Modelando o República: um cine-teatro
da década de 1920
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Desafios da modelagem
A atividade inicial do projeto de modelagem virtual estava focada na recuperação das pranchas disponíveis na documentação custodiada.
O resultado dessa ação foi particularmente positivo, permitindo recuperar as diversas fases de intervenção, inclusive com confirmação
sobre a situação efetiva da construção.
Como apontando anteriormente, ficou evidenciado num primeiro momento a questão de discordância no projeto inicial (1911) entre o
número de pavimentos indicados pelas plantas em contraste com as elevações das fachadas, anterior e posterior, com menos pavimentos.
O recurso a eventual documentação fotográfica para resolver a questão introduziu um aspecto conhecido para a pesquisa iconográfica da
cidade de São Paulo. Embora o núcleo central, propriamente o Centro Velho, área compreendida pelo triângulo formato pelas Ruas Direita,
Quinze de Novembro e São Bento, tenha sido fotografado com alguma regularidade entre as décadas de 1890 e 1910, as demais áreas do centro
apresentam cobertura desigual.
O trecho ocupado pelo Cine Teatro República corresponde a um desses vazios documentais. À primeira vista, causa espanto se considerarmos
sua condição fronteiriça à Escola Normal, que por sua importância constituiu-se como um registro usual em fotografias do período.
Foram localizados raros registros, quase sempre de baixa qualidade gráfica, sem fontes de imagem e sem datação, que confirmassem a
edificação das fachadas com 3 pavimentos. De forma geral, a possibilidade mais efetiva de
confirmação de cada etapa construtiva foram os projetos de reformas subsequentes. A única fonte iconográfica de época localizada,
de valor imediato, foi o artigo publicado em O Estado de S. Paulo no dia de inauguração, que traz o desenho da fachada principal
(Cine-Theatro Republica. O Estado de S. Paulo, 29.12.1921, p.4).
O processo de elaboração do modelo revelou um extenso conjunto de incongruências de dados. Como as pranchas disponíveis eram restritas,
apenas atendendo a exigências imediatas para aprovação, a falta de detalhamento de determinados setores se apresentaria gradualmente.
Incongruências entre cortes e plantas são comuns em certos pontos, aspecto exemplarmente visível à título de ilustração na caixa
de escada no bloco frontal, na qual a relação entre salas e escadas é conflitante.
A etapa seguinte, de análise da edificação e das pranchas disponíveis, foi realizada já adotando recursos digitais.
O modelo tomava como referencial a forma do conjunto no início da década de 1930, quando atingia sua maior escala,em especial
a sala de espera adicional. Estabeleceu-se um modelo zero, a partir do software Sketchup, em que três pranchas eram posicionadas
de modo a recuperar relações construtivas. Se a leitura de pranchas técnicas é parte da rotina de arquitetos e engenheiros,
o emprego desse recursos simples permitia agilizar a interpretação e gerar ainda um modelo com maior potencial de compreensão por leigos.
Modelo inicial para análise da documentação disponível sobre o Cine Theatro República.
O uso de programas de modelagem elementares permite a visualização ágil dos diferentes registros de plantas, cortes e elevações.
Acervo AHSP
A partir desse momento, estabeleceu-se o modelo 1.0, disponível no site do projeto
(<www.arquiamigos.org/modelagem>), realizado entre setembro e outubro de 2007.
A partir do modelo 1.0 gerou-se por importação modelos VR (realidade virtual) atráves do programa Flux Studio, que permitia a
inserção em ambiente html e sua disponibilização pela internet.
As dimensões da edificação e suas características esgotavam a capacidade do software e do hardware instalado na
geração de modelos com maior detalhamento e grau de eficiência para manipulação e deslocamento do usuário em imersão num ambiente VR.
Cine Teatro República, sala de exibição.
Destaque para estudo de elementos das
colunas, frisas e camarotes aplicados sobre desenhos de elevação,
durante fase de elaboração inicial no software Sketchup.
Modelo 1.0, 2007.
Sala de exibição, com mobiliário, em versão "wireframe" para melhor visualização
durante fase de elaboração inicial no software Sketchup.
Modelo 1.0, 2007.
Idem, em versão com texturas básicas.
Modelo 1.0, 2007.
Para o modelo 2.0 desenvolvido entre outubro e novembro de 2007, adotou-se como estratégia o desenvolvimento modular, matrizes
para submodelos que dariam origem ao modelo global. Foram elaborados cerca de 18 módulos, correspondendo às cascas externas do
cine teatro e Palacete Campinas, interiores do cine teatro, praça e alguns complementos como a Escola Normal.
Ao modelo das edificações e da praça em geral, acrescentaram-se elementos de cenarização adicionais. Primeiro, a geração do céu através
do programa Terragen, que possibilitou obter um skybox. Por limitação do software, que não gerava versões noturnas,
foi realizado tratamento de imagem, escurecendo os arquivos relativos ao céu noturno e acrescentando ainda estrêlas,
o que permitiu obter uma resultado satisfatório para um céu noturno logo após o pôr do sol.
Elementos adicionais como um automóvel, um modelo genérico de árvore e
postes diversos foram obtidos no Google 3D Warehouse, com modelos disponibilizados pelos usuários. Editados, com alterações
de forma, dimensões e colorização, tais elementos foram inseridos no modelo VR gerado no Flux Studio, reunindo os módulos VR
inline correspondentes a cada unidade do modelo sketchup 2.0. Para a elaboração do bloco esquemático da Escola Normal,
adotou-se o conjunto de pranchas, datadas de 1933, relativas ao Projeto para aumento de um andar do predio da antiga Escola
Normal (...).
O modelo VR recebeu a inserção de diversos viewpoints, pontos de vistas pre-fixados. Esses pontos facilitam a navegação
do usuário no ambiente de imersão gerado, correspondendo a um percurso por toda a edificação. O modelo VR recebeu ainda a
inserção de um filme brasileiro de época, ocupando a tela do cinema
com imagem em movimento e áudio.
Aspecto da sala de exibição, com destaque na tela para filme em movimento.
Imagem a partir da versão VR, elaborada com o programa Flux Studio.
Modelo 2.0, 2007-2008.
Em agosto de 2008 o modelo foi apresentado pela primeira vez no ciclo de palestras da II Jornada do Cinema Silencioso,
na Cinemateca Brasileira.
A versão final passou por uma breve revisão e otimização em novembro de 2008, para apresentação no evento associado ao projeto, o
seminário Computação gráfica: pesquisas e projetos rumo à Educação Patrimonial (veja o hotsite:
<www.arquiamigos.org.br/seminario3d>).
O modelo nessa versão atendeu às expectativas como resultado formal, como processo de análise sobre rotina de trabalho,
avaliação de equipe e discussão de estratégias conceituais de modelagem. Em complemento com os demais modelos desenvolvidos
durante o Projeto Modelagem, foi possível estabelecer um repertório de dados extensivo sobre a potencialidade da computação gráfica
no campo da educação patrimonial.
Veja aqui as pranchas na versão complementar - modelo 2.1 VR (out.2008):
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Continua >
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Para citação adote:
MENDES, Ricardo. Modelando o República: um cine-teatro da década de 1920.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 7 (30): jul/set.2011
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br> (disponível em novembro de 2011)
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