José de Sá Rocha: engenheiro municipal
uma trajetória pessoal e a formação de um corpo técnico para gestão da cidade
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A família Sá Rocha
O engenheiro do município de São Paulo, José de Sá Rocha, nascido José Alves de Sá Rocha Júnior, era filho do comendador da Ordem de Cristo,
concedida pelo Rei de Portugal em 1874, José Alves de Sá Rocha, casado com Maria Augusta de Sá Rocha.
José Alves de Sá Rocha, nascido em 1822, teria imigrado para o Brasil em 1834. Como se
tornou um dos membros ilustres da colônia de comerciantes portugueses da cidade,
seu nome é mais conhecido por ser um dos fundadores da Sociedade Portuguesa de Beneficência.
Entrou para o comércio em data desconhecida, montando uma “loja” na atual rua 15 de Novembro
(antigas rua do Rosário e da Imperatriz), 18. Seus vizinhos de comércio eram Emilio Vautier, o Visconde de São Joaquim (Joaquim Lopes Lebre), Amador da Cunha Bueno,
Baronesa de Limeira, Raphael Aguiar Paes de Barros e outras figuras importantes do Triângulo. Segundo Antonio Egydio Martins, na juventude teria participado da
Revolução de 1842, integrando o batalhão patriótico de defesa da cidade (o levante liberal fora comandado por Rafael Tobias de Aguiar contra a dissolução da
Câmara imperial, rapidamente sufocado pelo Duque de Caxias).
A referência mais antiga sobre suas atividades comerciais localizada na imprensa paulistana data de 1859, quando morava, ou tinha loja,
ou ambas as coisas, na rua do Rosário, 11 (entre 1868 e 1876 o número passou para 18, indicando mudança da loja para o lado direito da rua).
Não sabemos se ele se enquadrava na classificação de Maria Luiza Ferreira de Oliveira para os comerciantes do Triângulo:
Poucos negociantes conseguiam morar nos altos de um sobrado e ter negócio embaixo, em rua bem localizada, com boa freguesia. Era um arranjo que só os
mais afortunados da amostra conseguiram realizar. Mais frequentemente, a loja era na sala da frente da casa térrea e a família morava nos cômodos de trás.
Às vezes moravam numa casa térrea com telheiro para os artesãos; ou se a casa térrea fosse um pouco maior, com duas salas na frente, ou dois lanços,
um deles iria para o negócio. Podiam, ainda, viver em imóvel distinto da loja. Mas, na maioria dos casos, domicílio e local de
trabalho se confundiam.
Assim como
outros negociantes, Sá Rocha participava de inventários, gestão de espólios e era depositário de massas falidas de
compatriotas; também empreitava obras públicas, como os melhoramentos realizados na estrada
Santa Isabel-Jacareí em 1863 e, no ano seguinte, na mesma estrada de São Miguel a Jacareí;
participou da concorrência para a realização de reparos de pontes da capital em 1874 (Pacaembu, Palmeiras, Água Branca, Água Preta e
Anastácio). Entre os anos de 1864 e 1874 anunciou recompensas por escravos
fugidos.
Como já foi dito, integrou o grupo de fundadores da Sociedade Portuguesa de Beneficência, exercendo os cargos de membro da comissão de contas (1862 e 1867),
e a presidência em
quatro biênios (1863-1864, 1869-1870, 1873-1874 e 1879-1880).
Em duas ocasiões, 1875 e 1880, doou livros para a formação do Gabinete de Leitura do hospital.
Era sócio minoritário da Companhia Paulista de Estradas de Ferro (10 ações), compondo a comissão de contas em 1874 e
1879. Além da Beneficência, participou de outras obras caritativas na cidade como o
Asilo de Mendicidade Municipal, junto com Antonio Proost Rodovalho. Era irmão da Santa Casa
de Misericórdia (1868-69)
e da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Catedral da Sé.
Sua esposa, Maria Augusta, também participava de atos de filantropia como o realizado para a obtenção de fundos destinados aos órfãos e desvalidos
franceses em decorrência da guerra de 1870 com a Alemanha.
Realizou algumas viagens a Portugal de longa permanência, nos anos de 1865 e 1874. Neste segundo retorno, vendeu todos os pertences existentes na
rua do Rosário, 18, por meio do leiloeiro Hilário Breves.
O “suntuoso leilão” de 10/4/1875 continha vários móveis (mesa, cama de casal,
lavatórios, secretárias, cadeiras, etc), serviços de porcelana para chá, café, jantar,
eletro-plate, faqueiro e dezenas de outras peças. Foi neste ano ainda que se
retirou do comércio, passando sua casa comercial para frente, assumindo-a a firma Ignacio Ferreira e Cia.
Retornou à cidade em 1877.
Era proprietário de outros imóveis no Triângulo, como o sobrado vizinho da rua do Rosário, 20, vendido em 1870, e uma casa na rua de
São Bento, 14 .
Na segunda volta de Portugal, passou a residir na rua do Ouvidor, 38 .
Pelas suas andanças, percebe-se que era um morador fiel da freguesia da Sé,
citadino arraigado ao Triângulo, o centro velho da cidade formado pelas ruas Direita, 15 de Novembro e São Bento, diferenciando-se dos endinheirados
que escolheram para residência os novos bairros de Santa Ifigênia ou Consolação ou os palacetes de Higienópolis.
Era dono de duas escravas, sendo que uma fugiu e a outra foi alforriada. O número mínimo de escravas destinadas ao trabalho doméstico
indica que não fazia parte do grupo econômico que empregava capital na escravidão, ou seja, o seu patrimônio não era formado nem pela posse,
nem pelos ganhos advindos da escravaria, como assinalou Maria Luiza Oliveira.
Durante sua breve permanência em São Paulo em 1879, fez parte da Comissão do Monumento ao general Osório.
Voltou à Lisboa em julho de 1880 em visita aos filhos que estudavam na Europa.
Novamente se procedeu ao leilão dos pertences de sua casa, realizado pelo leiloeiro Roberto Tavares.
Em relação à venda anterior, notamos objetos de maior luxo como um piano Pleyel, vasos de Baccarat,
porcelanas, jarros de Sèvres, estatuetas de alabastro, quadros de personagens emoldurados, uma máquina de
costuras Singer, além dos objetos tradicionais como bateria de cozinha, escarradeiras, cadeiras austríacas, etc.
Em Portugal, teria participado de uma comissão encarregada da criação de um consulado português em São Paulo.
Do consórcio com Maria Augusta, muito mais jovem do que o marido pois nascida em 1845, nasceram José Alves de Sá Rocha Júnior (18/2/1867),
Júlio Augusto de Sá Rocha (10/10/1868?), João Abreu de Sá Rocha (24/12/1869),
Jorge de Sá Rocha (* - ?), Maria de Sá Rocha e Castro (* - ?) e
Jaime de Sá Rocha (* - ?). O patriarca Sá Rocha faleceu em 12/7/1899, encomendando-se a missa de
sétimo dia na capela do Santíssimo Sacramento da igreja da Sé, conforme anúncio fúnebre.
A viúva passou a morar no Rio de Janeiro, junto ao filho comerciante, Jaime.
De acordo com o Dicionário de Ruas
do Arquivo Histórico de São Paulo, José de Sá Rocha teria se diplomado na Escola Politécnica de Zurique em
1892 .
Contudo, foi com titulação diferente que ele e seu irmão Júlio apresentaram-se ao Correio Paulistano em agosto daquele ano:
“Estão nesta capital, vindos da Alemanha, os distintos engenheiros drs. José de Sá Rocha e Júlio de Sá
Rocha, formados pela Universidade de Stuttgart”. Os três irmãos, José, Júlio e João,
tinham saído de São Paulo em 1878, porém, excetuando-se as titulações alemãs ou suíças em engenharia,
desconhece-se qual foi a educação recebida em Portugal.
Entre as possibilidades de trabalho que se apresentavam aos jovens engenheiros na cidade, a escolha de Sá Rocha pelo serviço público não
parece ter sido uma livre opção, posto que na sessão ordinária do conselho da Intendência Municipal de 22/9/1892 seu nome foi
indicado pelos vereadores Guilherme Maxwell Rudge e Eduardo da Silva Chaves como candidato à vaga de Tito Martins Ferreira,
engenheiro do 3º. Distrito.
A indicação, se verdadeira, pois não consta dos Anais da Câmara, foi recusada.
Guilherme Maxwell Rudge era filho de João (John) Maxwell Rudge e Luiza Vergueiro Rudge. Casara-se com Maria Maxwell Telles Rudge,
advindo do consórcio oito filhos (Anna, Isaura, João, Edwino, Alice, Laura, Elisa e Georgina). Em 1877 vamos encontrá-lo como comerciante
de “molhados” (designação genérica para o comércio de bebidas nacionais e importadas) na rua da Imperatriz,
24 . Era quase vizinho do comendador José Alves de Sá Rocha,
que na época estava voltando da Europa. Foi gerente da Cia. Carris de
Ferro de São Paulo até fevereiro de 1880.
Como conhecedor das concessões desatendidas pela companhia de bondes, pediu à Câmara
os privilégios de estender o transporte urbano por 30 anos das linhas do Brás à Penha (saindo do mercado da 25 de Março e seguindo pela
rua da Mooca) e, no ano seguinte, do largo da Sé até o Ipiranga.
Enquanto aguardava as concessões foi leiloeiro entre 1881 e 1882.
Os privilégios conseguidos pela Cia. Independência Carris de Ferro em 1882 e 1883 caducaram nos três anos seguintes
pela ausência de investimentos.
Foi eleito vereador na legislatura iniciada em 1892 (27/9/1892-7/1/1896).
Apesar de sua importância social, desconhecemos quais as relações que se estabeleceram entre o major Rudge e o jovem engenheiro, porque
nos falta a data do casamento com Anna Abiah Telles Rudge (Anna Abiah também era o nome da sobrinha do prefeito Antonio da Silva
Prado que, quando envergou o hábito religioso, foi sóror do Convento das Beneditinas). Anna passou a assinar como Anna Abiah
Telles Rudge de Sá Rocha ou, de forma simplificada, Anna Rudge de Sá Rocha.
Guilherme Maxwell Rudge no final do século ganhou notoriedade pelos jornais quando se envolveu numa concessão de
500 mil m2 de terras do município na várzea do Carmo (Lei nº. 315, 14/8/1897)
para a construção de 2 mil casas operárias (a Lei foi declarada nula por
outra, de número 589, de 19/3/1898). Faleceu em 20/12/1913.
No elogio fúnebre realizado pelo vereador Alcântara Machado, ele declarou que o major Guilherme Maxwell Rudge tinha exercido o cargo em
vários triênios, mas a informação constante na Câmara Municipal desqualifica tal informação.
Diplomado em Zurique ou em Stuttgart, a formação de José de Sá Rocha estava de acordo com os novos tempos por que passava a profissão de engenheiro em São Paulo.
Os cursos de engenharia no Brasil se reduziam, até 1894, quando passou a funcionar a Escola Politécnica de São Paulo, ao da Escola de
Minas de Ouro Preto, inaugurada em 1876, e da Escola Politécnica do Rio de Janeiro. A Escola de Ouro Preto tinha como objetivos
o ensino mineralógico e geológico. A Politécnica do Rio vinha do século XVII como Academia Real Militar do Rio de
Janeiro (1810), depois Academia Imperial Militar, organizando-se o seu currículo de ensino eminentemente para o campo militar
(construções de fortificações; formação de geógrafos e topógrafos para a demarcação das fronteiras;
abertura de estradas, etc).
O curso era de sete anos, bastando saber ler e conhecer as quatro operações para ser admitido como aluno.
Formou pouquíssimos engenheiros
até 1825. Em 1858 (Cesaroli) ou 1874 (Arasawa) houve uma separação entre o ensino militar e o civil, encarregando-se a Escola do largo de
São Francisco da preparação de engenheiros civis, tendo em vista a implantação recente das ferrovias no país, aparelhamento dos portos,
ampliação das estradas de rodagem e melhoramentos urbanos.
Segundo Josianne Francia Cesaroli, o curso de engenheiro
civil carioca tinha uma “forte formação teórica e matemática”, com ênfase, além da matemática, nas ciências físicas e
naturais.
O exemplo vinha da École Polytechnique de Paris, onde a “[...] constituição teórica sustentava toda a atividade formadora,
relegando o plano das realizações práticas, restritas quase exclusivamente aos laboratórios de demonstrações”.
Ainda nas palavras de
Cesaroli, a engenharia ensinada no Rio era muito mais teórica do que prática, modelo contra o qual lutaria o inspirador da Escola Politécnica
de São Paulo, que tinha se formado na Alemanha (Karlsruhe), Antonio Francisco de Paula Souza.
A Escola Politécnica de São Paulo foi regulamentada em 24/8/1893, abrindo seus cursos em 15/2/1894.
Diplomou a primeira turma, em 1899, com nove engenheiros civis e um engenheiro
arquiteto. Concedia-se apenas o título de engenheiro, ao contrário da Politécnica do Rio que formava doutor em Engenharia
(a titulação similar só foi implantada em São Paulo em 1951). O campo de
trabalho dos engenheiros ainda estava em formação. Para Josiane Cesaroli, os novos profissionais tinham como destino principalmente
os órgãos públicos. Excetuando-se os grandes escritórios que foram se formando com o tempo (Escritório Técnico Ramos de Azevedo ou o de Samuel das Neves),
lembremos que a profissão, no campo da construção civil urbana, sofria a concorrência dos arquitetos e engenheiros “práticos”,
aqueles sem diploma ou com diplomas não reconhecidos no país, ou mesmo a miríade de mestres de
obras que se aventuravam na cidade como prestadores de serviços.
O serviço público era a primeira e, talvez, a porta mais aberta aos detentores de capitais sociais, para o acesso profissional
dos novos diplomados. Nomes ilustres passaram por este caminho. Na Superintendência de Obras Públicas, órgão da Secretaria de
Negócios da Agricultura, Comércio e Obras Públicas criado em 29/12/1889, trabalharam o geólogo norte-americano Orville Derby (1890),
Samuel das Neves (1892), Victor da Silva Freire (1895), Luiz Bianchi Betoldi (1895), apenas para citar alguns nomes
conhecidos ou que serão repetidos ao longo deste texto. Eles podiam continuar em outras instâncias do serviço público, como
Victor Freire que foi chamado por Antonio da Silva Prado para dirigir a Intendência de Obras da capital em 1899. Mas, construir
uma carreira na iniciativa privada, nesta época, alicerçava-se na proximidade com a estrutura do serviço público. Ramos de Azevedo,
o exemplo mais ilustre desta linhagem, foi realizador de centenas de projetos para o Estado, entre os quais, o mais conhecido,
encontra-se no Teatro Municipal de São Paulo. Além do mais, as grandes plantas
que demandavam conhecimento e saber do engenheiro, estavam nas mãos do Estado (pontes, docas, escolas, estradas, fóruns, etc). Os
órgãos governamentais concentravam ainda o poderoso campo da normatividade, da elaboração de leis sobre os processos construtivos,
o controle dos profissionais “práticos” ou diplomados, ensinando-os qual o melhor método de edificação, ou seja, os engenheiros
ligados à estrutura do Estado tinham, no período, o mando sobre o coração da profissão, até que foram substituídos, nas décadas
seguintes por outras instâncias como a Politécnica, o Instituto de Engenharia e o Conselho Regional de Engenharia.
O engenheiro Paula Souza, quanto aos desígnios da sua Politécnica, ainda se insurgia contra o ensino teórico e bacharelesco.
Ele pretendia dar um “golpe mortal na pedantocracia” existente, de forma a colocar o país nos “trilhos do progresso”. Ou seja, o peso da preparação do engenheiro encontrava-se num campo além da teoria, situando-se mais no conhecimento prático e
eficiência realizadora. Victor da Silva Freire, com títulos universitários de Lisboa (Escola Politécnica) e Paris (École des Ponts et Chaussées),
durante décadas diretor da Seção de Obras e, depois, Diretoria de Obras e Viação, e ainda professor da Escola Politécnica, afinava-se com
estas ideias. Citando o prof. Bleuler da Escola Politécnica de Zurique, em 1896, ele afirmava que o
ensino da matemática cedia espaço aos trabalhos de laboratório que “[...] dão aos alunos condições operatórias efetivas de
trabalho”.
Maria Cecília Loschiavo dos Santos, no seu livro sobre a Escola Politécnica, citado por Cesaroli, escreveu que os princípios do
ensino alemão e suíço eram o assentamento da técnica sobre largas bases científicas (matemáticas e teóricas), mas preparando
para a prática profissional imediata. Ainda segundo Victor Freire, os engenheiros alemães se especializavam a partir do segundo ano de
curso. Mesmo que os dois primeiros fossem de caráter geral (estudos de matemática e ciências teóricas), o aluno fazia exercícios de
laboratório e alguns cursos técnicos. Ressaltava-se nas escolas alemãs a característica de curso voltado para a técnica, sobrepondo-se
ao perfil teórico, prevendo-se nesta perspectiva um método.
Entre as primeiras tentativas de entrada no serviço público em 1892 e o ano de 1894, não sabemos muito sobre a trajetória de José de
Sá Rocha na cidade. A única coisa que podemos afiançar é que ele privava do círculo dos principais engenheiros da cidade, como Ramos
de Azevedo e André Rebouças, já que participou de uma excursão comandada pelo Secretário da Agricultura e Obras Públicas, Jorge Tibiriçá,
à serra da Cantareira, em visita às obras de captação de águas para a cidade.
Até onde foi possível perceber, ele foi comissionado engenheiro ajudante da 1ª. Seção da Superintendência de
Obras Públicas em 1894 .
A SOP vinha substituir a Repartição de Obras Públicas, tendo competência sobre vários ramos da engenharia pública: a direção e fiscalização de
todas as obras do Estado (construção de pontes, cadeias, escolas, reformas, manutenção de
edifícios, etc); fiscalização de estradas de ferro ou de todas as empresas sujeitas à contrato de inspeção e fiscalização do
Governo; demarcação, divisão e aproveitamento das terras públicas;
inspeção das colônias agrícolas; levantamento da carta geográfica e geológica.
O diretor, Antonio de Paula Souza, ganhava
Rs 800$000 (oitocentos mil réis entre salário e gratificação) e um
engenheiro ajudante Rs 500$000 (quinhentos mil réis entre salário e gratificação) mensais. Pelas funções que exerceu, é possível que Sá Rocha
ou tenha tido uma passagem rápida pela 1ª. Seção da SOP, ou estivesse lotado na 2ª. Seção, das três que compunham o órgão:
a 1ª. Seção era encarregada da construção, melhoramentos e conservação de estradas e pontes; a 2ª. Seção das construções civis
do Estado e a 3ª. Seção da fiscalização das empresas, demarcação e divisão das terras públicas e inspeção das colônias.
Em 1892 a seção de terras públicas e colonização foi reformulada, passando a
órgão autônomo (Inspetoria de Terras, Colonização e Imigração).
Durante o ano de 1895 noticiou-se pela imprensa que ele inspecionara o edifício escolar projetado por Ramos de Azevedo para
Campinas, situado no largo de São Benedito, e a adaptação
do Colégio Culto à Ciência para Ginásio do Estado (a transferência da escola privada tinha se processado em março do mesmo ano)
.
Sua possível efetivação se realizou no final de 1896, em
substituição ao amanuense Justino Aureliano Barrozo Lintz, que voltava para o órgão de origem.
Antes disso, contudo, vistoriou a Escola Agrícola Prática de Piracicaba em agosto e, em setembro,
participou da comissão encarregada do arrolamento de próprios do Estado.
Seu nome apareceria novamente na imprensa somente em 1899, quando foi reembolsado por gastos com a demolição da cadeia de
Taubaté.
Essa notícia, assim como a publicação de uma ou outra nota subsequente, indica que provavelmente José de Sá Rocha foi
comissionado como engenheiro residente da SOP em Taubaté.
A mudança forçou o deslocamento da família para o interior, pois em
maio de 1900 ele estava vendendo em leilão o conteúdo de sua casa na rua Sampson, 17, esquina da rua Bresser, exatamente ao lado da
casa do sogro, o major Rudge. Em relação aos bens leiloados pelo
pai em 1880, percebemos o descenso econômico e social do engenheiro. Se tomarmos os graus de mobilidade social invocados por Maria
Luiza de Oliveira, o pai comerciante do Triângulo, uma das zonas
imobiliárias melhor avaliadas da cidade, foi sucedido pelo filho engenheiro que optou por morar no Brás, bairro de extratos consideráveis
das classes médias e de operários, ao contrário dos que
podiam ascender, morando em Santa Ifigênia ou Consolação. Talvez a vizinhança do sogro tivesse tido o seu peso na escolha, mas
os móveis e outros equipamentos colocados em leilão por Moreira
Campos, “leiloeiro oficial do juízo federal e do vice-consulado de Portugal na cidade” (outra influência do pai, que tinha lutado em
Lisboa pela criação do posto diplomático na cidade), configurava
a irremediabilidade da condição diversa de Sá Rocha: na sala de jantar uma mesa elástica de canela ciré com 12 cadeiras em marroquim
mais etagere e bufê; no quarto do casal uma cama de molas, “duas
bancas de luz” (criados mudos?), toilette com mármore duplo e espelho bisotê, armários de “guarda-vestidos” de desarmar e
“guarda-camisas”; no gabinete de trabalho uma secretária e mesa redonda;
camas de solteiro e de criança, guarda-roupas, serviços de porcelana para jantar, louças avulsas, estantes, cristais,
vasilhames para mantimentos, prosaicas cestas para papéis e roupas, bacias,
bateria de cozinha, louça de ágata e quadros, sem especificação. Nenhum luxo, nenhuma ostentação, mas também nada
que pudesse fazer o engenheiro reclamar da vida.
Notícias publicadas em O Estado de S. Paulo pelo correspondente em Taubaté colocam-no na posição banal
de um recém-chegado que procurava ser afável em relação à nova comunidade, procedendo à distribuição de presentes aos
alunos das escolas públicas nas festas de fim de ano letivo de 1901. Outra mais intrigante, comunica a sua
resignação ao cargo de vereador da cidade na legislatura de 1902 .
O trabalho na SOP pode ter perdurado até 1903. Em julho daquele ano transferiu-se para a cidade do Vale do Paraíba o engenheiro Huascar de
Souza Pereira.
É possível que no
início de 1904 José de Sá Rocha estivesse morando em São Paulo, encerrando uma errância de quase dez anos por várias cidades, fosse como inspetor de obras,
fosse como engenheiro residente. O Estado de S. Paulo noticiou que ele tinha sido nomeado engenheiro municipal, mas não informa qual a repartição em que ficou
lotado. Em 1905 seu nome consta do relatório do prefeito Antonio da Silva Prado como um dos que
organizaram orçamentos para serviços urbanos da Diretoria de Obras. Embora atuando oficialmente desde
o segundo semestre de 1906, somente em 1907, com a exoneração do engenheiro Mário W. Tibiriçá, foi que ele assumiu o cargo de auxiliar
técnico da Diretoria de Obras Municipais.
Continua >
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Para citação adote:
SOUZA, José Inácio de Melo. José de Sá Rocha: engenheiro municipal -
uma trajetória pessoal e a formação de um corpo técnico para gestão da cidade.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 9 (35): fev.2014.
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>
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