A presença de Eusébio Stevaux nos documentos da administração municipal
De acordo com que pudemos apurar, Eusébio Stevaux morou mais demoradamente em São Paulo entre os anos de 1882 e 1885. Apesar de manter
casa na Capital, viveu durante a década de 1890 em São Roque, vindo a falecer em sua residência paulistana em 1904.
Como vimos acima, em 1877, foi chamado de Guaratinguetá, onde então residia como engenheiro do 2°. Distrito de Obras Públicas,
para vir projetar a reforma da antiga Casa de Câmara e Cadeia da Capital. Depois, em 1882, foi transferido para o 1.º Distrito, que
compreendia a Capital e região circundante, para arcar com as obras do Palácio da Presidência e da Tesouraria de Fazenda. Por essa época,
é possível que tenha mantido um escritório de arquitetura na cidade. Nas Atas da Câmara de 1883, surge morando na Rua Conselheiro Nébias,
n.° 28. Na ocasião, reclamava contra o pagamento do imposto de Rs 78$000 que lhe exigia o procurador da Câmara. Alegava o suplicante não
exercer indústria alguma na cidade a não ser a sua profissão de engenheiro, que não estava sujeita a pagamento municipal (o que só
ocorreria a partir de 1886). Seu requerimento, no entanto, acabou indeferido, porque a cobrança que lhe faziam era relativa ao
“deposito de pedras, cal, e letreiro”, que mantinha na cidade.
De fato, num dos volumes dos livros de impostos da Câmara (Impostos Diversos – Imposto Profissão) é possível encontrar duas vezes o nome
de
Eusébio Stevaux, como proprietário de estabelecimento com a atividade comercial apontada nos períodos de 1882-1883 e 1883-1884.
No período 1882-1883, aparece “Dr. Estevaux [sic]: depósito de pedras e cal”, estabelecido na Rua General Osório (folha 76) e, no
subseqüente (1883-1884), a indicação é “Eusébio Stevaux: deposito de pedras”, na Rua Aurora, na folha 198. Nos lançamentos referentes
ao ano de 1885, já não se acha o nome do engenheiro, que, após retirar-se da cidade, deve ter conservado apenas seu comércio de pedras
em São Roque. Nessa localidade, segundo o almanaque de 1873, era proprietário de serrarias de madeira e mármore e de fábricas de
desencaroçar algodão, sendo citado como fazendeiro desse último produto.
Como já mencionado em outro ponto deste
Informativo AHM, o engenheiro Eusébio Stevaux tornara-se proprietário da fazenda do
Pantojo, em São Roque, em 1871, e logo deu início à exploração de cal de pedra. Contudo, com bem menos facilidade conseguiu fazer
o mesmo com os seus famosos mármores, com os quais tentaria revestir algumas obras governamentais projetadas e erguidas por ele
próprio na Capital: o palácio do governo (1881-1886), os pilares dos portões do Jardim Público (1881-1883) e, supomos,
o edifício interrompido da Tesouraria de Fazenda (1881-1882).
Em 1874, Stevaux enviou seis amostras de seus mármores à redação do
Correio Paulistano, acompanhadas de uma descrição sucinta,
da qual extraímos os trechos referentes aos tipos mais notáveis:
[mármores betuminosos]
n.l Marmore preto (noir antique ou drap mortuaire) marmore luculleum dos romanos. É geralmente para pedestaes, almofadas,
[sic] de Stylobatos, e para monumentos funerarios.
[...]
n.3. Marmore de Sant'Anna. Este marmore é o mais usado em França para mesas, commodas, chaminés, lavatorios. Emprega-se geralmente em
portadas, frisos, almofadas, etc. [era um mármore negro com veios brancos].
n.4. Verde antigo (ophicalce veiné).
Emprega-se em columnas, architraves, cornijas, degráus de escada, frisos etc.
Na fazenda do Pantojo existem jazidas consideraveis desses materiaes, sobretudo dos ns. 1, 3 e 4
No ano seguinte, um artigo de jornal lamentava o fato de que na futura visita que o Imperador faria à Sorocaba (1876), passaria o
monarca pelas ricas minas de mármores diversos existentes no Pantojo e saberia com pesar, como todos os que tinham visto suas
amostras na exposição provincial, que esses mármores até então só para cal eram extraídos. E acrescentava:
E entretanto chegam constantemente ao Rio de Janeiro navios carregados de marmores em que nada lhes são superiores,
e esta provincia importa em parte, pagando-os pelo triplo e quadruplo do preço porque poderia obter do Pantojo!
Além das menções ao comércio de pedras que manteve em São Paulo, o nome do engenheiro francês aparece citado no livro n.º 41,
relativo às inumações realizadas no Cemitério do Araçá em 1904. Abaixo fazemos a transcrição completa do assentamento encontrado na
p. 351:
Eusebio. Aos 22 dias do mes de fevereiro de 1904 sepultou-se na quadra geral 129 sep.54, Eusebio Estevaux [sic] com 77 anos de
idade, casado, Francez, fallecido hontem, as 4 ½ horas da tarde, victima de arteriosclerose. Certificou o escrivão de paz de Santa
Cecília. Aurelio. Pagou sepultura.
Eudes Campos
Seção de Estudos e Pesquisas
DOCUMENTAÇÃO PRIMÁRIA
- SÃO PAULO (Cidade). AHMWL. Departamento de Cemitérios. Livro de Inumações, n.41. Cemitério do Araçá, 1904, p. 351.
- _____. Livro de Impostos diversos – Imposto Profissão (1882-1884). vol. 1916.
BIBLIOGRAFIA
- CAMPOS, Eudes. Arquitetura paulistana sob o Império: aspectos da formação da cultura burguesa em São Paulo. 1997. Tese (Doutorado em Arquitetura) – FAU USP, São Paulo. 4v.v.2.
Agradecemos ao arquiteto Celso Ohno,
da Divisão de Preservação do DPH (SMC), a gentileza de nos ter feito a indicação do livro de
impostos da Câmara Municipal de São Paulo em que são feitas menções ao nome do engenheiro Eusébio Stevaux.
Para citação adote:
CAMPOS, Eudes. A presença de Eusébio Stevaux nos
documentos da administração municipal.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL, 4 (23): mar/abr.2009 <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>