Parece depreender-se da proposta em apreço que os trabalhos de ateliê (restituição das chapas, retificações de escala,
operações com o cartógrafo, acerto ageral, acerto de detalhes, passagem à tinta, redação das plantas, etc.)
serão executados em São Paulo sob as vistas dos engenheiros municipais. É, porém, indispensável que figure,
no contrato, cláusula mais precisa sobre o assunto. Além do interesse de um controle direto e fácil desses trabalhos, por
parte da Prefeitura, é óbvia a conveniência de serem, desde o princípio, zelosamente guardados e mantidos em
São Paulo os documentos originais (chapas, folhas de campo, etc) com que se vão organizar as plantas oficiais do
município.
Já é muito que se permita, e isso por falta de oficinas adequadas entre nós, a gravação da planta e a tiragem da edição em país estrangeiro.
(CMSP,
Anais 1928, p.218-219)
Por fim, exige-se que o levantamento adote os métodos da “fotografia aérea (fotorestituição e
estereofotogrametria), combinados com os sistemas da geodésia e topografia comum”.
O foco passa agora para a discussão dos produtos finais a serem entregues. Contesta-se da
proposta original feita pela Junkers a execução de duas plantas: a primeira na escala de 1:5.000, cobrindo área de cerca de 12.000 hectares
(120 km
2), relativa à parte central, urbana e suburbana de São Paulo; a segunda,
na escala de 1:20.000 abrangendo todo o município. Como alternativa propõe-se, como de maior urgência, a produção
de uma “planta de urbanismo em escala grande, compreendendo a cidade e o subúrbio próximo” (CMSP,
Anais 1928, p.219).
A primeira versão da lei para o edital, apresentada no parecer, prevê apenas a produção de um levantamento na escala 1:2.000,
cobrindo área aproximada de 12 a 15 mil hectares (120 a 150 km). Assumiria a contratada o
compromisso da realização de outros levantamentos em escalas a definir, nas mesmas condições de técnica e preço.
Prevê-se ainda que as pranchas do levantamento seriam entregues na forma de fotocartas, com 10 exemplares cada,
além do mapa-índice. A tiragem impressa da transcrição cartográfica corresponderia a 150 exemplares por prancha,
além de um versão para “decalque” permitindo assim a obtenção de cópias de trabalho por transparência.
Toda a memória de trabalho seria entregue à municipalidade, como estabelece o artigo 18 da proposta de lei.
Incluem-se aí negativos, provas, fotocartas, folhas e cadernetas de campo, “devidamente numerados, catalogados e
acondicionados”, passando a “ser exclusiva propriedade municipal, não sendo permitido à contratante fornecer a terceiro qualquer original ou cópia” (CMSP,
Anais 1928, p.222).
Aspecto chave, o custo da proposta ganha relevância, sem porém ser analisado de forma explícita.
Revela, porém, na perspectiva deste ensaio, aspecto surpreendente. A comissão exige que a proponente respeite os preços por
hectare — “sensivelmente mais módicos” — apresentados por ela na
concorrência pública para o levantamento do
Distrito Federal. Ainda assim orienta que o edital não retire a qualquer outra entidade, nacional ou estrangeira a
possibilidade de concorrer com melhor oferta mantidas as garantias de idoneidade técnica e financeira.
Ao final da sessão, o vereador Goffredo Telles pede adiamento da discussão por oito dias.
Aproveitaremos aqui essa pausa para recuperar as ações desenvolvidas pelo governo do Distrito Federal para realizar o levantamento
cartográfico do seu território com o emprego da aerofotogrametria. É nesse contexto, novo na historiografia sobre o
Mapa Topográfico do Município de São Paulo, que será possível conhecer o horizonte da
produção cartográfica naquele momento histórico no quadro de usos e fins propostos.
O Rio de Janeiro: a gestão Antonio da Silva Prado Junior
Prefeito nomeado, Antonio da Silva Prado Junior (1880-1955) assume a administração do Distrito Federal em novembro de 1926,
com o início do mandato presidencial de Washington Luís (1869-1957).
Engenheiro, de tradicional família paulista ligada à agricultura cafeeira, com grande presença na política,
filho do conselheiro Antonio Prado (1840-1929), que fora o primeiro prefeito da capital paulista, Antonio Prado Junior exerce seu
mandato na administração do Distrito Federal até outubro de 1930, quando irrompe a Revolução de 1930.
Reveste-se, com grande expectativa, sua primeira mensagem ao Conselho Municipal em primeiro de
junho de 1927. O quadro apresentado nesse discurso é ao mesmo tempo um balanço da situação encontrada e um conjunto de
ações para sua gestão. Destas ações, o primeiro segmento traz um extensa relação de obras viárias na cidade,
mas são dois itens finais do bloco
II – Obras e Viação, que têm relevância aqui.
O primeiro —
Urbanismo — diz respeito ao convite feito ao urbanista francês Alfred Agache (1875-1959) para realizar
algumas conferências afim “de desenvolver o interesse público pelos problemas de urbanismo, criando assim, uma
atmosfera favorável à execução de melhoramentos na cidade. (...)”. Entre as conferências programadas, embora não
mencionada na transcrição nos jornais, incluia-se aquela intitulada A fotografia aérea e as plantas da cidade
(PAMPLONA, 2014, p.30).
O Sr. Alfred Agache, arquiteto laureado, secretário geral da Sociedade Francesa dos Urbanistas, e autor
consagrado de várias obras sobre a construção e reconstrução de cidades, aldeias e cidades-jardins, possui, pelos seus
trabalhos executados com êxito, a autoridade científica para nos explicar, não só como o problema de urbanismo
se apresenta aos técnicos, mas, também, para indicar o modo mais prático de atacar esse problema, passando depois ao
estudo do plano regulador e, enfim, como deverá funcionar, no futuro, a direção desse mesmo plano.
As conferências do Sr. Agache serão feitas: - umas para o público; outras para os técnicos, arquitetos, engenheiros,
etc.; e mais outras para as autoridades municipais e funcionários da diretoria de obras e viação.
(O Paiz, RJ, 3 de junho de 1927, p.1)
O último item do bloco introduz por fim a proposta daquela que será a primeira cobertura topográfica de grandes
centros urbanos brasileiros por meio da aerofotogrametria. Ainda em sua fase inicial, a transcrição integral do tópico
permite identificar os produtos programados e agentes envolvidos. A sua gênese, em ação paralela ao convite a
Agache, e o contexto do discurso do Prefeito indicam minimamente a ambição das obras propostas e o investimento em
instrumentos de apoio.
Carta Cadastral — Levantamento estereofotogramétrico — No sentido de organizar, de modo rápido
e exato, a planta topográfica do Distrito Federal com os precisos detalhes, compreendendo o assinalamento e a localização dos
próprios municipais, entrei em conversação preliminar com o Sr. capitão Ronald Mac Nell (sic) a respeito do
respectivo levantamento pelo método estereofotogramétrico com o auxílio de aviões.
O capitão Mac Nell propõe-se a fornecer, dentro de menos de um ano, seis grupos de plantas fotográficas da área urbana e
suburbana do Distrito Federal, de mais ou menos 300 quilômetros quadrados nas escalas de 1:2.000 e de
1:5.000, bem como uma planta fotográfica de toda a área do Distrito Federal na escala de 1:50.000.
Excusado me parece encarecer a necessidade e importância desse serviço e, em tempo oportuno, uma vez examinada
a proposta do Sr. Mac. Nell tratarei do assunto em mensagem especial.
Sobre o capitão Mac Nell — Ronald Frank Rous McNeill —, nova referências surgem mais a frente. A presença
britânica na aviação é, coincidentemente, foco de artigo na imprensa local. O periódico carioca
Wileman's
Brazilian Review, em sua edição de 9 de junho, comenta o progresso britânico no setor. Entre
as áreas do setor com crescente interesse comercial destacaram-se em 1926 as voltadas para levantamentos aéreos (“air survey”).
O articulista cita expressamente o envio previsto para dezembro de 1927 de equipe da Aircraft Operating Company (AOC)
ao norte da Rodésia, ex-colônia britânica hoje dividida entre Zimbawe e Zâmbia, para registrar 20.000 milhas
quadradas — quase 52 mil km
2, o equivalente à área do estado do Rio Grande do Norte —
para a Minerals Separation Company, bem como preparar mapas de áreas selecionadas na região de ocorrência
de jazidas de cobre, em suas 52 mil milhas quadradas. O artigo menciona ainda as atividades da Aerofilms
Company, subsidiária da AOC, com trabalhos de cobertura fotógrafica finalizados em 1927 na Inglaterra e futuros contratos na Malásia.
Com alguma presteza o Prefeito Antonio Prado Junior envia a mensagem nº 618 ao Conselho Municipal em 31 de
agosto de 1927. O texto é breve: solicita crédito especial até o valor de dois mil contos (2.000:000$000). Como
justificativa sumária consta a menção à comissão organizada em 1893 pelo Prefeito Cândido Barato Ribeiro (1843-1910),
primeiro a ocupar o cargo no Distrito Federal, entre 1892 e 1893. Por sete anos, até sua extinção, a comissão
designada organizou “as plantas oras existentes”. Fica expressa na mensagem a adoção na presente proposta dos métodos
“fototopográficos” pela agilidade e custos reduzidos frente aos tradicionais, argumentos que veremos
adiante.
O debate parlamentar foi severo como indicam as notas esparsas na imprensa carioca até janeiro do ano seguinte.
Não só pelos gastos no levantamento ou na contratação de Alfred Agache, mas certamente pelo conjunto de obras
urbanas propostas. O contexto político imediato, num primeiro ano de mandato, indica problemas a curto prazo.
Apenas nos primeiros dias de 1928, o orçamento municipal é aprovado. No dia 5 de janeiro, o decreto legislativo nº 3.268
autoriza o crédito solicitado pelo Prefeito. Com agilidade, o edital é assinado no dia 9, sendo publicado em
seguida.
Com data-limite para apresentação das propostas até 15 de fevereiro, o edital estabelece os termos para produção
do levantamento topográfico da cidade pela “combinação dos métodos foto-aéreo e terrestre, bem como a revisão da
rede de nivelamento”. Nota na imprensa descreve os principais objetos do edital: “Dentre outros serviços
contam-se: a planta topográfica da cidade, na escala de 1:1.000, em folhas uniformes da parte central da cidade, e outra de
1:2.000 para a zona suburbana e rural; planta geral e completa na escala de 1 por 20.000 e, finalmente, a revisão da
rede de nivelamento com referências de nivel e demais detalhes”.
Cinco propostas são apresentadas, sendo outras duas recusadas, no caso a da Compagnie Aérienne Française,
em desacordo com edital, e da Companhia Aeronáutica Brasileira, que exibiu comprovante de depósito de caução, mas
não conseguiu elaborar a tempo sua proposta.
Surpreende o número de empresas considerando a brevidade do prazo. Estavam aptas duas empresas alemãs:
Photogrametric Geselschaft M.H.R, de Munique, representada pela Companhia Constructora Nacional, e a Junkers
Flugzeugwerk A. G, de Dessau, mediada por Othmar Gamilischeg (sic). E, por fim, a empresa britânica
The Aircraft Operating Co. Ltda, de Londres, por Ronald Frank Rous Mac-Neill, representante mencionado no ano anterior na
mensagem do Prefeito como seu contato inicial sobre o serviço.
A notícia chega a São Paulo, sem muito alarde aparente, em registro na imprensa do dia 17 de março,
que transcreve telegrama recebido de Londres: “Anuncia-se que uma firma de aviões de Londres, conseguiu o contrato para o
levantamento de um plano aéreo, bem minucioso, da cidade do Rio de Janeiro e arredores”. Dias depois, em
28 de março de 1928, ambas as partes — The Aircraft Operating Co. e o governo do Distrito Federal — assinavam
contrato.
Oportuno lembrar que a Junkers Flugzeugwerk apresentara à Prefeitura de São Paulo em 1 de março de 1928,
proposta de serviço assemelhado. Seria certamente oportuno à empresa a realização concomitante dos serviços,
considerando a presença de equipe técnica estrangeira, economia de escala etc.
É novamente a mensagem anual do Prefeito na instalação do Conselho Municipal, em 1 de junho de 1928, que
permitirá conhecer um pouco mais sobre a decisão final. Atendendo à lei orgânica do Distrito Federal, Antonio Prado Junior
faz o balanço da administração no ano anterior; comenta as obras de melhoramentos nas áreas do Castelo e no Calabouço, região de expansão do centro urbano, e avança:
A concorrência pública para o levantamento aereofototopográfico da cidade provocou, também, severas apreciações.
Das cinco propostas apresentadas, a da The Aircraft Operating Company Limited, de Londres, foi a única que pediu
preços unitários, em obediência às disposições do edital de concorrência e que melhor garantia ofereceu para
a execução do serviço.
Acresce que essa empresa foi, tambem, a única que enviou um representante, técnico idôneo, para examinar e estudar
'inloco' as condições topográficas das superfícies a levantar.
Partidário das concorrências públicas, levo, entretanto, muito em linha de conta a idoneidade do concorrente.
Não poucas vezes deixo mais me influenciar por ela do que propriamente pelas diferenças de preços.
Assim é que não vacilei em contratar serviço de tamanha importância com a empresa que mais sólidas garantias morais oferecia.
A mensagem, transcrita pela imprensa local, avança detalhando não apenas a concorrência em questão,
polêmica desde sua apresentação no ano anterior, como relaciona os trabalhos encomendados a Alfred Agache. Esse trecho
permite compreender a oportuna ação sincronizada das duas propostas, embora não necessariamente interligadas.
É, porém, o trecho que relata as contestações ao levantamento topográfico o mais relevante.
Primeiro aspecto significativo da mensagem é reafirmar o uso corrente até então dos levantamentos cadastrais que
datavam da gestão municipal de Cândido Barata Ribeiro (1892-1893).
Segundo dado, de maior interesse, é permitir identificar o emprego da cartografia resultante dos esforços do
Serviço Geográfico em 1921. E, a partir disso, a ocorrência da crítica comum aos editais realizados pelas governos das cidades
do Rio e São Paulo em 1928: a eventual contratação do Serviço Geográfico Militar para execução dos levantamentos a custos menores.
(...) a acusação principal consistiu em afirmar a existência de uma excelente carta cadastral do Distrito, carta utilizada até
pela própria Prefeitura por ocasião do último recenseamento escolar.
Trata-se, evidentemente, do mapa do Distrito Federal, organizado pelo Serviço Geográfico Militar, em escala de 1:10.000,
ampliação do original na escala de 1:40.000, no qual figuram arruamentos incompletos e sem
denominação, com largura exagerada, em relação à escala. Esse mapa, a que se chamou pomposamente de
CARTA CADASTRAL, organizado por diversos processos, inclusive o estereofotogramétrico, é baseado, justamente, na carta
cadastral da Prefeitura. Não se podia, outrossim, aproveitar o trabalho na escala de 1:40.000, reduzido para a de 1:50.000, e ampliado para 1:20.000 e 1:10.000, com a representação dos arruamentos.
(…)
Insinou-se, também, que se poderia ser contratado o trabalho em questão com o Serviço Geográfico Militar,
ignorando-se que, além de outras razões, as funções desse instituto dificilmente permitiriam o arranjo de uma fórmula
para tal contrato, sem falar na posição em que ele ficaria, sujeitando-se a uma fiscalização técnica por parte da Prefeitura.
A mensagem do Prefeito, em contraste com as notas da Prefeitura mencionadas anteriormente, permite
obter um quadro mais completo sobre as propostas. Aspecto relevante, não mencionado no momento, diz respeito à
autorização dada ao Prefeito para a realização do edital, conforme sua mensagem apresentada em 31 de agosto de 1927,
que estabece um limite de despesas de 2 mil contos. Assim ao comparar os valores, fica evidente que todas as
propostas parecem extrapolar esse patamar, além de não obedecerem aos parâmetros que exigem preços unitários.
Na sua lacônica resposta à eventual manipulação da concorrência o Prefeito acaba deixando em aberto espaço para
futuros embates.
Em resumo, os valores dos orçamentos apresentados chegam a superar 2.900:000$000. É o caso
da proposta da francesa Compagnie Aérienne Française, que foi desconsiderada por não obedecer aos parâmetros do edital. Um pouco
menos – 2.800:000$000 foi o valor solicitado pela Enterprises Photo-Aériennes, também desconsiderada por ter sido a
proposta apresentada fora do prazo. Apenas a Junkers teria oferecido proposta na faixa de 1.900:000$000, mas a
empresa desistiria do projeto durante a fase de análise das propostas.
Antonio Prado, infelizmente, esquece em sua mensagem, momento tão importante para avaliação de sua gestão
perante o conselho municipal, de apresentar dados sobre os demais concorrentes: Photogrammétrie G. M. B. H. e The
Aircraft Operating Company Limited. Surge a AOC como única candidata a respeitar a exigência de preços unitários
e com salvaguardas “técnicas e morais”. Esse fato cobrará seu preço mais adiante.
Mãos à obra: no ar e nos jornais
A empresa vencedora demonstrará agilidade, seguindo os passos legais e técnicos. O contexto político imediato,
com contestações aos projetos e à concorrência em questão, e por fim a Revolução de 1930 criarão a seu modo um
surpreendente emaranhado de registros na imprensa, permitindo hoje um acompanhamento dos serviços.
Em contraste com o levantamento realizado em São Paulo pela empresa S.A.R.A. Brasil, é possível recuperar
no caso do Distrito Federal relatos extensos que indicam a magnitude de recursos técnicos e humanos envolvidos bem como
as etapas usuais de desenvolvimento do levantamento desde a preparação da rede de nivelamento e tomadas de imagem à impressão das cartas.
Em 13 de março de 1928, a empresa The Aircraft Operating Company, Limited é autorizada a operar no
Brasil pelo decreto federal 18.156, assinado pelo Presidente Washington Luís. Três meses depois, em junho, começam a chegar
ao Rio os primeiros membros da equipe e equipamentos.
No dia 21 de junho desembarca o capitão do corpo de aviação do exército inglês – Sidney Henry Holland.
Acompanha sua chegada o transporte pelo mesmo navio Arandora de duas aeronaves Vendace (Vickers),
equipadas com motores de 350 HP construídos especialmente para a missão. Ambos os aviões permitem pouso em
terra ou mar, sendo um deles utilizado como avião reserva. Holland chefiaria a seção de aviação.
Com cronograma de 3 anos de trabalho, a missão seria coordenada pelo o coronel T. T. Behrens, “chefe da empreitada”,
membro do corpo de engenharia do exército inglês, tendo como subchefe o tenente da armada britânica Ernest J.
Mc. Athy. Ambos tinham desembarque previsto para o dia 7 de julho. Junto viria o aviador, C. A. Elliot, tenente “perito em
aerofotogrametria”, que morara por alguns anos no Rio de Janeiro. Completavam a missão mais 12 membros,
basicamente agrimensores.
A imprensa carioca reproduz imagens distribuídas no evento
para seus profissionais em novembro de 1928.
A fotografia aérea vertical da região do Morro do Castelo, parcialmente removido,
exibe ao alto, subindo em diagonal, a Avenida Rio Branco, que se prolonga da direita
a partir do Palacete Monroe.
À esquerda, destacam-se os pavilhões do mercado.
Gazeta de Notícias, 11 de novembro de 1928, p.3.
Acervo Biblioteca Nacional
Com o escritório instalado à Rua Silveira Martins, no Catete, a empresa abre as instalações para a imprensa em 10 de novembro,
com a presença do embaixador da Inglaterra Sir Belby Alston e membros do corpo consular. Mac Neill
recebe a todos como representante da empresa no Brasil, acompanhado do diretor, major Harold Hemming, e o gerente,
Coronel Behrens. Aos presentes são apresentados exemplos de trabalhos em realização, de caráter didático, numa
ação para imprensa que parece indicar uma noção precisa de marketing.
Essa noção parece clara se atentarmos a participações em eventos. Dois dias depois, na solenidade comemorativa
do décimo aniversário do Armistício, realizada no campo do Botafogo Football Club, um dos aviões da
empresa joga ramalhetes de flores naturais sobre a multidão. O vento, infelizmente, levou as flores para
fora do campo, sendo apanhadas pela meninada.
É na imprensa paulistana que surge de forma mais detalhada o “levantamento aero-photo-topographico” em curso.
Longa série de artigos publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, entre novembro e dezembro de 1928, faz um balanço
da administração Antonio Prado Junior. Um deles, no dia 16 de novembro, cobre especificamente o tema. Ilustrado com
imagem aérea da Cinelândia, comenta o processo aerofotogramético e as etapas: cobertura de voos, operações de
triangulação, montagem dos mosaicos... – “um verdadeiro jogo de paciência chinês”. Segundo o engenheiro-chefe é
“a primeira vez que no mundo se realiza um levantamento (…) desta magnitude”.
A boa relação com a imprensa é certamente conveniente à empresa como também às autoridades do Distrito Federal.
Um ano depois, em 18 de maio de 1929, a visita do próprio Presidente da República Washington Luís e do Prefeito
Antonio Prado Junior tem por função verificar o andamento dos trabalhos. Acompanham a comitiva, que chega às 9 horas,
Alfredo Duarte Ribeiro, diretor de obras e viação, e Alvaro Seixas, fiscal do Serviço Topográfico. Às 11 horas, o
escritório é aberto à imprensa.
A edição de 19 de maio de 1929 do Jornal do Brasil
registra a chegada do Presidente Washington Luís ao escritório da
Aircraft Operating Company, ao lado do Palácio do Catete,
sendo recebido pelo diretor Mac Nell.
Acervo Biblioteca Nacional
A fase de levantamento aéreo já está terminada, com voos realizados em 3 altitudes – 1.500, 2.100 e 4.000 metros.
A equipe envolvida, noticia a imprensa, inclui 20 engenheiros (“empenhados no levantamento terrestre e
triangulação”), num total de pouco mais de 100 membros, sendo 65 deles brasileiros. Foram empregados dois aviões,
sendo um deles um hidroavião, e obtidas mais de 8 mil imagens: “É de notar que não houve um só acidente em todo o
trabalho”.
Os diretores mostram ao Presidente os “mapas da zona central, na escala de 1:1.000, que estão quase
concluídos para serem entregues ao impressor”. Estão previstos mapas em 4 escalas: 1:1.000 – zona central, 1:2.000 – zona
urbana, 1:5.000 – zona suburbana e 1:20.0000 – zona rural.
Com aparente orgulho, a impressão dos mapas será feita no Rio pela Pimenta de Mello & C, que já importou
máquinas especiais. Diretores da empresa expressam “satisfação” em realizar assim todo o trabalho no Brasil. O término
programado do projeto é então outubro de 1930.
A visibilidade dada pelo evento parece estar associada ao interesse em conquistar novos serviços no país.
Pouco depois, em julho, o jornal Diário Carioca indica, “por informações colhidas nas melhores fontes”, que o Presidente do
Estado de São Paulo resolvera dar à Aircraft (grafada “Air Craft & C.”) a concessão para execução do levantamento
topográfico de todo o Estado.
A mensagem anual ao Conselho Municipal em primeiro de junho de 1929 faz um balanço geral das atividades.
De relevante, destaca-se a fiscalização do contrato, em toda a sua extensão, pela Diretoria de obras, com apoio da 5ª
Subdiretoria, encarregada da Carta Cadastral da Prefeitura.
Os serviços de voos, já encerrados em maio, como informado durante a visita do Presidente da República ao
escritório da The Aircraft Operating, haviam cobertos até começo de fevereiro de 1929 cerca de 25.750
hectares da área do Distrito Federal (257 km2). Ao final do primeiro semestre, a Diretoria de Obras já recebera:
“31 mosaicos, ou fotocartas, relativos à área territorial a ser representada na escala de 1:1.000; 262 fotografias (prova
direta), relativas à área territorial a ser representada na escala acima citada; 6[54] fotografias (prova direta)
da área territorial a ser representada na escala de 1:2.000”.
Foto aérea vertical do levantamento carioca, com marcações de
pontos de referência de terra para uso na retificação na imagem.
À direita, marcadores trazem informações como
número da imagem, derivações de voo, serviço e hora da tomada.
A imagem consta do importante relato sobre a empreitada
feito por Carl Oeslner (1934).
Acervo BMA
A mensagem é peculiarmente informativa sobre os serviços de terra: a triangulação. Fundamental é a
descrição das funções atribuidas à 5ª Subdiretoria de Obras, que dizem respeito centralmente ao serviço de manutenção das plantas
do Distrito Federal, “levantadas e desenhadas no período de 1892 a 1900 e aos trabalhos com elas relacionados e
executados desde 1902”. Terminado o contrato em andamento, esta unidade passará a constituir repartição
especializada na gestão do levantamento, sua manutenção e atualização, e seu emprego como base dos registros cadastrais da municipalidade.
Quanto ao serviço terrestre, já foi completada a rede de triangulação com 148 estações complementares,
tendo-se colocado, em diversos morros e vários pontos, e até em ilhas da Baía de Guanabara, cerca de duzentas pirâmides
correspondentes a outros tantos pontos geodésicos. O levantamento dos polígonos, destinados à ligação dos trabalhos
de triangulação ao dos elementos fornecidos pelo levantamento fotográfico, já se estende por cerca de cem (100)
quilômetros.
Iniciaram-se os trabalhos de nivelamento para o estabelecimento da grande rede de referências de nível, estando prontos,
desse serviço, cerca de sessenta (60) quilômetros.
Os escritórios da empresa continuam a ser nos próximos meses pontos de interesse social. No dia 19 de setembro de 1929,
representantes da missão econômica oficial do governo britânico para a América do Sul, coordenada pelo Lord
D'Abernon, faz às 10 horas a visita programada, sinal claro da importância do empreendimento nas relações comerciais entre os dois países.
No ano seguinte, em 29 de abril, chegam ao Rio, vindo da cidade do Cabo, o casal Alan S. Buttler. Ele, presidente da
The Aircraft Operating, chega ao Brasil para inspecionar os trabalhos. O casal realizara a
travessia aérea Londres a Cidade do Cabo, na África do Sul. Ambos aviadores reconhecidos, Alan, no entanto,
atuou no percurso como segundo piloto, sendo detentor do recorde em altitude utilizando “aviões ligeiros”.
Durante o “raid” foi testado novo modelo de avião, da The Haviland Aircraft, conhecida pelos modelos Moth,
destinado “à aerofototopografia”. Equipado com dois motores, a aeronave pode voar a 6.200 metros. Com um único motor,
atinge o patamar de 3 mil metros. Após inspecionar os serviços da The Aircraft Operating, na Rodésia, já mencionados,
Butler, que é presidente de ambas as empresas, realiza no Brasil sua visita oficial. No dia 13 de maio, é fotografado
na saída do Palácio do Catete, com o major Hemming, diretor-geral no Brasil, e Victor Nothmann, que veremos
mais uma vez, após visita a Washington Luís.
A intenção das partes é terminar o levantamento carioca até o final da gestão Prado Junior. Menciona-se ainda a
ideia de criação de uma empresa anglo-brasileira para levantamentos aerofotogramétricos. Butler segue em um avião da
Condor para Porto Alegre, rumo a Buenos Aires. Duas semanas depois, está de volta ao Rio de onde parte para a Inglaterra a bordo do navio Avelona
Star.
A Revolução de 30
Os trabalhos continuam em andamento. Em maio de 1930, o Ministro da Fazenda comunica ao
Prefeito do Rio haver providenciado o desembaraço ágil do novo avião que se encontra na alfândega destinado ao “levantamento da carta
aerofototopográfica da cidade”. O que restaria fazer, que exigisse outra aeronave, já que essa etapa estava
encerrada há tempo, como vimos?
Em 22 de outubro, dois dias antes da deposição de Washington Luís nesse longo processo revolucionário
deflagrado no dia 3, a sede na Rua Silveira Martins recebe uma comissão do Clube de Engenharia
para apresentação do relato dos trabalhos desenvolvidos em dois anos. A comitiva inclui Paulo de Frontin,
presidente do Clube e os membros do Conselho Diretor: Gastão Bahiana, Valentim Durham, Mario Valladares,
Chavantes Junior, Carvalho Araujo e Duarte Ribeiro.
São recebidos pelo gerente e técnico Carl Oelsner. Outros convidados como os representantes da Light & Power estão presentes.
O que já está feito
A 'Aircraft Operating' já tem feitas as plantas definitivas de toda a zona comercial da cidade e mais
os subúrbios da cidade e mais os subúrbios da Central do Brasil, inclusive Campo Grande, Bangu, Santa Cruz; ainda
Jacarepaguá, Penha, Cordovil, Pavuna, Vigário Geral, Villa Nova, toda a ilha de Paquetá, Freguezia e [Zumby], na ilha do Governador, e as zonas das praias.
A zona comercial compreende 31 plantas na escala de 1 por 1.000, numa extensão de 900 hectares:
a zonas das praias e subúrbios mais próximos, 148 plantas, escala 1 por 2.000, compreendendo 1[4] mil hectares; e a
zona rural, em [60] plantas, escala 1 por 5.000, numa extensão de cerca de 180 km2.
De todas essas plantas vão ser fornecidas 150 cópias à Prefeitura.
Os trabalhos para o levantamento do pouco que ainda falta, demorará (sic) ainda cerca de três meses, quando, então,
a empresa dará por concluidos seus trabalhos.
Com o novo governo as acusações que acompanharam toda a fase inicial retomam com força,
envolvidas no clima tenso geral. Isso dificultará a entrega do serviço, mas acaba por revelar dados sobre os participantes.
Em novembro, após 26 anos de serviço, é exonerado por Adolpho Bergamini, interventor no governo do Distrito Federal
desde 24 de outubro, o engenheiro Alvaro Baptista Seixas, lotado na Diretoria de Obras e Viação como engenheiro-chefe
de divisão. Admitido em 1904, já como engenheiro da Repartição de Carta Cadastral, foi o responsável por
elaborar em outubro de 1927 o edital da concorrência para o levantamento topográfico em questão. Em abril de 1928,
seria designado para fiscalizar a execução do serviço - “primeiro a ser levado a efeito na América do Sul”.
Dias depois, em 10 de dezembro, o interventor nomeia comissão para análise do contrato feito com a Aircraft Operating,
“estendendo seu estudo aos serviços porventura feitos, estimando-lhes o valor, opinando
sobre as medidas a serem tomadas e sugerindo tudo quanto for conveniente.”
A imprensa acompanha o caso. Comenta-se que antes de viajar para a Europa, como exilado, Antonio Prado
Junior nomeara advogado para defesa frente a várias acusações, como o favorecimento em obras na Escola Normal, a
empresário teatral etc, entre elas:
7º – Não ter permitido que o Exército fizesse, com o dispêndio de quinhentos contos, o levantamento da
carta aérea da capital da República, para dar, por esse serviço, à firma Aircraft Operating, quatro mil contos, quando a
verba votada para custear era de dois mil contos.
O jornal O Globo, em 27 de fevereiro de 1931, transcreve, ao longo de quatro páginas, o relatório completo
entregue ao interventor Adolpho Bergamini. Não é necessário ler propriamente o texto para compreender o seu
desenvolvimento. O subtítulo é preciso: “O contrato da The Aircraft Operating Company Ltd. resultou de uma
concorrência fraudulenta, exorbitou da autorização legislativa, infringiu o próprio despacho de aceitação da proposta e, por
isso, é nulo!” Em alguns dias
o interventor enviaria o relatório ao Tribunal Especial, conforme nota na imprensa no dia seguinte.
Os princípes britânicos no Rio
Alguma normalidade parece rondar o escritório da Aircraft Operating, embora não se saiba o que faltava por fazer.
No dia 7 de abril, porém, chega ao Rio o Princípe de Gales – o futuro rei Eduardo VIII (1894-1972), que abdicaria do trono
para casar com Wallis Simpson. Se há sincronia planejada, não se sabe, mas a oportunidade não foi
desperdiçada.
No mesmo dia, sua comitiva visita a sede da empresa, na Rua Silveira Martins acompanhado por Lord Edwam e por
Mister Irving, adido comercial britânico. O príncípe pôde fazer uma inspeção completa dos trabalhos, sob a supervisão
do Major Hemming, diretor geral, examinando plantas e fotografias.
Como contraponto é possível traçar um contexto ampliado dos fatos. A baixa do câmbio parece dificultar a
economia brasileira. O novo governo sofre as consequências, atribuídas tanto a erros do governo passado como a fatores como
“desconfiança dos capitalistas”, ameaças de nacionalização de indústrias siderúrgicas e hidroelétricas, revisões de contratos...
Entre conflitos localizados registra-se a “hostilidade” da Prefeitura do Rio de Janeiro contra algumas empresas.
Essa condição parece ter justificado a busca de soluções com o reconhecimento da dívida pela Prefeitura do Distrito Federal
e a constituição de uma comissão de arbitragem dos valores. Notas na imprensa opinam sobre a situação.
Os casos da Telephonica e da Aircraft são ainda mais graves. Ameaçar de nulidades contratos celebrados com
capitais externos, regularmente elaborados e aceitos pelos poderes então competentes, equivale, sem dúvida
alguma, a colocar um espantalho financeiro sobre o Brasil.
Não se sabe muito sobre o panorama que se segue a curto prazo. Em maio de 1932, um ano depois, a revista
especializada britânica Flight Magazine, apresenta um artigo que registra a finalização dos trabalhos do
levantamento do Distrito Federal e do Rio de Janeiro. Após três anos e meio, um ano a mais que o previsto
devido aos conflitos revolucionários, foi possível realizar os serviços. Os trabalhos finais sofreram durante os conflitos,
dando cor local ao relato, considerando a proximidade do escritório ao Palácio do Catete, como aponta a revista, o
que gerou problemas de acesso e normalidade das operações.
O artigo enfatiza a peculiar topografia carioca, com variações de altitude do nível do mar a mais de 600 metros, e
a extensão territorial para enaltecer o curto prazo dos trabalhos frente aos quinze anos previstos com o emprego de
métodos tradicionais. Quatro conjuntos cartográficos, nas escalas de 1:1.000, 1:2.000, 1:5.000 e 1:20.000, compõem
os produtos finais. Uma ampliação em escala 1:10.000 estava sendo finalizada, a partir do último produto.
Com as investigações sobre o contrato empreendidas pelo novo regime, Alan Butler, coordenador da empresa,
decidiu levar os trabalhos adiante, mesmo sem pagamentos e com custos crescentes. Ainda assim, segundo a mesma fonte,
alguns trabalhos estavam pendentes como a impressão de parte dos conjuntos. A empresa espera
ainda o reconhecimento da dívida pelo governo para finalização dos serviços.
Até o conflito revolucionário, informa a revista, foram pagos 40 mil libras esterlinas, com a entrega dos
trabalhos de igual montante. Agora o valor reivindicado atinge um total de 180 mil libras. Aguardavam-se para breve as deliberações
iniciais da comissão de arbitragem nomeada pelas partes.
Embora o contrato tivesse sido ameaçado de cancelamento no início da contestação, o reconhecimento
da importância das obras realizadas havia contribuído para o andamento da negociação. Contudo, frente à coincidência entre a
crise econômica mundial e o impacto sobre a posição financeira do empresário Alan Butler, este decidiu suspender
as atividades da companhia, mantendo em operação apenas a subsidiária sul-africana.
A deflagração de novo conflito revolucionário em meados de 1932, certamente, contribuiu para retardar a
solução do caso. Apenas em fevereiro de 1933 notas na imprensa local noticiam a entrega, no dia 22, do relatório da comissão
de árbitros, assinado por Deraldo Filgueiras e Raymundo Pereira da Silva, ao interventor federal Lourival Fontes.
Semanas depois, no dia 16, a Prefeitura concorda com o parecer e reconhece a dívida de 63.897 libras.
Constestações devem ter estendido, contudo, o processo. Em setembro de 1933, nota em tom oficial do gabinete do
interventor procura responder a artigos na imprensa carioca sobre a resolução em liquidar a dívida com a empresa.
Submetida a pendência a juízo arbitral – ao laudo que foi lavrado, submeteram-se ambas as partes –
[obtem] daí a obrigação de pagar a Prefeitura à Aircraft a importância de 158.793.4.2, de principal, além dos juros, que
foram contados a taxa de 4%. Conseguiu ainda a Municipalidade (cláusula 3ª do termo) que os pagamentos pudessem ser
feitos em moeda nacional, no caso de não se conseguir a necessaria cobertura, tomando-se, como taxa, a que
vigorar oficialmente para compra de saques à vista, sobre Londres.
O procedimento da Interventoria pôs termo, assim, a uma questão desagradável, que vinha tendo repercussão
internacional, com reflexos em o crédito do município no estrangeiro.
Cumpre-nos agora informar que o assunto ficou completamente liquidado, importando a despesa total, juros inclusive em 161.674.[16].
A história irá se estender. Em fevereiro de 1934, Carl Alexander Oelsner, engenheiro-chefe da empresa entre 1928 e 1931,
comentava em artigo que infelizmente até aquele momento a Diretoria de Obras, o Cadastro Fiscal e o público
“estão privados das nossas plantas as quais foram feitas com tanta dedicação e suor” (OELSNER, 1934, p.328).
Nova comissão arbitral parece ter sido formada, entregando em 15 de maio seu relatório. Os árbitros Josino Medeiros,
procurador-adjunto dos Feitos da Fazenda, e o general Christovão Barcellos, pela empresa, não
chegaram a um acordo, apresentando laudos em separado. Pedro Ernesto, o interventor, nomeou imediatamente
como juiz o desembargador Renato Tavares, da Corte de Apelação.
O processo ainda que tortuoso consegue chegar a seu término. Consta enfim a liquidação do débito,
até o final de junho de 1934, com dois pagamentos: 3.180:022$00 e mais 2.574:524$000, em apólices. A contenda passaria
ainda por outro entrave, agora restrito ao grupo dos agentes de intermediação da empreitada, aos lobistas.
Certa parte da imprensa usará a presença desse agenciamento para criticar a prática junto aos negócios feitos pelo governo.
Victor Nothmann, representante da empresa, acabaria por receber da Aircraft Operating o valor de 262 contos em comissões.
Sobre o impacto causado, enfim, pela entrega do levantamento do Rio de Janeiro e do Distrito Federal pouco se sabe.
Parece ser quando muito restrito ao panorama local se considerarmos que a parca historiografia sobre
aerofotogrametria aplicada na gestão urbana, na parte produzida em São Paulo, não traz menção a aquela iniciativa.
Sua presença parece não ter registro maior na historiografia urbana carioca numa primeira visitação. Seria de duvidar,
não houvesse confirmação dos pagamentos, de sua entrega efetiva à Prefeitura. Porém, não há registro do
encaminhamento do conjunto de documentos de trabalho (cadernetas, negativos etc) como previsto em contrato.
Rara evocação desta cartografia, em um vasto recorte no qual a produção do século XX tem espaço generoso, é a mostra
Do cosmógrafo ao satélite, organizada por Jorge Czajkowski (2000).
Aqui se recupera a presença dos levantamentos aerofotogramétricos da cidade do Rio desde 1928. Embora haja menção apenas a 51 pranchas relativas ao mapeamento na escala 1:1.000,
seu curador indica que o levantamento aerofotogramétrico de 1928 foi a base para a
Planta da Cidade do Rio de Janeiro, editada em 1935,
referenciada nesta fonte como “planta cadastral”. Em escala 1:5.000, um conjunto de
113 pranchas (27,5 x 46,6 cm cada), encomendado pela Secretaria de Viação, Trabalho e Obras da Prefeitura do Distrito Federal, integra acervo do Instituto Pereira Passos.
Como ocorreu em São Paulo, o segundo mapeamento aerofotogramétrico do Rio de Janeiro, informa o texto, data também de 1953-1956, composto pelo menos por série de 211 pranchas em escala 1:1.000.
No que toca ao mapeamento realizado de 1928. ação recente garantiu, a partir de tratamento e conservação realizado em 2012, a disponibilização do
conjunto final de fotocartas e pranchas gráficas, custodiado pelo Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro (AGCRJ). O acesso
digital, desde o início de 2014, permite conhecer, como parte do Fundo Diretoria de Secretaria do Gabinete,
os espécimes cartográficos entregues pela Aircraft Operating. Organizados em duas séries: Aerofotogrametria (1928-1929) e
Levantamento Terrestre (1930), os itens estão reunidos em dossîês por região.