Projeto para Rádio Difusora. 1954.
Cortes: em cima, transversal pelo bloco mais alto;
em baixo, longitudinal, tendo como referência a Rua Piracicaba.
Acervo AHSP
O subsolo era aproveitado como depósito, instalação de aparelhagem de ar condicionado e caixas d’água subterrâneas e bombas de
elevação. Todo o prédio seria servido por dois elevadores e iluminação fluorescente.
O edifício da “Cidade do Rádio”, somando todos os pavimentos, ocuparia uma área de 4.844,8 m
2, mais do que dobrando
a capacidade já atingida até aquele momento.
Durante o encaminhamento do processo foi pedida a anexação dos anteriores de 1952 (nºs. 32.220 e 88.369, este de 24/6/1952,
sobre o qual se desconhece o paradeiro). Serafim Trapé, que tinha localizado o entrave legal de 1952, desta vez seguiu o parecer
do topógrafo Cid Florentino Pais de Barros, declarando a construção de frente para a Afonso Bovero como isenta de problemas em
relação à alínea b do art. 775 do Código de Obras. Como houve discordância do engenheiro Caiaffa quanto a esse aspecto
em 8 de junho, Mainieri foi convocado à Divisão de Aprovação de Plantas de Obras Particulares para dar explicações.
Ele compareceu entre 12 e 21 de junho anotando-se no processo que
“[...] já havia tolerância quanto o disposto pelo art. 775 alínea b do Código de Obras em casos anteriores. Neste caso
salientemos que o aumento de área coberta é diminuto pois haverá demolições onde serão realizadas as obras, e que a entrada
principal do edifício será pela av. Professor Afonso Bovero onde não há restrições para construções. Solicitamos
dispensa ao disposto pelo art. acima citado considerando-se a natureza especial e de caráter público das finalidades do
interessado, por equidade, em face das obras anteriores e pelo exposto acima”.
No dia 22 de junho, Dino A. Andreoni emitiu o parecer seguindo a explicação de Mainieri: com frente para a Afonso Bovero
“não há restrições quanto à ocupação”. Outro engenheiro, Paulo T. de Lima, demandou em 23 de julho que se especificassem
os destinos do 4º. e 5º. pavimentos e respectivas utilizações; baseado no art. 485 do Código de Obras, pediu também uma
sobrecarga de 500 kg/m
2. Outros quesitos anotados eram os de praxe: a falta da vistoria do Corpo de Bombeiros, a
localização das poltronas do auditório, larguras dos corredores e indicação das portas. Dorvalino Mainieri pediu 15 dias
para satisfação das exigências, mas somente em 10 de novembro de 1954 as solicitações foram declaradas como atendidas, já que requeriam
auxílio de outras instâncias (o laudo dos bombeiros saiu dois dias antes da anotação final). As notas dadas pelo engenheiro
Jandovy Lui eram maiores em 80 cm que as calculadas por Mainieri, somando um total de 4.845 m
2 para efeito de emissão do alvará
de construção. O projeto foi aprovado em 9 de dezembro, pagando-se emolumentos de Cr$ 44.265,00 (quarenta e quatro mil, duzentos
e sessenta e cinco cruzeiros) em 16/2/1955.
O financiamento para a nova obra, que ultrapassava de muito as reformas anteriores, aportando uma nova concepção de
utilização para o terreno do Sumaré, provavelmente se faria pelos procedimentos habituais dos Diários Associados. Conforme
análise dos balancetes dos órgãos de imprensa e rádio do grupo publicados entre 1945 e 1949, percebe-se que a renda
gerada por publicidade, venda avulsa e assinaturas dos jornais
Diário de S. Paulo e
Diário da Noite, rádios Tupi e
Difusora, era muito pequena para o vulto dos negócios em que o consórcio se via enfronhado. A construção da sede na Rua Sete de
Abril, nº. 230, onde se instalariam os dois jornais, parque gráfico e, mais tarde, o Museu de Arte de São Paulo, foi alcançada
por meio de um empréstimo levantado na Caixa Econômica Federal, cujas hipotecas foram divididas entre os dois jornais e a Rádio
Tupi. Em 1945 a empresa Diário da Noite S.A. conseguiu Cr$ 8.000.000,00 (8 milhões de cruzeiros) e no ano seguinte, a empresa Diário
de S. Paulo S.A., mais Cr$ 20.000.000,00 (20 milhões de cruzeiros). As garantias dadas foram o imóvel e o terreno, que
se valorizaram mais que os débitos: em 1950, as propriedades estavam contabilizadas em Cr$ 96.000.000,00 (96 milhões de cruzeiros),
enquanto as hipotecas eram avaliadas em Cr$ 86.000.000,00 (86 milhões de cruzeiros).
As receitas produzidas pela televisão certamente aumentaram a capacidade de endividamento do consórcio Associado. Se entre 1945 e
1949 as receitas operacionais das rádios giravam por volta de 1/3 das produzidas pelos jornais, com a televisão elas
agregaram um volume significativo, já que a mídia eletrônica aproximou-se da mídia impressa, gerando uma equivalência aproximada de 2/3
dos resultados operacionais conseguidos pela mídia impressa.
Apesar de haver um prognóstico favorável, a modernização não foi encaminhada. Em 20 de maio de 1955, Edmundo Monteiro entrou com novo
requerimento para “reforma e aumento do prédio de sua propriedade” na Rua
Catalão, nº. 48. O projeto ficou a cargo de
Armênio Crestana (Crea nº. 1247 e registro na Prefeitura 146-D), com escritório na Avenida Ipiranga, nº. 1123, 10º. andar,
conj. 1003/1004. O objetivo era a ampliação do estúdio “B” para 18 x 10 m (180 m
2), e
edificação do estúdio “C”, com 11,25 x 18,50 m
(208,12 m
2), contíguos, dando face para a Rua Catalão. O subsolo de 235,5 m
2
serviria para depósito, o térreo seria utilizado para
os estúdios (295,23 m
2) e um primeiro pavimento para salas diversas com depósito para o contrarregra, camarins, escritório,
oficinas de marcenaria e eletrônica, almoxarifado e publicidade. O revestimento externo receberia uma “canjica” de pedra cinza
e uma barra vertical com desenho em pastilha; na lateral para a Piracicaba, somente cerâmica. A cobertura seria em telhas
francesas. Para facilitar o tráfego entre as oficinas e os estúdios haveria um monta-cargas manual. O revestimento acústico
interno duplo em
celotex mantinha o padrão anteriormente usado.
Detalhe do projeto dos estúdios B e C,
situados junto à Rua Catalão. 1955.
Em cima, corte revela os dois estúdios B e C;
embaixo, corte pelo estúdio C.
Acervo AHSP
O projeto foi aprovado em 23 de abril de 1955, sem receber qualquer observação. Pela área total de 837,6 m
2
pagaram-se Cr$ 5.260,00 (cinco mil,
duzentos e sessenta cruzeiros) de emolumentos em 25 de julho de 1955.
Uma notícia publicada no Diário de S. Paulo (17 de agosto de 1955) afirma que a construção do estúdio “C” envolvia a edificação de uma piscina
de vidro, cuja “iniciativa é inédita na televisão em São Paulo”. Somente uma planta baixa de 1966 nos mostrou que os estúdios
“B” e “C” foram edificados, enquanto a “inédita” piscina foi localizada no antigo hall da Rua
Piracicaba. O estúdio “C” foi
inaugurado em 30 de junho de 1956, sendo apontado como maior que os antigos “B” e “A”, e melhor aparelhado (desmerece-se o “B”, cuja
diferença com o “C” era de 28 m
2). A matéria do
Diário de S. Paulo destacava esses pontos: “além de possuir maiores
proporções que os demais, está equipado com o que há de mais moderno em matéria de técnica de TV”. O programa de estreia deu-se com o
Teatro da Juventude, levando uma peça baseada em Monteiro Lobato, adaptada por Tatiana Belinky,
O Pronome fatídico.
No ano seguinte, seguindo a norma das reformas e acréscimos no lote do Sumaré, entrou-se com novo projeto de “aumento de um
estúdio”. A planta arquitetônica organizada pelo escritório Manieri e Ferronato Ltda., nova razão social da antiga Construtora
Hohenhole, Mainieri Ltda., era assinada por Dorvalino Mainieri. A frente ficava para a Rua Piracicaba, recebendo o estilo
sóbrio que caracterizava os desenhos anteriores desse engenheiro. O bloco de três pavimentos era contíguo ao estúdio “A”,
cuja vizinhança seria destinada a um “estúdio para televisão com sala de controle e dois aumentos em salas existentes”.
Nos pavimentos seguintes se construiriam “dois estúdios para gravação e seus respectivos controles, uma sala e instalações sanitárias”;
o segundo pavimento funcionava como um terraço, onde foi colocado um transmissor de TV. Os três pavimentos somavam uma área de 415 m
2
entre reforma e construção, divididos entre 160 m
2 no térreo, 145 m
2 no primeiro pavimento e
110 m
2 no segundo. O projeto foi aprovado
em 22/1/1958 com emolumentos de Cr$ 2.135,00 (dois mil, cento e trinta e cinco cruzeiros), pagos pela guia 582 (alvará de
construção de nº. 136.594).