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PMSP/SMC/DPH
São Paulo, novembro/dezembro de 2008
Ano 4 N.21  

Abertura | O Arquivo e sua sede | Ed. Ramos-Histórico & Arquitetura | Intervenções | Restauro 1991 | Restauro 2007 | Bibliografia


Primeira intervenção: Edifício Ramos de Azevedo, 1988


Em setembro de 1988, o Edifício Ramos é desocupado finalmente pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia. Têm início imediato dois processos, que procuram atender a demandas específicas: primeiro, as obras emergenciais na cobertura e, segundo, o desenvolvimento de propostas de uso da edificação.

Assinado o Compromisso de Compra e Venda, em setembro de 1987, o prefeito Jânio Quadros determina no mês seguinte a destinação do edifício para a Pinacoteca Municipal. O processo de aquisição, que visava atender às necessidades de transferência imediata do Arquivo Histórico Municipal de suas instalações na rua da Consolação, teria alterado seu propósito já na aprovação pela Câmara em 19 de junho de 1987, pela lei nº 10.331, ao ter vetado pelo Executivo o artigo 4 que determinava seu uso pela instituição.

A ordem do prefeito, criando e reservando verbas mínimas para um novo serviço, seria acompanhada da decisão de destinar ao Arquivo Histórico o uso de dependências do Centro Cultural São Paulo, em parte inacabado, apesar de inaugurado em 1982.
    Memo JQ 3.677/87, de 26.10.87
    Dr. Renato Ferrari - SMC

  1. Como combinamos, a Pinacoteca Municipal será instalada e franqueada ao povo, no Edifício da antiga Escola Politécnica, o que [muito] agradará ao Reitor José Goldemberg. Com este propósito, mande Engenheiro verificar as reformas mínimas, porque desejo instalá-la, ainda em janeiro, possivelmente, no aniversário da cidade;
  2. Os arquivos municipais serão levados para o Centro Cultural, convenientemente adaptado para recebê-los, o que exige climatização;
  3. O item 1 tem precedência sobre o 2. Estime V. Exa. as despesas respectivas. Vamos recolher todo o acervo pictórico da Prefeitura, e reuni-lo naquele prédio;
  4. Aguardo a estimativa desses reparos, e prepare V. Exa. a coletânea das obras a serem retiradas de qualquer repartição municipal, inclusive do meu Gabinete.

    J. QUADROS, Prefeito.


    (publicado em DOM, 29.10.87, p.1)

A Pinacoteca Municipal

Como um breve parentêse seria relevante apresentar um resumo das ações tomadas ainda em 1988 para a implantação da Pinacoteca. Lembre-se que a mudança de administração no ano seguinte introduz uma nova perspectiva sobre o gerenciamento de acervos municipais com a proposta de criação da Casa da Memória Paulistana. A trajetória da Pinacoteca, porém, seguirá em outra direção, sob a tutela do Centro Cultural São Paulo.

O memorando JQ 4.983/88, de 5.9.1988, do senhor prefeito ao secretário municipal de cultura — Renato Ferrari — vem confirmar que o andamento não correspondeu à perspectiva original. Este breve episódio, que dá início a uma tentativa de organizar o acervo artístico, pode ser acompanhado pelo processo 16-004.698-88*00:
  1. Já determinei a instalação da Pinacoteca em prédio que adquirimos da Universidade;
  2. Existem lá máquinas que devem ser retiradas, de pronto;
  3. As reformas, eventualmente necessárias, serão sumaríssimas;
  4. Todas as telas do Patrimônio Municipal, serão reunidas nessa Pinacoteca e catalogadas. Sabemos que várias já desapareceram.
    (texto integral)
Um primeiro estudo, sem data, consta do processo às ff.12-23: Subsídios à restauração do Edifício Ramos de Azevedo com vistas à implantação da 'Pinacoteca Municipal'. Breve, o documento apresenta cinco folhas dedicadas ao tema, acompanhadas de três plantas com distribuição dos serviços, elaborado pela Divisão Técnica de Preservação (DPH/SMC) e um programa de uso, com quatro folhas. É possível recuperar em parte a condição da construção, como a existência de galpão anexo aos fundos, "que seria aproveitado" (ver foto abaixo), a obstrução da "iluminação zenital" do salão central e a existência de remanescentes da ocupação anterior como trilhos no subsolo, que poderiam ser adaptados em parte para transporte de cargas (1).

O programa de uso, anexo, apresenta o Projeto Museológico, elaborado pelo Instituto de Museologia de São Paulo. Contratado em fevereiro de 1988, por notória especialização, o instituto estava ligado à Fundação Escola de Sociologia e Política. Na verdade, uma proposta mais detalhada integra o processo às ff. 90 a 128: Um museu de arte para o município de São Paulo: projeto museológico. A equipe, coordenada pela prof.ª Dr.ª Waldisa Rússio Camargo Guarnieri, incorpora núcleos para Conservação, Ação Educativa e Cultural, Documentação Museológica e Segurança.

Há um amplo estudo, dentro da brevidade do prazo disponível para elaboração da proposta. A este soma-se outra longa análise, com 83 folhas, datado de fevereiro/março, do mesmo ano. Às avaliações anteriores sobre finalidade do novo museu, estudo de públicos, horários, ação museológica e estrutura técnico-administrativa e estudo do edifício, o novo texto acrescenta um Subprojeto de ação editorial adequado a UM MUSEU DE ARTE PARA A CIDADE DE SÃO PAULO.

Como documentos sobre o edifício, estes estudos, em especial o primeiro, trazem referências ao estado da edificação, como já mencionado. Indica mesmo a presença de problemas recorrentes no seu histórico (f.122 - "O museu e seu edifício"):
    O prédio, entretanto, sofreu, mais que a ação devastadora do tempo a do descaso e do maltrato.

    Há, em sua crônica, um descuido imperdoável, por exemplo, com seus telhados, sendo memorável o episódio de chuvas fortes, com goteiras, que, na década de 50 levaram a Bibliotecária do Instituto de Eletrotécnica, que aí se localizava, a empreender pesquisa e trabalho para a recuperação de cerca de mil exemplares de livros, sujeitos à ação das águas pluviais (goteiras e infiltrações).*


    (veja nota *: A experiência vem relatada no trabalho NOTAS SOBRE O MOFO NOS LIVROS E PAPÉIS, de Alice Camargo Guarnieri, publicado em 1981, na coleção 'Museu & Técnicas', do Projeto Museu da Indústria, da Secretária da Indústria, Comércio, Ciência e Tecnologia do Estado de São Paulo.
Vistorias

Com a saída do Instituto de Eletrotécnica, o processo registra a execução de uma vistoria no antigo edifício da Escola Politécnica em 9 de setembro de 1988 (ff.42-84) por Maria Luiza Dutra e Walter Arruda de Menezes - "arquitetos coordenadores dos projetos e supervisores das obras de reforma e restauração do Teatro Municipal de São Paulo".

O relatório, amplamente ilustrado, embora sucinto, apresenta uma descrição valiosa do estado em que se encontrava a construção, marcado pela deterioração das calhas e condutores verticais, o que gerou infiltrações de porte nas fachadas, com degradação severa das argamassas e perdas parciais. As instalações sanitárias haviam sofrido adaptações improvisadas, embora estivessem preservados elementos de louças originais (Pisos, azulejos, louças e metais são originais, cf.f.21). As instalações elétricas e de telefonia eram quase sempre gambiarras, inclusive há registro de alteração da iluminação zenital (de fato, da iluminação proveniente das lunetas da cúpula) e inclusive de uma lateral (sul), completamente vedados (f.39).


Edifício Ramos-1989-Acréscimos a serem removidos
Edifício Ramos-1989-Acréscimos a serem removidos
Acréscimos a serem removidos.
Edifício Ramos de Azevedo, 1988.
Estrutura metálica na parte posterior junto ao CADOPO.
Laje na parte posterior apoiada parcialmente na parede do anfiteatro.
Fonte: Relatório fotográfico Edif. Ramos de Azevedo Itauplan.
São Paulo: Acilon, 17.1989.


O relato avança e indica o resultado de uma ocupação pouco zelosa: Há instalações elétricas, hidráulicas e de telefonia 'concorrendo' com a decoração das fachadas. Some-se a isso a deterioração natural dos pisos de mármores das áreas de circulação e danos recentes causados pela equipe de mudança: a destruição completa dos três últimos degraus superiores da escada de mármore existente no vestíbulo de ingresso.


Obras emergenciais

Em 17 de novembro de 1988 o Banco Itaú e a Prefeitura assinam o Termo de Compromisso 13/SAR/88, visando a restauração do telhado do Edíficio Ramos (DOM, 22.11.1988; processo 10-021.435-88*93). Imediatamente, em 23 de novembro o banco assina com a empresa B elas Artes Rio Restaurações Ltda. o contrato de prestação de serviços com o prazo de 120 dias úteis para execução. As obras ocorrem sob fiscalização da Secretaria Especial para a Recuperação do Patrimônio Histórico, coordenada por Emanuel von Lauenstein Massarani, em conjunto com a Supervisão de Obras Públicas da Regional da Sé.

O relatório final - Relatório da obra da cobertura do Edifício Ramos de Azevedo -, em maio de 1989, por G. Sliachticas indica as obras realizadas na cobertura, embora inclua intervenções no porão (!):
  1. forro – retiradas de madeiras deterioradas, substituição por novas com imunização, e limpeza geral do forro

  2. caixas d'água – substituição das existentes em chapas metálicas por amianto, com igual capacidade

  3. cobertura – remoção de todas telhas antigas e substituição por novas de igual tipo, com revisão geral de calhas, rufos e condutores com recomposição de soldas e emendas danificadas

  4. madeiramento – revisão de todo o madeiramento e substituição das partes danificadas, como das ripas, reforços nas partes necessárias e imunização de todo o madeiramento

  5. clarabóia [cúpula] – revisão geral da cobertura das partes laterais em chapas de cobre, com substituição das peças irrecuperáveis; restaurações das ferragens de suporte dos vidros e substituição geral dos vidros por placas em vidro aramado (8 mm); colocação de escada de ferro do lado esquerdo para acesso à clarabóia [cúpula].

  6. argamassa – remoção e reexecução, com impermeabilização e pintura, de argamassa (emboço / reboco) em decomposição nas partes internas das platibandas e dos quatro torrilhões [sic, por torreões; de fato, pináculos]; consolidação das partes soltas das mesmas [platibandas], restauração dos relevos,

  7. porão - demolição das alvenarias acrescentadas posteriormente aos vãos das arcadas, limpeza geral e desobstrução ( [dos fechamentos feitos com] madeirit) das portas internas de grade, remoção de argamassa da parte interna do porão em decomposição, com complementação das argamassas faltantes e limpeza geral com remoção de todo o entulho.
    [Atenção: a pintura não foi executada pois exige obras posteriores, sendo feita em substituição limpeza geral das paredes e lavagem de todo o piso, com remédios [sic] contra baratas e ratos.]

  8. anfiteatro - recuperação da cobertura em [placas de] amianto imitando ardósia incluindo o lanternim [sobre a cúpula]


Em 1989, com a nova administração municipal, a destinação da edificação terá novo destino, com a proposta de criação da Casa da Memória Paulistana, como veremos no próximo seguimento.



NOTAS
  1. O documento inicial (Subsídios) foi elaborado pela Equipe da DTP/DPH, integrada pelos arquitetos Edgar Tadeu Dias do Couto, Lucinda F. Prestes, Marco Antonio Cilento Winther, Raquel Dias Rodrigues Santos, Ronaldo B. A. Parente e Rosângela M. B. Pimenta, a historiadora Sílvia Haskel P. do Nascimento e a museóloga Renata Mercadante Becker. Contou com a colaboração dos arquitetos Maria Beatriz Arruda Campos e Mauro Tadeu Sanches e o estagiário Alexandre G. de Souza. O projeto contou ainda com a participação, pelo Centro Cultural São Paulo, da museóloga Ana Maria Guerra Fernandes.

    É necessário fazer duas observações sobre a descrição do imóvel. Sobre o "galpão anexo" é quase certa, pela posição indicada, ser uma referência à laje, registrada na foto, apoiada na fachada norte; não obstante, a precariedade deste anexo deixa dúvida, podendo ser uma indicação relativa ao galpão lateral junto à Rua Afonso Pena. A obstrução da iluminação zenital merece correção pois deve-se tratar das lunetas da cúpula, visíveis nas fachadas sul e norte, pois não constam aberturas zenitais no projeto, registrado nas plantas em acervo, como as que foram adotadas no restauro de 1991.
    Volta


DOCUMENTAÇÃO
(acervo STPRC/DP/DPH/SMC)
  • Processo 16-004.698-88*00. PMSP, 1988. 226f. (Pinacoteca Municipal).

  • Relatório fotográfico Edif. Ramos de Azevedo Itauplan: Obras de restauração da cobertura da futura sede da Pinacoteca Municipal, patrocinadas pelo Banco Itaú S/A. São Paulo: Acilon, 17.01.1989.

  • Relatório parcial: comissão espacial constituída pela portaria 859 de SMC: anexos 16 docs. São Paulo: SMC, 13.11.1987. n.p.



Para citação adote:

Primeira intervenção: Edifício Ramos de Azevedo, 1988. INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL, 4 (21): nov/dez.2008 <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>

 
EXPEDIENTE

coordenação
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edição de texto
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distribuição
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