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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, novembro/dezembro de 2006
Ano 2 N.9


Edição temática





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Regiões Luz e Bom Retiro

Esta edição do Informativo AHMWL toma como tema, inspirada na realização do Encontro de Trabalho: Área Luz - Ações educativas em novembro, as regiões da Luz e do Bom Retiro.

Assim os principais ensaios procuram destacar a relevância do acervo sob nossa guarda institucional como fonte documental para o estudo de diferentes aspectos da história local.


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  • BIBLIOTECA

  • OBRAS SOBRE AS REGIÕES DA LUZ E DO BOM RETIRO
    • ACTAS das Sessões da Câmara Municipal de São Paulo 1889. São Paulo: Espindola, 1906. 395 p.
    • AMERICANO, Jorge. São Paulo atual (1935-1962). São Paulo: Melhoramentos, 1963. 373 p.
    • ______. São Paulo naquele tempo (1895-1915). São Paulo: Saraiva, 1957. 497 p.
    • AZEVEDO, Aroldo de. A cidade de São Paulo: estudos da geografia urbana. São Paulo: Nacional, 1958. 4 v.
    • BATISTUZZO, Leda Coelho de Oliveira. De Mansué-Vêneto-Itália... para Tietê-São Paulo-Brasil. [S.l.: s.n.], [19--]. 365 p.
    • BERTOLLI FILHO, Claudio. A gripe espanhola em São Paulo, 1918: epidemia e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2003. 393 p.
    • BRUNO, Ernani Silva. Histórias e tradições da cidade de São Paulo. São Paulo: HUCITEC: SMC, 1984. 3 v.
    • CAMPOS, Eudes. Arquitetura paulistana sob o império: aspectos da formação da cultura burguesa em São Paulo. 1997. 4 v. Tese (Doutorado em Arquitetura) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/USP, São Paulo.
    • ______. Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 13, n. 1, p. 11-57, jan./jun. 2005.
    • CENNI, Franco. Italianos no Brasil: “andiamo in ‘Merica...”. São Paulo: Martins; EDUSP, 1975. 441 p.
    • A CIDADE da Light, 1899-1930. São Paulo: Eletropaulo, 1980. v. 2.
    • CYRINO, Fábio. Café, ferro e argila. São Paulo: Landmark, 2004. 240 p.
    • DERTÔNIO, Hilário. O bairro do Bom Retiro. São Paulo: DPH, 1971. 86 p.
    • FAERMAN, Marcos. OH! Bom Retiro: uma reportagem em três tempos. Cidade, São Paulo, v. 3, p. 78-87, 1995.
    • GERODETTI, João Emílio; CORNEJO, Carlos. A capital paulista nos cartões postais e álbuns de lembranças. São Paulo: Solaris, 1999. 198 p.
    • GUIMARÃES, Laís de Barros Monteiro. Luz. São Paulo: AHM, 1977. 118 p.
    • IMAGENS de São Paulo: Gaensly no acervo da Light, 1899-1925. São Paulo: Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo, 2001. 179 p.
    • INSTITUTO CULTURAL ITAÚ. Região Tiradentes. São Paulo: ICI, 1994. 34 p.
    • INSTITUTO MOREIRA SALLES. São Paulo: 450 anos. São Paulo: IMS, 2004. 491 p.
    • JORGE, Clóvis de Athayde. Luz: notícias e reflexões. São Paulo: DPH, 1988. 127 p.
    • LEVIN, Eliezer. Bom Retiro. São Paulo: Martins, 1972. 217 p.
    • LOUREIRO, Maria Amélia Salgado. A cidade e as áreas verdes. São Paulo: DEPAVE, 1979. 185 p.
    • MACEDO, Silvio Soares; Sakata, Francine Gramacho. Parques urbanos no Brasil. São Paulo: Edusp, 2002. 207 p.
    • MARTINS, Antonio Egydio. São Paulo antigo 1554 a 1910. São Paulo: Paz e Terra, 2003. 550 p.
    • MEDINA, Cremilda (Org.). Paulicéia prometida. São Paulo: ECA/USP, 1990. 238 p.
    • MENEZES, Raimundo de. São Paulo dos nossos avós. São Paulo: Saraiva, 1969. 168 p.
    • MEMÓRIA. São Paulo: Eletropaulo, 1989-.
    • MEYER, Regina; IZZO JR., Alcino. Pólo Luz. São Paulo: Terceiro Nome, 1999. 155 p.
    • MONUMENTO a Ramos de Azevedo. São Paulo: Fapesp; Campinas: Mercado de Letras, 1997. 144 p.
    • MOURA, Paulo Cursino de. São Paulo de outrora: evocações da metrópole. 2.ed. São Paulo: Martins, 1943. 263 p.
    • PINTO, Alfredo Moreira. A cidade de São Paulo em 1900. São Paulo: Governo do Estado, 1979. 356 p.
    • PONCIANO, Levino. Bairros paulistanos de A a Z. São Paulo: Senac, 2002. 266 p.
    • ______. Mil faces de São Paulo: pequeno dicionário histórico e amoroso dos bairros de São Paulo. São Paulo: Fênix, 1999. 143 p.
    • PORTA, Paula (Org.). História da cidade de São Paulo: a cidade colonial 1554-1822. São Paulo: Paz e Terra, 2004. 3 v.
    • PORTO, Antônio Rodrigues. História urbanística da cidade de São Paulo (1554 a 1988). São Paulo: Carthago & Forte, 1992. 189 p.
    • REIS, Nestor Goulart. São Paulo: vila, cidade, metrópole. São Paulo: Prefeitura, 2004. 259 p.
    • REVISTA CIDADE. São Paulo: DPH, n. 5, 1998. 167 p.
    • REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL DE SÃO PAULO. São Paulo: DPH, 1934- .
    • SALA São Paulo: café, ferrovia e metrópole. São Paulo: Secretaria da Cultura, 2001. 227 p.
    • SÃO Paulo antigo: plantas da cidade de São Paulo: Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo, 1954. 1 atlas, 4 p. ; 11 f. soltas.
    • SÃO Paulo de Piratininga: de pouso de tropas a metrópole. São Paulo: O Estado de S. Paulo; Terceiro Nome, 2003. 256 p.
    • SOROCABANA, uma saga ferroviária. São Paulo: Dialeto Latin American Documentary; Tribal Editora, 2001. 118 p.
    • SOUKEF JUNIOR, Antonio. Cem anos Luz. 2. ed. São Paulo: Dialeto, 2000. 91 p.
    • TAUNAY, Affonso de E. Velho São Paulo, v. 3. São Paulo: Melhoramentos, [1954?]. 85 p.
    • TOLEDO, Benedito Lima de. São Paulo três cidades em um século. 3. ed. São Paulo: Cosac & Naiff; Duas Cidades, 2004. 191 p.
    • UM século de Luz. São Paulo: Scipione, 2001. 223 p.
    • VELTMAN, Henrique. A história dos judeus em São Paulo. 2. ed. Rio de Janeiro: Exped, 1996, 141 p.
    • VITOR, Manoel. São Paulo de antigamente: história pitoresca de suas ruas. São Paulo: [s.n.]. 248 p.

    CD'S, LIVROS E TESES RECEBIDOS

    • ARCA. Campo Grande: Arquivo Histórico de Campo Grande, n. 12, 2006.
    • CADERNOS AEL. Campinas: Arquivo Edgard Leuenroth, v. 10, n. 18/19, 2003.
    • ESTUDOS. Goiás: Universidade Católica de Goiás, v. 32, n. 12, dez. 2005.
    • ______. Goiás: Universidade Católica de Goiás, v. 33, n. 3/4, mar./abr. 2006.
    • HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE: Manguinhos. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, v. 13, n. 8, jul./set. 2006.
    • ______. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, v. 13, out. 2006. Suplemento.
    • NOTÍCIA BIBLIOGRÁFICA E HISTÓRICA. Campinas: PUC, n. 199, out./dez. 2005.
    • PROBLEMAS BRASILEIROS. São Paulo: SESC, n. 377, set./out. 2006.
    • REVISTA DA BIBLIOTECA MÁRIO DE ANDRADE. São Paulo: BMA; Imesp, v. 62, jun. 2006.

    PERIÓDICOS RECEBIDOS

    • ESTUDOS AVANÇADOS. São Paulo: Instituto de Estudos Avançados\USP, v. 20. n. 57, maio/ago. 2006.
    • HISTÓRIA, CIÊNCIAS, SAÚDE: Manguinhos. Rio de Janeiro: Fundação Oswaldo Cruz, v. 13, n. 2 abr./jun. 2006.
    • PENSAMENTO & REALIDADE. São Paulo: Faculdade São Luís, n. 18, maio 2006.
    • REVISTA DA ACADEMIA DE LETRAS DA BAHIA. Salvador: Academia de Letras da Bahia, n. 47, abr. 2006.




  • LOGRADOUROS

  • Ruas da Luz e do Bom Retiro, no final do século XIX


    No último terço do século XIX, as autoridades tanto municipais quanto provinciais estavam particularmente interessadas em interligar várias áreas da cidade de São Paulo que não mantinham comunicação entre si. Em função do funcionamento da estrada de ferro inglesa (1860-1867), a Capital passou a assumir o papel de centro financeiro da Província e esse fato não demorou muito em produzir reflexos na conformação física da cidade. A partir dos últimos anos de 1870, as áreas suburbanas ocupadas por chácaras começaram a ser loteadas de modo caótico e cabia às autoridades tentar pôr em comunicação os loteamento esparsos.

    Não dispondo a Câmara Municipal paulistana de recursos para fazer grandes desapropriações, nem iniciar muitas obras viárias, o governo provincial durante a gestão de João Teodoro (1872-1875) assumiu a responsabilidade de dar início à modernização da Capital, preparando-a para os ricos fazendeiros do interior que logo começariam a se transferir para São Paulo para daí controlar melhor a produção e a exportação da maior riqueza da Província, o café.

    A atuação de João Teodoro em matéria urbanística, porém, é assunto controvertido. Personagem cheio de idiossincrasias, sua gestão aguarda até hoje uma oportuna reavaliação crítica que os historiadores de hoje relutam em fazer. Isolando-se em palácio, fez aplicar todos os recursos provinciais na Capital: fê-lo, entretanto, sem planejamento, e “sem ouvir os homens profissionais”, segundo acusações dos deputados oposicionistas contemporâneos, em geral filiados à bancada liberal.

    Em 1874, por exemplo, mandou abrir a via que logo a seguir tomou seu nome. Seria ela que pela primeira vez poria em contato os bairros da Luz e do Brás, até então localidades completamente isoladas uma da outra. Por atravessar uma zona alagadiça na várzea do Tamanduateí, as datas concedidas ao longo dela eram às vezes rejeitadas pelos concessionários, sob a alegação de serem difíceis de edificar.Um pouco mais tarde, nas regiões vizinhas do Brás e do Pari – bairro em que se instalava a atividade fabril segundo depoimentos da época –, surgiriam outras ruas que se comunicariam com a Luz: a Monsenhor Andrade, de 1880, a São Caetano, de 1881, e a Paula Sousa, de 1890. A Rua São Caetano, ao que tudo indica, seguia o percurso de um antigo caminho que ia dar no Hospital dos Lázaros, criado em 1802, no tempo do capitão-general Franca e Horta. Foi aberta em terras pertencentes ao arcipreste João Jacinto Gonçalves de Andrade, que lhe escolheu o nome, e a execução da ponte de ferro que nela havia, instalada em 1885 sobre o Tamanduateí, correu por conta de recursos municipais e provinciais.

    Durante os anos 1880, fatos relativos à expansão urbana da cidade de São Paulo e ao adensamento de sua trama viária se sucediam a todo momento. Ao norte, ao sul, a leste ou a oeste, várias chácaras antigas estavam sendo retalhadas concomitantemente por seus proprietários.

    Em 1881, a Câmara, aproveitando o oferecimento de terras feito por Manfred Meyer, que ia parcelar a Chácara do Bom Retiro, decidiu mandar abrir o prolongamento da Rua Helvetia, nos Campos Elísios, até que essa via se encontrasse com a Rua João Teodoro, sendo feito em nível o cruzamento da linha férrea de Santos a Jundiaí (do lado do Bom Retiro esse prolongamento seria representado pela futura Ribeiro de Lima). A decisão da Câmara acabou por desencadear uma longa questão judicial com a companhia ferroviária inglesa (1882-1889), só solucionada com o compromisso da San Paulo Railway de construir um viaduto de ferro para que a referida passagem se efetuasse a partir do final da Alameda Nothmann.

    Observando a Planta da Capital do Estado de S. Paulo e seus arrabaldes, desenhada e publicada pelo litógrafo Jules Martin em 1890, podemos notar que o bairro do Bom Retiro se achava então em processo inicial de formação. O arruamento assinalado no documento, sobretudo nas proximidades das linhas férreas, não corresponde nem ao que existia, nem ao que seria feito depois.

    Planta da Capital do Estado de S. Paulo e seus arrabaldes
    Pormenor da Planta da Capital do Estado de S. Paulo e seus arrabaldes
    (1890), por Jules Martin.
    São Paulo antigo: plantas da cidade.
    São Paulo: Comissão do IV Centenário, 1954.

    A Fábrica de Tecidos de Anhaia e Cia., por exemplo, uma das primeiras indústrias a se estabelecer no bairro, em construção na Rua Alta (hoje Anhaia) no ano de 1885, na altura da Rua Silva Pinto (rua que aparece sem nome, na planta), nas proximidades da linha férrea, passou a impedir com sua presença que fosse prolongada a Rua Alta, melhoramento que vinha sendo reivindicado à Câmara pelos moradores da região. Segundo os vereadores, não havia nenhuma necessidade de encompridar essa via pública, já que a passagem entre os Campos Elísios e o Bom Retiro se dava pela Alameda Nothmann. No entanto, a reivindicação denegada em 1885 aos moradores do Bom Retiro aparece impressa na planta de 1890.

    Também a identificação das vias públicas nessa parte da cidade se apresenta de modo confuso na planta que estamos examinando. A Rua dos Imigrantes, por exemplo, para a qual Manfred Meyer solicitava consertos à Câmara em 1883, está assinalada erradamente. Corresponde de fato à atual Rua dos Italianos (que em planta de 1897 apareceria sob o nome de Caiapós). É a primeira paralela à direita, sem nome no documento cartográfico, que é a verdadeira Rua dos Imigrantes, hoje José Paulino. O trecho inicial desta última, nas proximidades do Jardim da Luz, foi aberto somente em 1890 às custas da estrada de ferro inglesa, provavelmente seguindo o traçado de um antigo caminho que passava no local.

    O nome de Rua dos Imigrantes é devido à hospedaria construída nessa via, em 1882, pelo governo provincial, para receber a mão-de-obra estrangeira que chegava em grande número à Capital. Anos depois ela se transferiria para o Brás, onde hoje funciona o Memorial do Imigrante. Quanto ao nome de José Paulino, adotado ao que parece no início do século XX, refere-se a um personagem importante de Campinas, onde assumiu o cargo de presidente da Câmara em 1892. Fazendeiro, investidor em estrada de ferro, seguradora e banco, José Paulino Nogueira deu o nome à cidade de Paulínia, a ruas em Campinas e São Paulo e está na origem da cidade de Cosmópolis.

    A Rua do Jardim vista em planta é a atual Ribeiro de Lima, aberta por Manfred Meyer em 1884, com consentimento da Câmara, para interligar a Rua João Teodoro e a Helvetia, comunicação que acabou não sendo realizada. A Rua Marquês de Três Rios, na parte correspondente à atual Praça Fernando Prestes, aparecia na planta de 1890 sob o nome de Rua do Dulley, porque terminava no portão da chácara então nas mãos da viúva do engenheiro norte-americano Charles D. Dulley, engenheiro chefe da ferrovia de São Paulo ao Rio de Janeiro, inaugurada em 1877.

    E entre as vias públicas que não aparecem traçadas na planta de 1890, chama-nos a atenção a Rua da Graça. Em nossa opinião, essa via, que num trecho atravessa diagonalmente a trama viária local, era segmento de um caminho antiqüíssimo e sua ausência só se explica pelo fato de ainda não estar naquela altura arruada aquela parte do Bom Retiro, mais próxima das margens do Tietê. Afirmam que seu nome vem da invocação de uma capela que existia nas proximidades, e com relação a ela há um fato curioso. É mencionada na letra de uma nostálgica valsinha, muito popular, intitulada Lampião de Gás, de autoria de Zica Bergami (1913- ), que retrata o Bom Retiro por volta de 1920:
      Lampião de gás, lampião de gás,
      quanta saudade você me traz.

      Da sua luzinha verde azulada,
      que iluminava a minha janela,
      do almofadinha lá da calçada,
      palheta branca, calça apertada.

      Do bilboquê, do diabolô, me dá foguinho, vai no vizinho
      de pular corda, brincar de roda,
      de benjamin, jagunço e chiquinho.

      Lampião de gás, lampião de gás,
      quanta saudade você me traz.

      Do bonde aberto, do carvoeiro,
      do vassoureiro com seu pregão,
      da vovozinha muito branquinha,
      fazendo rosca, sequilhos e pão.

      Da garoinha, fria, fininha,
      escorregando pela vidraça,
      do sabugueiro grande e cheiroso,
      lá do quintal da rua da Graça.

      Minha São Paulo, calma e serena,
      que era pequena mas grande demais,
      agora cresceu, mas tudo morreu,
      lampião de gás, que saudades me traz.

      Lampião de gás, lampião de gás,
      quanta saudade você me traz.


    Maurílio José Ribeiro (pesquisa)
    Seção Técnica de Logradouros

    Eudes Campos (texto)
    Seção Técnica de Estudos e Pesquisas



    Bibliografia:
    • ACTAS DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. São Paulo: Archivo Municipal de S.Paulo; Departamento de Cultura, 1914-1951.72v. (período consultado: 1874-1886, V.60-72)
    • ACTAS DAS SESSÕES DA CAMARA MUNICIPAL (CONSELHO DE INTENDENCIA) DE SÃO PAULO,1890. São Paulo: Espindola & Comp., 1905.
    • [ACTAS DAS SESSÕES DA CAMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, 1889. São Paulo: ?,19--.]
    • CAMPOS, Eudes. São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império. In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.3v. v.2, p. 187-249.
    • MARTINS, Antonio E. São Paulo antigo (1554 a 1910). São Paulo: Conselho Estadual de Cultura, 1973.
    • SÃO PAULO (Cidade). Comissão do IV Centenário da cidade de São Paulo. São Paulo antigo; plantas da cidade. São Paulo: 1954. (plantas n.10 e 11)


    Documentação eletrônica:


    Serviços: A Seção Técnica de Logradouros é responsável pela pesquisa e orientação aos interessados sobre nomes de logradouros paulistanos. A documentação está disponível para consulta através do atendimento ao público.
    Conheça também o site Dicionário de ruas (parceria AHMWL e Plamarc), onde através de um banco de dados é possível realizar pesquisas sobre denominações de logradouros paulistanos.


  • ESTUDOS & PESQUISAS

  • Luz e Bom Retiro



    No princípio do século XIX, o bairro paulistano da Luz mantinha-se com uma acentuada configuração semi-rural. Situado ao norte da cidade, limitava-se a leste com os meandros do Rio Tamanduateí e a norte com o curso do Rio Tietê. A oeste confinava com os valos da Chácara do Bom Retiro, naquela época pertencente ao capitão-general Antônio José da Franca e Horta, governador da capitania de São Paulo (1802-1811).

    A parte setentrional da cidade era constituída por campos férteis, regularmente inundados com o crescimento das águas do Tietê e Tamanduateí, ocorrido durante o verão. Quando a casa jesuítica de São Paulo passou à condição de vila em 1560, os portugueses transferidos de Santo André trouxeram suas cabeças de gado para pastar na região da Luz, então denominada Guaré ou Guarepe. Ainda no século XVI uma pequena ermida foi construída à beira da trilha indígena que seguia em direção ao norte. Como sua invocação era de Nossa Senhora da Luz, essa denominação acabou estendida a toda circunvizinhança. Mesmo quando, no século XVIII, se construiu um recolhimento feminino próximo do local da ermida, parte do antigo orago acabou conservado na invocação da nova instituição religiosa – Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz –, cuja sede abriga hoje o conhecido Museu de Arte Sacra de São Paulo.

    A exemplo do que ocorria com todo o planalto paulistano, Luz e Bom Retiro eram regiões contíguas atravessadas por sendas que remontavam a eras pré-cabralinas. Conforme procuramos demonstrar num estudo inédito de nossa autoria1, antes da chegada dos portugueses, as aldeias de índios planaltinos eram postas em comunicação por meio de trilhas que depois formariam a primeira rede de caminhos dos colonizadores. Com o tempo, essa rede foi aos poucos sendo incorporada no traçado urbano da povoação paulistana, à medida que esta última foi crescendo lentamente através dos séculos.

    Do sudoeste, provinha uma vereda que partia de Jeribatiba, aldeia chefiada por Caiubi no tempo dos primeiros jesuítas, e supostamente situada na região ribeirinha do Rio Pinheiros (antigo Jeribatiba) ou do Jeribatiba-Açu (atual Rio Grande). De acordo com a correspondência jesuítica daquela época, distava seis milhas ou duas léguas mais ou menos (cerca de treze quilômetros) do aldeamento paulistano. Essa trilha orientava-se para o norte (Rua Vergueiro, Avenida da Liberdade e Ruas Dr. Rodrigo Silva e Quintino Bocaiúva) e cruzava o famoso Peabiru – artéria de importância continental, que corria no sentido poente-nascente, ligando a Bacia do Rio da Prata ao litoral vicentino – na altura do Largo da Misericórdia. A partir daí, a trilha fletia na direção nor-noroeste (Rua Álvares Penteado), atravessava o Ribeirão Anhangabaú, e sempre em frente (Ruas do Seminário, General Couto de Magalhães, José Paulino, da Graça) ia dar nas margens do Rio Tietê, onde, supõe-se, se assentava a primitiva aldeia de Piratininga. Teria sido nessa Piratininga, às margens de um ribeiro de mesmo nome que desaguava no Tietê, que Martim Afonso “primeiro povoou” em 1532, segundo testemunho de seu irmão Pero Lopes. Essa data extremamente recuada referente à fundação de uma vila planaltina que não vingou, é hoje usada por aqueles que alardeiam o fato de ser o Bom Retiro o mais antigo bairro paulistano, fundado antes mesmo da cidade de São Paulo, e por isso contando atualmente com admiráveis 474 anos de idade.

    Chamada nos documentos camarários do século XVI à primeira metade do XVIII de “caminho de Piratininga”, muitas datas de terras foram concedidas ao longo dessa trilha pela Câmara paulistana, e coube ao historiador Afonso de Freitas o mérito de esclarecer que essa Piratininga deveria estar localizada na região do Bom Retiro ou em suas adjacências. Não seria, portanto, mera coincidência o fato de haver existido, no tempo dos primeiros jesuítas, na margem esquerda do Rio Grande (Rio Tietê) um porto chamado Piratinim. Estaria ele, deduzimos, localizado na embocadura do ribeiro desse nome, nas proximidades da antiga aldeia indígena, extinta a partir do momento que o chefe Tibiriçá se mudou com seu povo para as proximidades da então chamada Vila de São Paulo do Campo ou São Paulo de Piratininga.

    Essa senda tomou depois o nome de caminho de Nossa Senhora do Ó, havendo sido talvez prolongado por obra dos portugueses até essa distante freguesia. Desconhece-se essa segunda parte do trajeto, pois foi aos poucos abandonado, sendo preterido pelos paulistanos pelo caminho de Jundiaí ou Campinas, que saia do Piques (Ruas 7 de Abril e Arouche) e se bifurcava para os lados de Nossa Senhora do Ó na região da Água Branca, ou pelo caminho do Araçá (Rua da Consolação e Avenidas Dr. Arnaldo e Heitor Penteado). Um trecho seu ainda aparece na planta da cidade confeccionada, entre 1807 e 1810, por Rufino Felizardo da Costa, mas foi justamente nessa época que a antiga trilha de Piratininga acabou definitivamente interrompida pela Câmara paulistana “a pedido” do governador Franca e Horta na frente do portão de sua chácara denominada Bom Retiro. O governador não estava disposto a ter intrusos penetrando em suas terras para irem às margens do Tietê praticar algumas atividades então corriqueiras, tais como, a pesca, a cata de gravetos e o uso da várzea para pasto de animais de tropa.

    Quanto à Luz, era essa paragem atravessada por um outro caminho de origem indígena que se bifurcava a partir do que vinha do sudoeste na altura da atual Praça João Mendes. Seguia então pelo leito da Rua de São Gonçalo (lado direito da atual Praça da Sé), continuava pelo trecho inicial da atual 15 de Novembro, virava abruptamente na Rua 3 de Dezembro e tomava a Boa Vista, acompanhando as curvas de nível do relevo local, até o Largo São Bento. A partir daí, percorria a Rua Florêncio de Abreu e a Avenida Tiradentes até atingir a Várzea do Tietê, onde já havia, em 1584, uma ponte muito importante chamada Ponte Grande.
    Com a vinda dos monges beneditinos (1598), e com a construção de seu mosteiro na ponta norte da colina onde se assentava a Vila de São Paulo, um trecho dessa trilha, correspondente à atual Florêncio de Abreu, acabou interrompido, englobado que foi pela cerca beneditina. Os paulistanos viram-se então obrigados a seguir para a Luz por uma variante representada pela atual Rua Brigadeiro Tobias, que se transformou a partir de então no caminho da Luz, por excelência (saída da cidade que seguia para o norte da capitania), intensamente percorrido durante todo o século XIX, mesmo depois de a futura Rua Florêncio de Abreu ter sido reaberta pelos monges em 1784. Muito íngreme, mal conservada e atravessando um pontilhão sobre o fundo leito do Anhangabaú, a futura Florêncio nunca foi apreciada pelos que demandavam a região norte da cidade, os quais continuaram a demonstrar preferência pela Rua da Luz ou Alegre (Brigadeiro Tobias). Situação que só começou a mudar a partir do dia em que a então denominada Rua da Constituição foi nivelada e calçada a paralelepípedo por ordem de Florêncio de Abreu, presidente da Província que acabou por lhe emprestar o nome em 1881.

    Embora ainda marcada por uma ocupação semi-rural, típica dos subúrbios imediatos à freguesia central (Sé), a Luz já era vista em meados do Oitocentos como o arrabalde paulistano mais adequado à expansão do uso residencial urbano, ao lado da chamada Cidade Nova, arruada no Morro do Chá, a oeste da Capital, em 1808. Por uma série de circunstâncias, a zona sul paulistana concentrava grande número de equipamentos perigosos ou de desprestígio que afastavam os moradores do local: depósito de munição (Casa da Pólvora), forca, cemitério de indigentes e de enforcados, hospital da Misericórdia e matadouro. E o Brás, a leste, embora tão agradável e tão próximo, estava separado da cidade pela várzea do Tamanduateí, de difícil transposição durante a época das chuvas. Baseando-se nessa constatação, chegou o engenheiro municipal da época (1851) a sugerir o deslocamento do centro do rossio do Pátio da Sé para o Largo de São Bento, pois assim mais terras situadas na região além-Tietê poderiam integrar-se no patrimônio municipal e, conseqüentemente, ficarem disponíveis para a ocupação urbana.

    As promessas de desenvolvimento, no entanto, parecem ter-se mostrado mais nítidas na área da Luz a partir do momento em que se decidiu dar início à construção da ferrovia de Santos a Jundiaí (1860-1867). Ao que tudo indica, os moradores e proprietários da região não demonstraram muita preocupação com o fato de os engenheiros ingleses terem decidido levantar a estação ferroviária num canto do Jardim Público. É possível que sequer se tenham dado conta de que a presença de uma linha férrea naquela posição redundaria futuramente numa fonte de transtornos, dificultando as ligações viárias entre as partes norte e sul da cidade, e que o aumento progressivo da atividade ferroviária geraria na mesma proporção ruídos, odores e dificuldades de tráfego, a ponto de incomodar os moradores mais ricos, forçando-os a se mudar para outros pontos mais tranqüilos da cidade.

    Não, naquele primeiro momento a ferrovia parece ter funcionado, ao contrário, como um significativo fator de atração, fazendo com que os fazendeiros do interior cogitassem em manter uma residência na Luz, pois aí ficavam próximos tanto da estação de trem que os conduziriam às suas terras e ao porto de Santos, quanto das sedes das autoridades provinciais estabelecidas na Capital, de cujas decisões políticas dependia o destino da economia cafeeira paulista, a maior fonte de riquezas de então.

    Desde fins dos Setecentos, vinham surgindo ao longo da estrada que se dirigia para o sul de Minas (atual Avenida Tiradentes) alguns equipamentos importantes para a região. O mais venerável deles era sem dúvida o Recolhimento da Luz (1773), a que já fizemos menção. Mas havia também o Jardim Público, antigo Jardim Botânico (1825), a Casa de Correção (c.1840- c.1870), penitenciária provincial, e o Seminário Episcopal (1853- c.1860).

    As primeiras residências paulistanas a chamar a atenção por seu estilo arquitetônico foram a do Conselheiro Fidélis Nepomuceno Prates (1857- c.1860), erguida na Rua do Comércio da Luz (Avenida Tiradentes), e a de José Maria Gavião Peixoto (1858-1860), sita na esquina da Rua Alegre (Brigadeiro Tobias) com a Rua Episcopal (Washington Luís), ambas concebidas segundo os padrões do Neoclassicismo que nos chegava da Corte. Com a mudança de Antônio Pais de Barros, grande fazendeiro de café em Rio Claro e 1°Barão de Piracicaba, para a proximidade da Estação da Luz, por volta de 1870, começam a se transferir para as vizinhanças vários outros personagens importantes do interior, em geral parentes e afins, que transformarão as imediações da Estação da Luz naquilo que Yan de Almeida Prado chamaria em 1929 de “Vieille Roche Paulista”. Segundo um estudo nosso publicado nos Anais do Museu Paulista 2, várias foram as residências burguesas dignas de nota, algumas bastante suntuosas, erguidas ao longo dos velhos caminhos que conduziam à Luz (Rua Brigadeiro Tobias e Florêncio da Abreu) durante os anos 70, 80 e 90 do oitocentismo. Residências em geral ocupadas por membros de um mesmo clã, que incluía sobrenomes como Sousa Queirós, Sousa Barros, Aguiar de Barros, Pais de Barros e Paula Sousa, entre outros.

    Na passagem do século XIX para o XX, podemos notar algumas grandes mudanças se desencadeando na área da Luz. A substituição da pequena estação por um edifício vasto e portentoso, promovida nos últimos anos dos Oitocentos, onde hoje funciona o Museu da Língua Portuguesa, indica que a atividade ferroviária atingia então seu clímax, pondo sem dúvida em perigo o sossego dos moradores vizinhos.

    Os padrões urbanísticos aceitáveis para bairros residenciais de elite também haviam mudado radicalmente naqueles anos. Os abonados procuravam agora extensos terrenos arborizados, localizados em lugares altos e bem arejados, como o bairro de Higienópolis, a região da Avenida Paulista e até mesmo o bairro da Liberdade. Por isso começaram a deixar em grandes levas a região da Luz, fazendo com que as velhas mansões principiassem a decair. A casa de Fidélis Nepomuceno Prates, por exemplo, que chegou a pertencer ao Marquês de Três Rios (1877-1893), foi escolhida para sediar a recém-inaugurada Escola Politécnica (1894). No quintal dela seriam depois erguidos outros prédios dessa escola, conforme projetos do escritório técnico de Ramos de Azevedo, entre eles o que abriga atualmente o Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, antigo Edifício de Eletrotécnica.

    A área fronteira ao Jardim da Luz, por sua vez, foi cedida pelo Estado para a construção do edificio do Liceu de Artes e Ofícios (1897), de autoria do arquiteto Ramos de Azevedo. Por ser muito ambiciosa, a construção acabou ficando inacabada e hoje, adaptada, é ocupada pela Pinacoteca do Estado. No lado esquerdo desse prédio, construiu-se entre 1893 e 1895 o Grupo Escolar Prudente de Morais, também segundo projeto de Ramos de Azevedo, mais tarde destruído por um incêndio. Do lado oposto da Avenida Tiradentes, no ocaso do Império, foi erigido o Quartel dos Permanentes (1887-1892), atual sede do 1° Batalhão de Polícia de Choque (conhecido como Batalhão Tobias de Aguiar), obra do mesmo Ramos de Azevedo. Essa construção mostrou-se tão importante para a região, que acabou aglutinando em suas proximidades outras tantas construções de tipo militar, entre elas o Hospital Militar da Força Pública (1896), de autoria do onipresente Ramos de Azevedo, onde hoje funciona o Museu de Polícia Militar do Estado de São Paulo.

    Uma imagem tirada da Avenida Tiradentes pelo fotógrafo suíço Guilherme Gaensly por volta de 1900, mostra-nos que a velha estrada por onde passavam tropas rumo ao norte se transformara numa bela avenida, larga e densamente arborizada, ladeada de residências confortáveis e edifícios públicos bem cuidados.

    O futuro do bairro infelizmente não persistiria nessa direção. Durante a primeira parte do século XX, a aparência da avenida se deterioraria rapidamente, em função da expansão da atividade fabril do bairro e, sobretudo, da presença do tráfego pesado gerado pelo transporte motorizado. De fato, todo o bairro da Luz se ressentiria dessa nova situação. Hoje a Avenida Tiradentes divide o bairro em duas partes, praticamente sem comunicação. A parte da Luz confinada entre a Tiradentes e o Rio Tamanduateí, por ter sido durante tanto tempo uma zona alagadiça, deu origem a uma ocupação mista, composta de modestas construções residenciais, comercias e industriais, das quais sobrevivem inúmeros exemplares, em diferentes graus de conservação (entre eles, a famosa Vila Economizadora, de 1907). Há nesse setor uma atividade econômica tradicional, de caráter específico – comercialização de vestidos de noiva –, na Rua São Caetano e adjacências. Em contrapartida, o lado esquerdo da Avenida Tiradentes tende a integrar-se hoje no vizinho bairro do Bom Retiro.

    Este último manteve-se como chácara até os anos de 1880. Um de seus proprietários, o tenente-coronel Jerônimo José de Andrade, já possuidor dessas terras desde ao menos 1833, foi quem teve provavelmente a idéia de aproveitar o ótimo barro local e fundar uma olaria, que, depois (1859) passou a ser movida a vapor, por iniciativa de seu filho, Dr.José Maria de Andrade, tornando-se a conhecida Olaria do Bom Retiro, produtora de tijolos afamados. Em 1869 encontrava-se a olaria nas mãos do Dr. João Ribeiro da Silva, advogado e empresário, que, em 1875, criou uma outra fabrica, de elementos arquitetônicos feitos de cimento moldado, na época chamados de “pedra artificial”. Desde 1881, Manfred Meyer, o novo dono da chácara, vinha oferecendo terrenos de sua propriedade para que a Câmara pudesse estabelecer a desejada ligação viária entre diferentes bairros vizinhos que então se desenvolviam ao mesmo tempo, Luz, Bom Retiro e Campos Elísios, e, em 1888, o Marquês de Três Rios abria ruas em sua “Vila Marquês de Três Rios”, situada entre a Luz e o Bom Retiro.

    Anos mais tarde, Manfred Meyer começa a comercializar as terras baratas mais próximas da várzea para os grossos contingentes de imigrantes de origem italiana que chegavam à Capital. O empresário Henrique Raffard chegou a ser testemunha em 1890 do nascimento de mais um bairro operário paulistano, o Bom Retiro. Casas modestas, pequeno comércio e serviços construídos por italianos, em meio a fábricas e depósitos postados ao longo da estrada de ferro, tornaram o Bom Retiro em tudo semelhante a outros bairros proletários da Capital, o Brás e a Mooca, principalmente, ou a extensas porções do próprio bairro da Luz.

    A pequena parte pertencente ao engenheiro americano Charles D. Dulley, engenheiro chefe da ferrovia de São Paulo ao Rio de Janeiro (1877), seria loteada em 1904, de acordo com uma planta hoje depositada no AHMWL. A propriedade tinha por limites as Ruas Correia de Mello, Ribeiro de Lima, da Graça, Silva Pinto e Guarani, e nela seriam construídos dois importantes edifícios: a Escola de Farmácia de São Paulo (1905), que hoje sedia a Oficina Cultural Oswald de Andrade, e o Colégio Santa Inês (1907), estabelecido num amplo e belo edifício de linhas art nouveau.

    A partir dos últimos anos do século XIX, começaram a chegar os primeiros judeus ao Bom Retiro. Dizem que foram atraídos para região em razão de o loteador dos terrenos locais, Manfred Mayer, ser ele também de origem judaica. Provenientes da Europa Central, trabalhavam a princípio como mascates, mas logo prosperaram e passaram a se dedicar ao comércio popular de roupas feitas. Em vinte anos, a parte desse bairro mais próxima à Luz assumiu um perfil caracteristicamente judaico, com escolas, sinagogas, mercearias, restaurantes e judeus ortodoxos cruzando as ruas em seus trajes peculiares. A partir da José Paulino, ruas inteiras acabaram tomadas por lojinhas, abarrotadas de confecções empilhadas em prateleiras ou expostas junto às portas de entrada, e vendidas a bom preço, tanto no atacado como no varejo. Só muito recentemente, nos últimos 10 anos, as lojas ganharam em refinamento, sendo hoje os artigos locais facilmente encontráveis em vitrinas de lojas caras situadas em shoppings de bairros nobres.

    Desde algum tempo, porém, os judeus vêm abandonando o Bom Retiro. Mudam-se para lugares mais elegantes, como os bairros de Higienópolis e Perdizes. Na verdade, estão sendo substituídos pelos coreanos, que passaram a abrir lojas e fábricas de confecção na região a partir dos anos 70 do século passado. Hoje já contam com algumas igrejas e muitos restaurantes no local. E para se sujeitar como mão-de-obra barata nas confecções desses coreanos vieram os bolivianos e os peruanos, grupos imigrantes que hoje crescem rapidamente na região.

    O Bom Retiro apresenta atualmente uma mistura particular de uso residencial, com muitos edifícios de apartamentos datados dos anos 50 e 60, em meio a várias ruas bastante agitadas, inteiramente dedicadas à produção e comercialização de roupas e congêneres, ao lado de inúmeros serviços. Paira no ar um certo desleixo simpático, com predios antiquados e mal conservados nas ruas menos movimentadas. É de fato um bairro que está sendo poupado pelo setor imobiliário, que sem dúvida o encara como reserva de mercado. Bem localizado e provido de toda infra-estrutura, tem tudo para entrar dentro de alguns anos em plena transformação.

    Além disso, Luz e Bom Retiro são bairros contíguos que, sob certos aspectos, apresentam características comuns. É notável, por exemplo, o grande número de instituições culturais que se acham instaladas em edifícios de grande valor histórico-arquitetônico espalhados por toda a região. O evento denominado ENCONTRO DE TRABALHO: Área Luz – ações educativas, cuja primeira edição o Arquivo Histórico Municipal promove ao longo do presente mês de novembro, têm por objetivo integrar mais de vinte dessas instituições, atuantes na região da Luz, do Bom Retiro e circunvizinhanças. Os trabalhos que vêm sendo desenvolvidos visam estabelecer a médio prazo projetos articulados que permitam não só discutir o cumprimento das funções primeiras das entidades (pesquisa, guarda, conservação e difusão da memória urbana), mas ainda programas de treinamento de mão-de-obra especializada em todas as suas especialidades, com interesse por ações que interem essa mão-de-obra com unidades de ensino estabelecidas nas imediações e propostas de inclusão social.

    Eudes Campos


    Notas bibliográficas:
    1. CAMPOS, Eudes. A vila de São Paulo do Campo e seus caminhos. Revista do Arquivo Municipal. São Paulo, DPH, p. 13-36, n.204, dez.2006. (no prelo). retorno
    2. ______. Nos caminhos da Luz, antigos palacetes da elite paulistana. Anais do Museu Paulista: História e cultura material. São Paulo, Museu Paulista, p.11-57, v.13, jan - jun. 2005. retorno

    Bibliografia:
    • CAMPOS, Eudes. São Paulo: desenvolvimento urbano e arquitetura sob o Império. In: PORTA, Paula (org.). História da cidade de São Paulo. São Paulo: Paz e Terra, 2004.3v. v.2, p. 187-249.





  • MANUSCRITOS

  • O Muro da Discórdia do Bom Retiro
    ou um grileiro na várzea do Bom Retiro



    Entre a documentação conservada no AHMWL, encontram-se curiosas informações sobre um imigrante português que tentou ampliar, desonestamente, suas terras à custa de propriedades alheias. Ao requerer a licença da Prefeitura Municipal para a construção de um muro no ano de 1916, o cidadão Manuel Alves Garrido acabou por chamar a atenção das autoridades e dos moradores da região do Bom Retiro para diversas irregularidades por ele cometidas.

    Aproveitando-se do fato de seu terreno se localizar na várzea do Bom Retiro, em área pouco ocupada, expandiu aos poucos os limites dele, servindo-se das cheias do Rio Tietê. A cada estação das chuvas, deslocava com facilidade e discrição as estacas de madeira de seu cercado, assim, ao final do período de cheia, sua propriedade adquiria nova configuração e metragem.

    Cercas construídas durante as cheias do Tietê
    Cercas construídas durante as cheias do Tietê - Processo n.º 151126/1916 – Diretoria do Patrimônio, Estatística e Arquivo.
    Fundo PMSP – Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

    A ocupação indevida ocorreu não só em terras públicas, mas também em terrenos particulares, pertencentes a vizinhos. Esses apenas vieram a se dar conta do que ocorria quando Garrido, sem a devida licença da municipalidade, iniciou a construção do muro, fechando por completo o prolongamento da Rua Sólon e isolando cerca de quinze construções aí existentes, inclusive o acesso à chácara de Antônio Roccetti, que recorreu à Prefeitura solicitando o imediato embargo da obra. Muro construído por Manuel Alves Garrido
    Foto do muro construído por Manuel Alves Garrido, vedando por completo o acesso de moradores ao prolongamento da Rua Sólon.
    Processo n.º 151126/1916 – Diretoria do Patrimônio, Estatística e Arquivo.
    Fundo PMSP – Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

    O conflito entre os dois vizinhos havia-se iniciado de fato em 1910, quando Roccetti deu início a uma Ação Ordinária de Reivindicação na Justiça, por ter notado a invasão de suas terras pelo esperto vizinho. O fechamento da rua provocou também abaixo-assinados por parte dos moradores, impedidos de ter acesso à Rua Sólon.

    No final do processo, Manuel Alves Garrido foi obrigado a devolver aos legítimos donos as terras que ocupou indevidamente: cerca de 100.000 metros quadrados de terrenos municipais e 15.000 de terrenos particulares.


    Guido Gustavo Venturini Flud Alvarenga
    Seção Técnica de Manuscritos

    Notas:
    1. Pedido de embargo da construção do muro enviado por Victor Mercado, advogado de Antonio Roccetti e sua mulher. - Processo n.º 151126/1916 – Diretoria do Patrimônio, Estatística e Arquivo – Fundo PMSP – Arquivo Histórico Municipal Washington Luís. retorno
    2. Despacho da Diretoria de Obras e Viação de 10/08/1916 indicando o embargo da obra. - Processo n.º 151126/1916 – Diretoria do Patrimônio, Estatística e Arquivo – Fundo PMSP – Arquivo Histórico Municipal Washington Luís. retorno

    Serviços: A Seção Técnica de Manuscritos atende de segunda-feira à sábado, das 9 às 17 horas.


  • INTERCÂMBIO

  • Preservação do acervo de plantas do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís

    O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES – Ação Cultural, no Programa de Apoio a Projetos de Preservação de Acervos, apóia a modernização de museus, arquivos e bibliotecas, visando a preservação e segurança de seus acervos e a melhoria das condições de atendimento e acesso ao público.

    No final de outubro, o AHMWL enviou o projeto Preservação do acervo de plantas do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís, que visa preservar o acervo de plantas do AHMWL através da microfilmagem e do tratamento arquivístico adequado, que consiste na identificação e catalogação das plantas em base de dados eletrônica. Desta forma, as informações completas tornar-se-ão acessíveis nos terminais de consulta do AHMWL e a relação completa do acervo em questão poderá ser consultada também através da Internet.

    Do conjunto de aproximadamente 10.000 documentos, formado por plantas, mapas, projetos arquitetônicos e desenhos diversos da cidade de São Paulo, podemos citar:
    • a Coleção Sara Brasil (1929-1930), cartografia da cidade de São Paulo, resultante do primeiro levantamento aerofotogramétrico encomendado pela Prefeitura Municipal;
    • o Fundo IV Centenário, que inclui as propostas para construção do Parque do Ibirapuera;
    • o Fundo da Prefeitura Municipal de São Paulo, que contém plantas de bairros e cemitérios, projetos de linhas de bondes, estações ferroviárias, edifícios públicos, praças e do Autódromo de Interlagos;
    • o fundo Severo & Villares, doado por esta empresa ao AHMWL, valioso conjunto de plantas técnicas, desenhos de fachadas e detalhes construtivos dos principais edifícios projetados e executados pelo antigo escritório técnico de Ramos de Azevedo: Teatro Municipal, Mercado Municipal, Correios e Telégrafos, Palácio das Indústrias, Secretaria da Agricultura e Estádio Paulo Machado de Carvalho (Pacaembu).
    Os mapas e as plantas datam do século XIX e vão até o ano de 1977. Há plantas manuscritas e impressas sobre suportes como papel linho, papel vegetal, entre outros. Com a consulta aos microfilmes, os originais, fragilizados, serão preservados do manuseio, da exposição à luz e à poeira, e das demais interferências que contribuem para sua deterioração.

    Pretende-se, assim, garantir a disponibilidade de seu conteúdo à comunidade e a longevidade dos materiais, melhorar as condições de acesso à informação e preservar seu valor histórico.

    Maria Bonafé
    Seção Técnica de Intercâmbio
    intercambioarquivohistorico@prefeitura.sp.gov.br
    mbonafe@prefeitura.sp.gov.br
    tel: 011-3326-1010 ramal 2057 fax: ramal 2054




  • RESTAURO EM PAPEL

  • A Conservação dos Registros de Sepultamento dos Cemitérios Municipais

    Caixa

    De outubro de 2006 a outubro de 2007, com o apoio financeiro do Programa Caixa de Adoção de Entidades Culturais e sob a coordenação da restauradora Ingrid Beck, os funcionários da Seção de Restauração e Encadernação e técnicos contratados, realizarão o trabalho de consolidação do papel e reencadernação de 110 livros de registros de sepultamento de três cemitérios do município de São Paulo: Consolação, Brás e Araçá (1858 a 1941).

    Os livros em questão, pertencentes ao conjunto documental Serviço Funerário Municipal, parte integrante do acervo do Arquivo Histórico Municipal, constituem riquíssima fonte de informações para a produção de conhecimento nas áreas de Ciências Humanas e da Saúde. São também muito consultados por cidadãos em busca dos registros sobre os seus antepassados, datas de exumações, propriedades de sepulturas e concessões de terrenos nos cemitérios.

    O manuseio freqüente, a exposição sistemática à luz e à poluição, as condições de acondicionamento nem sempre adequadas nos locais de origem, as características dos materiais constitutivos destes manuscritos originais, integram fatores que aceleram o processo de deterioração do papel, da tinta e da encadernação, conduzindo a um processo irreversível de perda da informação. O objetivo das ações previstas neste projeto é retardar este processo visando a preservação do conteúdo destes registros de sepultamento.

    Maria Isabel Garcia
    Marcia Aparecida de Freitas Rigoni
    Ruthe Helena de Camargo Ferreira
    Sheila Cypukovas




  • CCAD

  • CCAD: atividades no período - setembro a outubro

    Realizou-se no período uma reunião entre membros da CCAD – Comissão Central de Avaliação de Documentos e CSA – Comissões Setoriais.

    Em 29 de setembro, a CCAD orientou e esclareceu dúvidas sobre a elaboração de proposta de Tabela de Temporalidade – Atividades-Fim, da Secretaria Municipal de Educação em conjunto com membros da CSA de SME.

    Neste mesmo período foram nomeadas ou alteradas as seguintes Comissões Setoriais de Avaliação de Documentos:
    • Substituição de membros da CSA da Secretaria Municipal de Gestão, através da Portaria n° 062/2006, publicada do DOC de 29/9/06, p. 4.
    • CSA da Secretaria Municipal de Cultura, através da Portaria n° 069/2006 – Secretário Municipal de Cultura, publicada no Diário Oficial da Cidade de São Paulo em 10/10/06, p. 15;

    CCAD – COMISSÃO CENTRAL DE AVALIAÇÃO DE DOCUMENTOS

    A CCAD – Comissão Central de Avaliação de Documentos encaminhou ao gabinete de SMG, em 10 de outubro de 2006, Tabela de Temporalidade Atividades-Meio juntamente com texto justificativo para sua publicação no DOC e, findo o prazo legal, posterior oficialização.

    A Tabela de Temporalidade Atividades-Meio contempla documentação comum a todos os órgãos e entidades da Administração direta e indireta, com exceção das séries documentais referentes a recursos humanos e finanças. Foi elaborada conforme modelo apresentado no Decreto Municipal nº 46.400 de 28/9/05.




  • Educativo
        (Serviço)

  • ENCONTRO DE TRABALHO: Área Luz - ações educativas

    Em novembro, o AHMWL promove a primeira edição do Encontro de Trabalho: Área Luz, dedicada à discussão de ações educativas desenvolvidas pelas diversas entidades culturais atuantes nas regiões da Luz e do Bom Retiro.

    O programa está estruturado em três núcleos temáticos: memória urbana, acervos de artes visuais e patrimônio imaterial. As respectivas mesas serão compostas por representantes das principais entidades de cada especialidade atuantes na região, com a participação de observadores de instituições do mesmo segmento que irão comentar e debater os temas apresentados. O Encontro encerra-se com uma plenária geral para avaliação de projetos e oportunidades de desenvolvimento de ações articuladas.

    O Encontro, dirigido diretamente às equipes técnicas dessas instituições, será realizado às segundas-feiras, das 14:00 às 18:00, nos seguintes dias e locais:
    • 06.11.2006 - AHMWL
    • 13.11.2006 - Museu da Língua Portuguesa
    • 20.11.2006 - Oficina Cultural Oswald de Andrade e
    • 27.11.2006 - Estação Pinacoteca.
    As apresentações estarão disponíveis ao final de dezembro no site do projeto: http://arealuz.incubadora.fapesp.br


    Para agendar visitas monitoradas, utilize o e-mail:
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  • LINKS APOIO





  • Mapa de localização
    Mapa de localização AHMWL

    Serviços: Visita Monitorada - O Edifício Ramos de Azevedo, projetado pelo escritório técnico de Ramos de Azevedo, foi inaugurado em 17 de abril de 1920 para receber os cursos de eletrotécnica e mecânica da Escola Politécnica. A partir de dezembro de 1999 tornou-se sede do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís (DPH), da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo.


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    AHMWL
    Pr.Cel Fernando Prestes n.152
    São Paulo - SP
    01124-060


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    Acesso
    Metrô Tiradentes


    funcionamento:
    segunda-sábado
    9:00-17:00













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    Prefeitura da Cidade de São Paulo - 2005-2006 (c)



    DPH


    SECRETARIA DE CULTURA


    Cidade de São Paulo


    Gilberto Kassab
    Prefeito da Cidade de São Paulo

    Carlos Augusto Calil
    Secretário de Cultura

    José Roberto Neffa Sadek
    Secretário Adjunto

    Paulo Rodrigues
    Chefe de Gabinete

    Walter Pires
    Departamento do Patrimônio Histórico

    Liliane Schrank Lehmann
    Divisão do Arquivo Histórico Municipal "Washington Luís"