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Desportistas posam com automóvel e, provável, mecânico de apoio.
Imagem realizada em Château-Thierry, cidade a nordeste de Paris, à 80km,
realizada possivelmente no início da década de 1910.
Versão no sistema anaglifo do par estereoscópico reproduzido abaixo.
fotógrafo: não identificado
Todas as imagens, salvo indicação contrária,
integram o Fundo Particular Escritório Caio da Silva Prado
Acervo AHSP
Caio da Silva Prado
À geração de Caio da Silva Prado (1872-1947) coube o grande movimento de transição de um economia baseada na atividade agrária para o setor industrial
que ocorre no contexto regional.
De fazendeiros a empresários, várias grupos familiares farão essa passagem, muitas vezes marcada também pela união mais próxima entre seus pares.
No caso dos Prados, seus antecessores, com destaque os irmãos Antônio da Silva Prado (o Conselheiro Antonio Prado) e Martinho Prado Júnior (conhecido como Martinico Prado),
mantinham propriedades agrícolas dedicadas ao café na região de Ribeirão Preto. O conselheiro Antonio Prado (1840-1929), por si um bom índice da importância do grupo social,
será o primeiro prefeito da cidade de São Paulo, indicado em 1899, aos 59 anos. Nesse posto permanece até 1911, ao final já como primeiro prefeito eleito pelo
voto na República Velha, numa carreira legislativa que teve início na década de 1860.
Segundo filho de Martinho Prado Junior (1843-1906), entre 11 irmãos, dos quais era o homem mais velho, Caio chega à idade adulta no contexto do novo regime e do impacto das mudanças
econômicas que ocorrem ao final do século XIX. Representante de uma família com grande presença no quadro econômico e político, casa em 1895 com Antonieta Álvares Penteado (1880-?),
unindo assim os Prados com outra família de expressão nesse contexto. Antonieta é filha de Antonio Álvares Leite Penteado (1852-1912), o conde,
de designação papal. Uniões similares reforçam ainda mais esses vínculos entre as duas famílias. Irmãs de Antonieta, Estela e Eglantina casam-se com filhos
do Conselheiro Antonio Prado.
Praça do Patriarca, destacando a Igreja de Santo Antonio e o cruzamento das Ruas Direita e São Bento, trecho do centro velho que
se abria para o Vale do Anhangabaú.
Final da década de 1910, provavelmente.
Versão bidimensional da estereocopia original.
Acervo AHSP
O Conde Antonio Penteado é representante desse movimento de expansão das bases econômicas a partir do campo para a cidade, sendo ele grande investidor
na indústria textil (juta e lã). Em conjunto com sua esposa doa em 1908, num gesto significativo, o terreno em que seria erguida a Escola de Comércio de São Paulo,
parte da atual FECAP — Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado. Será Armando Álvares Penteado (1884-1947), um dos seus filhos,
um dos nomes responsáveis por sua vez pela constituição da FAAP, fundação educacional que leva seu nome.
Registros íntimos e vida social
Nesse contexto, as imagens remanescentes, produzidas possivelmente num arco amplo ao longo da década de 1910 e pouco antes, trazem cenas do cotidiano
íntimo, das diversões e viagens ao exterior e pelo interior paulista.
O jovem casal — Caio e Antonieta — tem seus primeiros filhos no início do século XX. Em 1902, o primogênito Eduardo da Silva Prado,
morto em 1940, e no ano seguinte, Ana Iolanda. São eles
que surgem certamente nas imagens mais antigas. Aqui e ali, registram-se cenas na Vila Penteado (hoje, Rua Maranhão, antes porém com entrada pela Av. Higienópolis).
Belo exemplar da arquitetura art nouveau, desenhado por Carlos Ekman (1866-1940) para o Conde Alvares Penteado,
a grande residência, que data de 1902, ainda hoje lá permanece, ocupada por setores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
Cena familiar na varanda dos fundos da Vila Penteado. 1910 ca.
Versão bidimensional da estereocopia original.
Acervo AHSP
Em 1903, o casal Caio e Antonieta muda para a Vila Antonieta, também projeto de Ekman, local presente em algumas fotos do fundo em questão. É aí que provavelmente
devem ter sido realizadas as fotografias que registram os outros dois filhos do casal: Caio (1907) e Carlos (1908),
imagens que exigem ainda identificação precisa. Caio da Silva Prado Junior
(1907-1990), de atuante carreira política iniciada ainda no Partido Democrático, dissidência do Partido Republicano Paulista, se filiará ao Partido Comunista na década de
1930. Será autor de importante obra sociológica sobre o país, de referência marxista.
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Detalhe de vista realizada em hipódromo,
possivelmente na Europa, na década de 1910.
Como neste caso, o registro estereoscópico, de produção amadora,
realizado em condições com objetos em movimento no primeiro plano,
não apresenta
um resultado satisfatório.
Além disso, o grau de deterioração da transparência
permite visualizar apenas a área central da imagem.
Na imagem inferior, detalhe de registro
com grupo divertindo-se com patins de roda.
Local ignorado, década de 1910.
Versão bidimensional das estereocopias originais.
Acervo AHSP
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Os diferentes ramos da família Prado têm presença regular no noticíario social do início do século XX. Em 1903, como registra Vicente Araújo (1981, p.27, 255), o Hipódromo
da Mooca, espaço multiuso por excelência, recebe uma corrida de automóveis e motocicletas. Seriam premiados todos aqueles que completassem 3 voltas do circuito sem parar.
Entre os cinco primeiros, os Prados predominam com a presença de Martinho Prado em primeiro lugar, seguido por Paulo e Plinio Prado. Na quarta posição, Silvio Penteado,
e logo em seguida Antonio Prado Junior. Este último tem perfil do esportista moderno. Já em 1897 é campeão de ciclismo, competindo no Velódromo com o pseudônimo Odarp.
Reprodução do par estereoscópico original em suporte vidro (44 x 107 cm circa),
apresentado no início do artigo em sistema anaglifo.
Acervo AHSP
Caio da Silva Prado, por sua vez, adere ao automobilismo e, quase certo, a outro modismo em expansão a fotografia amadora, associação das mais usuais. Em 1909, no dia 2
de julho, o jornal parisiense L'Aurore, registra à página 3 na coluna "Automobilisme/A l'A.C.F", sua admissão como membro do Automobile Club de France. A mais antiga
associação do gênero do mundo, l'Auto oferece os serviços de um clube e responde pela difusão do automobilismo e implantação das primeiras corridas automobilísticas
na França.
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Cena no campo durante excursão automobilística
em provável locação europeia na década de 1910:
o automóvel e a fotografia como hobby.
Acervo AHSP
As quase 200 imagens recebidas, grande parte estereoscopias sobre vidro, compostas expressivamente por negativos (60 x 130 mm, 44 x 107 mm), registram parte da vivência
do casal Caio e Antonieta nas primeiras décadas do século XX.
Embora número expressivo de imagens apresente severos danos de conservação o conjunto foi preservado em sua integridade.
Pequeno conjunto talvez, a seleção é eficiente em registrar os modismos e hábitos sociais: corridas de cavalos,
patinação sobre rodas, viagens a Paris, que contrapõem Versailles a cenas do tímido centro urbano paulistano.
Mulher e menino em cenário familiar. Sem data.
A fotografia amadora, o instantâneo, introduz
um registro visual em chave diferenciada.
O íntimo emerge em cena na memória imagética.
Versão bidimensional da estereocopia original.
Documento apresenta grau acentuado de deterioração.
Acervo AHSP
A fotografia estereoscópica entre nós
Os princípios da estereoscopia foram desenvolvidos pelo inglês Charles Wheatstone (1802-1875) no mesmo período da introdução da fotografia.
Em 1838, trabalha ele com figuras desenhadas que vistas por um visor permitem reconstituir a sensação de relevo. Fruto direto das pesquisas
sobre a visão humana, a técnica toma grande impulso com a aplicação da fotografia 3 anos depois. Primeiro com daguerreotipias e logo depois
com os diversos processos sobre papel, mais tarde em transparências sobre vidro. Em 1844, outro inglês, David Brewster (1781-1868), dá
forma a um dos visores mais conhecidos.
Brewster é autor ainda de obra de referência, lançada em 1856: The Stereoscope: its history, theory, and construction. Será, contudo,
Oliver Holmes que em 1861 lança outro modelo de visor, de esteroscópio (estereoscopo), de desenho mais econômico, que terá grande popularidade, reproduzido abaixo.
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Modelo de visor estereoscópico desenvolvido
no início da década de 1860 por Oliver Holmes.
Fonte: Wikipedia <>
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Por quase um século, as fotografias estereoscópicas tornam-se uma febre. Grandes casas editoriais lançam extensas séries de vistas como
fonte de diversão e instrumento pedagógico. Com a popularização da técnica e o estabelecimento da prática amadora, a estereoscopia
também será explorada.
Sua presença no Brasil data da década de 1850. Na corte imperial, profissionais como Revert Henry Klumb realizarão nos próximos vinte anos grande número
de vistas da capital e cidades como Petrópolis nesse sistema, das quais alguns exemplares integram o acervo da Biblioteca Nacional.
Parte dessas imagens estão disponíveis para consulta online:
<>
(acesse Biblioteca Digital e adote o termo de busca "estereograma")
Sobre essa produção local, centrada no Rio de Janeiro, entre a parca historiografia disponível, destacam-se as obras A estereoscopia no Brasil (1999), de
José Inácio Parente, e, no contexto acadêmico, a tese de doutorado, de Maria Cristina da Silva, A presença dos aparelhos e dispositivos ópticos no
Rio de Janeiro do século XIX (2006), que faz par com a produção de Gavin Adams, em sua abordagem mais ampliada, referenciada ao final desta notícia.
No contexto paulistano, tomando como referência a obra Noticiário Geral da Photographia Paulistana (2007, 2011), é possível identificar o emprego da estereoscopia
a partir de 1860. É o que indica, por exemplo, um anúncio anônimo de venda de estúdio fotográfico, à Rua do Rosário, atual Rua 15 de Novembro:
"Vende-se uma officina de photographia, conprehendendo (sic) todos os systemas de retratos, vistas, e estereoscopios, conhecidos desde a descoberta de
Daguerre ..." (Correio Paulistano, 16.11.1860, p.4).
Anos depois, anúncio da tradicional Livraria e Papelaria de A. L. Garraux caracteriza a oferta do novo produto óptico:
STEREOSCOPO.
Grande sortimento de vistas de todos os generos e de todos os paizes por um preco muito em conta, em casa dos srs. A. L. Garraux e C.a no Largo da Se.
Mande-se em casa de familia escolher ao gosto dos compradores. Vende-se por duzias e meias duzias de vistas.
O estereoscopo é um instrumento de recreio que deve haver em todas as casas; com elle pode-se viajar em todos os paizes, ver todos os monumentos os mais celebres,
as vistas as mais bonitas, com pequena despeza. 4-4
Livraria e Papelaria de A. L. Garraux etc C.a
1 - Largo da Se n. 1
Correio Paulistano, 20.6.1862, p.4
Tais anúncios tornam-se correntes. Logo depois fotógrafos profissionais passam a incluir a produção de estereoscopias
entre seus serviços. Rubini, por exemplo, com estúdio à Rua Direita,
em anúncio no Correio Paulistano, em 29 de outubro de 1863, à página 3, informa: "Tira-se vistas simples e vistas de stereoscopos. Tambem tira-se retratos
de defuntos." Um ano depois, anúncio no mesmo jornal mantém a oferta (CP, 26.2.1864, p.3).
Em 1867, a Casa Garraux, em anúncio exclusivamente sobre o tema, oferece:
Recreio baratissimo
Attencao, muita attencao
CHEGOU UM NOVO SORTIMENTO DAS MUITO procuradas pechinchas de 12 vistas e um stereoscopo por 6$000.
24 vistas e um stereoscopo por 9$000.
36 vistas e um stereoscopo por 11$000
72 vistas e um stereoscopo por 18$000
CASA DE GARRAUX/ Largo da Se./ 4-4
Correio Paulistano, 8.2.1867, p.4
Veleiro em travessia oceânica. Sem data.
Versão bidimensional da estereocopia original.
Acervo AHSP
Surpreende hoje que essa contínua oferta de produtos prontos ou serviços profissionais não tenha deixado maiores marcas nos acervos iconográficos locais. Ainda
que se possa alegar que boa parte dessas coleções tenha sido organizada há não mais que 2 a 3 décadas,
são raras as fotografias estereoscópicas remanescentes. Os exemplares conhecidos,
disponíveis por exemplo no acervo do Museu Paulista-USP, da autoria de fotógrafos de grande expressão ganham assim notória evidência. O mais antigo exemplar
data de 1877, tendo sido produzido por Militão Augusto de Azevedo (1837-1905),
e registra o arco comemorativo erguido no centro urbano evocando a integração férrea entre as cidades de São
Paulo e do Rio de Janeiro. Outros exemplares, na mesma coleção, são da autoria de Georges Renouleau (1845-1909), trazendo imagens da Rua Florêncio de Abreu e do
Largo da Sé na década de 1890.
Ocorrência rara no acervo do AHSP, excetuando o próprio conjunto integrante do Fundo Particular Escritório Caio da Silva Prado, tem lugar como documento apresentado em anexo de
pedido de licença de exibição de cosmorama, uma entre tantas diversões ópticas que tomam as principais cidades em todo o mundo ao final do século XIX.
Esse foi o caso do italiano Grazio Olivera de Felice, instalado na antiga Rua dos Imigrantes, nº. 19 (atual Rua José Paulino, no Bom Retiro), que desejava
“estabelecer em sua casa um pequeno Cosmorama” para a apresentação de vistas. Esta solicitação, datada de 8 de março de 1906, merece ser destacada não apenas por
mostrar a expansão desses aparelhos pelos bairros, mas principalmente porque Felice fez questão de anexar ao pedido uma das vistas (veja abaixo) que seriam exibidas ao
público mediante o preço de 200 réis por ingresso. Este registro raro identifica o uso de vistas fotográficas estereoscópicas associada ao "cosmorama" (...)
CAMARGO, 2007
"Estereoscopia para exibição no "Cosmorama"de Grazio Olivera de Felice, em 1906.
A imagem mostra um aspecto de Paleokastritsa, uma pequena vila
situada na ilha de Korfu, na Grécia.
No verso do cartão consta a seguinte indicação:
Casa Edison – Phonographos * Novidades – São Paulo".
(CAMARGO, 2007)
Acervo AHSP
Com a oferta de produtos e serviços voltados à prática amadora, a estereoscopia enfrentou um novo momento de expansão. A produção em massa de imagens e de visores óticos
ganha escala global na virada do século XX. Catálogos de produtos do comércio local indicam essa presença, caracterizando-a. A Casa Edison, parte dos empreendimentos dos
Irmãos Figner, que distribui um universo de novos produtos, entre eles os novíssimos gramofones, anuncia em sua revista-catálogo Echo Phonographico,
nome revelador, em fevereiro de 1905, o Lissigret Estereoscopio Imperial. Associar o produto à figura feminina é estratégia corrente, parte da construção dupla da mulher
como agente de consumo central e elemento de sedução.
Lissigret Estereoscopio Imperial.
Echo Phonographico,
III (36): 13, fev.1905.
Acervo APESP
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Outras casas comerciais já exploravam a nova onda da estereoscopia. Em 1902, por exemplo, o importante fornecedor do setor fotográfico Stolze & Stück já oferece produtos.
No entanto, é o comércio voltado a novos produtos de consumo dirigidos à classe média em melhor situação financeira, o mediador mais importante. Novamente, em 1907,
por exemplo, a Casa Edison, agora em seu novo veículo de divulgação O Telescópio caracteriza o produto — Estereoscopios americanos
— e aponta sua relevância como divertimento. "O Esterescopio é um lindo instrumento com uma armação de resistente madeira perfeitamente trabalhada, polida e envernizada.
A caixa é de cedro da Hespanha delicadamente jaspeado e natural das riscas da madeira, produzindo um conjuncto muito agradavel. As lentes são largas,
irreprehensivelmente polidas e perfeitamente postas em fóco. O estereoscopio tem um manubrio dobradiço, o que é completa novidade." (O Telescópio, (1): 4, [jul].1907).
O Telescópio, São Paulo, I (1): 4, [jul].1907,
Acervo APESP
A fotografia estereoscópica cairá em desuso na década de 1920, reflexo dos modismos tecnológicos que a própria indústria impõe.
A retomada na década de 1950 tem como principal foco o cinema norte-americano, mantendo-se distante do campo da fotografia amadora, mas de aplicação contínua em áreas técnicas.
A produção de vistas em escala comercial se manterá, adotando variações de formatos até a década de 1960.
Apenas com a tecnologia digital e sua plena implantação em meados da década de 1990, a
produção estereoscópica será retomada de forma ampla.
Estereoscopias em acervo: uma possibilidade de difusão
As imagens integrantes do Fundo Particular Escritório Caio da Silva Prado constituem, ainda que em pequeno número, exemplo significativo da prática amadora da
estereoscopia em São Paulo nas primeiras décadas do século XX, importância ampliada tendo em atenção seus praticantes.
Ainda que não se possa precisar seu autor (ou autores), e apesar do estado de conservação, o conjunto constitui marco importante nesse segmento
Bem longe está, é certo, do panorama carioca, em parte muito parecido, mas que abriga
a excepcional coleção Guilherme Santos (1871-1966), parte do acervo do Museu da Imagem e do Som carioca (MIS Rio), fotógrafo amador apaixonado pela estereoscopia presente
em grande parte da coleção de quase 30 mil itens ().
O conjunto mais notável, no contexto paulistano, corresponde à coleção Edgard Egydio de Souza (1876-1956), parte do acervo do Instituto Moreira Salles, não
disponível ainda online. Engenheiro eletricista, diretor da Light & Power, multinacional responsável pela geração e distribuição de energia elétrica
na capital paulista, bem como serviço de bondes elétricos, Edgard foi praticante regular da estereoscopia, registrando aspectos da cidade, viagens ao exterior etc.
A coleção remanescente é composta por 1.261 itens. No acervo IMS, diversas coleções trazem outros exemplares de autores como Guilherme Santos, cuja coleção
atinge aqui 3 mil itens, e Revert Klumb, já citados.
Um desafio ao estudo e difusão dessas coleções reside na própria particularidade da técnica. Uma alternativa, empregada aqui, é a transposição da imagem
original (pares fotográficos), para outros sistemas, no caso o anaglifo. Muito popularizado na década de 1950 pelo cinema 3D com seus óculos de lentes vermelhas e azuis,
estes seriam substituidos logo em seguida por derivações com a introdução de lentes polarizadas, que garantiam uma reprodução de cor mais exata.
O sistema anaglifo foi desenvolvido em 1853 por W. Rollman. Apenas em meados do século XX ganha mercado, ainda usando lentes vermelhas e verdes, no setor de impressão gráfica,
em revistas em quadrinhos. Possibilitando utilizar um visor mais econômico, feito com estrutura em papel e lentes mais baratas, o sistema ganha espaço.
A restrição evidente na reprodução de imagens
coloridas é superada através do uso de lentes polarizadas. Com a difusão da tecnologia digital, e também devido à internet, na década de 1990, houve uma explosão de pesquisas
e aplicações científicas e artísticas. O uso recente em iniciativas como Google Street View e na sonda Mars Path Finder, pela Nasa, garantiram ampla visibilidade ao sistema e à
estereoscopia em si.
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O sistema anaglifo permite a aplicação da imagem com dimensões diversas, mantendo o efeito estereoscópico, mesmo no caso de recortes.
Acima, retrato de grupo, provavelmente em fazenda no interior do estado de São Paulo. Sem data.
Ao lado, detalhe da mesma imagem, valorizando o efeito tridimensional.
Acervo APESP
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A produção de estereoscopias foi amplamente facilitada por softwares de tratamento de imagem e, ainda, por aplicativos específicos. Nesta edição, foi empregado o Stereo
Photo Maker, disponibilizado em Muttyan's Home Page —
<>. Além da opção de conversão
automática, é possível ter controle amplo sobre o processo para obter melhor resultado.
A produção de óculos é outro ponto com amplas opções na internet. Para indicar apenas uma delas,
sugere-se uma página da Wikihow: Make your Own 3D Glasses. Radicalmente simples, apresenta opções muito simples e espertas
— <>.
Para aqueles interessados em abordagens mais complexas, como análise de monitores de vídeos, óculos etc, a sugestão é a
página de avaliação de equipamentos mantida por David Romeuf:
<>.
O que há de atraente no sistema anaglifo (vermelho/azul) é a facilidade de obtenção de bons resultados, em especial no caso de difusão de estereoscopias preto e branco.
Além do visor simples e barato e a possibilidade de uso de softwares básicos de edição de imagem, o produto final pode ser amplamente manipulado. Se a matriz original tiver
boas qualidades estereoscópicas, é possivel ampliações e reduções de tamanho expressivas, bem como recortes de detalhes. A difusão via impressa e eletrônica não encontra
restrições técnicas de modo geral.
Ricardo Mendes
Agradecemos ao apoio de
Ivany Sevarolli (AHSP)
Virginia Albertini (IMS)
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Detalhe de cena, ao alto,
em hipódromo europeu.
Década de 1910.
"Todos" portam suas câmeras: a fotografia amadora e a imprensa ilustrada
estabelecem nova fase de uma cultura de imagens.
Acervo APESP
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Bibliografia
- ADAMS, Gavin. A mirada esteoscópica e sua expressão no Brasil. São Paulo: ECA-USP, 2004. il. Tese de doutorado. Orientação: Arlindo Machado.
- ADAMS, Gavin. Um balanco bibliográfico e de fontes da estereoscopia. Anais do Museu Paulista, São Paulo, Museu Paulista-USP, Nova Série (6/7): 207-225, 2004.
- ARAUJO, Vicente de Paula. Salões, circos e cinemas de São Paulo. São Paulo: Perspectiva, 1981. Coleção Debates, 163.
- CAMARGO, Luis Soares de. A memória do cinema no Arquivo Histórico Municipal. Informativo AHMWL, (15): nov/dez.2007.
Disponível em: <>
- BREWSTER, David. The Stereoscope: its history, theory, and construction. Hastings-on-Hudson: Morgan & Morgan, 1971. Edição fac-similar (London: John Murray, 1856).
- COSTA, Flavia Cesarino. O primeiro cinema: espetáculo, narração e domesticação. 1ª ed. São Paulo: Escrita, 1995. (2ª ed., Azougue, 2006)
- GOULART, Paulo Cesar Alves, MENDES, Ricardo. Noticiário geral da photographia paulistana. São Paulo: CCSP/Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2007.
1ª reimpressão: 2011.
- PARENTE, Jose Inácio. A estereoscopia no Brasil / Stereoscopy in Brazil. Rio de Janeiro: Sextante/Dresdner Bank Brasil, 1999.
- SILVA, Maria Cristina Miranda da. A presença dos aparelhos e dispositivos ópticos no Rio de Janeiro do século XIX.
São Paulo: PUC-SP, 2006. Tese de doutorado. Orientação: Arlindo Machado.
Para citação adote:
MENDES, Ricardo. Alta burguesia paulista e a Belle Époque:
imagens estereoscópicas do acervo do AHSP.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 9 (35): fev.2014.
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>
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