Projeto para Rádio Difusora. 1941.
Na parte inferior, Rua Piracicaba.
Acervo AHSP
Em 18 de maio Mário H. Pucci deu as notas sobre as áreas, sendo de 1.556 m
2 para o pavimento térreo e 165 m
2 para
o primeiro pavimento, no total de 1.721 m
2. O alvará de construção de 28 de maio de 1941 era no valor
de Rs 2:122$700 (dois contos, cento e vinte e dois mil e setecentos réis).
Com a ampliação, a Difusora ganhava uma torre de ondas curtas.
Fonte: O Estado de S. Paulo, 18 de novembro de 1941, p.5.
A construção da cabine de projeções foi encaminhada somente em 16 de outubro do mesmo ano, requerendo-se o alvará
em substituição. O auto de vistoria foi pedido em 27 de julho de
1942, sendo concedido em 20 de agosto.
Durante a primeira metade da década de 1940 a rede radiofônica dos Diários Associados estava em plena expansão.
Até janeiro de 1943 ela era formada pela Tupi do Rio de Janeiro (PRG-3), inaugurada em 1935; Tupi de São Paulo (PRG-2), de
1937, e Guarani de Belo Horizonte (PRH-6). No meio do ano eram nove estações: Educadora do Rio de Janeiro; Baré, de Manaus;
Sociedade Rádio Mineira, de Belo Horizonte, incorporada em julho de 1943; Farroupilha, de Porto Alegre; Rádio Sociedade da Bahia,
Salvador, “associada” em agosto e a Rádio Difusora de São Paulo, adquirida em 24 de julho de
1943. Com as aquisições, a nova diretoria foi
formada por Leão Gondim de Oliveira (presidente), Nicolau Tuma (superintendente), Fernando Getúlio Costa (gerente); no Conselho
Fiscal estavam nomes de confiança dos Diários Associados como Napoleão de Carvalho, Edmundo Monteiro e Jorge Chateaubriand.
Com as nove estações se formou a “Rede Ipiranga” de rádio.
A primeira medida de posse dos estúdios do Sumaré foi bem ao estilo de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo
(Umbuzeiro, 4/10/1892; São Paulo, 4/4/1968), o todo-poderoso controlador dos Diários Associados. Nascido na Paraíba, mas
educado no Recife, tinha feito carreira na advocacia e no jornalismo carioca.
Comprou
O Jornal (1924), no Rio de Janeiro, e o
Diário da noite (1925), em São Paulo,
iniciando o processo de aquisição e organização de um
império jornalístico. Em 1928 saiu o primeiro número da revista
O Cruzeiro, que em breve empanou o brilho das
antigas revistas de caráter nacional como
O Malho,
Para Todos ou
A Careta. Em 1931 a cadeia de jornais contava com
nove periódicos, cobrindo os estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A voz de
Assis Chateaubriand era martelada diariamente por meio de comentários inseridos nas primeiras páginas da assim chamada
“cadeia associada”, cessando temporariamente somente em 1960, após ser acometido por uma trombose. Durante a
II Guerra Mundial organizou uma campanha de doação de aviões monomotores para a preparação de pilotos pelos a
eroclubes. Fernando Morais calculou o número de doações do empresariado em cerca de 800 aviões, embora
o
Diário de S. Paulo tivesse apregoado em 1959 o número exato de 997 aparelhos. A relação com as artes
plásticas teria surgido em datas diversas. Morais escreveu que o projeto de Jacques Pilon, o mesmo engenheiro
arquiteto da Biblioteca Municipal Mário de Andrade e da sede de
O Estado de S. Paulo, para o
Diário de S. Paulo
na rua Sete de Abril já previa, em 1935, dois mezaninos para um museu de arte. Maria Cecília França Loureiro
retroagiu esse interesse pela arte ao ano de 1926, quando ajudado por um crítico, Francisco Barata, e um pintor,
Eliseu Visconti, discutiu a ideia de criação de um museu. Já Pietro Maria Bardi, no seu
Sodalício com Assis Chateaubriand,
descartou qualquer rastro de cultura espiritual ou artística dominando o projeto museológico que se glorificaria no
Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp, cuja sede definitiva seria inaugurada na avenida Paulista em 1968.
Para Bardi, o colecionismo do jornalista tinha fundamentos narcisísticos, servindo subsidiariamente para
“fazer notícia”. A opinião deve ser levada em conta porque os viajantes estrangeiros de passagem por São
Paulo sempre eram levados a conhecer as peças principais do museu em termos de arte antiga ou moderna,
desdenhando-se o império de comunicações levantado ao longo de décadas (o controle acionário da vasta
rede de veículos esteve entre suas mãos até 1959 quando encarregou o jurista Vicente Rao da preparação
de uma escritura pública de doação de 49% das ações dos Diários e Emissoras Associadas, composta de 40
jornais e revistas, mais de 20 estações de rádio e quase uma dezena de estações de televisão, para um grupo de
22 colaboradores próximos, entre os quais, nas suas palavras, “metade poderia ser egressa de um
manicômio e metade de uma penitenciária”).
A abertura inaugural dos estúdios se deu com a “Série Bíblica” pintada por Cândido Portinari naquele ano, composta de sete grandes telas a óleo e a têmpera (pela ordem do catálogo Portinari
são: Jó, As Trombetas de Jericó, Ressurreição de Lázaro, O Sacrifício de Abrahão, Jeremias, A Justiça de Salomão e O
Massacre dos Inocentes, hoje de posse do Masp).
Onde elas teriam sido colocadas? O
hall de entrada de mais de 100 m
2
prestava-se perfeitamente para as dimensões das telas, medindo, em média, 1,5 x 3,0 m, embora Mário Fannuchi afirme que
elas estavam no interior do auditório. Damas da sociedade e intelectuais paulistanos estiveram presentes, discursando,
além de Chateuabriand, Sérgio Milliet e Menotti del Picchia, que lembrou o vanguardismo do dono da rádio que 20 anos antes
tinha divulgado o cubismo pelas páginas de
O Jornal, no Rio, e agora dava à população de São Paulo “uma amostra da pintura
moderna” com Portinari. Sérgio Milliet anotou no seu
Diário crítico, em 10 de setembro, que a Rádio Tupi tinha
encomendado “alguns painéis bíblicos”, apontando para as reações de desagrado com a obra de Portinari: uns diziam que
“com a Bíblia não se brinca”, outros que era “imitação” de Picasso.
Dois dias depois, a 13 de setembro, já aparecia na imprensa o primeiro anúncio da “Cidade do Rádio”, dístico
que marcaria os estúdios do Sumaré, no qual se anunciava a presença do “maior auditório do Brasil” (o da Rádio Tupi, inaugurado
em 21 de novembro de 1941 no 3º. andar do Edifício Guinle, na Rua Sete de Abril, 230, comportava cerca de 150 pessoas).
A “Cidade do Rádio” aparece na imprensa pela primeira vez.
Fonte: Diário da Noite, 13/9/1943, p.14.
Em 1948 a potência da Rádio Difusora foi ampliada para 50 kw com a aquisição de um equipamento da RCA Victor,
uma modernização que consumiu mais de Cr$ 3.000.000,00 (3 milhões de cruzeiros, cerca de 160 mil dólares ao câmbio da época).
Apesar da evolução técnica, outra mais importante estava no horizonte: a televisão.
Continua >
|
|
|
|
| |
Para citação adote:
SOUZA, José Inácio de Melo. A TV Tupi no acervo do Arquivo Histórico de São Paulo: novas fontes.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 5 (28): jan/mar.2011.
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>