Modelando o República: um cine-teatro
da década de 1920
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O novo República: uma sala para um novo mercado exibidor
Embora não fosse o foco da pesquisa estabelecer a trajetória do República em sua segunda fase entre as décadas de 1950 e 1970,
é importante reconstituir os últimos momentos do velho edifício. Como no longo percurso anterior, a transição inicial será algo
tumultuada.
Entre o cinema silencioso e a produção dos pós-guerra ocorreram alterações severas no circuito exibidor local com a entrada de novas
gerações de empresários, sempre a enfrentar os desafios que a dinâmica de mercado impunha. A televisão terá início entre nós em 1950
e não menos de uma década após já será apontada como uma concorrente a qualquer dissabor registrado nas bilheterias.
A introdução do cinemascope com as grandes telas panorâmicas, do cinema em terceira dimensão e outras inovações sem maior
permanência, tudo será tentado em busca de garantir o fluxo dos espectadores.
Em março de 1950, Eliseu Teixeira de Camargo, ainda proprietário do velho edifício, apresenta requerimento à prefeitura para retomada
das atividades como cinema e teatro. Note-se nas pranchas apresentadas
a construção da caixa de palco efetivamente, a presença de área para orquestra e a substituição do telhado. O pedido será indeferido
por diversos motivos,
entre eles por infringir o ato 1.366/38, que estabelecia gabarito e número de pavimentos para edificações naquele logradouro,
e o decreto-lei nº 92/1941.
Novo requerimento em julho de 1950 é deferido. O parecer do engenheiro chefe Serafim Trapé, da Div.Arq.2,
considera que o prédio já atendia a mesma atividade anteriormente e assim poderia ser
aprovado. No entanto, o andamento revela-se tumultuado.
A iniciativa da Empresa Sá Pinto, que assumirá a nova sala de exibição
com um contrato inicial de locação por cinco anos, será contestada por
Comissão de Artistas da Casa do Ator e do Sindicato dos Autores, que protesta pela transformação do “Teatro República” em cinema
descumprindo assim promessa do governador do Estado Ademar de Barros (mandato 14.3.1947-31.1.1951).
Despacho sucinto do prefeito Armando de Arruda Pereira (1.2.1951-7.4.1953), à folha 49 põe fim à questão:
“A disposição da plateia não permite a utilização do palco para funções teatrais, sendo inutil a apostilação proposta.”
O Sindicatos dos Atores Teatrais, Cenógrafos e Cenotécnicos no Estado de São Paulo
dera entrada em abril de 1951 a requerimento defendendo seus interesses.
O pedido inclui carta ao governador Ademar de Barros, de 3 de fevereiro de 1948, na qual a entidade solicita a recuperação dos
teatros República, Colombo e São Paulo, com remoção da repartição pública
que funcionava no edifício do República. A remoção seria aprovada, como informa no processo despacho na Casa Civil em março de 1949, para
quando fosse possível.
O requerimento do sindicato antecede em dez dias a entrada de substitutivo de plantas apresentado em 13 de abril de 1951
pelo proprietário, tendo como responsável o engenheiro Fabio Lanari do Val, da Soc.Nac. De Eng.
Ltda.
A transformação agora seria radical. Com o despacho do prefeito Armando de Arruda Pereira, mencionado anteriormente, a
situação estava definida. As pranchas constituem um documento precioso. Todo o edifício do velho República surge marcado como área
a demolir. Considera-se como reforma a intervenção, prova talvez do poder de influência do empresário Sá Pinto que surge ao longo
dos processos como figura principal em lugar do proprietário do edifício. Burla-se assim a legislação urbanística e paradoxalmente
o prefeito justifica a decisão por uma restrição do edifício que seria demolido por completo.
O jornal Folha da Manhã publica nota em sua edição de 8 de abril de 1952 com flagrante fotográfico da visita do Dr. Ademar de
Barros às novas instalações acompanhado dos diretores da empresa: Oscar Ferreira, Herminio Ferreira Filho e Paulo Sá
Pinto. Dias depois, em 17 de abril, o República era inaugurado com o
filme A vida secreta de Nora, produção em technicolor.
Na Cinelândia não há sinais de crise e muito do seu sucesso e carisma se devem às iniciativas de Paulo Sá Pinto,
que traz para os seus cinemas novidades recém lançadas no mercado americano.E seu o privilégio de lançar o “cinemascope” e
o som estereofônico no cine REPÚBLICA com O Manto Sagrado, em 1954, obtendo grande êxito de bilheteria. Ele também traz
o processo 3D (cinema tridimensional), na mesma casa. Na entrada, o frequentador recebia óculos (esterilizado por moças em aventais
brancos, manuseando equipamento importado), sem o qual não lhe era possível saborear o novo processo.
(SIMÕES, 1990, p.91)
Em 1978 o cine República, em decadência, como a refletir a radical transformação da área central de São Paulo
(e uma completa alteração do circuito exibidor na cidade),
tem o edifício desapropriado para uso durante as obras do Metrô.
A empresa utilizará o espaço com almoxarifado e logo depois o edifício será demolido. Ocupado após as obras como estacionamento
há mais de duas décadas, o terreno integra, junto com o ocupado anteriormente pelo Palacete Campinas, uma das áreas livres
de melhor localização do centro de São Paulo.
Continua >
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Para citação adote:
MENDES, Ricardo. Modelando o República: um cine-teatro da década de 1920.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO DE SÃO PAULO, 7 (30): jul/set.2011
<http://www.arquivohistorico.sp.gov.br> (disponível em novembro de 2011)
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