PMSP/SMC
São Paulo, dezembro de 2014
Ano 10 N.37 

Abertura | Acervo Bibliográfico | Ensaio temático | Mosaico 1:1.000 e 1:5.000 | Notícias | Ns.anteriores

  • ENSAIO TEMÁTICO
  • S.A.R.A. Brasil:
    restituindo o Mapa Topográfico do Município de São Paulo


    breve história da aerofotogrametria nas cidades do Rio e São Paulo na década de 1920






    São Paulo: de volta ao debate

    Visto agora em perspectiva, é possível retomar à discussão sobre o parecer da Câmara Municipal de São Paulo relativo à proposta de contratação do levantamento topográfico do munícípio. O parecer nº 52 volta à pauta em segunda discussão na sessão do dia 24 de abril de 1928 124.

    Na abertura da apresentação, o vereador Goffredo Telles, relator das comissões responsáveis, comenta artigo na imprensa que afirma serem os membros das comissões favoráveis à contratação da proposta da Junkers Flugzeugwerk. O parecer “era um hino a essa empresa”, segundo os jornais. Telles reforça que o texto aponta na direção oposta. Embora siga em parte o edital adotado no Distrito Federal (veja Anexo II), este é omisso em vários pontos detalhados no parecer.

    Surge um conflito nesse sentido com o vereador Sinésio Rocha, o que leva o adiamentto da discussão para o dia 5 de maio125. Agora, com apresentação de emendas propostas pelo relator e pelo vereador Sinésio Rocha, o parecer é aprovado, bem como as emendas em separado, voltando o conjunto às comissões para avaliação.

    Ocorre aqui uma nova inversão de perspectiva. Se a solicitação de autorização do Prefeito para contratação fora criticada como vaga, a emenda inicial apresentada pelo vereadores caminhava em sentido inverso. A partir dessa fase, porém, a discussão do novo parecer, agora sob o número 85, na segunda discussão exigida pelo regulamento, realizada no dia 26 de maio126, aponta para um projeto lei mais vago que o inicial.

    É lido e aprovado em votação o texto legal, genérico, em 3 artigos, que não menciona nem mesmo o método de trabalho, mas apenas seu objeto: o levantamento topográfico do município. O vereador Almeirindo Gonçalves, que apresenta emenda nessa direção, chega a comentar seu encontro com o Prefeito há dias:
    Goffredo da Silva Telles contestará os encaminhamentos apontando que o substitutivo dá carta branca ao Prefeito. O processo que buscava restringir, como afirma em debate com Sinésio Rocha, acaba por autorizar “quase sem restrições” a solicitação. Telles comenta a ausência na proposta de “claúsulas que garantissem o interesse do município, quanto ao rigor dos levantamentos e à exatidão das plantas.” (CMSP, Anais 1928, p.346).

    As discussões, que parecem rumar para um texto legal sintético, indicam, em paralelo, que o Executivo já dava andamento prático em pontos acessórios. Ainda na sessão do dia 26, o vereador Diógenes de Lima pede para constar em ata que o prefeito Pires do Rio já designou,
    O novo parecer será retomado nas sessões dos dias 23 de junho e, em segunda discussão, em 7 de junho129, quando é aprovada a proposta de lei. O único voto contra é do vereador Goffredo Telles. Resta à última sessão contestar a imprensa, no caso artigo em O Estado de S.Paulo, o que é feito pelo vereador Ulysses Coutinho. Como resposta à acusação do jornal que acusa à Câmara e à Prefeitura de responsabilidade “de não se haver cogitado do preparo da cidade para à época de grande progresso que ela está atravessando”, o parlamentar menciona as obras de retificação do rio Tietê130, como também os estudos das radiais do Anhangabaú e Itororó, que resultariam nas décadas seguintes nas avenidas Nove de Julho e 23 de Maio, e o próprio levantamento topográfico, iniciativa direta do prefeito Pires do Rio.

    Em 17 de julho o prefeito promulga a lei nº 3.203, aprovada na sessão do dia 7 último:
      Art.1º – Fica o Prefeito autorizado a contratar com quem maiores vantagens ofereça e pelo processo que julgar mais conveniente, mediante concorrência pública, o levantamento topográfico do Município.

      Art.2º – Fica o Prefeito autorizado a entrar em acordo com o governo do Estado, para que o serviço se realize em proveito de ambas as administrações, sendo por elas custeado.

      Art.3º – As despesas com a execução desta lei correrão pelas verbas próprias do orçamento vigente e, na sua insuficiência, serão feitas com o produto do último empréstimo estrangeiro.

      Art.4 – Revogam-se as disposições em contrário.


      (CMSP: base de legislação municipal)

    Do edital ao contrato

    Um mês depois, em 16 de agosto, sai o edital da concorrência. Surpreendentemente, em contraste com o lacônico texto da lei, a concepção segue o parecer inicial e sua ênfase nas exigências técnicas voltadas para controle do processo e acuracidade131.

    Além de dar preferência ao processo aerofotogramétrico, o texto é direto ao apresentar de início as tolerâncias admitidas, antes mesmo de descrever os produtos finais. Define-se, então, apenas o levantamento em escala 1:5.000, cobrindo todo o município (930 km2)132, apresentado em 3 conjuntos:
    • fotocartas, em 25 pranchas enteladas133,
    • versão impressa das mesmas, com tiragem de 5 mil exemplares, e
    • 6 exemplares de cada prancha, em papel transparente para tiragem de cópias.
    Fica em aberto, “caso a Prefeitura julgue necessário”, a realização de levantamento da área central da cidade, em escala 1:1.000, cobrindo 30 km2. Este seria entregue também em 3 conjuntos similares, formados por dez pranchas, com tiragem impressa de mil unidades. Os produtos programados são assim muito distintos do edital carioca. A concorrência da capital federal prevê de início quatro levantamentos nas escalas 1:1.000, 1:2.000, 1:5000 e 1:20.000, cobrindo como aqui áreas progressivamente maiores. Além disso, as tiragens impressas seriam significativamente menores.

    Como no edital carioca, exige-se a entrega de toda a documentação de trabalho e registros como negativos e até mesmo pedras litográficas, sendo todos os itens “numerados, catalogados e acondicionados”. A entrega, no caso paulistano, é condicionante para o pagamento da última parcela.

    Antes mesmo do período de apresentação de propostas, a Junkers Flugzeugwerke, através do seu representante local, Flavio Prado Uchoa, confirma custo unitário por hectare coberto junto ao engenheiro Georges Corbisier, há pouco mencionado. A comunicação, registrada em memorando, de 1 de agosto de 1928, traz dados novos ao modificar a proposta inicial. Esta propunha o levantamento na escala 1:5.000, com curvas de nível equidistantes de 5 em 5 metros, apresentado em 10 fotocartas e pranchas impressas com tiragem de mil exemplares. A empresa mantém o mesmo preço unitário por hectare de US$ 2, atendendo as quantidades expressas no edital134.


    OESP, 15 de setembro de 1928

    A Prefeitura Municipal anuncia a abertura das
    propostas no dia 18 de setembro.

    O Estado de S.Paulo, 15 de setembro de 1929.

    As propostas são abertas no dia 18 de setembro, às 14 horas, no gabinete da Diretoria de Obras. Concorrem as empresas Compagnie Aérienne Française, Junkers Flugzeugwerke e Società Anonima Rilevamenti Aerofotogrammetrici, de origens francesa, alemã e italiana respectivamente135. São representadas, por sua vez, pelo Barão Etienne Menou, Max J. Ungewitter e J. & H. Robba136. As duas primeiras participaram meses antes da concorrência carioca, tendo a Compagnie Aérienne Française apresentado então proposta incompleta. Lembremos que a Junkers desistira de sua participação no edital carioca por questões internas da empresa, ainda na fase de análise das propostas137.

    A S.A.R.A., sigla pela qual será vulgarmente conhecida a empresa romana138 Società Anonima Rilevamenti Aerofotogrammetrici, sai vencedora.
    A tabela de colocação das propostas, conforme publicado na imprensa, em julgamento realizado em 25 de setembro, onze dias depois da entrega, revela que apesar do posicionamento em terceiro lugar quanto a provas comprobatórias, que comentaremos adiante, seus preços foram decisórios.
    Em 20 de outubro, um mês após, Arthur Saboya, diretor de Obras e Viação, encaminha a informação para publicação, com autorização do prefeito Pires do Rio142. Dias depois, Saboya indica para fiscalização os engenheiros Georges Corbisier ([1895]-1937143) e Silvio Noronha144, chefes da 2ª e 7ª Seção145, além de Agenor Machado (1894-1974)146. Como principal fiscal, Machado é figura experiente, atuando na Comissão Geográfica e Geológica do Estado (CGG), permitindo entronsamento entre os setores especializados nas duas esferas147.


    Detalhe de papel timbrado utilizado por Agenor Machado,
    engenheiro fiscal dos serviços realizados pela S.A.R.A.
    Processo 59.758/30 – f.1.

    Acervo AHSP
    AHSP-Agenor Machado - papel timbrado

    Corbisier, em entrevista ao Correio Paulistano, no dia 8 de dezembro, traça um panorama didático dos serviços contratados. É apresentado como “jovem e brilhante engenheiro”, chefe da 2ª seção da diretoria de Obras Municipais: “Além de chefiar um departamento que só lida com plantas, é piloto-amador, dedicando-se, com verdadeiro carinho, às cousas da aviação. E secretário do 'Aéro Club de São Paulo'.”148

    O contrato é assinado finalmente em 14 de novembro. A municipalidade é representada pelo Prefeito José Pires do Rio e pela empresa italiana, seus representantes J & H. Robba – João e Henrique Robba149. Importante mencionar que o texto, além das tolerâncias admitidas (cláusula 9), traz orientações mais detalhadas quanto à triangulação, nivelamento e visadas (cláusulas 10 a 12).

    Os produtos finais passam a incluir os levantamentos em escala 1:5.000 e 1:1.000, conforme as especificações do edital. Estabelece as características físicas de cada produto, já conhecidas, e acrescenta que os originais das fotocartas seriam “fornecidos sem retoque, devidamente estirados e colados em chapas de alumínio” (cláusula 14)150.

    O serviço, a partir da assinatura, teria começo em 14 de dezembro de 1928, prevendo-se um prazo máximo de 24 meses para entrega. Os custos finais, por hectare, atingem aqui 12$000 (doze mil réis) para o levantamento na escala 1:5.000, e 50$000, na escala 1:1.000151. Nessas bases, é possível calcular um valor total de 1.266:000$000 – um mil contos e 266 mil réis.


    Os personagens: Umberto Nistri

    1931 - assinatura Umberto Nistri
    Umberto Nistri, assinatura no processo 31.771/31, f.1.

    Acervo AHSP

    Os irmãos Umberto e Amedeo152, engenheiros italianos, fundam em 1921 a S.A.R.A — Società Anonima Rilevamenti Aerofotogrammetrici153. Jovem, Umberto (Roma, 16.9.1895-Roma, 24.4.1962), agrimensor formado aos 18 anos, atua como piloto durante a I Guerra Mundial. Ao final do conflito, com a morte do pai em 1918, assume com o irmão Amedeo (189?-1936) a guarda dos outros quatro irmãos, decidindo assim permanecer na aeronáutica. Interessa-se pela aerofotogrametria nascente, campo no qual terá destaque no imediato pós-guerra pelo desenvolvimento e fabricação de equipamentos como câmeras e restituidores154.

    A abertura da empresa é o passo natural após Umberto haver projetado e construído seu primeiro instrumento restituidor. Lembre-se que já em 1921 registra sua patente em todo o mundo, dois anos após pedido de patente na Itália. Nesse ano, por exemplo, recebe no Brasil o registro nº 12.192, do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio, para seu “Memorial descritivo da invenção de 'um novo processo fotogramétrico para levantar plantas e um aparelho para esse fim', para que pretende privilégio de invenção Umberto Nistri, estabelecido em Roma, Itália.”155

    Com seu irmão Amedeo, topógrafo e matemático, através da empresa S.A.R.A., será responsável por levantamentos aerofotogramétricos para os planos reguladores de Roma e Milão ao redor de 1930. Em 1926, Umberto funda em Roma a Ottico Meccanica Italiana – OMI, voltada para a produção de equipamentos.

    A atividade da S.A.R.A. será interrompida na segunda guerra. Após o conflito os filhos de Amedeo — Giuseppe e Marcello — estabelecem a S.A.R.A. S.p.A. (Società Aerofotografie e Rilevamenti Aerofotogrammetrici), depois transformada em S.A.R.A. NISTRI156.

    A OMI, por sua vez, segue sua produção de equipamentos. O filho de Umberto — Raffaello Nistri (1920-1981) — preside a empresa a partir de 1962 após a morte do pai. A OMI fará parte na década de 1980 da Agusta157, sendo o setor de aerofotogrametria dividido entre a S.A.R.A. Nistri e Aerofotogrammetrica Nistri158.


    Recuperar a contribuição de Umberto Nistri para a aerofotogrametria requer certo esforço, considerando que boa parte das fontes historiográficas sobre o tema adotam recortes regionais, como o desenvolvimento do campo na América do Norte (EUA e Canadá) ou na Europa, com ênfase na Inglaterra ou Alemanha.

    Roma dall'aeroplano - 1919

    "Roma dall'aeroplano", 1919.
    Levantamento aerofotogramétrico atribuído a Umberto Nistri.

    Disponível em: <http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=1461938>.
    Acesso em: 27 de junho de 2014.

    Attilio Selvini é o autor que permite ter uma ideia do panorama italiano, tanto em seu livro Appunti per una storia della topografia in Italia nel XX secolo (2013) ou em artigos como o perfil de Umberto Nistri já mencionado (2012)159. Além de câmeras para fotografia aérea e equipamentos maiores para restituição que serão mencionados mais a frente, bem como as provas de habilitação técnica apresentadas na concorrência paulistana em 1928, é mais significativo apontar algumas experiências dos Nistri no registro aerofotogramétrico. Assim, em 1919, imagem reproduzida neste informativo, atribuida a Umberto Nistri, apresenta o fotomosaico — Roma dall'aeroplano160, que se constitui como marco histórico na sua produção161.
      Já em 1919, como comandante da Escola de observação aérea da Aeronáutica, realizou para o Escritório [Agro] romano o levantamento fotogramétrico de um pequeno trecho das margens do Tibre, para o trabalho de redefinição do leito do rio. Esta primeira operação foi realizada a partir de um avião com uma câmera fotográfica de funcionamento semi-automático, sobra de guerra, a partir do qual foram obtidos dados métricos associados a uma rede de pontos previamente distribuídos e gravados em solo, é, sem dúvida, o ato de nascimento oficial da 'prática aerofotogramétrica italiana'. No ano seguinte, graças a uma versão ainda não defintiva do fotocartógrafo, foi possível experimentar o 'método fotogramétrico Nistri' na execução do levantamento do campo de tiro de Farnesina (onde agora temos o Stadio dei Marmi e o Foro Itálico), na escala de 1:1.250, demonstrando as vantagens significativas da aplicação prática do sistema.
      (CERAUDO, 2013)

    Os personagens: os irmãos Robba

    Os dois irmãos Robba — Giovanni e Enrico — são, desde o primeiro momento da década de 1920, personalidades notórias na capital paulista. Integram o grupo de seletos aviadores, de origens diversas, que toma os ares das cidades brasileiras.

    Salvo a origem italiana, pouco se sabe de seus antecedentes. Enrico (Itália, 1896-1978) chega ao Brasil aos 12 anos. Quase certo, veio com a família e seu irmão, mais velho, Giovanni Antonio (Itália, [1894]162-1959). Aos 18, já adotando a forma aportuguesada, surge como Henrique praticando remo no Club Esperia, na Ponte Grande. Terá como esportista presença regular até final da década de 1940 no sabre e na esgrima, e depois no tênis.

    João e Henrique Robba retornam à Itália para participar da I Guerra Mundial. Lá aprendem a pilotar. Talvez seja desse período o contato com Umberto Nistri, figura de destaque na aviação. De qualquer forma, há uma certa sincronia no pós-guerra, em novembro de 1918, entre as pesquisa de Nistri em fotogrametria e a dedicação dos Robba na busca de oportunidades para a aviação.

    O MALHO, 7 de maio de 1927

    João e Henrique, aviadores,
    que foram instrutores de Ribeiro de Barros,
    comandante na travessia do Atlântico com o Jahú,
    posam para reportagem de
    O Malho, de 7 de maio de 1927.

    Acervo Biblioteca Nacional

    Em agosto de 1920, os irmãos Robba surgem em São Paulo como aviadores reconhecidos nos jornais. A imprensa já registra o campo de aviação, na Vila Olímpia, associados ao aviador Domingos Bertoni163. Oferecem ali, entre outros serviços, aulas, sendo um dos 3 locais de ensino na capital para pilotos civis164. Terminam a montagem então do primeiro avião adquirido, além de aguardarem mais 5 aeronaves, já embarcadas ou aguardando produção.
    O potencial da empresa, o “campo no Jardim América”, tem registro na imprensa, em nota no dia 18 de dezembro de 1820 sobre a nova organização, trazendo um balanço das ativades realizadas nos últimos quatro meses. O articulista destaca a organização dos livros, o regulamento interno do hangar, a pequena oficina mecânica e o depósito de peças. Menciona as duas aeronaves utilizadas pelos irmãos, enfatiza a segurança, e registra, por fim, o transporte no período de 415 passageiros.
    Em novembro, na recepção de personalidades italianas, no Brás, fazem “diversas evoluções sobre a avenida Rangel Pestana, à pequena altura, sendo muito aplaudidos”167. Essa presença regular em eventos públicos, como vimos de início, será frequente. Buscam, quase certo, a visibilidade dada pelos jornais na busca de oportunidades comerciais ao mesmo tempo que reforçam laços sociais.

    Pouco a pouco exploram outras possibilidades. Em outubro de 1921, por exemplo, jornal de Recife informa em telegrama transcrito: “Rio, 10 – O aviador paulista, sr. Robba, acompanhado de um passageiro fez, com êxito um 'raid' aéreo de São Paulo a Poços de Caldas.”168 No início de 1922, em fevereiro, a revista carioca O Malho publica foto de grupo com o “piloto aviador” João Robba, o tenente-engenheiro Giuseppe Cornetto e o mecânico Vasco Cinquini, do Aeródromo Brasil, posando frente à aeronave “com que foram de S. Paulo a Ribeirão Preto, em viagem de estudos para estabelecer uma linha comercial entre as mais importantes cidades do grande Estado.”169

    Visibilidade social e entretenimento são uma mistura peculiar. As tardes de aviação são traço distintivo do momento. João será, entre tantos aviadores, reconhecido pela perícia em manobras. Assim, em 4 de junho de 1922, numa promoção dos irmãos Robba e Fritz Roesler, João faz, no (aeródromo) do Jardim América um voo de cabeça para baixo, apontado como novidade em São Paulo170. Poucos dias depois, no dia 11, o Prado da Mooca recebe uma das primeiras homenagens aos aviadores portugueses Sacadura Cabral e Gago Coutinho, pelo raid Lisboa-Rio, quando eles ainda se encontravam a meio caminho, em Salvador. O evento é organizado pela “jovem” aviadora Thereza de Marzo, com a presença destacada da “figura simpática” de Edu Chaves, “glorioso” realizador do raid Rio-Buenos Aires.
    Em 15 de outubro, a aviadora Thereza de Marzo inaugura seu campo de aviação – o Aeródromo Ypiranga. O evento conta com a presença de representantes do governo municipal e personalidades do setor como Georges Corbisier, diretor do Aero Club de S. Paulo. O campo, com as dimensões de 400 por 300 metros, tamanho usual no período, ficava junto ao leito da estrada de ferro São Paulo Railway e à “estrada de rodagem para São Bernardo”, com vento predominante sul, como informa a imprensa172. Em homenagem à anfitriã os aviadores Robba, Roesler e Stechan fizeram voos com passageiros. De Indianópolis, quase certo do Aeródromo Brasil, veio a aviadora Anesia Pinheiro Machado, num “aparelho caudron 80 HP, pilotado pelo destemido aviador paulista Reynaldo Gonçalves, o qual fez acrobacias...”

    Esses eventos não se restringem à capital173. E, muitas vezes, reunem pessoas que veremos envolvidas mais a frente no empreendimento realizado pela S.A.R.A. Brasil anos depois: Corbisier, os Irmãos Robba. Em 13 de maio de 1923, os irmãos Robba, estão em Santos, no Jockey Club, em evento em benefício do Retiro dos Jornalistas, que conta com a presença de Zezé Leone, a “rainha da beleza”174. Dois meses depois, em 15 de julho, o aeródromo do Portão, em Curitiba, recebe o “festejado 'az' italiano Giovani Robba”. Já na estação ferroviária, dias antes, é recebido por personagens como Albano Reis, presidente da Escola de Aviação no Paraná, cav. Hugo Tomasi, cônsul da Italia; cav. Vicente Alberico, diretor do Banco Francez e Italiano... No evento, “...o aviador Robba executará arrojados voos, no que é perito, além de belos vôos à fantasia”175. João Robba estará de volta à cidade em 11 de dezembro do mesmo ano. Nota na imprensa informa que prosseguiam os voos com passageiros no avião 'Curytiba', a seu comando, conduzindo entre outros João Baptista Groff (1897-1970), cineasta e fotógrafo176. Após os vôos a Escola de Aviação ofereceu às 17 horas um “chá dedicado as famílias que ali compareceram”177.

    Enrico Robba - busto, sem autoria

    Henrique Robba, busto em bronze.
    Sem autoria, sem data.

    Coleção particular

    Os Robba, contudo, mantêm em paralelo empreendimentos em outros setores. Como surgiram essas iniciativas é difícil precisar. Em abril de 1929, em meio ao andamento dos trabalhos da S.A.R.A. Brasil para o levantamento topográfico da capital paulistana, é possível identificar essas ações. Sob a denominação J. & H. Robba, já estão sediados à Rua Conselheiro Nébias nº 162. Oferecem basicamente serviços voltados para setor automobilístico em expansão contínua: “Carpinteria, Seleria, Pintura, Eletricidade, Solda Autogenia/ CONCERTOS/ AUTOS-MOTORES/ MAQUINISMOS, ETC./ Fabricação de Acessórios/ para Automóveis”. Essa relação, que consta de papel timbrado da firma, finaliza com os serviços voltados para a aviação civil: 'AERODROMO BRASIL'/ ESCOLA/ Excursões Aéreas/ Caminho da Casa Verde/ PONTE GRANDE/ S. PAULO”178.

    Desde 1928, Henrique participa, como suplente do Conselho Consultivo da Associação dos Industriais Metalúrgicos, sinal que seus interesses comerciais fora da aviação deviam ter algum peso179. Em 1933, a empresa Henrique Robba & Cia surge em anúncio como distribuidor dos acumuladores Heliar, à Rua Dr. Frederico Steidel nº 25/29180. É nessa direção, a partir de então, que os negócios tomam rumo181. Sua presença, como a de João, na aviação civil como empresário perde espaço a partir de meados da década de 1930.
    Mosaicos
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    Para citação adote:

    MENDES, Ricardo. S.A.R.A. Brasil: restituindo o Mapa Topográfico do Município de São Paulo.
    INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 10 (37): dez.2014
    <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>

     
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