PMSP/SMC
São Paulo, novembro de 2013
Ano 9 N.34 

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  • ENSAIO TEMÁTICO
  • São Paulo – das Intendências à Prefeitura

    A constituição dos projetos de cidade pelo viés da saúde e higiene (1890-1911)




    | São Paulo antiga | Pequeno panorama | Regime republicano | Adm. Antonio Prado | Fontes |


    São Paulo sob a administração de Antonio da Silva Prado:
    um prefeito e um projeto de cidade


    É com o tom de deslumbramento e aprovação dos sinais de progresso apresentados pela pauliceia que o jornalista carioca Alfredo Moreira Pinto relata suas impressões acerca da cidade. Tal qual outros escritores e memorialistas que passaram por São Paulo no limiar do século XIX para o XX, os progressos materiais da cidade e suas transformações urbanísticas eram traços fundamentais a serem evocados na construção de suas representações.

    Conforme aponta a historiadora Margareth Rago, esses relatos buscavam construir uma representação harmoniosa da cidade “apagando de suas descrições os traços de conflito e repressão, apegava-se a uma percepção unilateral da cidade, construída como cartão postal, diferindo radicalmente dos registros dos jornais operários ou dos relatórios policiais, em que se alardeavam os altos custos do progresso”27.

    Em 1899 a administração da cidade sai exclusivamente das mãos das Intendências Municipais indo para a recém-criada Prefeitura28. Administrada por “um único vereador, sob a denominação de prefeito municipal”, a prefeitura se constituiu numa entidade composta por uma Secretaria Geral à qual se subordinavam três repartições (Obras, Justiça e Polícia e Higiene) e o Tesouro Municipal. Em tese, a estrutura administrativa mantida foi a mesma das antigas intendências.

    O primeiro prefeito de São Paulo foi o conselheiro Antonio da Silva Prado29. Eleito pelos seus pares, Prado buscou dar continuidade às ações perpetradas por seus antecessores, tendo como objetivo central de sua gestão tornar a cidade um espaço urbano moderno com "ares parisienses". Para tanto, suas ações voltam-se para atender as demandas e expectativas da burguesia cafeeira “que vinha de um recente passado escravocrata [e precisava se livrar desse estigma posando de] civilizada e liberal”30.

    De fato, Antonio Prado dava continuidade à administração dos intendentes na exclusão das classes pobres, objetivando um projeto de cidade voltado para as classes dominantes pautado no modelo europeu de desenvolvimento moderno. No entanto, além das continuidades haviam as rupturas: no que concerne aos serviços de saúde municipais, Prado operou uma mudança significativa nessa área ao abrir mão dos médicos que trabalhavam na antiga Intendência de Polícia e Higiene. Assim sendo, a Seção de Polícia e Higiene teve suas atribuições reduzidas em relação as funções delegadas anteriormente à antiga Intendência transformando o serviço de saúde e higiene em um órgão meramente de fiscalização policialesca. A retirada dos médicos da instituição significou a saída da medicina científica do âmbito do desenvolvimento de um aparato municipal que se voltasse para a criação e desenvolvimento de espaços de estudo e aplicação do saber médico científico. Essas ações ficaram confiadas somente ao Serviço Sanitário Estadual aumentando assim, a subordinação do município a esfera estadual de poder.

    Não podemos esquecer que o desenvolvimento de laboratórios de análises, centros de pesquisa e demais aparatos médicos não impediria que as ações de fiscalização da higiene pública fossem feitas de forma autoritária, policialesca, afinal, o saber médico também busca interferir de forma autoritária no espaço e nos indivíduos utilizando como justificativa para tal o discurso competente conferido aos representantes das ciências modernas.



    Apesar de conseguirmos apreender as propostas e as visões de mundo que norteiam os projetos de cidade vislumbrados por Antonio Prado e seus antecessores, os relatórios de intendente/prefeito nos trazem somente a voz uníssona de um sujeito que não deixa transparecer as diferentes São Paulo contidas em uma só, apenas a São Paulo que ele enxerga e projeta para o futuro.

    Nesse sentido a fala da historiadora Déa Fenelon é importantíssima para “reafirmarmos a ideia de que a cidade nunca deve surgir apenas como um conceito urbanístico ou político, e por isso representa e constitui muito mais que o simples espaço de manipulação do poder...”32. A cidade não é somente um espaço de dominação política, é também lugar de resistência. É preciso construir estratégias cotidianas para sobreviver nesse espaço marcado por disputas, tensões e muitas vezes, conciliações.

    Se vimos que as relações forjadas dentro de uma mesma elite administrativa no município era conflituosa, tão ou mais conflituosa e tensa era a relação desses órgãos com a população paulistana. Apesar de excluídas das políticas públicas de embelezamento e ocupação das áreas centrais de São Paulo, a população pobre encontrava meios de resistir às imposições advindas da legislação sanitária e urbanística e de queixar-se contra as ações arbitrárias e “descasos” do poder público. Porém isso é tema para outro artigo, afinal, não será em poucas linhas que conseguiremos expor toda a complexidade contida neste assunto. Por isso, caros leitores, vocês terão de esperar até que cenas do próximo capítulo sejam reveladas!


    Karla Maestrini
    historiadora


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    | São Paulo antiga | Pequeno panorama | Regime republicano | Adm. Antonio Prado | Fontes |





    Para citação adote:

    MAESTRINI, Karla. São Paulo – das Intendências à Prefeitura:
    a constituição dos projetos de cidade pelo viés da saúde e higiene (1890-1911).
    INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 8 (34): nov.2013
    <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>

     
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