E São Paulo perde mais um casarão
Em 16 de dezembro do ano passado mais um edifício legalmente protegido desabou em São Paulo. Localizado na Avenida da Liberdade, nºs. 340 a 360, seu estado de degradação era tão avançado que parte da fachada simplesmente cedeu e veio abaixo. Uma semana mais tarde, ocorreu um incêndio de origem suspeita, que contribuiu para tornar ainda mais periclitante o estado da construção.
Com a data de 1879 inscrita na fachada, o imóvel, encortiçado, estava preservado por lei de zoneamento desde 1975, caracterizado como Z8 200-007 (zona de uso especial criada para preservar imóveis de importância histórica, artística e cultural, num momento em que inexistia a figura do tombamento municipal na cidade de São Paulo), atual ZEPEC 007, e achava-se em processo de tombamento no Conpresp (nível municipal). Uma vez arruinado, o imóvel acabou demolido, sem autorização da Prefeitura, em março do presente ano. Os proprietários, aproveitando o ensejo, também destruíram um pequeno edifício contíguo, igualmente protegido, com uma notável e rara fachada com decoração medieval, datada de 1896, de autoria do renomado arquiteto Vítor Dubugras (1868-1933), executada para o ateliê do escultor Jerônimo Joo.
Antigo ateliê do escultor Jerônimo Joo, de autoria de Victor Dubugras, 1978
Avenida da Liberdade, nº.332
Foto: Hugo Hatanaka, 1978. Arquivo Deplano, Sempla.
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Fachada.
Projeto de Victor Dubugras,
na Rua da Liberdade n°.6 b
(número original), 1896
Acervo: AHMWL/DPH/SMC
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Ambas as edificações desapareceram do cenário urbano quase sem despertar nenhum gesto de protesto ou indignação por parte da população. Afinal, de 1975, quando foi instituída a Z8-200, para cá, já desapareceram várias outras construções – tanto preservadas por lei de zoneamento quanto em processo de tombamento. Em geral, a falta de manutenção leva o bem arquitetônico ao arruinamento parcial (no caso do sobrado aqui enfocado, pondo várias vidas humanas em situação de risco) e o colapso uma vez sucedido é usado como pretexto para o arrasamento total da construção. Técnicos da Secretaria Municipal de Planejamento – Deplano, Sempla –, em vistoria, verificaram consternados que o material de demolição foi totalmente inutilizado, quando não reempregado na construção de um estacionamento que ora funciona no local. Diante da gravidade dos atos cometidos, cumpre à Prefeitura fazer com que as medidas punitivas previstas em lei sejam devidamente aplicadas.
O sobrado da Avenida da Liberdade, n°s. 340 a 360
O bem arquitetônico desaparecido era uma construção curiosa, mas – tal qual o seu vizinho de estilo medievalizante – durante sua longa existência, não recebeu a devida atenção, nem por parte dos estudiosos da arquitetura paulistana, nem por parte do público em geral.
Aspecto da fachada do sobrado Barra na época de sua caracterização como Z8 200-007.
Foto: Hugo Hatanaka, 1978. Arquivo Deplano, Sempla.
O primeiro pesquisador a se interessar pela arquitetura oitocentista da cidade, ainda na década de 1920,
foi o jornalista e historiador João Fernando (Yan) de Almeida Prado (1898-1987). Em 1951, inquietou-se
com a iminente demolição de um imóvel de estilo semelhante e contemporâneo à construção da Avenida da
Liberdade. Tratava-se da velha sede da chácara do Dr. Clemente Falcão Filho, situada na Rua da Glória,
antigo n°.69 (segundo um auto de alinhamento de 1879) e depois n°. 84, segundo o almanaque paulistano de
1886, edificação que nos primeiros anos dos Novecentos (1906-1928) abrigou o Grupo Escolar da Glória.
Num breve artigo publicado na extinta revista
Habitat, denominado
Arquitetos de São Paulo em 1880,
chamou a atenção dos leitores para esse exemplar de arquitetura neoclássica, com sua fachada provida de longa seqüência de janelas de arco pleno, balaustradas no lugar de platibandas e estátuas adornando o topo do edifício, e onde já se via um acréscimo datado do início do século XX (uma
bay window num prolongamento da fachada), pormenor que o historiador pioneiro não distinguiu do restante da construção original. Soube, porém, estabelecer a vinculação estilística entre os dois prédios, a velha casa de chácara assobradada (isto é, de um pavimento sobre porão alto) da Rua da Glória e o sobrado da Avenida da Liberdade, chegando a incluir um desenho reconstrutivo deste último, de autoria de José Carlos F. Oliveira, para ilustrar seu artigo e permitir a comparação entre as duas edificações.
Mais ou menos na mesma época, também no início da década de 50 do século passado, duas pesquisadoras
italianas, Emma Debenedetti e Anita Salmoni, que desenvolviam um estudo inédito sobre a influência da
arquitetura peninsular em São Paulo, apontaram o sobrado da Avenida da Liberdade como um possível exemplar
de arquitetura paulistana executado por algum dos velhos
capomastri, mestres-de-obras italianos que
na concepção das pesquisadoras foram os responsáveis pela introdução e divulgação da arquitetura de tijolos
na cidade. Hoje se sabe que a introdução e a divulgação da técnica tijoleira na capital paulista se deu
em período anterior aos italianos, à custa dos mestres portugueses e brasileiros, dos engenheiros militares
vindos da corte do Rio de Janeiro, e, depois, dos engenheiros civis estrangeiros, alemães e ingleses,
estes últimos vindos na época da construção da ferrovia de São Paulo a Jundiaí. Ao serem erguidas as
primeiras casas de tijolos na região do Vale do Anhangabaú, em conseqüência da grande inundação de 1850,
ainda faltavam uns bons 25 anos para a chegada da primeira leva de imigrantes de origem itálica em busca de
trabalho nas fazendas de café do Oeste paulista. Quando eles finalmente chegaram na segunda metade da
década de 1870, já estava bem enraizada na cidade de São Paulo a técnica construtiva baseada na estrutura
autoportante de tijolos.
É fato que o casarão da Avenida da Liberdade foi erguido para um italiano originário de Torraca,
Província de Salerno, seu proprietário (detalhe que talvez as pesquisadoras desconhecessem, porque
silenciaram a respeito do significado das iniciais BCFA presentes no alto da fachada –
Barra
Cavaliere
Francesco
Antonio –, de acordo com o modo italiano de nomear, dando prioridade ao sobrenome), mas a edificação pode muito bem ter sido concebida e construída por um mestre-de-obras de origem portuguesa ou mesmo brasileira, levando-se em consideração as características estilísticas típicas da arquitetura luso-brasileira que o sobradão apresentava.
No desenho que reconstituía a presumível aparência original do prédio, publicado por Yan em seu artigo de 1951, aparecia recomposta a fenestração do pavimento inferior, naquela altura já totalmente descaracterizada em função da expansão da atividade comercial que, talvez, desde o início se desenvolvia nesse piso. A reconstrução proposta mostrava-se, porém, inadequada, porque, do ponto de vista tipológico mais razoáveis seriam os vãos do térreo estreitos e rematados por arcos de pleno cimbre e não largos e providos de vergas retas; além de constituir grave anacronismo a presença de portas metálicas de enrolar, só introduzidas no comércio paulistano na passagem para o século XX. O autor da reconstrução gráfica também se enganou ao interpretar a construção como um exemplar de arquitetura eclética indevidamente despojado de alguns de seus supostos ornamentos originais (na sua hipotética reconstrução, ele introduziu decoração em pontos em que ela não existia primitivamente). Na verdade, o edifício fora concebido com poucos enfeites, ficando estes concentrados em alguns pontos de interesse, contrastantes com o despojamento do resto da edificação.
Os primeiros proprietários
Como dissemos antes, a residência foi erguida para o
Cavaliere Francesco Antonio Barra. Barra,
supomos, era um comerciante bem sucedido, insigne membro da nascente colônia italiana em São Paulo,
ao qual, afirmam, chegaram a ser conferidas atribuições diplomáticas pelo governo do Reino da Itália.
Seu nome figura em anúncio do
Correio Paulistano (19 de janeiro de 1878, p.3) entre os italianos
de destaque que convidavam os patrícios residentes na Capital para assistir à missa solene oficiada pela
perda do Rei Vítor Manuel II. Na qualidade de presidente da
Societá italiana de Beneficenza in San Paolo
tentou erigir, em 1881, o hospital da comunidade no bairro do Bexiga (Bela Vista), o que resultaria,
nos anos de 1890, na construção do prédio a seguir transformado na antiga Escola Estadual Maria José
(antiga Z8 200-090), situada na Rua Major Diogo, n°.200. No almanaque de 1886, Barra aparece também
como tesoureiro do Círculo Operário Italiano, o que confirmaria, em nosso entender, a modesta origem social
do
Cavaliere, que, uma vez enriquecido, se empenhou em ver ratificada sua posição de prestígio na
sociedade paulistana por meio de honrarias recebidas do governo italiano.
No Arquivo Histórico Municipal Washington Luís sobrevive até hoje um pedido de alinhamento relacionado
com a ereção do sobrado do
Cavaliere:
Illmos Exmos Snr.s Presidente e Vereadores da Camara Municipal da Capital
Diz Francisco Antonio Barra que desejando faser o calçamento em frente do predio que constroe na
Rua da Liberdade pede a V.V. E.Exas. que determinem que lhe seja dado o conveniente nivellamento por
cuja graça E R Mce. [encarecidamente roga mercê]
São Paulo, 14 de abril de 1879 [Obras Particulares, 1879-1881, v. 020, folha 33]
Bem mais importante que esse documento, porém, é o lançamento do auto de alinhamento que
encontramos em outra coleção conservada no Arquivo:
Francisco Antonio Barra
Aos vinte nove de Outubro de mil oitocentos e setenta e oito nesta Imperial Cidade de Sam Paulo em a
Rua da Liberdade comparecerão os empregados da Camara Municipal para dar alinhamento ao terreno de
Francisco Antonio Barra que pretende edificar como allega em sua petição com despacho de 24
do corrente mes. E procedendo ao dito alinhamento alinharão 25m,70 de frente para a Rua da Liberdade,
dividindo pelo lado direito com João Augusto de Moraes, e a esquerda com a propriedade que foi do
Doutor Getulio; ficando no alinhamento das casas que ficão do mesmo lado, cujo alinhamento foi
dado com a presença do Senhor Vereador Doutor João Alvares de Siqueira Boeno. E para constar
lavrei o presente auto, eu Antonio Joaquim da Costa Guimarães Secretario da Câmara o escrevi.
Antonio Joq.m da Costa Gs.
O fiscal interino Alfredo Augusto Ferreira Braga
O Engo. Fernando de Albuquerque
Possidonio Jose da Sa.
[Livro de lançamentos dos autos de alinhamento,
1877-1880, v. 0376, folha 94]
Depois, no prédio habitou, por toda a vida, o seu filho Nicolino, que, em 1886, segundo o mesmo almanaque consultado, era dono de uma casa de fazendas na Rua do Ouvidor, n°. 13 (hoje José Bonifácio). Nicolino fez-se notabilizar por suas obras de benemerência; foi proprietário de uma casa bancária no Largo do Tesouro e obteve, mais tarde, do governo da Itália o título de barão. Aliás, em São Paulo, não foi o único imigrante a sonhar com um título nobiliárquico concedido por seu país de origem, pois antes dele temos, entre outros, os portugueses Aires Coelho da Silva Gameiro e Joaquim Lebre, elevados a barão (o último, dono de uma banal loja de ferragens), e depois, já no século XX, os grandes industriais italianos Rodolfo Crespi e Francesco Matarazzo, agraciados com títulos de conde.
Aspectos estilísticos da construção
Com o tempo, a velha casa dos Barra entrou em processo de decadência física, havendo sido preservada apenas
externamente, ao ser arrolada como Z8 200 nos anos 70 do século passado. A parte superior da fachada
principal, contudo, permanecia bastante íntegra, com estátuas decorativas na platibanda; bandeiras das
portas-balcão exibindo pinázios em forma de tulipa, realçadas com vidros de cor; sacadas e balcão
corrido central guarnecidos com guarda-corpo de ferro forjado e – detalhe antiquado, embora muito
pitoresco –, suportes de ferro enfeitados, usados para pendurar as luminárias de vidro que deviam
alegrar a parte externa da casa durante as noites dos dias festivos observados nos últimos tempos do
Império. Detalhe antiquado porque na segunda metade dos anos de 1870, a arquitetura da cidade já se
encaminhava com passos firmes para o Ecletismo e esses elementos de suspensão de lâmpadas não
estavam mais em uso. Entre 1875 e 1877, por exemplo, o 2º. Barão de Piracicaba ergueu seu solar
na futura Rua Brigadeiro Tobias, no qual as características neoclássicas eram tratadas com uma
sobrecarga ornamental que anunciava um novo gosto arquitetônico. E, em 1877, o engenheiro francês
Eusébio Stevaux reformava a velha Casa de Câmara e Cadeia do Largo de São Gonçalo (atual Praça João Mendes),
inspirando-se nas
mairies francesas do Segundo Império, introduzindo platibandas e
frontões triangulares ao lado de uma alta cobertura tronco piramidal, rematada por lanternim e recoberta
de ardósias importadas. Também contemporânea do sobrado de Francesco Barra era a vistosa casa de
Augusto de Sousa Queirós, no Largo do Curro, ou Sete de Abril (Praça da República). De autoria
atribuída ao engenheiro Stevaux, essa luxuosa habitação já revelava uma preferência pelo gosto
neo-renascentista, o que se tornaria moda entre os palacetes construídos nos primeiros anos do decênio
seguinte.
Reconstituição digital da fachada do sobrado Barra, a partir do desenho de José Carlos F. Oliveira
(c.1951) e de outras fontes iconográficas.
Na reconstituição proposta, as portas do térreo
dão acesso a lojas, com exceção do vão central, que conduz à residência localizada no primeiro andar.
Desenho: Arq. Eudes Campos, 2007
Na época da redação de nossa tese de doutorado dedicada à arquitetura paulistana sob o Império (1991-1997),
por imperdoável descuido, não nos detivemos no exemplar que nos retém a atenção. Para nós o térreo já
estava completamente desfigurado e o interior do primeiro andar dificilmente permitiria a reconstituição da planta original.
Isso, hoje, parece ter sido um erro de avaliação. Conforme recente informação de técnicos da Divisão de Preservação do DPH, a situação do edifício era decididamente precária, mas nada impedia que uma criteriosa restauração do prédio pudesse ser intentada. Aliás, era o que se pretendia fazer em 2006, quando se encetaram entendimentos nesse sentido com os proprietários do sobrado, interessados em erguer no terreno um edifício de vários pavimentos.
No sobrado que estamos analisando, alguns pormenores já se afastavam do estilo neoclássico:
a decoração localizada nos rins dos três arcos das janelas centrais, por exemplo, e o rebuscado
coroamento da fachada. Executados com peças decorativas aplicadas, denunciavam a nascente influência
do Ecletismo e eram, seguramente, reflexo direto da inauguração, em 1875, da fábrica de elementos de
pedra artificial (elementos decorativos feitos de cimento moldado), de propriedade do advogado e
empresário João Ribeiro da Silva (18..-1882), dono da famosa Olaria do Bom Retiro. Algumas residências
ricas da época já vinham adotando esse tipo de ornamentação pré-fabricada: a segunda casa de José Maria
Gavião Peixoto (1875-1877), na Rua da Constituição (Florêncio de Abreu), por exemplo, e o solar do 2°.
Barão de Piracicaba (1875-1877), ao qual nos referimos há pouco. Os ornatos de pedra artificial eram
vistos então como uma evolução técnica muito positiva, pois substituíam, de maneira mais em conta, os
enfeites de cantaria lavrada ou de estuque, estes por vezes modelados
in loco por hábeis especialistas.
O resultado produzido, contudo, nem sempre era do agrado de todos. Alguns exemplares da época, por se
afastarem da estética erudita da Arquitetura, devem ser interpretados como obras típicas de projetistas
de nível oficinal – os conhecidos mestres-de-obras. De fato, esses edifícios, entre eles o
sobrado da Avenida da Liberdade, configuravam um hibridismo estilístico, nem totalmente neoclássicos
nem decididamente ecléticos, e, tempos depois, os responsáveis pela introdução desse tipo de decoração fora dos cânones
mereceriam a censura austera de Ricardo Severo (1869-1940):
os habilidosos estucadores que vieram da Itália e de Portugal (das bandas de Vianna e Afife) trouxeram um elemento valioso de decoração architectonica, mas produziram por excesso o abuso do ornamento modelado applicado sobre fachadas completamente lisas, sem discreção, sem compostura architectural, sem o mínimo senso esthetico.
E era justamente essa característica pouco convencional que, a nosso ver, tornava preciosa a casa de Francesco Barra. Nela se misturavam evidentes traços de conservadorismo estilístico (a composição arquitetônica geral, de influencia neoclássica), alguns raros elementos construtivos remanescentes dos meados do oitocentismo e indícios de um estilo então recém-chegado na cidade.
Ao que parece, técnico algum jamais conseguiu penetrar na construção, em razão do fato de estar invadida e encortiçada desde muito tempo. Hoje não deixa de ser embaraçante esse misto de omissão e impotência, pois afinal o edifício desapareceu sem ter sido alvo de uma documentação criteriosa e aprofundada.
Embora contasse com quase cento e trinta anos de idade, a verdade é que o sobrado da Avenida da Liberdade
era visto por muitos com uma deliberada indiferença. Nunca apontado como um remanescente digno de
interesse da arquitetura do passado, apesar de não haver resistido na cidade outra construção estilisticamente equivalente. Constituía o único exemplar de arquitetura paulistana que ainda conservava certo compromisso com o Neoclassicismo, materializado tanto na forma prismática da construção, quanto no predomínio das paredes lisas e planas, nos vãos rematados com arcos plenos e nas platibandas corridas sem ornatos, às quais se opunha, como um elemento cheio de novidade, indicador de um novo estilo arquitetônico na Capital, o coroamento central, sobrecarregado de decoração pré-fabricada. No alto do frontão se destacavam, como já mencionado, as iniciais do nome do proprietário e de seu título honorífico, a ladear a cruz da insígnia correspondente ao grau de cavaleiro da Ordem de São Maurício e São Lázaro, Real Ordem de Mérito da Casa de Savóia, ostensivamente exibida pelo morador.
Patrimônio cultural ameaçado
O súbito desaparecimento das duas construções, tanto o antigo sobrado dos Barra quanto o prédio contíguo, de autoria de Dubugras, vem demonstrar mais uma vez que a cidade mais rica e culta do País, São Paulo, continua, lamentavelmente, sem condições de zelar de modo adequado por seus bens culturais mais significativos.
Hoje já existe um órgão municipal responsável pela proteção do patrimônio cultural paulistano, já existem leis de proteção aos bens culturais e instrumentos legais de incentivo, há organizações sociais voltadas para o assunto e nunca a questão da preservação cultural foi tão ventilada por intermédio da imprensa quanto agora, mas mesmo assim todo esse aparato continua a se revelar insuficiente, sobretudo perante a pressão violenta dos interesses imobiliários.
Um raciocínio superficial e imediatista indicará como culpados pelo ocorrido aqueles que desafiam as leis e destroem bens culturais salvaguardados, mas, uma reflexão mais ponderada e abrangente nos fará admitir que a responsabilidade, em última instância, é de toda a sociedade, quer dizer, de todos nós, por nosso engajamento ainda insuficiente em relação à causa preservacionista.
No caso das construções da Avenida da Liberdade essa constatação fica bastante clara. Preservadas há mais de trinta anos, nunca receberam a atenção que lhes era devida; diante de tamanha indiferença, o destino delas só podia ser esse mesmo, o simples desaparecimento.
Eudes Campos
Seção Técnica de Estudos e Pesquisas
Agradecemos à arquiteta Sylvia Maria Luz Fré, da Secretaria Municipal de Planejamento – Sempla, ter cedido gentilmente parte do material usado na redação e na ilustração do presente texto.
Documentação primária
- ALMANACH administrativo, commercial e industrial da Provincia de São Paulo para o anno de 1886, 4° anno. S. Paulo: Jorge Seckler, 1886.
- SÃO PAULO (Cidade). AHMWL. Livro de lançamentos dos autos de alinhamento, 1877-1880, v. 0376, folha 94.
- ______. Obras Particulares, 1896, v.120, folha 95 e ss.
- ______.Obras Particulares, 1879-1881, v. 020, folha 33.
Documentação secundária
- CENNI, Franco. Italianos no Brasil. São Paulo: Martins, Edusp, 1975.
- CAMPOS, Eudes. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura burguesa em São Paulo. 1997. 814 f. Tese (Doutorado em Arquitetura) – FAUUSP, São Paulo. 4v.v.4.
- PRADO, J.F. de A. (Yan de Almeida). Arquitetos de São Paulo em 1880. Habitat. São Paulo: n.3, p.50-53, 1951.
- SALMONI, Anita e DEBENEDETTI, Emma. Arquitetura italiana em São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981.
- SASSO & FRANCIS ARQUITETAS. Projeto de restauro e reforma – Av. da Liberdade, 332 e 350 – São Paulo; levantamento histórico.[ São Paulo: 2006.]