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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, julho/outubro de 2009
Ano 5 N.25-26 

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  • ESTUDOS & PESQUISAS

  • O capitão Antônio Bernardo Quartim ou o ABC da Engenharia


    Foi este personagem certamente o empreiteiro de obras públicas mais popular de sua época, e sua carreira controvertida dá oportunidade para que surpreendamos o conflito então surgido entre o éthos tradicional da sociedade brasileira e os novos valores burgueses que então se disseminavam por entre os setores mais avançados da sociedade paulista. Muitas construções provinciais erguidas na Capital durante a segunda metade do século retrasado, tiveram sua execução devida à iniciativa desse capitão da Guarda Nacional, que, a acreditar nas críticas de parte de seus contemporâneos, não tinha as mínimas condições para exercer a função de diretor de obras.

    Na realidade, Antônio Bernardo Quartim (1822-1888) desempenhou várias atividades ao longo da vida (fig.1). Dessas atividades, duas, a construção de obras públicas e a administração do Jardim Público, foram, por assim dizer, herdadas de seu pai, o tenente-coronel das milícias Antônio Maria Quartim, que em 1827 executava o encanamento do Rio Tamanduateí – provavelmente uma retificação parcial nas proximidades do Morro do Carmo1. Com a morte do pai em 1846, assumiu Bernardo o cargo deixado vago na administração do Jardim Público2. Filiado ao Partido Conservador, foi durante décadas protegido por seus correligionários políticos3. Uma lei de 1857 chegou a lhe conceder prerrogativas extraordinárias: não podia ser demitido do cargo de inspetor do Jardim Público senão em virtude de sentença passada em julgado e foi-lhe permitido manter uma residência no local pelo prazo de trinta anos4.

    Retrato do capitão Antônio Bernardo Quartim, déc. 1870
    Fig. 1- Retrato do capitão Antônio Bernardo Quartim.
    Foto de autor não identificado, década de 1870?.
      Famigerado empreiteiro de obras públicas, impiedosamente ridicularizado pela bancada liberal da Assembleia Legislativa de São Paulo. Protegido pelos políticos conservadores, pôde desenvolver uma desastrada carreira profissional durante mais de trinta anos, a custa dos cofres públicos provinciais. Até sua peruca, vista na foto, era motivo de chacota no periódico satírico O Polichinello. Em carta datada de 28 de dezembro de 1877, endereçada à filha Maricota (Maria da Glória Quartim de Morais), Bernardo mostrava-se cioso de seu passado aristocrático – a família Quartim, de origem inglesa, fora nobilitada em Portugal – e, ao mesmo tempo, muito magoado com o afastamento das obras públicas a ele imposto pelo presidente Sebastião José Pereira. Em 1877, havia-se retirado da Capital. Da “roça”, lançava invectivas contra a falsidade da “civilização atual”.

      Fonte: SÃO PAULO antigo e São Paulo moderno, 1554-1904. São Paulo: Vanorden e Co. [1905].

    De acordo com o que conseguimos apurar, sua carreira de empreiteiro iniciou-se no princípio da década de 1850, ao se prontificar a recuperar o Teatro de Ópera, situado no Pátio do Colégio, então em adiantado estado de ruína (fig.2). Com as obras que empreendeu nessa casa de espetáculos adquiriu o direito de usufruir o teatro pelo espaço de catorze anos5.

    Teatro de Ópera de São Paulo

    Fig.2- O velho Teatro de Ópera de São Paulo, frequentado por D. Pedro I em 1822, situava-se no Pátio de Colégio. Aqui assinalado por meio de uma seta, o imóvel aparece representado em desenho que orna a margem da planta da cidade datada de 1841 (recopiada em 1918).

    Fonte: PLANTA DA IMPERIAL CIDADE DE SÃO PAULO levantada em 1810 pelo Capitão de Engenheiros Rufino J.o Felizardo e Costa e copiada em 1841 com todas as alterações. INFORMATIVO AHM, (20): set/out.2008. Planta n. 2.

    Depois, ofereceu-se para construir o novo teatro provincial que vinha sendo objeto de cogitações por parte do governo provincial desde 1852. Após muitas marchas e contramarchas, deu início à construção do novo teatro em abril de 18586. O projeto apresentado na ocasião por Quartim era, ao que parece, da autoria do engenheiro paulistano Francisco Antônio de Oliveira (1796-1871), então coronel do Estado Maior do Exército (fig.3).

    Francisco Antônio de Oliveira, 1876
    Fig.3- Francisco Antônio de Oliveira, coronel do Estado Maior do Exército ao tempo da construção do Teatro São José.
    Retrato executado por Nicolau Huascar de Vergara, 1876.

    Fonte: O POLICHINELLO. São Paulo, n.21, 1876.


    Nessa obra ficou responsável pelos trabalhos o mestre de obras alemão Pedro Zapp, para quem o engenheiro fiscal do governo, o alferes José Porfírio de Lima (c.1810-1887), só tinha palavras elogiosas. Quando surgiram rumores sobre a má construção das fundações do teatro, Porfírio de Lima, membro do Partido Conservador, apressou-se em dissipar as dúvidas das autoridades, assegurando que os alicerces tinham sido abertos “pelo mais habil mestre pedreiro que se acha nessa Capital, o alemão Pedro Zapp”7. Mais tarde ressurgiram denúncias de defeitos na construção, inclusive na composição da argamassa empregada, pelo qual foi responsabilizado de novo o “operario director dos trabalhos”. Uma vez mais Porfírio, que ainda detinha o cargo de fiscal do governo, veio em socorro do empresário Quartim, seu correlegionário e sem dúvida amigo, atestando a solidez da obra e a capacidade profissional do mestre de obras: Com a persistência das irregularidades, o engenheiro Francisco Antônio de Oliveira, escolhido por Quartim para auxiliá-lo na condução dos trabalhos, preferiu afastar-se, pois não quis continuar a responder pelos constantes defeitos e vícios de construção9.

    O teatro, que conforme a imprensa vinha funcionando desde 1861, foi inaugurado finalmente três anos mais tarde, apesar de inacabado10. E assim permaneceu em mãos do empresário Quartim até ser encampado pelo governo provincial em 187511.

    Joaquim Saldanha Marinho, 1881

    Fig.4- Presidente Joaquim Saldanha Marinho.
    Caricatura de autoria do artista português
    Rafael Bordalo Pinheiro, 1881.

    Fonte: ALBUM das Glorias de Rafael Bordalo Pinheiro. Estampa nº 23, dezembro de 1881.(imagem colhida na Internet).


    Em seu relatório de 2 de fevereiro de 1868, o presidente Saldanha Marinho (1816-1885), eminente figura do Partido Liberal (fig.4), mostrou-se escandalizado com os privilégios de que gozava o administrador do Jardim Público. Irritação maior, no entanto, causou-lhe o “embrulhado negocio do Theatro de S. José”. Após repassar sucintamente todos os fatos relacionados com aquela edificação, observou que o empresário ainda não a tinha concluído nem prestara contas das somas recebidas pelo governo para a finalização das obras
    12. Nomeada uma comissão para examinar o teatro, esta descobriu que não havia plano completo e exato do edifício. A planta que lhe fora apresentada pelo empreiteiro não era validada com a assinatura das partes contratadas e estava longe de refletir o que fora executado. Os defeitos de construção então notados eram sobejamente conhecidos: alicerces formados por pedras de dimensões inconvenientes, assentadas com uma argamassa que de tão ruim permitia que as pedras fossem destacadas à mão; fendas nas paredes causadas pelo imperfeito alicerçamento da obra e pelo mau engranzamento dos tijolos; e utilização de mão de obra que de tão má parecia não ter sido dirigida por alguém que entendesse da arte. Enfim, o teatro era um “pessimo artefacto”, com madeiramento ruim e esquadrias toscamente executadas13 (fig.5 e 6).

    Joaquim Saldanha Marinho, 1881

    Fig.5 - Antônio Bernardo Quartim mama na vaca do Teatro São José, com a conivência do presidente da Província desembargador José Tavares Bastos (1822-1889).
    Caricatura de Ângelo Agostini publicada no n.15
    do Cabrião, datado de janeiro de 1867.

    Fonte: CABRIÃO. ed. fac-similar. São Paulo: IMESP/DAESP, 1982.


    Teatro São José, 1862

    Fig.6 - Fachada do Teatro São José.
    Foto de Militão Augusto de Azevedo, datada de c. 1862.

    Edifício de singelas linhas neoclássicas – desprovido de platibandas –, mantido inacabado até sua encampação ocorrida em 1875.

    Fonte: CAMPOS, Eudes. Arquitetura paulistana sob o Império. 1997.
    811 p. Tese (Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997.


    Diante de tantas irregularidades, Saldanha Marinho determinou que o procurador fiscal do tesouro tomasse as providências para rescindir o contrato de Quartim. Finalmente, a Lei provincial n.22 de 19 de abril de 1870 no seu artigo 1º, determinou encampação do teatro. Contudo, só três anos mais tarde, sob o governo do presidente João Teodoro Xavier de Matos (1828-1878), é que foram adotadas as primeiras medidas práticas nesse sentido14 (fig.7).

    João Teodoro Xavier, déc.1870

    Fig.7 - Presidente João Teodoro Xavier.
    Foto de autor não identificado. Década de 1870.

    Fonte: SÃO PAULO (Prefeitura). IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo. São Paulo: Gráfica Municipal, 1954. 466 p.


    Em 1873, novo parecer foi emitido pelos engenheiros da Província sobre a construção do teatro. As críticas então se renovaram. Entre tantos outros defeitos foi mencionada a estrutura do telhado, que, por “excesso de solidez”, aumentava o peso geral do edifício e com isso comprimia o solo. O teatro era, em suma, uma lição da experiência, que demonstrava que em matéria pertencente à arte de construir devia ser procurado um engenheiro e não contratados profissionais sem habilitação15. Um ano depois, em nova vistoria, engenheiros verificavam que o corpo da frente do teatro necessitava, simplesmente, ser reconstruído16.



    Fig.8 - Dr. Antônio da Silva Prado.
    Gravura de autor não identificado, 1888.

    Fonte: http://www.mre.gov.br


    Uma vez encampado, passou o teatro para as mãos de outro empresário, o Dr. Antônio da Silva Prado (1840-1929), que o reformou totalmente (fig.8). Embora também pertencente ao Partido Conservador, Antônio Prado era, por assim dizer, vinho de outra pipa. Inteligente e esclarecido, pertencia à camada social mais alta de então. Bacharelara-se na Academia de Direito de São Paulo, mas ao viajar à Europa depois de diplomado, entre 1862 e 1864, chegou a cogitar em aperfeiçoar sua formação, matriculando-se na Escola de Pontes e Calçadas de Paris, na certeza de que dispor de conhecimentos de engenharia era fundamental para um jovem que, como ele, pretendia contribuir para a modernização de seu país de origem17. No ano subsequente (1876), estava o teatro sendo decorado pelo pintor e arquiteto catalão José Maria Villaronga (c. 1809-1894), desde o ano anterior estabelecido em São Paulo18, e que sabidamente ornamentou, na mesma época, o salão nobre da Academia de Direito e o interior do Teatro Provisório Paulistano19 (fig.9).



    Fig.9- Teatro de São José após a reforma dos anos 1875-1876, realizada pela destacada figura de Antônio Prado,
    então atuando como empresário teatral.
    Foto de autor não identificado, datada por volta de 1876.

    Antônio Prado conferiu ao teatro inacabado linhas mais marcadamente neoclássicas. Criou um antecorpo central coroado de frontão na fachada principal e introduziu platibandas. Solução típica do estilo já usada por Pierre Joseph Pézérat (1800-1872) na antiga Academia Militar, da Corte, no início do Império.

    Em visita oficial a São Paulo em 1884, a Princesa Isabel referiu-se,
    em seu diário de viagem, de modo favorável ao teatro reformado, considerando-o “bonito”.

    Fonte: SÃO PAULO (Estado). Assembléia Legislativa. São Paulo; a imperial cidade e a Assembléia Legislativa Provincial. ão Paulo: Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, 2005. 139 p.


    A atuação indecorosa de Quartim no caso do teatro provincial não afetou, porém, minimamente, a sua reputação de empreiteiro de obras públicas. Embora criticado na Assembleia Legislativa Provincial pela bancada oposicionista, e mesmo pela imprensa de igual coloração política, Quartim foi responsável por várias obras provinciais executadas na Capital, sobretudo durante a gestão de João Teodoro, de quem era certamente amigo pessoal.

    Já no tempo do ultraconservador Vicente Pires da Mota (1862-1864)20 (fig.10), fora chamado para reconstruir a ala dos fundos do Palácio da Presidência (1862-c.1864), antigo colégio jesuítico. Substituiu então a ala posterior, seiscentista, de taipa, por uma longa construção de tijolos com janelas de arco pleno e platibandas lisas21. Não se sabe se neste caso houve algum projeto elaborado especialmente, ou se Quartim simplesmente enfrentou o problema como então faziam, em geral, os mestres de obras, que, ignorando a utilidade do desenho como eficaz instrumento para estabelecer a relação entre a ideia e o artefato construído, orientavam tudo, como se diz, com a ponta do guarda-chuva. É até possível que tenha acontecido a segunda hipótese, pois, a certa altura, foi chamado o engenheiro prático João José Soares (1822-1876), que detinha um cargo burocrático na administração provincial, para levantar a planta da parte executada, a fim de que fosse enviada ao Ministério dos Negócios do Império. Essa satisfação era necessária dado o fato de o antigo colégio ser naquela altura de propriedade nacional, como, aliás, todas as propriedades sequestradas dos jesuítas no século XVIII22. Um ano depois, contudo, já se queixavam da repartição da nova ala, pois aí não haviam sido previstas as dependências necessárias23.



    Fig.10- Presidente Vicente Pires da Mota.
    Pintura de autor não identificado. Década de 1870.

    Fonte: SÃO PAULO (Prefeitura). IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo. São Paulo: Gráfica Municipal, 1954. 466p.


    Foi no governo de João Teodoro, porém, que Quartim atingiu o auge de sua desastrada carreira de empreiteiro. O novo presidente da Província, um conservador, era paulista e lente da Academia de Direito, onde sobressaía por suas excentricidades. Sua nomeação para o cargo provocara ironias entre as hostes liberais24. Governou isolado, com o Legislativo e parte da imprensa criticando acerbamente suas decisões. Na verdade, em nossa opinião, a historiografia desde muito tempo insiste em supervalorizar a atuação desse presidente. Alça-o imerecidamente à condição de grande herói do processo de urbanização da Capital, reconhecendo nele uma larga visão de urbanista, a qual de fato é antes fruto da imaginação desenfreada de determinados pesquisadores.

    João Teodoro era um personagem complexo, cheio de idiossincrasias. A leitura de seus relatórios podem facilmente nos iludir, já que são bem redigidos e aparentemente sensatos. Por isso, para adquirirmos uma perspectiva crítica a seu respeito é necessário ir em busca de outras fontes. Entre as esquisitices do presidente estava o costume de só conseguir despachar altas horas da noite. Certa vez, alguém lhe levou ao meio-dia um papel oficial. Foi encontrá-lo no gabinete em roupa de baixo, enrolado num cobertor vermelho, com as janelas cerradas e de velas acesas. Como tinha de despachar algo urgente, teve de simular que era noite para conseguir trabalhar. As solicitações dos políticos eram em geral submetidas a um curioso conselho formado de tipos populares, entre os quais se achava o próprio capitão Quartim. Esse círculo era chamado pelo presidente de “a opinião pública” e muitos deputados e pessoas influentes tiveram de passar pelo vexame de ver submetida sua solicitação ao julgamento abalizado de um Nho Paulo Pica-Fumo ou a uma Nhá Maria Café25(fig.11).



    Fig.11- Ascenção metaphysica I. Caricatura de João Teodoro,
    da autoria de Nicolau Huascar de Verguada, 1876.

    A situação grotesca da personagem, que sobe às alturas num balão, está relacionada com o título singular de uma obra sua lançada em 1876, intitulada Teoria transcendental do Direito.

    Fonte: O POLICHINELLO. São Paulo, n. 28, 1876.


    O seu governo corresponde à segunda fundação de São Paulo, conforme consagrada expressão do professor Eurípides Simões de Paula (1910-1977), mas por ventura uma análise mais ponderada e menos superficial do período levasse à constatação de que predominou nas obras públicas então encetadas o desperdício, a incompetência, a corrupção e o favoritismo, mormente nos trabalhos sob a responsabilidade do capitão Quartim.

    O fato é que desde 1860 se vinham acirrando os ânimos entre liberais e conservadores na Assembleia Legislativa provincial. Naquele ano só três leis conseguiram ser aprovadas; nem mesmo as leis ânuas alcançaram consenso para serem submetidas a votação. Embora ainda hoje seja corrente a concepção de que no tempo do Império não havia diferenças significativas entre os dois partidos, o Conservador e o Liberal, a leitura dos Anais da Assembleia e mais documentos deixam-nos a impressão de que em matéria de obras públicas os liberais eram realmente mais esclarecidos, ou seja, mais imbuídos de espírito burguês; preocupavam-se continuamente com o mau estado das estradas provinciais, que constituíam um sério impedimento à expansão da produção agrícola de exportação, e estavam conscientes de que a conservação das estradas e a abertura de novas dependiam de uma bem organizada repartição de obras públicas, convenientemente composta por engenheiros hábeis e diligentes. Os conservadores, por seu lado, não davam grande importância a esse tipo de questão. Estes últimos apoiavam-se geralmente para a realização de obras de engenharia em inspetores leigos escolhidos entre as lideranças políticas regionais e nos antigos engenheiros formados pelo Gabinete Topográfico (1836-1849). Dessa escola haviam saído técnicos mal preparados, os chamados engenheiros práticos ou engenheiros de estradas, que não estavam em condições de competir em conhecimentos técnico-científicos com a maioria dos profissionais estrangeiros e nacionais que chegavam à Província, atraídos pela construção da ferrovia de Santos a Jundiaí.

    Fora uma atitude, talvez, mais caracteristicamente conservadora o afilhadismo de Pires da Mota. Desprezara os engenheiros existentes na Capital e entregara a tarefa de reconstrução da ala presidencial do palácio do governo a um leigo, seu correligionário político, ao qual fez rasgados elogios em seu relatório de 2 de fevereiro de 186326, ressaltando o zelo, a atividade e a honradez com que conduzia os trabalhos do São José, mesmo quando já pesavam contra Quartim sérias suspeitas de incompetência e improbidade.

    Agora na gestão de João Teodoro, coisa semelhante voltava a ocorrer. Como já dissemos, os engenheiros civis que serviam na Província foram postos de lado em favor de Antônio Bernardo Quartim, que chegou a acumular a direção de quatro ou cinco obras provinciais na Capital, ao mesmo tempo que continuava ocupando o cargo de inspetor do Jardim Público. E, o que é pior, nessas obras o presidente não cuidou, nem ao menos, de mandar exercer a necessária fiscalização pelos engenheiros da repartição das obras públicas.

    A reação na Assembleia e na imprensa, como é lógico, não se fez esperar. Uma das obras então conduzidas por Quartim era uma pequena ilha criada no Tamanduateí para servir de passeio público. Em 1874, um deputado assim se expressava a esse respeito: A propósito de outra obra do tempo de João Teodoro – esta da maior importância, pois se tratava do primeiro edifício especialmente construído pelo governo provincial para abrigar repartições públicas –, a história é bem mais complicada. Diziam na Assembleia que o presidente da Câmara da Capital, Dr. Ernesto Mariano da Silva Ramos (1836-1919), pretendera edificar um mercado de verduras; como não havia dinheiro nos cofres municipais, apelou para seu amigo João Teodoro. Este teria recorrido ao estratagema de fundir os interesses da cidade com os interesses da Província. No prédio que ergueria, o térreo ficaria destinado ao mercado de verduras, enquanto no andar superior cogitou instalar a Escola Normal, segundo proposta do inspetor geral de instrução pública, e ainda o Tesouro Provincial28.

    A construção desse edifício teve também seus percalços. João Teodoro pretendeu preparar e embelezar a cidade para a elite cafeicultora paulista, que começava a frequentá-la, no entanto, o máximo que conseguiu fazer foi promover algumas obras públicas mal executadas, entre elas, toscas construções todas elas edificadas por seu protegido Antônio Bernardo Quartim, “empreiteiro chronico das obras publicas”29, notoriamente incompetente, e sobre o qual, como já dito, não se preocupou o presidente em fazer exercer a fiscalização do governo por intermédio dos engenheiros provinciais30.

    As críticas dos deputados da oposição iam da indignação ao sarcasmo. As quatro ou cinco obras sob a responsabilidade de Quartim – o que fazia crer que tivesse o dom da ubiquidade – desfaziam-se antes mesmo de terminadas: assim havia acontecido com a Ponte do Gasômetro; com as Ruas do Hospício e do Conde d’Eu, desmanchadas seguidas vezes; com a torre do mirante do Jardim Público, que já saia da perpendicular, e com a sede da Escola Normal, cujas arcadas cediam com o prédio ainda em construção31.

    Este último edifício, do qual o presidente muito se envaidecia, era, na verdade, uma completa aberração. Para contentar o presidente da Câmara da Capital, amigo seu conforme se dizia na Assembleia, não hesitara em pretender reunir sob o mesmo teto o mercado de verduras municipal e a Escola Normal da Província32. Com esse expediente procurava desculpar o fato de o governo provincial estar erguendo uma obra de interesse municipal. A essas duas atividades incompatíveis, mercado e escola, foi agregada depois mais uma, o Tesouro Provincial, passando a construção a ser nomeada a cada momento de uma maneira diferente: “praça de mercado de verduras”, “edificio para escola normal” ou “grande edificio da instrucção publica” e ainda “palacio do Tesouro Provincial”33.

    Do alto da tribuna do Legislativo alguém comentava maliciosamente (embora de forma inexata): A primeira denúncia de que o edifício do “mercado novo” ameaçava aluir surgiu anonimamente n’A Provincia de S. Paulo35. Quartim, irritado, identificou pela imprensa o seu acusador como sendo o engenheiro Azevedo Marques, que estaria enciumado por ter sido preterido na condução da obra. Para comprovar o descrédito em que caíra o engenheiro, Quartim relembrou-lhe antigos fracassos: o encanamento (executado em 1868) com canos de papelão betumado, feito para levar água ao Jardim Botânico, e o Chafariz 7 de Setembro, que, recém-inaugurado no antigo Largo do Rosário (1874), teve a seguir de ser desmontado e reconstruído. Garantiu que nada de errado havia com a obra em andamento e de modo confuso tentou demonstrar “cientificamente” a solidez da edificação36. Azevedo Marques revidou sem demora, desta vez sem ocultar o nome. Aproveitou a ocasião para escarnecer do “carapetão do Sr. Quartim” e fazer-lhe uma preleção sobre a estabilidade das construções37.

    Esse episódio, algo ridículo, apresenta, no entanto, um aspecto que desperta interesse: o de ser o primeiro embate público ocorrido em São Paulo entre um engenheiro diplomado e um empresário leigo, que, no caso, dominava o ramo da construção oficial sem ter suficiente idoneidade para tanto. Supomos mesmo que a redação do artigo 28 do código de 1875, que punia com multa e prisão o mestre de obras incompetente, tenha sido inspirada diretamente na desastrada experiência profissional de Quartim, tão mal visto era ele pelos deputados provinciais da oposição38.

    As denúncias acerca da má construção do “mercado novo” veiculadas pela imprensa logo chegaram aos ouvidos do presidente da Província, forçando-o a solicitar pareceres a alguns engenheiros: o inglês Daniel Makinson Fox (1830-1918), superintendente da Inglesa; o engenheiro-arquiteto italiano Cristovão Bonini, engenheiro-chefe da estrada Sorocabana39, e três técnicos a serviço da Província, João Tomás Alves Nogueira, Antônio Cavalcante de Sousa Raposo e o próprio chefe da repartição de obras públicas, João Pedro de Almeida40. Segundo interpretações geradas na Assembleia, o presidente chegara ao cúmulo de colocar o engenheiro Fox e o engenheiro italiano Cristovão Bonini, os mais ilustres deles, abaixo do seu “engenheiro” predileto, o leigo Quartim. Ao considerar dispensáveis as recomendações técnicas favoráveis à consolidação da obra em construção, o presidente da Província,
      necessariamente apoiado no parecer autorisado do Sr. Quartim, sem duvida nenhuma irrogou a estes distinctos engenheiros uma injuria, um insulto, aliás muito censuravel em um homem como s. exc., de tanta illustração, e collocou acima daquelles distinctos profissionaes o seu oraculo da engenharia, o sr. Quartim!...41
    Não obstante afetar serem dispensáveis as recomendações dos engenheiros consultados, resolveu o presidente, por prudência, adotar a solução de Fox e do engenheiro cearense Antônio Cavalcante de Sousa Raposo, mandando atirantar as nascenças dos arcos do térreo, medida que, observava, além de elevar a segurança do edifício “ao maximo grau”, serviriam como “bases de ornamentos”. Justificativa que mais uma vez serviu de pretexto para reparos ferinos vindos do Legislativo: A estrutura depois de reforçada foi a seguir totalmente reformada por iniciativa do presidente Sebastião José Pereira (1834-1881) (fig.12), sucessor de João Teodoro, conforme veremos adiante.

    Sebastião José Pereira, déc.1870

    Fig.12- Presidente Sebastião José Pereira.
    Foto (?) de autor não identificado. Década de 1870.

    Fonte: SÃO PAULO (Prefeitura). IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo. São Paulo: Gráfica Municipal, 1954. 466p.


    As acusações dos deputados não paravam de se fazer ouvir. Todas as obras provinciais eram mal executadas, entre elas, o “canudo” do Jardim Público, cuja utilidade precisa era de todos desconhecida: E persistia o deputado em suas ironias: E como exemplo da incapacidade profissional de Quartim, citava ainda a Ponte do Gasômetro (1874): Além dessas, Quartim assumira a direção de outras obras, entre as quais a abertura de duas ruas, a do Hospício e a do Conde d’Eu, trecho final do primeiro anel perimetral da cidade de São Paulo a envolver a colina sobre qual se assentara o primitivo núcleo urbano. Havia-se iniciado com as Ruas Formosa, 25 de Março e Riachuelo. A 25 de Março foi mais tarde prolongada e agora por meio das duas ruas acima nomeadas conectava-se com a Mooca e com a saída de Santos. Nesses trabalhos também se manifestou a negligência profissional de Quartim, pois essas ruas necessitaram ser refeitas seguidas vezes.

    E não só as construções de Quartim constituíam problema, também suas demolições. Quando foi preciso derrubar as construções da Rua das Casinhas para dar início às futuras obras do “mercado novo”, Quartim provocou abalos no prédio vizinho, que por isso tinha de ser desapropriado e demolido!

    O deputado Padre José Vicente Valadão (?-1883), ao aludir ao caso da desapropriação da residência de D. Rita Maria da Conceição Ramos Bourroul, viúva do comerciante francês Celestino Bourroul, não perdeu a oportunidade de exercitar sua costumeira mordacidade: Na Assembleia, ao debaterem o futuro incerto da repartição de obras públicas, em 1873, alguém perguntava se o engenheiro de Iguape era formado. A que um deputado gaiatamente respondia: Os opositores de João Teodoro mostravam-se de fato incansáveis. Acusaram o presidente de despender enormes somas em obras inúteis e em pagamentos ao Sr. Quartim: Anedotas corrosivas sobre a obtusidade do capitão Quartim faziam a alegria dos círculos oposicionistas de São Paulo. Yan (João Fernando) de Almeida Prado (1898-1991) em artigo de sua autoria relembra duas delas, que equivocadamente diz ter colhido em Junius (Firmo de Albuquerque Diniz, 1828-?, autor de Alguns dias na Pauliceia): Num jornal de 1881 alguém que se ocultava sob o pseudônimo de A verdade dirigiu uma carta aberta ao senador Florêncio de Abreu (1839-1881), na época presidente da Província. Em determinado momento assestou suas críticas contra o administrador do Jardim Público, o velho Quartim: não tinha os conhecimentos precisos para dirigir um estabelecimento que demandava conhecimentos especiais, nem cursara aula alguma regular de ciências naturais ou de outra qualquer: Para concluir estas considerações a propósito do empreiteiro de obras públicas Antônio Bernardo Quartim, devemos procurar interpretar a sua atuação profissional à luz das peculiares circunstâncias econômico-sociais, políticas e culturais vividas pela Província de São Paulo naquela época, então nos primórdios do desenvolvimento capitalista e da mentalidade burguesa.

    A partir dos anos 1850 começara a se formar na Província, e também na Capital, um clima de grande expectativa em relação ao futuro da região. O funcionamento da ferrovia de Santos a Jundiaí, a partir de 1867, e dos ramais subsequentes, fez com que a cultura cafeeira prosperasse rapidamente, trazendo esperanças de um desenvolvimento compatível com a nova situação econômica. As frações mais progressistas da camada dominante impacientavam-se com o imobilismo reinante, pois tinham a vista voltada para a Corte, centro irradiador de novos modelos culturais. No entanto, a mentalidade provinciana da Capital não evoluía com o necessário desembaraço. Os conservadores detinham os cargos da administração pública e protegiam abertamente seus correligionários sem se preocupar com os ideais da nova ordem burguesa que aos poucos se instaurava: a valorização do saber prático, de cunho científico; a racionalização burocrática; a busca da disciplina e da eficiência; a impessoalidade no tratamento dos negócios públicos, etc.

    Em vista disso tornou-se inevitável o confronto: de um lado os políticos oposicionistas, preocupados com a sólida organização da repartição de obras públicas e com a contratação de engenheiros com suficientes conhecimentos técnico-científicos; de outro, a rotina dos conservadores, que só cuidavam de manter o poder em suas mãos e favorecer, em razão dos laços de caráter político e afetivo, seus apaniguados providos ou não de qualificação.

    Não obstante sua antevisão de um futuro burguês para a Capital, graças à riqueza do café, à presença da ferrovia e à industrialização incipiente, o presidente João Teodoro não conseguiu despojar-se da concepção arcaica que mantinha em relação à sociedade efervescente em que vivia. Achava-se de tal modo enredado em laços de amizade, patronato e afilhadismo, que lhe devia ser impossível adotar um padrão de conduta que conseguisse fazer nítida distinção entre as esferas do público e do privado. Daí o ato de ir buscar auxílio entre pessoas que lhe demonstravam gratidão ou que lhe inspiravam confiança pessoal, sem atentar para a capacitação profissional de seus assistentes, chegando com essa atitude a desrespeitar a preexistente estrutura burocrática da administração provincial.

    O favorecimento de um leigo em detrimento dos técnicos de função especializada que trabalhavam na repartição de obras públicas – com os quais Teodoro certamente não mantinha nenhum tipo de relacionamento pessoal, porque quase sempre forasteiros – se deu inicialmente pelo fato de Quartim ser correligionário, e sem dúvida amigo pessoal, do presidente da Província. Essa proteção a empreiteiro reconhecidamente inapto, se antes vista como algo habitual, passava agora a ser encarada como escandalosa, tendo suscitado contra o protegido e o protetor ataques constantes daqueles que então propugnavam pela introdução de relações impessoais e eficientes na condução dos negócios administrativos da Província. O que parece ter principiado realmente a acontecer com o sucessor de João Teodoro, Sebastião Pereira (ironicamente outro conservador), sob a gestão do qual a estrela de Quartim, na qualidade de empreiteiro de obras públicas, declina definitivamente51.

    Toda essa situação, afinal, é confirmada numa carta de Quartim dirigida em tom amargo a sua filha Maricota, Maria da Glória Quartim de Morais (1850-1937), em 26 de dezembro de 1877. Inaugurado o Palácio do Tesouro em julho daquele ano, Quartim retirara-se (ou antes, fora afastado) definitivamente das obras públicas, já que inadaptado ao incipiente processo de impersonalização dos novos tempos. De seu sítio denominado Bela Vista, origem do futuro bairro de Vila Maria, escrevia: Infelizmente, a prática do nepotismo e clientelismo não se extinguiria com a instauração do regime republicano53. À compadrice dos velhos tempos imperiais se sobrepuseram os interesses oligárquicos dos republicanos. Na verdade, como todos sabemos pelos jornais, esse tipo de prática, aliada à corrupção, sobrevive forte e inabalável até hoje, como algo simplesmente inseparável do exercício do poder político. Trata-se, de fato, do lado negro da cultura nacional.

    Francisco de Paula Ramos de Azevedo, déc.1880

    Fig.13 - Engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo.
    Foto de autor não identificado. Década de 1880.

    Fonte: RIBEIRO, José Jacintho. Chronologia Paulista.
    São Paulo: Diario Official, 1899-1901, 2v.em 3.


    Muitos anos depois (1911) seria o engenheiro e arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928) (fig.13) objeto de acusações muito semelhantes àquelas feitas a Quartim, com a diferença notável – e aí residiria o traço essencial da racionalidade burguesa ou capitalista entre nós – de que a Ramos de Azevedo nunca se atribuiu falta de competência profissional54. O que demonstra que, se a nova mentalidade não foi suficiente para erradicar certas práticas tradicionais, que até nossos dias nos assombram, foi ao menos capaz de exigir um mínimo de idoneidade profissional para o desempenho de determinadas funções técnicas.


    Arq. Eudes Campos
    Seção Técnica de Estudos e Pesquisas


    Notas
    1. Tenente-coronel das Milícias, Quartim nasceu em Gibraltar e faleceu em São Paulo em 1846. Vindo para o Brasil, assentou praça no posto de capitão do Regimento de Curitiba em 1797. Reformou-se no posto mencionado inicialmente, do 1º Regimento de Cavalaria da Província. Tomou parte na bernarda de Francisco Inácio (1821). Cf.:
      AMARAL, Antônio Barreto do. Dicionário de história de São Paulo. Governo do Estado de São Paulo, 1980. p. 374.

      Nomeado em 1827 diretor do Horto Botânico, transformado em Jardim Público por sua sugestão, ocupou esse cargo até a morte. Para outras informações acerca desse militar, consulte-se:
      MORAES, Maria da Glória Quartim. Reminiscências de uma velha. São Paulo: s.n., 1981.(Compilado por Yone Quartim). p.19 a 40.
      (volta)

    2. MARTINS, Antonio E. São Paulo antigo (1554 a 1910). São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1973. p.130.
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    3. Isso fora notado, sem nenhuma intenção maliciosa pois eram correligionários, pelo engenheiro fiscal das obras do Teatro de São José, Porfírio de Lima, que em seu relatório de 1861 afirmou em certo trecho ter o capitão Quartim “merecido dos Legisladores Provinciaes e do Exmo. Governo não equivocas provas de protecção e benevolencia”. Cf.:
      LIMA, José Porfírio de. Informação a cerca do estado das obras do novo theatro de São José (Annexo V). p.1. In: [ANEXOS a Relatório de presidente da Província de São Paulo, 2 de março de 1861...].
      (volta)

    4. [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1868.] p.79 e 84.
      (volta)

    5. AMARAL, Antônio Barreto do. História dos velhos teatros de São Paulo. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1979. p.48 a 49.
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    6. Id., ibid., p.63 a 67.
      (volta)

    7. Expediente da Presidência. O Publicador Paulistano. São Paulo, 17 de abril de 1858. p.1.
      (volta)

    8. O THEATRO em construcção. O Publicador Paulistano. São Paulo, 8 de junho de 1859. p.4.
      (volta)

    9. OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Informe com que qualidade servi no theatro de São José. p[5]. In.: [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 24 de abril de 1868.]
      (volta)

    10. MARTINS, op. cit., p.130.
      Acerca do Teatro de São José, no Diabo Coxo lia-se a seguinte anedota:
      – Ó papá é certo que o theatro de S. José é filho do sr. Quartim?
      – Pois ainda o duvidas?
      – Eu sei! Mas que senhora pôde conceber aquella monstruosidade?
      – A D. Provincia de S. Paulo,
      [–] Ah! por isso ella anda ainda agora tão abatida
      [financeiramente]. Cf.:
      DIABO COXO. São Paulo, [setembro de 1864], ano 1, n.7. p.6.
      (volta)

    11. AMARAL, op.cit., p.81 e 84.
      (volta)

    12. [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1868.] p.79 e 84.
      (volta)

    13. MENDONÇA. F.M.S. Furtado de. Minucioso exame nas obras do edificio do theatro de São José (Annexo n.2). p.[2]-4. In: [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 24 de abril de 1868.]
      (volta)

    14. AMARAL, op. cit., p.82 e 83.
      (volta)

    15. RAPOSO, Antônio C. de S. e ALMEIDA, João Pedro de. Parecer sobre a condição do theatro de São José. (Annexo n.30). In: [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 5 de fevereiro de 1874.] p.223 a 225.
      (volta)

    16. [RELATORIO de presidente da Província de São Paulo, 14 de fevereiro de 1875.] p.123 e 124.
      (volta)

    17. LEVI, Darrell E. A família Prado. São Paulo: Cultura 70, 1977. p. 1.
      (volta)

    18. O THEATRO de São José. Correio Paulistano. São Paulo, 18 de fevereiro de 1876. p.2.
      (volta)

    19. A SALA nobre da Academia. Correio Paulistano. São Paulo, 21 de dezembro de 1875. p.1.

      THEATRO Provisorio... Correio Paulistano. São Paulo, 21 de março de 1876. p.2.
      (volta)

    20. SÃO PAULO (ESTADO). ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Ofícios diversos da Capital. Ordem 920. Orçamento das obras que serão necessarias no Palacio do Governo, na parte que se acha ameaçando ruína no lado meridional que vae para a Secretaria da Prezidencia [...] e do lado septentrional que vae para á Igreja do Colégio [sic]. São Paulo, 26 de novembro de 1862. Assinado por Antônio Bernardo Quartim.

      Ibid. Obras Públicas. Ordem 5157. Vários documentos relativos às obras do palácio do governo, datados de junho a outubro de 1863.

      [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 24 de outubro de 1864.] p.31.
      (volta)

    21. SÃO PAULO (ESTADO). ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Ofícios diversos da Capital. Ordem 920. Orçamento das obras que serão necessarias no Palacio do Governo, na parte que se acha ameaçando ruína no lado meridional que vae para a Secretaria da Prezidencia [...] e do lado septentrional que vae para á Igreja do Colégio [sic]. São Paulo, 26 de novembro de 1862. Assinado por Antônio Bernardo Quartim.
      (volta)

    22. [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 8 de março de 1864.] p.2.
      (volta)

    23. [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 4 de agosto de 1865. p.11.]
      (volta)

    24. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1875.] p.402.
      (volta)

    25. MOURA, Paulo Cursino de. São Paulo de outrora. Belo Horizonte; São Paulo: Itatiaia; Editora da Universidade de São Paulo, 1980. p. 209 e 210.
      (volta)

    26. [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1863.] p.6.
      (volta)

    27. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1874.] p.45.
      Segundo o deputado Ulhoa Cintra foi seu colega o Padre Valadão quem batizou a ilha com esse nome, irônico em origem. Cf.:
      Ibid. p., 69.
      (volta)

    28. Ibid., p.26 e 27.
      (volta)

    29. EGAS, Eugenio. Galerias dos presidentes de S. Paulo; periodo monarchico, 1822- 1889. São Paulo: Secção de Obras d’O Estado de S. Paulo, 1926. V.1. p.480.
      (volta)

    30. A obra do Palácio do Tesouro Provincial só seria submetida à inspeção do engenheiro a serviço da Província Trigo de Loureiro na gestão de Sebastião Pereira, em 1875. Cf.:
      [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1876.] p.61.
      (volta)

    31. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1875.] p.49 e 50.
      (volta)

    32. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1874.] p.46 e 47.
      [ATAS DA CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 1874.] p.27.
      (volta)

    33. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1875. ] p.286.
      [ATAS da Câmara Municipal de São Paulo, 1874.] p.126.
      (volta)

    34. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1874.] p.46 e 47.
      (volta)

    35. NOTICIARIO. A Provincia de São Paulo. São Paulo, 27 de janeiro de 1875. p.2.
      (volta)

    36. EDIFICIO da instrucção publica. Diario de S. Paulo. São Paulo, 23 de janeiro de 1875. p.2 e 3.
      (volta)

    37. EDIFICIO da instrucção publica. Correio Paulistano. São Paulo, 24 de janeiro de 1875. p.2.
      (volta)

    38. COLLECÇÃO DE LEIS E POSTURAS MUNICIPAES PROMULGADAS ... NO ANNO DE 1875. S.Paulo: Typ. do Diario, 1875. p.123 (art. 28 da resolução n.62, de 31 de maio de 1875).
      (volta)

    39. O engenheiro-arquiteto Cristoforo Bonini, italiano, fora contratado em 1848 para trabalhar nas pontes da Serra da Estrela, conforme nos informa Pedro Calmon (1902-1985). Segundo o arquiteto Francisco Joaquim Béthencourt Silva (1831-1911), a ideia original do major Júlio Frederico Koeler (1804-1847) para o palácio de Petrópolis (1845-1862) foi modificada por Bonini, que, de acordo com Calmon, acrescentou o pórtico de granito e o sobrado ao corpo central. Bonini foi ainda o autor do frontispício da matriz de Campinas (1876), iniciado por ele e concluído por Ramos de Azevedo. Recentemente encontramos na internet vagas informações sobre um Cristoforo Bonini, oriundo de Brescia, que apresentou em certa ocasião, em 1834, no Ateneu dessa cidade da Itália um belo projeto de entablamento. Sobre esse Bonini se diz que alcançou fama de engenheiro e artista, além de fortuna em Montevidéu. É possível que seja o mesmo Bonini que viveu no Brasil. Cf.:
      CALMON, Pedro. Historia de D. Pedro II. V.1. p.277. Apud. LACOMBE, Lourenço Luís. O Palácio Imperial de Petrópolis. In: O MUSEU Imperial. Rio de Janeiro: Banco Safra, 1992. p.7 a 22. p.24.

      SODRÉ. D. Pedro II em Petrópolis. Annuario do Museu Imperial. V.1. p.12. Apud. LACOMBE. op.cit. In: Ibid., p.10.

      CAMPINAS. Correio Paulistano. São Paulo, 11 de outubro de 1876. p.2 e 3.

      ATENEO DE BRESCIA. Commentari dell’Ateneo di Brescia. Brescia: BiblioLife, 2009.p.190.
      Disponível em : <
      http://books.google.com.br> Acesso em 18 de outubro de 2009.
      (volta)

    40. [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 14 de fevereiro de 1875.] p.30 e 40.
      (volta)

    41. [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1875.] p.286.
      (volta)

    42. Ibid.
      (volta)

    43. Ibid. p.49.
      (volta)

    44. Ibid.
      (volta)

    45. Ibid., p.49 e 50.
      (volta)

    46. Ibid., p.5.
      (volta)

    47. Ibid., p.263.
      (volta)

    48. Ibid., p.322.
      O Carlos Oliva mencionado neste trecho parece ser Carlos Maria de Oliva, filho de um coronel homônimo. Este, por sua vez, genro do 1º Visconde de Castro (pai da Marquesa de Santos), nomeado vereador de S. M. a Imperatriz em 1826. Carlos Maria Oliva, o filho, sobrinho da marquesa, era sem duvida, ao contrário da tia, conservador, havendo sido nomeado tenente-coronel dos Permanentes pelo Barão de Itaúna em 1868. Pelo contexto, percebe-se que era protegido de João Teodoro e, provavelmente, tal qual Quartim, atuava na época como empreiteiro de obras públicas. Cf.:
      MARTINS, op. cit., p.199 e 335.
      (volta)

    49. PRADO, João Fernando de Almeida (Yan de Almeida). Arquitetos de São Paulo em 1880. Habitat. São Paulo, 50-53, 1951.
      (volta)

    50. ILLM. exc. sr. Senador Florencio Carlos de Abreu e Silva. Correio Paulistano. São Paulo, 3 de maio de 1881. p.2.
      DINIZ (Junius). Notas de viagem. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1978. p.58.
      (volta)

    51. Consulte-se a respeito de patrimonialismo e nepotismo, traços característicos da cultura brasileira:
      HOLANDA, Sérgio B. de. Raízes do Brasil. 14 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981. p.96 e 97, 105 e ss.
      (volta)

    52. MORAES. Reminiscências de uma velha. p.52.
      (volta)

    53. Em outra obra, Holanda esclarece que o “filhotismo” estava fadado a ter continuidade na República Velha, aliás como até hoje, pois
        Não se poderia esperar coisa diversa onde não se criaram condições para a participação da massa do povo na vida política. O resultado será sempre alguma forma de “elitismo” e nesse particular, ao menos, não se pode pretender que a república proclamada em 1889 representasse progresso sensível sôbre as condições preexistentes. Cf.:
      HOLANDA. Sérgio B. O fim do Regime. In: Id. (dir). História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972. T.2, V.5. p.348.
      (volta)

    54. Vejam-se, por exemplo, as denúncias feitas pela imprensa nos primeiros anos do século XX (1911), em que se acusava Ramos de Azevedo de, por influência política, monopolizar a arquitetura oficial paulista:
        Sr. Dr. Ramos de Azevedo, um dos homens mais felizes de São Paulo, a quem todos os governos de mãos abertas sempre, escandalosamente facilitam empreitadas de primeira ordem. Cf.:
      SÃO PAULO (CIDADE). DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO. Adequação da ordem. São Paulo, 1992. p.165. não publicado.
      O estudo acima citado deixa claro que, até o fim da vida, Ramos de Azevedo desfrutou, no âmbito da administração pública, de privilégios muito semelhantes aos do capitão Quartim no tempo do Império: ganhava empreitadas sem concorrência, não assinava contratos e suas obras não eram fiscalizadas pelos engenheiros do DOP.
      (volta)


    FONTES PRIMÁRIAS MANUSCRITAS
    • SÃO PAULO (ESTADO). ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Ofícios diversos da Capital. Ordem 920. Orçamento das obras que serão necessarias no Palacio do Governo, na parte que se acha ameaçando ruína no lado meridional que vae para a Secretaria da Prezidencia [...] e do lado septentrional que vae para á Igreja do Colégio [sic]. São Paulo, 26 de novembro de 1862. Assinado por Antônio Bernardo Quartim.

    • ______. Obras Públicas. Ordem 5157. Vários documentos relativos às obras do palácio do governo, datados de junho a outubro de 1863.


    FONTES PRIMÁRIAS IMPRESSAS
    • [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1874]

    • [ANAIS da Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, 1875.]

    • [ATAS da Câmara Municipal de São Paulo, 1874]

    • COLLECÇÃO DE LEIS E POSTURAS MUNICIPAES PROMULGADAS ... NO ANNO DE 1875.S.Paulo: Typ. do Diario, 1875.

    • LIMA, José Porfírio de. Informação a cerca do estado das obras do novo theatro de São José (Annexo V). In: [ANEXOS a Relatório de presidente da Província de São Paulo, 2 de março de 1861...].

    • OLIVEIRA, Francisco Antônio de. Informe com que qualidade servi no theatro de São José. In.: [ RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 24 de abril de 1868.]

    • RAPOSO, Antônio C. de S. e ALMEIDA, João Pedro de. Parecer sobre a condição do theatro de São José. (Annexo n.30). In: RELATORIO, 5 de fevereiro de 1874.]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1863.]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 8 de março de 1864.]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 24 de outubro de 1864.]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 4 de agosto de 1865.]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1868]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 14 de fevereiro de 1875.]

    • [RELATÓRIO de presidente da Província de São Paulo, 2 de fevereiro de 1876.]


    ARTIGOS EM PERIÓDICOS DE ÉPOCA
    • A SALA nobre da Academia. Correio Paulistano. São Paulo, 21 de dezembro de 1875. p.1.

    • CAMPINAS. Correio Paulistano. São Paulo, 11 de outubro de 1876. p.2 e 3.

    • DIABO COXO. São Paulo, [setembro de 1864], ano 1, n.7. p.6.

    • EDIFICIO da instrucção publica. Correio Paulistano. São Paulo, 24 de janeiro de 1875. p.2.

    • EDIFICIO da instrucção publica. Diario de S. Paulo. São Paulo, 23 de janeiro de 1875. p.2 e 3.

    • Expediente da Presidência. O Publicador Paulistano. São Paulo, 17 de abril de 1858. p.1.

    • ILLM. exc. sr. Senador Florencio Carlos de Abreu e Silva. Correio Paulistano. São Paulo, 3 de maio de 1881. p.2.

    • NOTICIARIO. A Provincia de São Paulo. São Paulo, 27 de janeiro de 1875. p.2.

    • O THEATRO em construcção. O Publicador Paulistano. São Paulo, 8 de junho de 1859. p.4.

    • O THEATRO de São José. Correio Paulistano. São Paulo, 18 de fevereiro de 1876. p.2.

    • THEATRO Provisorio... Correio Paulistano. São Paulo, 21 de março de 1876. p.2.


    FONTES SECUNDÁRIAS
    • AMARAL, Antônio Barreto do. Dicionário de história de São Paulo. Governo do Estado de São Paulo, 1980.

    • ______. História dos velhos teatros de São Paulo. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1979.

    • DINIZ (Junius), Notas de viagem. São Paulo: Governo do Estado de São Paulo, 1978.

    • EGAS, Eugenio. Galerias dos presidentes de S. Paulo; periodo monarchico, 1822- 1889. São Paulo: Secção de Obras d’O Estado de S. Paulo, 1926. V.1.

    • HOLANDA, Sérgio B. O fim do Regime. In: Id. (dir). História geral da civilização brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1972. T.2, V.5.

    • ______. Raízes do Brasil. 14 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1981.

    • LACOMBE, Lourenço Luís. O Palácio Imperial de Petrópolis. In: O MUSEU Imperial. Rio de Janeiro: Banco Safra, 1992.

    • LEVI, Darrell E. A família Prado. São Paulo: Cultura 70, 1977.

    • MARTINS, Antonio E. São Paulo antigo (1554 a 1910). São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1973.

    • MORAES, Maria da Glória Quartim. Reminiscências de uma velha. São Paulo: s.n., 1981.
      (Compilado por Yone Quartim).

    • MOURA, Paulo Cursino de. São Paulo de outrora. Belo Horizonte; São Paulo: Itatiaia; Editora da Universidade de São Paulo, 1980.

    • PRADO, João Fernando de Almeida (Yan de Almeida). Arquitetos de São Paulo em 1880. Habitat. São Paulo, 50-53, 1951.

    • SÃO PAULO (CIDADE). DPH. Adequação da ordem. São Paulo, 1992. p.165. não publicado.


    DOCUMENTAÇÃO ELETRÔNICA
    • ATENEO DE BRESCIA. Commentari dell’Ateneo di Brescia. Brescia: BiblioLife, 2009.
      Disponível em : <http://books.google.com.br> Acesso em 18 de outubro de 2009.




    Para citação adote:

    CAMPOS, Eudes. O capitão Antônio Bernardo Quartim ou o ABC da Engenharia. INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL, 5 (25-26): jul/out.2009 <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>

     
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