Modelando o República: um cine-teatro
da década de 1920
Ricardo Mendes
Pesquisador da
Seção Técnica de Estudos e Pesquisas
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Projeto Modelagem
Em meados da década de 2000, o quadro de desenvolvimento da computação gráfica, graças à difusão e à introdução de novas ferramentas
na internet, atinge um patamar inimaginável quarenta a cinquenta anos atrás. Então, no contexto de grandes pesquisas associadas
ao ambiente da Guerra Fria, têm início investigações em diferentes linhas que a seu modo conjugariam em direção à própria rede mundial
de computadores, à imagem digital, do seu registro ao tratamento de imagem e difusão, e à computação gráfica.
Restritas a laboratórios de pesquisa e grandes corporações, da engenharia a telecomunicações, na década de 1990 ferramentas de trabalhos
nesses segmentos, agora utilizando plataformas acessíveis, chegam massivamente ao mercado internacional. Na virada do século, tem início
a fase de popularização desses novos instrumentos em escala contínua, coincidindo com a expansão comercial acelerada (e especulativa)
da internet.
A introdução do tema da modelagem virtual no ambiente do Arquivo Histórico de São Paulo ocorre no segundo semestre de 2006 em
parceria estabelecida com o Laboratório de Sistemas Integráveis, unidade da Escola Politécnica-USP (LSI-USP). A proposta visava
reconstituir em ambiente de imersão (“caverna digital”, com 5 faces) um logradouro da cidade de São Paulo.
A parceria procurava explorar o acervo documental custodiado pelo AHSP, com apoio de outros acervos históricos na esfera da Secretaria
Municipal de Cultura, composto por pranchas de arquitetura de edifícios particulares, registros fotográficos da cidade e
documentos textuais sobre a administração da cidade.
A seleção final optou pela reconstituição do Largo da Sé na primeira década do século XX. Nesse momento, o logradouro já
apresentava o resultado de quase duas décadas de contínua transformação ao seu redor com novos alinhamentos das ruas do centro histórico,
abandonando o aspecto colonial que as caracterizaram por longo período, implementação de modernos serviços de iluminação pública e
de transporte por bondes elétricos. O final da primeira década marcava o término de um ciclo de intervenção, marcado por ações
pontuais e menos articuladas, e o início de outro em maior escala, que daria fim ao antigo largo e o surgimento da Praça da Sé
em sua forma conhecida até hoje.
O corpo técnico do Arquivo Histórico atuou assim como grupo de pesquisa de conteúdo e orientação para reconstituição espacial
do ambiente do largo e como analista dos modelos individuais das edificações lindeiras ao Largo da Sé. A equipe multidisciplinar do
LSI-USP estabeleceu a partir desse processo de interação o modelo final para visualização na
“caverna digital”.
A experiência de trabalho, em especial a interação com a equipe do LSI-USP, constitui o ponto de partida para uma reflexão
sobre a adoção de ferramentes similares no âmbito do Arquivo Histórico. O Projeto Modelagem foi proposto no quadro das novas
modalidades de visualização de dados, procurando expandir a experiência institucional para além dos produtos clássicos do
livro, da exposição e mesmo da publicação eletrônica.
Ao longo de três anos (2007-2009) o projeto procurou explorar, de início informalmente, o potencial de programas de modelagem 3D
e as possíveis aplicações em atividades rotineiras de pesquisa e divulgação. De modo resumido, o foco final era o desenvolvimento
de aplicações como instrumentos de pesquisa e de educação patrimonial num ambiente operacional de baixo custo compatível com o
cotidiano do serviço público.
O objetivo estratégico era estabelecer parâmetros para uma cultura de trabalho voltada para o uso dessas ferramentas, com foco no
planejamento, estruturação de equipes de trabalho, processos de desenvolvimento e, especial, no uso criativo de instrumentos gráficos
digitais.
Por fim, todos os esforços visavam ampliar e problematizar as ações de educação patrimonial da instituição procurando explorar
propostas voltadas para a exploração e estímulo da habilidade de percepção e compreensão das formas tridimensionais e suas
expressões gráficas em representações bi e tridimensionais.
Entre os produtos programados, quase sempre destinados para a internet, incluem-se imagens fixas e em movimentos,
imagens esféricas e cilíndricas, produtos em realidade virtual e para compartihamento via Google Earth ou Sketchup Warehouse.
Embora tenham sido avaliados diversos softwares selecionados de acordo com os parâmetros propostos, dentre eles ferramentas
poderosas como o Blender, programa para modelagem de grande difusão no periodo, os produtos gerados utilizaram
predominantemente o programa de modelagem Sketchup, em versões livres ou profissional demo, e o editor de realidade virtual
Flux Studio (posteriormente disponibilizado como Vivaty, com restrições, e descontinuado após aquisição pela Microsoft).
Foram utilizados basicamente dois programas para visualização de VR (players): Flux e Octaga, em versões embedded
ou não. Efeitos adicionais utilizaram softwares específicos, com destaque para Terragen, utilizado na elaboração de
skybox simulando efeitos cenográficos e atmosféricos. De forma geral, uma estratégia clara do projeto enfatizava a exportação de
modelos para programas específicos a cada etapa, o uso de biblioteca de modelos para aspectos adicionais como árvores, veículos etc.
Os modelos propostos procuraram sempre explorar os limites dos programas e da plataforma de hardware disponível.
Numa contratendência ao praticado no segmento de modelos virtuais a filosofia de modelagem do projeto enfatizava a reconstrução
geométrica apurada em detrimento do uso de texturas voltadas para a simulação.
Na fase inicial do projeto, efetivamente antes de sua formalização, foram desenvolvidos modelos de edificações institucionais da
região Luz/Bom Retiro, que geraram imagens aplicadas em mensagens de difusão do evento Encontro de Trabalho: Área Luz – ações
educativas (novembro de 2006). Estes modelos integraram em seguida um primeiro megamodelo esquemático do entorno da sede do AHSP,
empregando já a inserção de modelos inline de cada edifício num modelo principal.
O Projeto Modelagem, efetivamente, promoveu a produção de três modelos, que exploravam aspectos distintos: (a) a
reconstituição do Cine Teatro República, explorando a estruturação de modelos em módulos como forma de permitir a visualização
de produtos complexos (mencionada no parágrao anterior); (b) a reconstituição da Praça Coronel Fernando Prestes, fronteira ao
edifício sede da instituição, como protótipo zero para um catálogo da cobertura vegetal daquele logradouro, que integra
uma das maiores áreas verdes da área central (Jardim da Luz, Praça Coronel Fernando Prestes e Mosteiro da Luz); e (c)
uma mapa da área central da cidade de São Paulo a partir do levantamento cartográfico realizado em 1893 (data de edição) pelo
engenheiro V. Huet de Bacellar, explorando a associação de terreno em
curvas de nível e modelos de edificações.
Em novembro de 2008, ainda no âmbito do Projeto Modelagem foi realizado o seminário Computação gráfica: pesquisas e projetos
rumo à Educação Patrimonial, na sede da Secretaria Municipal de Cultura.
O evento promoveu a discussão sobre as novas aplicações a partir das seguintes perspectivas: o instrumento de pesquisa, o instrumento de
educação patrimonial e o veículo de difusão. Foram adotados como vetores para uma abordagem crítica dessa matriz três eixos temáticos,
estruturadores do evento: a representação da arquitetura e da cidade, a produção do discurso historiográfico e a educação
patrimonial.
Continua >
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Para citação adote:
MENDES, Ricardo. Modelando o República: um cine-teatro da década de 1920.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 7 (30): jul/set.2011
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br> (disponível em novembro de 2011)
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