souza Nazaré



    Guido Gustavo Venturini Flud Alvarenga


    Notas
    1. Trecho de Recorte de Jornal não identificado relatando a posse do presidente Pedro de Toledo. Acervo do Arquivo Histórico Municipal “Washington Luís”, Fundo particular Carlos de Souza Nazaré.
      (
      retorno)
    2. Ver recorte do “Diário da Noite” de 10/10/1932, do acervo do Arquivo Histórico Municipal “Washington Luís”, Fundo particular Carlos de Souza Nazaré.
      (retorno)
    3. Carlos de Souza Nazaré foi presidente da Associação Comercial de São Paulo e influente político paulistano durante os acontecimentos de 1932.
      (retorno)


    Obras de referência consultadas:

    BÓRIS, Fausto. Revolução de 30: história e historiografia. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

    CAPELATO, Maria Helena. O movimento de 1932: a causa paulista. 2ª ed. São Paulo, Brasiliense, 1982.


    Serviços: A Seção Técnica de Manuscritos atende de segunda-feira à sábado, das 9 às 17 horas.


  • INTERCÂMBIO

  • Projeto de restauração e informatização da documentação dos cemitérios públicos de São Paulo recebe R$ 124.000,00 da Caixa Econômica Federal

    Em 30 de junho de 2006 a CEF divulgou o resultado do Concurso do Programa CAIXA de Adoção de Entidades Culturais. O objetivo do certame é selecionar e patrocinar, por um período de doze meses, instituições culturais de todo o País, com atuação pública, detentoras de acervos de relevância nacional, que estejam habilitadas a desenvolver ações localizadas de recuperação e disponibilização desses acervos à sociedade. O projeto Restauração e informatização da documentação dos cemitérios públicos de São Paulo, do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, foi um dos 31 selecionados, sendo que apenas três foram escolhidos no Estado de São Paulo. O orçamento enviado, porém, previa R$ 338.053,00 para a recuperação e informatização de 110 volumes encadernados pertencentes ao grupo documental Serviço Funerário Municipal. O AHMWL está determinado a agilizar o acesso aos 411.200 registros de sepultamento referentes aos três mais antigos cemitérios paulistanos: Consolação, Araçá e Brás, no período de 1858 a 1941.




  • RESTAURO EM PAPEL

  • Carta de Conservação e Restauração dos Objetos de Arte e Cultura, de 1987: a Conservação e a Restauração de Livros

    No número anterior do Informativo AHMWL, sintetizamos os critérios para a conservação e restauração dos bens arquivísticos, expostos no anexo F da Carta (Italiana) de 1987. No atual, destacaremos as diretrizes para a conservação e restauração de livros.

    No primeiro parágrafo do anexo E do referido documento, encontramos o seguinte princípio geral: "antes de proceder a qualquer operação de restauração, deve-se considerar a obra em sua complexidade e multiformidade histórica, artística, material e funcional". No livro, especificamente, devem ser observados: o valor cultural intrínseco do texto, o seu valor material (inclusive dos componentes estruturais do livro) e o seu valor artístico.

    Estabelecidos esses pressupostos, apontaremos resumidamente, e na seqüência em que aparecem no texto da Carta, as orientações para a correta execução do trabalho de conservação e restauração de livros:
    • é indispensável o conhecimento dos diversos materiais que constituem os livros, assim como daqueles que serão acrescentados a eles no caso de restaurações;
    • a natureza e a extensão das intervenções devem ser definidas por uma equipe profissional interdisciplinar;
    • as bibliotecas devem ser submetidas a verificações sistemáticas quanto ao estado de conservação dos fundos e das condições ambientais termohigrométricas (T 16-20 graus, HR 40-65 %);
    • para a definição de um programa de trabalho, seja referente ao saneamento do espaço físico ou aos procedimentos voltados para a conservação ou restauração dos livros, deve-se levar em conta as exigências das obras assim como a sua finalidade;
    • a restauração deve ser precedida pela desinfecção do acervo;
    • o diagnóstico do estado da obra (ou do acervo), as suas especificidades, as intervenções precedentes e as propostas devem ser registrados detalhadamente;
    • todos os procedimentos que possam alterar o aspecto original ou o valor global da obra devem ser evitados;
    • todos os elementos constitutivos da obra devem ser conservados sem, entretanto, prejudicar a sua função. Por exemplo: uma costura pode ser substituída caso não esteja em condições de corresponder ao uso que se faz do livro;
    • os materiais utilizados devem ser testados e certificados;
    • as intervenções devem ser reconhecíveis;
    • as perdas nas miniaturas, nos desenhos e nos textos constituem parte da história dos livros e não devem ser reintegradas;
    • deverão ser restaurados somente os pontos sobre os quais se exercem os maiores esforços mecânicos.
    O anexo E da Carta de 1987 apresenta ainda curiosas referências, não a critérios gerais, mas a procedimentos específicos da rotina de trabalho como, por exemplo, testes de solubilidade das tintas, utilização do papel japonês e da prensa, etc.

    É dado também no texto do documento um destaque para a má qualidade dos papéis de pasta de madeira e aditivos químicos produzidos a partir do final do século XIX.

    Última recomendação: "bibliotecários e conservadores devem sempre avaliar atentamente a urgência e a utilidade da restauração, que deve ser considerada como extrema ratio, precedida de um sério trabalho de prevenção e manutenção."



    Maria Isabel Garcia


    Fonte de referência:
    http://www.mcu.es/patrimonio/cp/ccr/docs/ITALIA.pdf

    DICA: no site do projeto CPBA - http:www.cpba.net - estão disponíveis informes sobre o tema




  • CCAD

  • CCAD: atividades no período - julho/agosto

    Realizada em 19.6.2006 na sede do AHMWL reunião com membros da CCAD, cuja pauta teve como destaque a avaliação de proposta da Tabela de Temporalidade – Atividade fim da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação.

    Nomeadas as seguintes Comissões Setoriais de Avaliação de Documentos:
    • CSA da Autarquia Hospitalar Municipal Regional Leste, através da Portaria n° 042/2006 – AHMRL.G, publicada no Diário Oficial da Cidade de São Paulo em 15/6/06, p. 20;
    • CSA da Secretaria Municipal de Gestão, através da Portaria n° 030/SMG.G/2006, publicada no DOC de 19/5/06, p.6 e Portaria n° 039/SMG.G/2006, publicada do DOC de 07/6/06, p.5;
    • CSA da PRODAM, através do memorando n° TID 792021, de 10/3/2006;
    • Substituição de membros da CSA da Secretaria Municipal de Negócios Jurídicos, através da Portaria n° 005/2006 – SNJ.G, publicada do DOC de 19/4/06, pp.26-27 e Portaria n° 13/2006 – SNJ.G, publicada no DOC de 06/6/06, p.23.




  • Educativo
    (serviço)

  • Monitoria: Edifício Ramos de Azevedo

    Originalmente construído para abrigar os cursos de Eletrotécnica e Mecânica da Escola Politécnica, o Edifício Ramos de Azevedo abriga o Arquivo Histórico Municipal Washington Luís desde 1999. O serviço de monitoria, porém, só iniciou suas atividades em 2001, ano em que a instituição passou a atender também aos sábados.

    A visita monitorada que é proporcionada aos interessados começa ainda fora do prédio, com uma introdução que pretende definir em linhas gerais o contexto histórico em que ocorreu a construção do edifício. Ao longo da segunda metade do século XIX e até o início do século seguinte, deu-se o primeiro surto de crescimento da cidade de São Paulo.Essa época se caracterizou pela entrada em funcionamento da estrada de ferro de Santos a Jundiaí (1867), pela construção da ferrovia de Jundiaí a Campinas (1872), pela inauguração da iluminação a gás, pelo início da circulação de bondes a burros (1872) e, anos mais tarde, de bondes elétricos (1900). Nesse período surgiram ainda os carros de aluguel, passou a funcionar o sistema de canalização de água e esgotos, ergueram-se sofisticados palacetes, abriram-se os primeiros loteamentos particulares e as primeiras avenidas e começaram a chegar grandes levas de imigrantes para trabalhar não só nas lavouras de café, mas também nos mais modestos misteres urbanos da Capital.

    Toda essa transformação da cidade pode ser acompanhada em detalhes por meio dos papéis conservados no acervo do Arquivo Histórico Washington Luís, instituição que tem sob sua guarda a documentação da administração pública da cidade de São Paulo.

    O visitante é, em seguida, levado a conhecer o grande saguão central (local de atendimento que serve à Biblioteca e à Seção de Manuscritos), o anfiteatro, as áreas de circulação do primeiro piso e o subsolo. Nesse passeio merecem destaque os belos vitrais executados pela Casa Conrado, que iluminam os lances de escadas confeccionados pelo Liceu de Artes e Ofícios.

    O serviço educativo atende ao público em geral mediante agendamento. Aos grupos de turismo e de arquitetura são dadas informações mais pormenorizadas a respeito dos detalhes construtivos da edificação, e aos grupos das área de biblioteconomia e de história são enfatizados aspectos referentes à estrutura organizacional do Arquivo e à documentação por ele custodiada.



    Para agendar visitas monitoradas, utilize o e-mail:
    silvanaalmeida@prefeitura.sp.gov.br




  • LINKS APOIO





  • Mapa de localização
    Mapa de localização AHMWL

    Serviços: Visita Monitorada - O Edifício Ramos de Azevedo, projetado pelo escritório técnico de Ramos de Azevedo, foi inaugurado em 17 de abril de 1920 para receber os cursos de eletrotécnica e mecânica da Escola Politécnica. A partir de dezembro de 1999 tornou-se sede do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís (DPH), da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.


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    DPH


    SECRETARIA DE CULTURA


    Cidade de São Paulo


    Gilberto Kassab
    Prefeito da Cidade de São Paulo

    Carlos Augusto Calil
    Secretário de Cultura

    José Roberto Neffa Sadek
    Secretário Adjunto

    Paulo Rodrigues
    Chefe de Gabinete

    Walter Pires
    Departamento do Patrimônio Histórico

    Liliane Schrank Lehmann
    Divisão do Arquivo Histórico Municipal "Washington Luís"