LOGRADOUROS
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Vila Economizadora
COMO OPERA A ECONOMISADORA ?
Transcrição de texto encontrado em folheto publicitário,
lançado por volta de 1913.
A “Economisadora Paulista” é uma caixa de pensões vitalicias, no genero das sociedades chamadas chatelusianas1, espalhadas hoje por todo o mundo, sendo a mais importante a “Les Prevoyants de l’ Avenir”, de Paris, que conta 600:000 socios e um capital de pensões de quase 90 milhões de francos.
A “Economisadora Paulista” completou cinco annos de existencia em dezoito de Março de 1913. Foi fundada em 20 de Outubro de 1907, só tendo iniciado as suas operações em 18 de Março de 1908, depois de approvada pelo Governo Federal.
Concorreu a quatro Congressos de Mutualismo e em todos obteve a premio de Medalha de Ouro, sendo que trez desses Congressos realizaram-se na Europa: em Turim (Italia), em Madrid, (Hespanha) e em Gand, (Belgica) e um no Brazil em São Paulo, o qual foi promovido pelo Dr. Claudio de Souza, Director da Economisadora Paulista.
Tem um deposito de garantia de 200:000$000 no Thesouro Federal.
A 1ª VILLA DA ECONOMISADORA PAULISTA
Figuram neste album diversas vistas da “Villa da Economisadora Paulista” que é a mais monumental e a mais completa das construcções collectivas de S. Paulo, cidade que está indubitavelmente collocada entre as mais bellas e as mais adiantadas da America do Sul. É uma verdadeira cidadella, ladeada por duas avenidas, a Av. Tamanduatehy e a Av. Cantareira e por uma arteria commmercial importantissima, como seja, a Rua S. Caetano, que une a parte alta e a parte baixa da cidade. No fundo passam as linhas da S. Paulo Railway, elevadas sobre viaducto, dando ao local uma nota pitoresca e movimentada.
Interiormente a “1.ª Villa da Economisadora Paulista” é cortada por uma rua longitudinal, a rua da “Economisadora” e por quatro ruas transversaes, das quaes foram dados os nomes dos membros da primeira directoria da “Economisadora”, Senador Luiz Pisa, Dr. Claudio de Souza, Dr. Gabriel Dias da Silva e Commendador Leoncio Gurgel.
As casas obedecem a typos differentes e de alugueis diversos. Temos o typo B operario, para 55 $ mensaes, com água; os typos A C e D que se compõem de uma sala de visitas, tres dormitorios, uma sala de jantar, banheiro, cosinha e quintal, aos preços de 115 $ e 120 $ mensaes; o typo E que quase igual ao anterior com uma sala de jantar muito espaçosa, a 110 $; temos o typo das casas F, da Rua Dr. Claudio de Souza, elegantes, solidas, e bem divididas, com uma bella entrada de portão, abrigada por uma “marquise” de vidro, a 90$ por mes; o typo E da mesma rua, casas magníficas para familias de tratamento a 120 $; o typo G da Rua S. Caetano para familias de cinco pessoas, a 140 $ por mes e o typo H, com frente para a mesma rua, esplendidos armasens, aos preços de 160 $, 200 $ e 250 $; o typo J – escriptorio da Villa.
A “1.ª Villa da Economisadora Paulista” ficou muito economica, pela feliz operação que fizemos, adquirindo uma grande area de terreno, que depois de preparado, foi revendido em um de seus lados, ficando o excedente, uma vez completada a revenda, inteiramente de graça para a “Economisadora”.
No álbum publicitário distribuído na época do lançamento do empreendimento, por volta de 1913, as ilustrações vinham assinadas por Sacchetti, que é sem duvida José [Giuseppe] Sachetti, provável autor do projeto arquitetônico da Vila Economizadora, já que projetista da residência de um dos diretores da mútua, o castelinho da Brigadeiro Luís Antônio, com elementos de decoração art nouveau, hoje tombado e restaurado. (Sachetti também idealizou a Igreja de Nossa Senhora Aquiropita, na Rua 13 de Maio, no bairro da Bela Vista, e três construções residenciais contíguas, de estilo florentino, ainda existentes na Rua da Consolação, uma das quais, na esquina da Rua Visconde de Ouro Preto, adaptada para creche do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.) A execução ficou a cargo de Antonio Bocchini, construtor. No AHMWL acham-se arquivadas plantas parciais dessa vila, aprovadas pela Prefeitura no ano de 1910 (figs.1 a 2).
Com o intuito de conferir uma aura de modernidade ao empreendimento imobiliário – não muito atraente por estar erguido em região bastante afastada, sem bondes à porta –, recorreu-se a certos chamarizes arquitetônicos. Inovações formais, como o estilo Secessão Vienense e o Art Nouveau, por exemplo, compareciam em um ou outro ornato presente nas fachadas das casas da vila. Ou então foram adotadas em certos tipos de edificação pequenas marquises de vidro, igualmente consideradas complementos arquitetônicos elegantes e modernos. Numa das imagens do álbum, vê-se na entrada localizada na Rua São Caetano, um arco suportando luminárias, aparentemente feito de ferro forjado, que também exibia evidentes curvas Art Nouveau. Também o elemento decorativo formado por um círculo e três ranhuras paralelas, enfeitando pilares dos portões laterais e platibandas das casas, nada mais era que uma característica reinterpretação secessionista do elemento circular (escudo ou pátera) e dos tríglifos, de origem clássica, constantes nos entablamentos da ordem dórica (fig. 1 a 5).
Fig.1 a 5 - Vistas da Vila Economizadora, tal com se encontrava em 1978. Notar detalhes decorativos de inspiração secessionista.
Fotos: Leonardo Hatanaka
Acervo Sempla, imóveis Z8-200
Fig.2 - Vista da Vila Economizadora, 1978.
Fotos: Leonardo Hatanaka
Acervo Sempla, imóveis Z8-200
Fig.3 - Detalhe de casa na rua Economizadora, 1978.
Fotos: Leonardo Hatanaka
Acervo Sempla, imóveis Z8-200
Fig.4 - Detalhe das casas n.5 e 17 à Rua Economizadora, 1978.
Fotos: Leonardo Hatanaka
Acervo Sempla, imóveis Z8-200
Fig.5 - Detalhe de casa da Vila Economizadora, 1978.
Fotos: Leonardo Hatanaka
Acervo Sempla, imóveis Z8-200
O álbum publicitário aqui analisado recorria ainda a outros ardis, com a intenção de explorar a boa-fé dos possíveis locatários. As ilustrações eram guarnecidas com molduras e vinhetas de estilos Secessão e Art Nouveau, características formais que, como vimos, transmitiam a sensação de algo novo e moderno (fig. 6). É notável também a tentativa de glamorização da área adjacente ao conjunto residencial que aparecia na vista geral apreciada a partir do Rio Tamanduateí (fig. 7). Na perspectiva, as margens do rio foram representadas convenientemente urbanizadas, bordejadas por fileiras de árvores e canteiros gramados, algo que de fato nunca existiu. No texto, fica ainda patente a tentativa de mostrar como positivo um aspecto que só poderia ser considerado como altamente negativo: a contigüidade do conjunto habitacional com a linha férrea da Santos e Jundiaí. O viaduto existente nas proximidades era interpretado como marca de “pitoresco e movimento”, quando na realidade não passava de um fator de intensa
perturbação ambiental, sobretudo acústica. Isso sem mencionar o fato, logicamente omitido no texto publicitário, de estar situada a vila em zona sujeita a inundações, em plena várzea do Tamanduateí.
Fig.6 - Detalhe do panfleto publicitário da Vila Economizadora, c.1913, mostrando vinhetas de inspiração secessionista.
Fonte: LEMOS, 1985 2.
Fig.7 - Vista geral da Vila Economizadora,
como aparece no panfleto publicitário da época.
Fonte: TOLEDO, 1986 3.
Fig.8 - Planta geral da Vila Economizadora,
como aparece no panfleto publicitário da época.
Fonte: TOLEDO, 1986.
De um modo geral, o conjunto habitacional destinava-se à classe trabalhadora e à classe média, sendo composto de 134 unidades entre residências e armazéns. Havia 71 casas muito simples, de tipo B, de padrão operário conforme a lei então em vigor, constituídas de apenas três compartimentos – quarto, sala de jantar (ou outro quarto) e cozinha, com latrina externa –, ao lado de casas com melhor padrão, tipo A (10), C (7), D (7), E (25), F (3) e G (20), com sala de visitas e sala de jantar (ao que parece, o tipo E dispunha apenas de uma sala de jantar, de dimensões um pouco maiores que a dos outros tipos), dois ou três dormitórios, cozinha e banheiro interno, podendo atingir algumas delas a metragem considerável de 160 m2 (fig.8).
Em 1935, o conjunto foi adquirido por um industrial de origem italiana, o comendador João Ugliengo, então presidente do Moinho Santista, de quem existe um busto instalado numa das esquinas do lugar, sendo que, após a compra, os imóveis da vila continuaram a ser locados.
Eudes Campos
Seção Técnica de Estudos e Pesquisas
Fig.9 - Projeto para Vila Economizadora, 1910.
Casas do tipo G e edifício de uso misto
(comercial e residencial) de tipo H.
Acervo AHMWL/DPH/SMC/PMSP
Fig.10 - Projeto para Vila Economizadora, 1910.
Casa do tipo A com dois dormitórios
Acervo AHMWL/DPH/SMC/PMSP
Notas
- Chatelusiana - associação que tem por objetivo a prática da poupança na base da mutualidade e com a condição de perderem seus associados, em caso de falecimento ou baixa voluntária ou forçada, conforme os estatutos, todo o direito de participar no capital ou na renda que chegue a acumular com a poupança de todos. Diferencia-se da tontina ou da mista, porque nela o capital se conserva e acumula indefinidamente com os novos aportes e só se distribui a renda aos que cumprem determinadas condições (nota do Autor).
Volta
- LEMOS, Carlos A. C. Alvenaria Burguesa. São Paulo: Nobel, 1985.
Volta
- TOLEDO, Benedito Lima. Prestes Maia. São Paulo: Empresa das Artes, 1996.
Volta
Para citação adote:
CAMPOS, Eudes. Vila Economizadora.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL, 4 (19): jul/ago.2008 <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>
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interessados sobre nomes de logradouros paulistanos. A documentação está disponível para consulta através
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Conheça também o site
Dicionário de ruas (parceria AHMWL e Plamarc),
onde através de um banco de dados é possível realizar pesquisas sobre denominações de logradouros paulistanos.
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