|
Montagem comparativa de fotografia aérea vertical de trecho da Av. Paulista, entre a Rua Pamplona e Alameda Campinas, frente a detalhes das pranchas impressas
nas escalas 1:5.000 e 1:1.000, nas extremidades, permite confirmar que o registro fotográfico é contemporâneo ao levantamento realizado pela SARA Brasil.
Década de 1930.
Acervo AHSP
Uma outra ocorrência, no campo privado, merece ser citada. Tratam-se também de registros fotográficos.
Quase certo, são negativos gerados no processo de retificação de imagem, pelo qual a perspectiva cônica, característica da tomada fotográfica por câmeras, será transformada
em perspectiva ortogonal, permitindo a construção de mosaicos. Na coleção do pesquisador Rubens Fernandes Junior encontram-se
dois negativos flexíveis, que registram parte da região do Pacaembu. Adquiridas no início da década de 2000, integravam séries de registros
sequenciados que chegaram ao mercado de antiguidades. Em formato similar ao das câmeras utilizadas (13 x 18 cm), embalados em envelopes com
timbre da SARA Brasil, essas ocorrências, que integrariam a documentação técnica, evidenciam que esta chegou efetivamente ao
Brasil.
O contrato tem também seus andamentos administrativos em outros níveis. Em setembro de 1929, carta da SARA Brasil ao prefeito Pires do Rio, pede a liberação dos cupons
vencidos em 1 de julho, relativos aos juros correspondentes à caução exigida pelo contrato.
Por outro lado, a empresa está presente em momentos
significativos, como as homenagens ao piloto Vasco Cinquini, em janeiro de 1930, morto em Santos. Cinquini pilotava seu novo avião, que acabara
de chegar junto com o Caproni, da SARA. No evento em honra ao piloto, na sede da Aero Civil, reunindo toda a comunidade de aviação paulistana,
entre as coroas está aquela enviada pela SARA Brasil S/A.
A grande novidade no início de 1930 é, como vimos, a chegada do Caproni Ca-97. Com o andamento, e provável finalização, da fase de
fotos de campo no primeiro semestre, o campo das operações é transferido para a Itália, na sede romana da S.A.R.A.
Ganha destaque a participação do engenheiro Agenor Machado, membro da comissão de fiscalização dos serviços, junto com Georges Corbisier e
Silvio Noronha, servidores municipais. Machado, engenheiro ajudante da Comissão
Geográfica e Geológica, é cedido pela Secretaria de Estado dos Negócios da Agricultura, Indústria e Comércio.
Em 14 de março de 1930, é formalmente indicado pelo prefeito, designando-o “para exercer a fiscalização dos
trabalhos de restituição, desenho e impressão do mapa topográfico do Municipio, em Roma, sendo-lhe dispensado o auxílio de um conto de réis mensal para despesas de viagem.”
De início, Agenor
deve ter supervisionado os trabalhos de solo, como a implantação dos marcos de nivelamento.
Em março de 1929, marcando quase certo uma de suas primeiras ações, ele solicita ao diretor de Obras e Viação Arthur
Saboya providências para autorização das despesas, no valor de 4:344$000, para implantação daqueles marcos. Ainda que
faltem detalhes sobre as operações, sabe-se que a parte geodésica estava a cargo do engenheiro Saverio
Spagnoli, e do nivelamento o engenheiro Mott. De Spagnoli, sabemos apenas que em março de 1929 acompanhara Umberto
Nistri, em visita ao prefeito, sendo apresentado então como membro do Instituto Geográfico de Roma.
Roma, primavera de 1930
Agenor chega à Itália em abril de 1930. Quase certo a tempo de acompanhar os primeiros trabalhos de restituição nas oficinas dos Nistri.
À maneira do levantamento carioca, em menor número, visitas oficiais fazem parte do roteiro.
Em maio de 1930, no dia 13, o embaixador brasileiro em Roma, Oscar de Teffé, visita o estabelecimento Nistri.
Está acompanhado de Agenor Machado. “O embaixador do Brasil visitou detalhadamente todas as dependências da
companhia, examinando minuciosamente todos os aparelhos empregados...”. Embora noticiado na imprensa paulista no dia 15 de maio,
apenas duas semanas depois extenso artigo no Correio Paulistano faz um balanço da empreitada.
Roma, escritórios da S.A.R.A, 13 de maio de 1930.
O Embaixador Oscar de Teffé, ao centro, visita as oficinas
acompanhado do engenheiro fiscal Agenor Machado, à direita.
Umberto Nistri, à esquerda, recebe o diplomata.
Correio Paulistano, 6 de junho de 1930, p.5.
Acervo Arquivo Público do Estado de São Paulo
Aqui, surge foto de grupo, no qual Umberto, Oscar e Agenor posam frente ao que parece ser o fotocartógrafo Nistri empregado no serviço.
É possível confirmar vários dados como a participação efetiva de Cattaneo, pilotando o Caproni,
bem como a previsão das primeiras folhas para julho seguinte. Até mesmo a participação de Agenor Machado, em congresso cartográfico, em setembro é mencionada.
No dia 14 de maio, nova visita ocorre quando da estadia em Roma do deputado Plinio Salgado. Acompanhado de jornalistas brasileiros, é recebido
nas oficinas por Umberto Nistri e Agenor Machado. Após o encontro, o deputado seguiu
para reunião com o primeiro ministro italiano, Mussolini.
O desafio de Umberto Nistri e sua equipe é produzir a primeira prancha da cartografia impressa. A fase de restituição é ponto chave.
Antes as cópias fotográficas deveriam ser retificadas, fazendo a transposição da perspectiva cônica para a cilíndrica, e
organizadas em mosaicos. A retificação seria controlada mediante pontos de referência na imagem, com posições
planialtimétricas obtidas em campo. A ordenação das imagens sucessivas (strips), permitiria assim criar mosaicos controlados.
Lembremos que os produtos finais da concorrência paulistana incluiam a entrega tanto das pranchas
impressas quanto as respectivas fotocartas.
O centro do processo, no caso da empreitada da S.A.R.A Brasil o ponto de destaque, são os equipamentos restituidores desenvolvidos por
Umberto Nistri, desde o final da década de 1910. Eles permitiam “automatizar” o processo de
restituição, gerando diretamente as pranchas cartográficas. Data de maio de 1919, sua primeira patente na Itália, de número 1774490, relativa a
“Aparelho para obter a planta topográfica a partir de fotografias aéreas
estereoscópicas” (SELVINI, 2012, p.13). No ano seguinte, ganha forma o primeiro modelo restituidor Nistri – o Estereoprojetógrafo, numa tradução
ligeira para “Stereoproiettografo”, conforme Selvini (idem).
Uma decisão importante será tomada neste momento, e questionada pelo engenheiro fiscal em Roma: a produção da primeira prancha cartográfica na escala
1:1.000, na qual o processo seria exigido ao máximo. Certamente Umberto
queria obter, caso fosse bem sucedido, uma situação favorável ao projeto como forma de compensar o flagrante atraso na
empreitada. Essa primeira prancha tomaria quatro meses de trabalho, comentaria Machado, devendo ter sido
iniciada entre fevereiro e março de 1930.
Umberto desenvolvera sucessivos modelos de restituidores fotográficos, em especial os modelos II, em 1925, e III, em 1929, no qual
seria efetivamente processado o mapa topográfico de São Paulo. Há uma diversidade de modelos Nistri
com diferentes aplicações como o fotócartógrafo, o fotoestereógrafo, o fotomúltiplo, para escalas médias, e o estereógrafo, para levantamentos
rápidos.
Fotocartógrafo Nistri, em modelo não identificado, possivelmente a segunda versão.
Observe à esquerda, o conjunto ótico para posicionamento de chapas,
que se integra neste caso a amplo grupo para tracejamento das pranchas.
Os textos inclusos na proposta apresentada na empresa,
ao comentar a qualidade dos seus equipamentos,
indicam que eram maiores que os dos demais fornecedores.
Acervo SARA Nistri
Os restituidores são basicamente formados por dois conjuntos. Um primeiro, destinado ao posicionamento de uma sequência de
registros fotográficos no espaço conforme posição das mesmas no momento de tomada. E um segundo, que
constitui efetivamente o sistema para determinação e tracejamento das curvas de níveis.
Embora esses aparelhos trabalhem com o conceito da estereoscopia, articulando imagens sucessivas,
e, portanto, entendendo-se assim a sobreposição necessária entre as fotografias, nem todos os restituidores se
utilizam efetivamente da visão estereoscópica como a conhecemos.
O maior grupo de restituidores para determinação e tracejamento mecânico da carta, naquele período,
usa o recurso estereofotogramétrico, como os modelos Hugershoff, Zeiss etc. Um segundo grupo, ao qual a própria SARA acreditava
ser a única a operar então, emprega o método Nistri.
Aqui o sistema utiliza o cintilamento, no qual cada par de imagem era
exposto alternadamente num curto período de tempo, permitindo determinar os pontos com a mesma
altura, reconstituindo as curvas de nível “automaticamente”.
Fotocartógrafo Nistri, em modelo reproduzido na obra de Paulo Mesquita (1950).
Embora os artigos de Selvini (2012) sejam mais precisos,
nenhum dos registros visuais disponíveis apresenta os equipamentos em operação.
Mesquita é, ressalve-se, mais objetivo na descrição do sistema.
Nesta imagem, o uso do processo de cintilamento, e não a projeção estereoscópica, é revelado pelos semicírculos posicionados em frente às fontes de projeção à esquerda.
Coleção particular.
A empreitada utilizou, segundo Selvini (2012, p.14), o modelo III do fotocartógrafo Nistri – Aeronomal. Empregado no
levantamento de Palermo, permitiu a produção da primeira planta cadastral italiana com o sistema. O modelo, ainda
que mais compacto que o anterior, é referenciado pelos Nistri como maior que os demais aparelhos restituidores.
A primeira folha: o Bom Retiro
Agosto de 1930, a
primeira folha, na escala 1:1.000, está pronta, em Roma. Em 30 de setembro, a imprensa
paulistana reproduz a prancha, junto com o retrato e o depoimento de Umberto Nistri sobre o andamento do serviço. Mais
tarde, identificada como folha 37/22, a prancha apresenta trecho do Bom Retiro, entre as grandes estações ferroviárias e o Jardim
da Luz.
Mapa Topográfico do Município de São Paulo, 1930.
A prancha 37/22, parte do levantamento em escala 1:1.000,
é o primeiro desenho cartográfico finalizado.
A reprodução acima corresponde à prancha impressa final e não ao desenho.
Acervo AHSP
Em setembro ainda, na Europa, o professor Gino Cassinis (1885-1964), da Escola de Engenharia da Universidade de Pisa, apresenta no terceiro
congresso internacional de fotogrametria realizado em Zurique, Suíça, o relatório de Agenor
Machado, engenheiro fiscal do serviço, sobre o resultado alcançado nessa primeira folha.
Estrategicamente,
munido da valiosa prancha, o engenheiro Umberto, por sua vez, embarca no dia 13 de setembro em Genova rumo à
América do Sul. No dia 24, chega ao Rio, rumo ao sul, a bordo do 'Giulio
Cesare'. No dia seguinte
chega a Santos, trazendo alguns itens destinados ao serviço - “dois aparelhos estereoscópios e uma bússola de aviãção”.
Em paralelo revela-se que operação fundamental está em curso: a prorrogação do contrato. No dia 4 de outubro, data que
aparece meio apagada na carta assinada por Luis Giobbi, em papel timbrado da SARA Brasil, seu diretor geral,
ele solicita que “em vistas das dificuldades diversas e imprevistas que se apresentaram no decorrer da execução do serviço,
como fossem as inundações, crise financeira e outras” a concessão de prorrogação do prazo de entrega dos
trabalhos (processo 50.495/30, f.1). Giobbi propõe um novo cronograma, parcelado:
- a zona urbana, em escala 1:1.000, até o final de abril de 1931,
- a zona suburbana, em escala 1:5.000, até o final de junho de 1931, e
- o restante de todo o material, até o final de outubro do mesmo ano.
Solicitados a opinar pelo diretor de Obras, Arthur Saboya, os fiscais do serviço Georges Corbisier e
Silvio Noronha declararam em 10 de outubro que os motivos apresentados são perfeitamente justos. O atraso médio seria de seis
meses, como informam. Considerando o prazo de dois anos, estabelecido por contrato, além do limite máximo para início das obras,
o cronograma inicial venceria nos primeiros meses de 1931, permitindo supor que o atraso efetivo era maior.
Outro imprevisto estava surgindo, em paralelo, a essas decisões: a revolução de 30. No entanto, ainda que o
governo provisório nomeasse sucessivos prefeitos nos meses seguintes, permitindo pressupor alguma perturbação no
andamento dos processos administrativos, a justificativa é aceita em 11 de dezembro por Anhaia Mello.
Agenor Machado não acompanhou Nistri em sua viagem a São Paulo. Embora tivesse solicitado autorização para
participar no congresso em Zurique, na falta de resposta visitara a exposição internacional de fotogrametria, que ocorria
em paralelo na Escola Politécnica local. Os trabalhos de restituição estavam em andamento, informa Machado, e
assim aproveita para estudar os processos de reprodução litográfica. As diversas experiências realizadas em Roma não
apresentaram resultado satisfatório, o que leva a decidir em favor do Istituto Geografico De Agostin, em Novara.
Em Zurique me entendi com diversos professores, entre eles os Drs. Baeschlin e Zeller, nomes de reputação mundial,
aos quais pedi conselhos e sugestões, bem como travei relações com os diretores da fábrica de instrumentos de
engenharia Henri Wild, de Heerbrugg, com quem combinei de seguir um curso prático de fotogrametria aplicado ao autógrafo Wild,
nos seus estabelecimentos. Visitei também algumas empresas litográficas em Zurique e em Berna, tendo
colhido dados interessantes para a S.A.R.A., e teria estudado melhor os modernos aparelhos de engenharia que hoje
fabricam as firmas Kern, Zeiss, etc., se a minha presença em Roma não fosse necessária para informar aos diretores
da S.A.R.A. sobre o que tinha observado e o que era aplicável aos trabalhos em execução.
(Processo 59.758/30, f.4)
Oportunamente, a avaliação dos primeiros resultados do levantamento, tema que seria apresentado na conferência
organizada pela International Society of Photogrammetry (ISP), por Gino Cassinis, no terceiro congresso internacional
da entidade, é publicado em São Paulo.
Em outubro de 1930, a Revista de Engenharia, editada pelo Centro Acadêmico Horácio Lane da Escola de Engenharia
Mackenzie, traz o artigo Os primeiros resultados obtidos no levantamento aerophotogrammetrico de São Paulo. A
análise aqui apresentada corresponde à comunicação enviada ao congresso, a qual será continuamente referenciada
nos anos seguintes. Ela enfoca estritamente a primeira folha recebida, publicada na imprensa local como vimos,
embora não seja referenciada no texto. O autor é objetivo no propósito da avaliação, feita em agosto, na cidade de Roma:
Este, que é o processo aerofotogramétrico Nistri, na sua essência, pouco diverge dos demais similares, porém implica
uma técnica própria de campo e de restituição. Empregado pela primeira vez em serviço realmente orgânico de
grande extensão, o seu resultado deve despertar interesse, não somente para se ter um conhecimento dos seus erros,
como também para compará-los com os fornecidos recentemente por Hugershoff em seu trabalho intitulado
'Photogrammetrie und Luftbildwesen'. Para a Prefeitura de S.Paulo, contudo, bastava que os erros verificados na folha
não ultrapassassem os toleráveis pelo contrato que, no presente caso, permitia uma divergência de posição
planimétrica de qualquer ponto igual a meio metro. Como, porém, era a primeira vez na América do Sul que se verificava o
erro de um trabalho desse gênero e a primeira vez em todo o mundo que um governo municipal empreendia um
levantamento completo dos seus domínios, é natural que se tenha curiosidade de conhecer as divergências encontradas, e
igualmente os erros médios que essas fornecem.
Os operadores de S. Paulo executaram, na zona abrangida pela folha enviada, 924 medidas lineares distribuídas em 53
alinhamentos diversos e 24 determinações de cotas. Nenhum instrumento especial de medida foi empregado além dos
usados comumente, e os pontos no terreno não eram assinalados com marcos, de maneira, a serem identificados com
absoluta segurança. A verificação teve um caráter essencialmente prático, e é justamente ai que está o seu valor.
Em resumo, procurou-se ver que precisão se alcançaria na pratica ordinária e não que exatidão que se pode atingir com o método devido ao eng.º Nistri.
(MACHADO, 1930b, p.207)
Apenas em 2013, Erly Lima fará a avaliação do relatório de Agenor, aferido agora em confronto com
recursos topográficos atuais, dentro dos limites que os registros apresentados no artigo permitem avaliar. Para Machado, os erros
registrados eram compatíveis com as exigências do edital, atingindo na planimetria ± 0,48 m, desprezados 12 observações
com “divergência exagerada”, e na altimetria ± 0,20 m. Nota curiosa, na apreciação em Machado, diz respeito
à forma como justifica as discrepâncias encontradas com erros máximos, na planimetria.
Do quadro acima verifica-se que o processo garante em geral uma divergência inferior a 0,50 ms, porém ainda está
sujeito a erros que podem atingir a 1,50 ms. Estes, no caso presente, se explicam pelo fato dos operadores
do fotocartógrafo serem ainda novatos, com poucos meses de experiência e estarem a 12000 kms. do terreno que foi
levantado e que nunca viram. Podem também ser atribuídos a um concorrência de erros de restituição e de
verificação, pois, como se disse, nenhum método especial de verificação foi empregado. Quanto aos 12 erros de
grandeza superior a 1,50 ms. evidentemente trata(m)-se de enganos, ou melhor, de erros grosseiros a que está sempre
sujeito um trabalho de topografia, isso devido à sua insignificante frequência.
(MACHADO, 1930b, p.207)
Agenor Machado, mais a frente, em conferência realizada em São Paulo em 1934, já mencionada, comentará o
rendimento e precisão dos equipamentos de restituição empregados. Sabe-se então que a restituição na
escala 1:1.000, apresenta um rendimento mensal de 80 a 120 hectares por mês, por aparelho,
considerando-se uma carga horária mensal de 200 horas. Essa produção incluia as fases de reconhecimento e revisão no campo, no caso de
São Paulo. Para a escala 1:5.000, Machado indica voos realizados a 2.000 e 3.600 metros, cuja restituição implicou, respectivamente,
na produção de 400 a 600 hectares, por mês e por aparelho, e 800 a 1.300 hectares, nas mesmas unidades.
No prelo, depois de alguns atrasos
Distante de São Paulo, palco das mudanças políticas imediatas ao movimento revolucionário de 1930, Agenor Machado,
envolvido na escolha dos processos de impressão litográfica e das empresas gráficas aptas para
o serviço, envia, com data de 6 de dezembro, um relato de 7 páginas ao prefeito sobre atividades desenvolvidas.
É relevante comentar que a continuidade da empreitada, não chegou a ser ameaçada, tendo sido o
engenheiro fiscal em Roma informado em ofício, de 13 de novembro, sobre sua permanência na comissão
“que tem por fim fiscalizar os trabalhos de restituição, desenho e impressão do mapa topográfico (...)” (processo 59.758/30, f.1).
É certo que os trabalhos em São Paulo, quanto aos voos, deviam ter sido encerrados, salvo aqueles necessários
à solução de problemas eventuais. Na Itália o trabalho terá novo desenvolvimento com as remessas de folhas para a
reambulação, na qual as equipes em São Paulo deverão checar erros, solicitar ajustes e o que for necessário para, finalmente,
finalizar os desenhos cartográficos e encaminhar as matrizes para impressão gráfica.
De volta à Itália, Umberto Nistri precisa vencer dois desafios: em seis meses, a entrega das pranchas, em escala 1:1.000, e,
dois meses depois, das pranchas em escala 1:5.000. Esses prazos não serão cumpridos.
Agenor, em seu relato enviado ao prefeito, no dia 6 de dezembro de 1930, acaba por revelar que os motivos de
atraso eram mais complexos: “Devido ao movimento revolucionário no nosso país os dirigentes da S.A.R.A., receando uma
rescisão de contrato, suspenderam temporariamente parte dos trabalhos em execução, de sorte que esses se atrasaram de um tempo apreciável. ” (processo 59.758/30, f.5)
A situação é mais complexa. A empresa brasileira estava negociando com a antiga administração municipal um adiantamento monetário:
“(...) seja como pagamento de trabalhos que poderia apresentar e que serviriam de garantia, seja
mediante um regular modificação de contrato, isso porque se viu em certa dificuldade financeira, em virtude dos
acionistas da SARA Brasil não terem entrado com as respectivas quotas subscritas no ato da criação da sociedade”.
(idem, f.5-6). Os diretores da empresa teriam tomado, nessa direção, medidas para aliviar as despesas.
Assim, por exemplo, entre outras, acharam que a impressão das folhas só se fará quando houver um
número considerável convenientemente acabado, e isto se a Prefeitura confirmar o entendimento que estava
estabelecido, pelo qual ela obrigava a pagar os trabalhos apresentados antes da expiração do contrato.
Este não exige nenhuma entrega antecipada de serviço, e, como tanto a sociedade como a Prefeitura têm interesse de publicar as
folhas já concluídas, é lógico que a apresentação de um trabalho por parte da primeira exige um pagamento por parte da Prefeitura.
A edição definitiva da folha 37/22, na escala de 1:1000 [nosso grifo], já está pronta e será expedida
mais tarde com as que estão agora em andamento, caso V. Exa., não deseje a sua entrega imediata. (idem, f.6-7)
Com idas e vindas de correspondências, os trabalhos caminhavam. Em carta datada de 4 de fevereiro de 1931, Umberto Nistri
informava a Anhaia Mello, que o serviço relativo às folhas na escala 1:1.000, cerca de 60 pranchas,
estava “a buon ponto”. Essa tarefa representava volume considerável da empreitada, "uma vez que o trabalho restante em 1:5.000,
tanto pela escala quanto pela menor precisão, em conjunto com a menor quantidade de detalhes
planimétricos, é muito mais fácil e mais rápido”. Embora justificado por Nistri, é necessário lembrar que este último conjunto
correspondia a 69 pranchas, das quais 16 em dimensões especiais.
A escolha da gráfica, em fevereiro de 1931, não estava decidida em definitivo. Umberto prometia na mesma
comunicação enviar o mais breve uma série de provas executadas por Gino Cassinis, na Universidade de Pisa, com processos
análogos ao dos fornecedores alemães.
Os resultados alcançados por nós, como mostrará a comparação, são superiores seja do ponto de vista
simplesmente comparativo, seja inerentemente, porque enquanto os alemães executam suas provas cartográficas até
[a escala] 1:5.000 (e dizem que a partir deste limite a aerofotogrametria não é conveniente, porque neste limite os erros
que se cometam [na restituição] podem ser incorporados aos gráficos, máxima precisão da medida da paralaxe
angular), nós, ao contrário, podemos ir até [às escalas] 1:1.000 e 1:500, como demonstram experiências realizadas
anteriormente e as cartas já executadas, nas mesmas cotas de tomadas das fotografias, ou seja, nas mesmas
condições.
(processo 19.748/31, f.2)
Apesar da redação algo confusa, o trecho é claro ao reafirmar um dos aspectos inovadores da empreitada,
ou seja a produção do mapeamento na escala 1:1.000. E,
finalizando, Umberto solicita uma antecipação de pagamento pelos
trabalhos realizados.
O que era quase certo, acontece. Em 13 de maio de 1931, Georges Corbisier informa, pela 7ª Seção da Diretoria de Obras e Viação,
ao diretor Arthur Saboya, que a Società Anonima Relievamenti Aereofotogrammetrici de Roma deixou
de fazer entrega das plantas na escala 1.1000. A data limite era 30 de abril. Ordena-se, no dia 14, notificar as duas
empresas e discute-se a aplicação de penalidades. Giobbi, pelo Instituto Brasileiro de Levantamento
Aerophotogrammetrico, um das variações de nome da SARA Brasil, responde quase duas semanas depois. Informa
que já comunicou o escritório em Roma para envio imediato das folhas.
Essas recorrentes questões de atraso e pagamentos acabam, hoje, por serem úteis na reconstituição das etapas de
trabalho. Umberto Nistri escreve ao prefeito em 12 de junho de 1931. Mais uma vez surgem referências aos atrasos no
trabalho, dificuldades financeiras enfrentadas e a impossibilidade em conseguir da prefeitura uma antecipação de pagamentos.
Esses aspectos, afirma, foram resolvidos pela empresa que foi forçada a intervir financeiramente no projeto
para assegurar a continuidade dos trabalhos.
De forma curiosa, Umberto justifica o andamento dos serviços. Ao invés da produção das pranchas na escala 1:5.000 — “la scala più facile” —,
optou-se pela 1:1.000, cujo grau de detalhamento impedia proceder com a rapidez desejada.
Não há nenhum registro nos processos que indique que o autor dessa decisão não fosse a própria empresa. Desejava ela, como
comentado linhas acima, obter com a apresentação de um produto de qualidade, nessa escala considerada
difícil, uma alteração dos prazos e, talvez, melhores condições financeiras?
Sabe-se agora que a primeira folha — a prancha 37/22 — fora enviada a São Paulo no início de fevereiro de 1931 para revisão.
As demais 57, relativas à zona urbana, numa extensão de 3.520 hectares, foram enviadas
sucessivamente a cada partida de navio. As remessas 2 e 3 foram extraviadas durante o envio, sendo substituídas.
Ao final de março, as primeiras folhas revisadas e assinadas pela comissão de controle chegavam a Roma. Agora,
para agilizar o serviço, seriam enviadas novas folhas para revisão, de 4 a 10 folhas a cada partida de navio para o Brasil, ao mesmo tempo que as aprovadas seguiam para impressão.
A cobertura na escala 1:1.000, segundo Umberto, num total de 58 folhas, lembremos desse número, teria sido executadas “em menos de um ano”.
A restitução na escala 1:5.000 estava em bom andamento, não exigindo, reforça,
revisão tão acurada como a anteriormente executada. Num dos próximos embarques começariam a ser enviadas as
primeiras pranchas, Desse modo ao final da prorrogação negociada em outubro de 1930, a parte mais importante do
trabalho estará realizada e pouco faltará para a finalização, nas suas palavras.
Nistri finaliza, pedindo ao prefeito para enviar alguém de confiança para avaliar os trabalhos, os valores a serem
pagos e autorizar seu andamento. O que significa isso? As relações com Agenor Machado, engenheiro fiscal em Roma,
teriam apresentado algum problema? Umberto mencionara que Agenor, que poderia ter resolvido tudo sozinho,
decidira recorrer aos demais membros da comissão fiscal para sanar dúvidas sobre algumas medições de controle. O conflito
deve ter sido significativo, pois o engenheiro fiscal escreve ao prefeito no dia 18 de junho, comentado a carta de Nistri de seis dias antes.
Mais uma vez, é esta uma oportunidade notável para recuperar o andamento desta etapa. As pranchas enviadas para
revisão eram cópias fotográficas. O conflito surge no fato que a empresa decidiu usar uma escala não usual para
esse serviço. Agenor comunicara essa questão por cartas sucessivas à diretoria de Obras e Viação em cinco oportunidades,
entre fevereiro e maio de 1931. Sabemos também que já seguira pelo correio a edição final da prancha 37/23.
No dia 24 de julho, é protocolada a entrega na 7ª Seção da Diretoria de Obras de carta do Istituto Geografico De Agostini, datada de 30 do mês anterior. A sociedade anônima,
com sede em Novara e filial em Roma, à Via Stamperia, informa à prefeitura que a SARA dera ordem para impressão
da carta topográfica, serviço que será feito rapidamete.
A escolha final do Istituto Geografico De Agostini não é nova. Relato de Agenor Machado, enviado de Roma em 6 de
dezembro de 1930, indica a decisão do engenheiro fiscal nessa direção. Fundada em Roma no ano de 1901, pelo
geógrafo Giovanni De Agostini, a empresa volta-se de início a edições de atlas, mapas e produtos relacionados. Sete anos depois,
em 1908, transfere sua sede para Novara. Mantém sua produção no campo da geografia, mas sucessivas
mudanças de controle da empresa levarão a empresa, a partir do segundo pós-guerra, a transformar-se em um
conglomerado ativo hoje em 30 países, situado entre os grandes nomes editoriais italianos.
Nova carta do Istituto Geografico De Agostini, datada de 3 de agosto, é enviada à Prefeitura.
Como a anterior, informa terem sido escolhidos pela SARA para impressão, porém, de uma carta topográfica do Estado de São Paulo!
Apesar desse tropeço, traz novas informações, a mais importante é confirmar o desafio técnico dessa empreitada.
Tratando-se de um trabalho em escala não usual, até agora não realizado para qualquer cliente, o trabalho apresenta
graves dificuldades técnicas, e acreditamos ser justo afirmar que nenhuma outra empresa do gênero na
Europa poderia entregar um produto mais perfeito, e em tempo relativamente breve, estando todos os estabelecimentos do setor
habituados a imprimir cartas geográficas, ou topográficas, com escala não inferior a 1:5.000.
(Processo 38.838/31, f.1)
O missivista aponta os cuidados necessários para garantir uma reprodução que atenda ao grau de precisão empregado no
processo de restituição. É necessário planejamento gráfico, que garanta condições como a permanência prévia
do papel em “secadores especiais”, visando a estabilidade dimensional do papel antes da impressão, bem como o cuidado com o registro gráfico das diferentes cores.
Desse modo o tempo empregado em experimentação e provas acabara por atrasar a entrega da primeira folha.
“....mas estamos comprometidos com a respeitável S.A.R.A. de entregar as primeiras quinze folhas que temos em
andamento, seguidas no mês de agosto de outras dez folhas e quinze para cada um dos meses seguintes”.
Pode-se deduzir assim que o conjunto de 58 pranchas, na escala 1:1.000, só estaria completo em novembro de 1931. Folha
anexa à carta traz a relação de pranchas, a serem embarcadas no primeiro navio, todas relativas à carta 1:1.000, sempre referida como do Estado de São
Paulo.
Começa aqui uma sucessão de informes registrando as chegadas parciais. Muitas são notas de embarques, informações sobre
problemas aduaneiros etc. Das 58 pranchas previstas para a escala em preparo, a tiragem prevista em
contrato era de mil exemplares. Em algum momento, houve mudança desse número para 3 mil. A entrega parcelada se estenderá.
Entre 6 de agosto e 10 de setembro, seguem 4 remessas com a tiragem de 3 mil relativas a 17
pranchas, além das 6 cópias, de cada prancha, em tela de linho transparente para reproduções. É o que informa em
balanço das entregas carta da empresa italiana, em 14 de setembro de 1931, que solicita o “aceite” da prefeitura.
Pari passu, Luis Giobbi,
diretor geral da SARA Brasil, escreve ao prefeito, em 18 de setembro, solicitando “prorrogação de prazo para entrega de
todos os serviços de levantamento topográfico do Município de São Paulo, até a data de
30 de Junho de 1932”. Os pareceres serão favoráveis, sendo em 1 de outubro concedidos apenas mais 6
meses.
As razões apresentadas, consideradas justas, dizem respeito à capacidade limitada do Istituto Cartografico De
Agostini na entrega de 15 a 20 folhas por mês, à supressão de um navio postal na escala da empresa contratada,
às dificuldades financeiras frente à crise mundial e aos preços unitários praticados, considerando-se em especial que o
contrato não previa nem adiantamentos nem pagamentos parciais.
Torna-se dificil estabelecer uma cronologia das atividades a partir do último trimestre de 1931. Não há qualquer menção
explícita à produção do conjunto de pranchas em escala 1:5.000. Em abril de 1932, a empresa solicita a
prorrogação de prazo de “todos os serviços” até 31 de outubro. Uma breve tensão se estabelece. Em 2 de maio o
engenheiro Georges Corbisier, pronuncia-se, à folha 2, contra o atendimento por acreditar que os motivos “não são
bastantes para que o pedido seja atendido ainda mais que para eles a Prefeitura em nada contribuiu”. O superior,
Arthur Saboya, vai na mesma direção e nega, por ser desleal com os demais concorrentes, o que levará a providências para multar a empresa.
Seis meses depois, em 15 de outubro, novo processo tem inicial dos fiscais Corbisier e Noronha ao diretor
Saboya apresentando os desdobramentos do despacho acima. A empresa recebera como penalidade contratual a multa diária de
200$000 a partir de maio. O total acumulado ultrapassava agora o valor da caução de 30:000$000. Parecer da procuradoria, à folha 2,
apresenta duas possibilidades: ou a intimação da contratante para depósito da diferença, sob pena
do saldo ser descontado dos futuros pagamentos após entregas dos produtos previstos, ou a anulação do contrato,
com perda da caução. Saboya opta pelo depósito da diferença e indeferimento da prorrogação até outubro de 1932, solicitada em abril.
Nem a documentação processual localizada, nem outras fontes como a imprensa permitem traçar o panorama a partir daí.
Na verdade, nada se sabe a partir de abril de 1932, quando Giobbi solicita a terceira prorrogação. Lembremos que
o intervalo entre abril e outubro, foi em parte tomado pelos conflitos revolucionários a partir do levante paulista em 9 de julho.
Quando Saboya despacha em 15 de outubro sobre o processo ele o faz como prefeito interino, entre 3
de outubro e 28 dezembro, por ocupar a Diretoria de Obras e Viação, sinal da importância do seu posto.
Repentinamente, após longa hibernação, notícias surgem em julho de 1933. Assembleia geral ordinária é realizada no dia 22,
à Praça da Sé, no Palacete Santa Helena. Estão presentes apenas 6 acionistas, quase todos com cotas
acionárias de 10 a 40 ações, entre eles Henrique Robba. As exceções cabem a João Adamo, que com 100 ações representa a
“Sociedade Italiana entre Mutilados e Inválidos de Guerra”, participação não registrada até agora nas
outras assembleias, e Giobbi, também representante da SARA, de Roma, respondendo assim por 1300 ações.
Feita a leitura do balanço até 31 de dezembro de 1932 e do parecer do Conselho Fiscal, Giobbi informa que em sua última
viagem à Itália acompanhara a finalização dos trabalhos. Inteiramente ultimados, as caixas despachadas encontravam-se
na alfândega em Santos. Infelizmente, informa Giobbi, as despesas foram superiores ao previsto e assim o
cálculo do rendimento seria feito e apresentado em futura reunião.
Um grande carregamento, com 188 volumes, totalizando 19 toneladas, chega a Santos, vindo de Genova pelo
vapor Mar Bianco, em 18 de junho. A empresa solicita, em carta de 18 do mês seguinte, que a Prefeitura informe ao inspetor
da Fazenda em Santos que a SARA estaria pleiteando junto ao Ministério da Fazenda isenção aduaneira, pedindo
assim constatação do custo para futuro reembolso. O interesse na isenção é evidente. O total de 19.016 quilos fora
taxado em 150 réis por quilo, atingindo um valor expressivo de 2:852$400, quase um décimo da caução depositada.
Em dezembro de 1933, os conjuntos em escala 1:1.000 e 1:5.000 estão finalmente em posse da Prefeitura. Parecer
da Comissão Fiscal irá propor preços de venda das folhas impressas. Dados importantes surgem aqui como a
confirmação da produção do conjunto em escala 1:20.000. Este, no entanto, ainda aguardava entrega e aprovação,
da qual não temos a data efetiva do envio. Em 3 de janeiro de 1934, finalmente, o ato nº 559, aprova os mapas e
estebelece os preços de venda.
Dado fundamental no parecer sobre preços diz respeito ao custo efetivo do serviço. É o que consta à folha primeira da análise,
que, a seu modo, também trás uma referência ao prazo provável para venda de toda a edição.
A Prefeitura gastou com o levantamento em questão cerca de 1.350 contos, inclusive a despesa de fiscalização e outras de
transporte, implantação de marcos e eventuais. Se admitirmos que a venda será feita no espaço de 3 anos,
podemos acrescentar ainda uma quantia de 300 contos para pagamento de juros do capital empregado. A despesa total é, pois, de 1.650 contos.
Todas as folhas impressas somam 295.000 exemplares. Se a venda for feita na base do custo do serviço, o preço de cada folha será de 5$600.
A comparação com os valores totais pagos pelo governo do Distrito Federal impressiona, mesmo considerando que o uso de equipamentos
de restituição no caso paulista implicasse em economia considerável. Por sua vez, atualizar, em
valores correntes, o custo final dos serviços — 1.650:000$000 — é como sempre um desafio, que exige cuidado.
Antes disso, é bom lembrar que considerando os preços e áreas previstas em contrato o valor em 1928 atingia 1.266:000$000 — um mil contos e
266 mil réis. O parecer sobre preços, acima comentado, traz ao final um dado relevante:
eles tomam por referência a moeda (réis) em base papel. Como se adotava então igualmente a base ouro para medir a evolução da moeda,
o aumento checaria a 1.500 contos, ou seja um acréscimo de 90%. Isso levaria a novas questões por parte da empresa.
Esse conflito de interpretação será tema relevante para a assembleia da SARA Brasil, realizada em 22 de novembro de 1934, no Prédio Parapitinguy,
na qual a sociedade, atingidos seus objetivos, é dissolvida. O uso da base ouro
implicaria, na avaliação da sociedade, numa diferença de 1.700:000$000, um pouco maior que o valor já apontado pelos fiscais.
A cláusula 23ª do contrato deixava em aberto esse ponto, pois os preços por hectares são apresentado
nas duas bases papel e ouro. Apesar dos pareceres apresentados e inclusive um alegado depoimento favorável de Pires do Rio,
prefeito à época da assinatura do contrato, a empresa acabou por receber o valor de 1.262:825$280.
Considerando a longa pendência que ressultaria de um contestação na justiça a empresa decidiu por aceitar essa quantia,
acrescida de um saldo de 700:000$000. Conforme palavras finais da assembleia, registradas em ata:
Semelhante liquidação envolve, portanto, a perda completa do capital acionário, mal chegando aquela quantia
para atender às responsabilidades decorrentes da execução dos serviços, tendo sido necessário, mesmo, apelar para a boa
vontade de vários credores, que reduziram suas contas, possibilidando, assim, a solução dos compromissos sociais.
Se, pois, de um lado, é lastimável que da execução de uma obra de tal vulto não tenha a ‘Sara’ auferido os lucros
justamente esperados – certo é, todavia que lhe cabe a honra de haver dotado o município de S. Paulo de um trabalho
absolutamente perfeito no seu gênero e merecedor, por todos os títulos, de gerais louvoress, constituindo na frase
de um de seus Prefeitos, ‘verdadeiro padrão de glória de sua administração’.
Quase certo, o prefeito em questão é Pires do Rio, a quem a empresa brasileira recorrera na tentativa mesmo de
conseguir os valores pretendidos. Sendo verdadeira a situação da sociedade naquele momento, a constatação é uma
surpresa. É necessário considerar que no caso carioca, a contratante acabou, no contexto da crise de 1929 e os
atrasos provocados pelo conflito de 1930, por sofrer reveses advindo da empreitada, mas nada que se compare ao
relatado na assembleia final da SARA Brasil.
Continua >
|
|
|
| SARA Brasil
|
|
| |
Para citação adote:
MENDES, Ricardo. S.A.R.A. Brasil: restituindo o Mapa Topográfico do Município de São Paulo.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 10 (37): dez.2014
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br>
|
|
|