Edifício Anexo, fachada oeste, Rua Afonso Pena, [s.d.]. Escala 1:50
Acervo: AHMWL/DPH/SMC
O "anexo" do Edifício Ramos de Azevedo é basicamente um galpão com vão livre construído em meados da década de 1920. Registra-se sua ocupação
em 1926 pelo Laboratório de Hidromecânica da Escola Politécnica, embora não haja dado mais preciso sobre sua construção ou autoria do projeto.
Como se trata de edifício de pequenas dimensões e uso laboratorial, seria possível creditar a autoria ao próprio corpo técnico da escola. Porém, consta do
Fundo Severo & Villares, custodiado pelo Arquivo Histórico Municipal, uma prancha arquitetônica com a fachada para a Rua Afonso Pena. A sociedade
é sucessora direta do Escritório Técnico Ramos de Azevedo, responsável pelo projeto do prédio principal. O mesmo fundo inclui várias pranchas
sobre outros laboratórios e serviços técnicos integrantes da Escola Politécnica, fato que permite considerar pelo menos que a supervisão geral das obras
tenha sido feita por esse escritório.
Edifício Anexo, corte transversal, [s.d.]. Escala 1:50
Ao fundo, janelas para a Praça Coronel Fernando Prestes.
Acervo: AHMWL/DPH/SMC
Do ponto de vista estilístico, o anexo apresenta-se como uma obra de caráter eminentemente funcional, de piso único com porão baixo em alguns trechos e
telhado com tesouras de madeira e cobertura em
telhas cerâmicas planas, tipo de Marselha ou francesas. O edifício é marcado pela sequência de aberturas verticais iluminando o ambiente.
O uso de esquadrias com perfil metálico revela um traço presente na arquitetura industrial local desde o final do século XIX.
O mesmo recurso, porém, é corrente na década de 1920 em construções comerciais e edifícios de escritórios de vários pavimentos,
distribuídos pela área central da cidade e até
em empreitadas de grande porte, como a sede do Correio e Telégrafos finalizado em 1922.
As fachadas externas para a Rua Afonso Pena e Praça Coronel Fernando Prestes, bem como
a fachada para o pátio interno, visível da praça, apresentam decoração sóbria de inspiração eclética, com a longa série
de janelas em arco pleno ritmando as fachadas.
A aparência resultante, numa comparação com o Edifício Ramos de Azevedo, permite ao observador atual ter
a falsa impressão de se tratar de uma obra
anterior ao prédio principal, embora a situação real seja a oposta, fruto de projetos produzidos num intervalo de quinze anos.
Conforme documentação fotográfica disponível no site da
Escola Politécnica,
o galpão, em algum momento da década de 1920, apresentava um prolongamento em direção norte com acréscimo de três vãos.
Esse configuração não corresponde nem à documentação aqui reproduzida (fachada oeste), nem ao estado
do edifício desde sua aquisição. Com a construção da Casa do Politécnico no início da década de 1950,
muito provavelmente, esse prolongamento foi removido.
Edifício Anexo, estado da construção em janeiro de 2007.
Fonte: EMURB
A situação do edifício, no início do projeto de restauro em 2007, pouco difere daquela existente no momento da compra pela municipalidade
em 1987. Neste intervalo,
teve uso eventual como depósito não regular de mobiliário descartado. O estado geral era grave. Grande parte dos vãos das janelas
na fachada oeste, na Rua Afonso Pena, estava fechada por alvenaria, outras mais, junto à praça, apresentavam-se obstruídas por tapumes. O espaço fora
compartimentado em
várias salas ao longo de sua ocupação. Parte da serralheria artística
que protegia as janelas não existia mais. Sem pintura regular ao longo do período, as fachadas apresentavam-se desgastadas e
com severos danos no revestimento externo, em razão da queda de grandes porções de argamassa.
O projeto de restauro do anexo é detalhado no período referente a 2003 e 2004, já integrante do plano de intervenção do prédio principal,
ambos dentro do Programa de Revitalização da Área Central, numa parceria da municipalidade com o Programa Monumenta/BID. Em agosto de 2004 o projeto de
restauro do anexo é aprovado pelo Condephaat.
Operação de lavagem de telhas
do Edifício Anexo. Janeiro de 2007.
Edifício Anexo: telha cerâmica plana, autenticamente francesa.
Fonte: EMURB
Seria oportuno recuperar trechos do
Memorial Descritivo dedicado ao "Anexo do Edifício Ramos", datado de 2004
(EMURB, 2006, ff.392-393) para identificar o diagnóstico e o partido do projeto:
Atualmente o prédio anexo ao Edifício Ramos está em mau estado de conservação, apresenta componentes construtivos deteriorados pela
ação do tempo e pela falta de uso cotidiano dos seus ambientes. Treze das vinte e três esquadrias de portas e janelas se encontram
desaparecidas. As esquadrias remanescentes têm partes oxidadas e apodrecidas.
Os contrapisos remanescentes do início das obras de conservação (datadas de 1991-1992) se encontram em mau estado,
inclusive com partes faltantes e partes do solo original aparente. As fachadas se encontram em péssimo estado,
com desagregação de elementos decorativos, partes desaparecidas do revestimento em argamassa lisa e partes
faltantes de alvenaria, umidade e infiltrações generalizadas. Nas fachadas há envasaduras emparedadas e aberturas de
vãos não originais, descaracterizando assim a composição original das fachadas.
2. Partido do projeto
Pretende-se, com o presente projeto, resgatar no grau máximo possível o desenho original do edifício. Exceção será
feita sempre que as necessidades de uso atuais do edifício, assim como as soluções técnicas e construtivas atuais,
exigirem materiais ou tecnologias diferentes daquelas originais.
Assim, está prevista a restauração dos seguintes elementos arquitetônicos:
- vedações/ alvenaria das fachadas;
- argamassas/emboços das fachadas;
- ornato das fachadas;
- envasaduras e caixilhos das janelas das fachadas;
- telhado: estrutura e cobertura.
Obras no piso do Anexo revelam patamar original de antiga porta na fachada oeste, à Rua Afonso Pena. Janeiro de 2007.
Houve proposta para estabelecer uma abertura no piso
para revelar a evidência, mas foi descartada.
Fonte: EMURB
Edifício Anexo, fachada sul, esquadrias novas, maio 2007.
Fonte: EMURB
Edifício Anexo: nova grade de proteção,
conforme modelo original, já posicionada.
Janeiro de 2008.
Fonte: EMURB
Além destes itens, as obras incluíam a imunização do imóvel contra o ataque de "cupins do
solo e de madeira seca", reformas das instalações elétricas, de telefonia e de rede lógica; instalações hidrossanitárias e
de combate a incêndios; e adaptação do edifício aos requisitos de acessibilidade.
Edifício Anexo em janeiro de 2009 após término das obras.
Foto: Ricardo Mendes - AHMWL/DPH/SMC