Planta da Cidade de S. Paulo
Situada em 23°,, 33’,, 30” de Latitude Sul; e em 331°,, 24”,, 30”
de Longitude pelo Meridiano da Ilha do Ferro: Var. da Agulha
7,, 15”,, N&.
- Acréscimo posterior, a lápis: Levantada em 1810 pelo Engenheiro Rufino José Felizardo e Costa
- Acréscimo posterior: Escala 1:3000 [esboço inacabado de petipé em palmos]
- Acréscimo posterior, ao pé da planta à esquerda: petipé de 200 braças
- Dimensões originais: 595 x 645 mm
- Documento íntegro, embora acidificado por contato e com perda de material
- Técnica do original: tinta ferrogálica, nanquim e aquarela sobre papel
- Original pertencente ao Museu Paulista-USP
Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954
ANÁLISE
Segundo o historiador Afonso d’Escragnole Taunay, foi em 1807 que o engenheiro militar Rufino Felizardo e Costa levantou uma planta da cidade de São Paulo, por ordem do sargento-mor engenheiro João da Costa Ferreira (1750-1822). É bem possível que a carta iniciada nesse ano de 1807 seja a que no momento nos prende a atenção. Nesse caso, a tradicional data de 1810 a ela atribuída seria relativa, muito provavelmente, ao ano de conclusão da peça gráfica, ou, antes, uma datação aproximada feita em época posterior, já que se trata de acréscimo a lápis aposto no documento original.
A respeito do paradeiro desta planta declarou recentemente o Prof. Nestor Goulart Reis Filho:
O original desse desenho não foi encontrado. Um dos primeiros números da Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo
menciona sua presença na biblioteca daquela entidade, em 1898, como parte de seu acervo. Procurado por mais de dez anos, sem
resultados positivos, fomos obrigados a utilizar a cópia publicada pela Comissão do IV Centenário
[na publicação de sua autoria São Paulo Vila Cidade Metrópole, 2004].
Em contraposição, em obra intitulada
Velho São Paulo (v.1, 1953), Afonso Taunay, ex-diretor do Museu Paulista (1917-1939),
afirmava categórico:
O original deste mapa pertence ao Museu Paulista, em virtude de generosa dádiva do Coronel José Carlos da Silva Teles,
neto do autor, oficial superior de grande mérito, do Exercito Nacional e Comandante da Fôrça Pública do Estado.
Sobre o autor da planta, Rufino Felizardo e Costa, sabemos que era de nacionalidade portuguesa. Nascido em 1784, servia como porta-bandeira em 1802 num dos regimentos de linha da guarnição paulista. Auxiliar de João da Costa Ferreira, executou o levantamento do Caminho do Mar, na época em que era segundo-tenente do Real Corpo de Engenheiros. Casou-se em 1813 com Ana, filha de Jaime da Silva Teles, e continuou, com o tenente-coronel Daniel Pedro Müller, a prestar valiosos serviços em diversas comissões, o que lhe valeu a promoção a primeiro-tenente. Exerceu também o cargo de diretor da primeira grande indústria brasileira, a Fábrica de Ferro do Ipanema, de 1821 a 1824, ano em que veio a falecer prematuramente.
Na planta por ele elaborada entre 1807 e 1810, deparamo-nos com uma cidadezinha acaipirada que deixava o século XVIII ensaiando os primeiros passos em direção à intensificação da vida urbana. Graças à florescente economia do açúcar, pôde São Paulo ir desenvolvendo, aos poucos, um comércio de crescente importância regional. Além disso, desde o restabelecimento da Capitania de São Paulo em 1769, vinham os capitães-generais, por razões políticas, administrativas e militares, tentando impor a presença da coroa lusitana na pequena cidade, até então esquecida pelos interesses metropolitanos.
De fato, provinham desses dias muitas das obras públicas que estariam ainda em pleno uso durante a era imperial.
Mesmo exibindo aparência grosseira, essas obras – fruto da dedicação dos engenheiros militares portugueses chegados na cidade em fins do
Setecentos ou nos começos da centúria seguinte – continuaram úteis até a segunda metade do século XIX. A
Casa de Câmara e Cadeia
(1783-c.1791), o
Quartel dos Voluntários Reais (1790-1791), as quatro
pontes de pedra –
do Lorena (1795),
do Carmo (1805-1808) –
esta última, de fato, de pedra, mas com uma importante abóbada de tijolos, – e as duas
do Marechal (a primeira remontando ao
tempo do marechal frei José Raimundo Chichorro, 1786-1788; a segunda, construída por Daniel Pedro Müller em 1809) –, o
Chafariz da Misericórdia (1790-1792) e a
Pirâmide do Piques (1814), erguida pouco depois de ter sido completada a
planta que estamos analisando, tornaram-se símbolos de uma época bastante positiva da administração colonial. E não há
dúvida de que devemos incluir nesse rol a execução desta carta da Capital, de autoria do engenheiro Rufino, pois foi ela
mais um benéfico produto de caráter técnico resultante desse período cheio de realizações.
No tempo em que foi levantada esta que já foi considerada a primeira planta da cidade de São Paulo (recentemente publicaram-se uma
planta, sumária, datada do século XVII e outra, muito precisa, do século XVIII), a área urbanizada paulopolitana concentrava-se
praticamente no alto da colina histórica, conhecida na época da conquista portuguesa sob o nome indígena de
Inhapuambuçu.
A população das duas freguesias que formavam o centro urbano, Sé e Santa Ifigênia (criada em 1809), estava longe de atingir
10.000 habitantes. O casario modesto, pouco adensado, perdia-se em meio à densa vegetação dos quintais e as ruas existentes caracterizavam-se por serem extremamente estreitas e tortuosas.
Do pequeno núcleo irradiavam-se caminhos que funcionaram como elementos estruturadores da exígua trama viária paulistana.
Para o norte, o caminho de Bragança e sul de Minas seguia pelas atuais Ruas do Seminário, Brigadeiro Tobias e Avenida Tiradentes.
(A Rua Florêncio de Abreu, antiga trilha indígena que seguia na mesma direção, reaberta pelos beneditinos em 1784 sob a forma de via
pública, era então muito pouco freqüentada). Para o noroeste, conforme se vê na planta, partia o caminho de Nossa Senhora do Ó, mas
na verdade essa antiga vereda, que no século XVI e XVII conduzia, como demonstrou o historiador Afonso de Freitas, à misteriosa região
de Piratininga, já havia sido interrompida em 1809 pela Câmara Municipal, a pedido do governador Franca e Horta. Desde então,
esse caminho (formado pelas Ruas do Seminário e General Couto de Magalhães) terminava em frente da propriedade do governador,
conhecida pelo nome de Chácara do Bom Retiro. Para oeste, rumavam o caminho de Jundiaí e Goiás (composto pela Rua Sete de Abril,
Rua e Largo do Arouche e Rua das Palmeiras e não pela Avenida São João, como assinalou um renomado pesquisador numa planta reconstituída
de 1775 publicada em obra recente –
História da Cidade de São Paulo, v.1, 2004) e a trilha pré-cabralina proveniente do Paraguai –
ramal do antiqüíssimo Peabiru, que interligava as terras guaranis e o litoral do Sudeste brasileiro. Conhecida como caminho
dos Pinheiros ou de Sorocaba, levava a partir do século XVIII às regiões meridionais do Brasil, produtoras de gado vacum e muar (Rua da Consolação, Avenida
Rebouças, Ruas dos Pinheiros e Butantã). Ao sul, havia os dois caminhos de Santo Amaro (um deles formado pela Rua Santo Amaro e
Avenida Brigadeiro Luís Antônio, aberto por volta de 1639, e o outro, de fato uma velha trilha de índios, representado pela Avenida da
Liberdade) e ainda a saída de Santos (Ruas da Glória e Lavapés). A sudeste, saía o caminho da Mooca, mas de início, no século XVI, por
aí ia o Caminho do Mar – outro trecho do velho Peabiru –, acompanhando o traçado da Rua Tabatinguera, da Rua da Mooca, da Rua do Oratório,
etc. E, finalmente, a leste, em direção ao incipiente arrabalde do Brás, conduzindo à Penha e ao Rio de Janeiro, viam-se a antiga Ladeira
do Carmo (Avenida Rangel Pestana), fundamente cavada na encosta do morro, e o longo aterrado que atravessava a ampla Várzea do Tamanduateí,
caminho esse aberto, segundo documentos datados do século XVIII, no tempo do governador Francisco da Cunha Meneses (1782-1786), mas que
decerto é anterior a esse período em algumas poucas décadas.
As possibilidades de expansão urbana da Capital eram naquela altura muito limitadas. O Brás encontrava-se irremediavelmente afastado do
Centro pela várzea alagadiça do Tamanduateí e, ao sul, concentravam-se praticamente todos os equipamentos poluidores e de desprestígio –
senão perigosos – da cidade, dos quais as pessoas de posses procuravam a todo custo se afastar: a forca (desde os fins do século XVI no
local hoje ocupado pela Praça da Liberdade); o
Cemitério dos Aflitos, criado pela Mitra em 1775 para o enterro de escravos,
indigentes e enforcados, na atual Rua dos Estudantes; a
Casa da Pólvora (1785), erguida no local onde hoje existe o largo do mesmo nome, e nas proximidades da qual não podia haver assentamento permanente por razões de segurança.
Preocupado com as poucas chances de expansão da cidade, o governador Lorena (1782-1797) propôs à Câmara Municipal o arruamento da
margem esquerda do Ribeirão Anhangabaú. Estando São Paulo implantada numa península, entre o Tamanduateí e o Anhangabaú,
cogitava Lorena criar um novo assentamento a oeste, em “terreno montuoso e desigual”. Provavelmente foi baseado num projeto de
hipotética autoria do engenheiro militar Costa Ferreira, feito em 1792, que o futuro marechal Toledo Rendon, arruou, por ordem da Câmara,
entre 1807 e 1808, a chamada
Cidade Nova, em suas terras caídas em comisso situadas no Morro do Chá. Separada do núcleo original da cidade pela presença do profundo Vale do Anhangabaú e de várias propriedades rurais, entre elas a do tio do futuro Barão de Itapetininga (depois herdada por este), a parte oeste da cidade permaneceria por muitas décadas mero arrabalde chacareiro, com ar bastante desolado.
Pela planta confeccionada por Rufino confirmamos os exíguos limites da área urbanizada da cidade no início do dezenove. Ao norte,
ia pouco além do
Jardim Botânico (atual Jardim da Luz); ao sul, não se estendia muito abaixo do
Cemitério do Aflitos;
a leste, tinha por limite o Rio Tamanduateí e sua várzea, e a oeste, mal atingia o Largo do Arouche e a
Igreja da Consolação.
No documento cartográfico que estamos examinando, podemos observar as ruas mandadas abrir pela Câmara no Morro do Chá. Retilíneas, mas sem formarem ângulos retos nas esquinas, interligavam o caminho da Luz (Avenida Tiradentes), o obstruído caminho do Ó (Rua General Couto de Magalhães), o caminho de Jundiaí (Rua do Arouche) e o caminho dos Pinheiros (Rua da Consolação). Dois logradouros se distinguiam da trama então criada: a Praça da Legião (Largo do Arouche), demarcada por Rendon, na saída da cidade em direção a Jundiaí, para servir aos exercícios militares executados pelos Voluntários Reais, e a Praça da Alegria, futuro Largo dos Curros (Praça da República), onde a partir de 1817 começaram a ser realizadas corridas de touros durante os festejos oficiais.
Pela leitura das
Cartas de datas daquele tempo (anos de 1808 a 1830), publicadas pelo Arquivo Municipal ao longo do século XX,
percebemos que foi grande o interesse inicial por terrenos situados na
Cidade Nova, principalmente por aqueles que desejavam formar chácaras de recreio. Por outro lado, é difícil identificar hoje, por meio da documentação escrita, as ruas demarcadas por Rendon, pois a elas foram atribuídos nomes que não permaneceram. A planta da cidade executada por Rufino mostra claramente as ruas então abertas, destituídas porém da denominação correspondente.
Assim, sem tentar reconhecê-las, é possível agrupar algumas dessas vias em torno de certos pontos, de fácil identificação. Nas
imediações do atual Largo do Arouche (à época também chamado Praça da Legião, Praça dos Voluntários Reais ou simplesmente
Campo do Arouche) estavam situadas as Ruas da Artilharia e do Alambari, além da que excepcionalmente manteve a denominação inalterada
até hoje, a do Arouche. Próximas da margem direita da estrada de Pinheiros, na altura mais ou menos da
Capela de Nossa Senhora da
Consolação, haviam sido abertas as Ruas Franca (atual Rua Sete de Abril ou, talvez, o antigo Beco de São Luís), do Gabriel
(esta talvez fosse a Rua Maria Antônia, que conduzia à propriedade de Gabriel Antunes da Fonseca, tabelião em São Paulo por volta
de 1766 e que, em 1779, arrematara a parte do meio da Chácara do Pacaembu, antes pertencente aos extintos jesuítas),
do Córrego Seco e do Pacaembu (mencionada em 1825, pode ser a mesma acima chamada do Gabriel), quase todas elas travessas
da Rua da Alegria, cujo nome seria alterado mais tarde para do Ipiranga, e que terminava daquele lado num logradouro chamado
Campo Alegre, Campo da Alegria ou Praça da Alegria. Atrás da Igreja de Santa Ifigênia, delineavam-se as Ruas de Santa Cruz, de São Pedro,
do Azevedo e Formosa (que nada tem a ver com a atual rua desse nome). De fato, essas últimas vias retalhavam uma área delimitada pelas
Chácaras do Bom Retiro e do Campo Redondo, junto do velho caminho do Ó. Ainda nessas proximidades, encontravam-se as Ruas
do Carvalho, ou do Tanque do Carvalho, e Curta. O mencionado Carvalho era, provavelmente, o Dr. José da Costa Carvalho (casado
com a viúva do brigadeiro Luís Antônio de Sousa), futuro Marquês de Monte Alegre, que havia adquirido o grande sítio do coronel José
Antônio Silva Valente em 1825. Essa propriedade ia da estrada de Campinas (Rua das Palmeiras) até à margem esquerda do Tietê,
na altura do atual bairro da Barra Funda, e mais tarde seria vendida ao Barão de Iguape. Uma pequena parcela dessa propriedade
foi herdada pelo conselheiro Antônio Prado, neto do barão, e denominada Chácara do Carvalho. Aí o conselheiro construiu uma
luxuosa residência no final do século XIX, edifício até hoje existente (atual
Colégio Boni Consilii).
Na
Cidade Nova, algumas das ruas atravessavam o arruamento de ponta a ponta, pondo em comunicação lugares opostos. Uma delas era a
Rua Torta, que unia Igreja de Santa Ifigênia à da Consolação; talvez não fosse outra senão a já citada Rua da Alegria, cujo trajeto devia
abranger as atuais Avenida Ipiranga e Rua Araújo. A Rua do Alambari parece que estava em situação semelhante, pois era mencionada ora próxima da Praça da Legião, ora atrás da Igreja de Santa Ifigênia. Havia ainda a rua que saia do Campo Redondo e “ia terminar no Campo da Alagoa de Gabriel Antunes” e “a travessa do Campo de Arouche para a praça de Sandi” (situada para os lados do Campo Redondo). Há, contudo, outras que dificilmente podem ser reconhecidas: Ruas das Oliveiras, do Governador (seria a depois chamada do Bom Retiro?) e de Sande. A Praça da República, que, como vimos, teve origem nessa ocasião, é descrita nos documentos como “a Praça nova defronte dos fundos das terras do Coronel Luiz Antonio de Souza”. Morto em 1819, as terras deste foram essas herdadas por um de seus filhos, o futuro Barão de Sousa Queirós, e divididas em duas partes pelo Beco Comprido, mais tarde denominado Beco, depois Rua São Luís, hoje avenida desse nome.
Verificando a planta de Rufino Felizardo e Costa, confirmamos afinal quais ruas então mandadas abrir pela Câmara na
Cidade Nova.
Reconhecemos as atuais Avenida Ipiranga e Ruas dos Timbiras, Aurora e Vitória; no sentido transversal, identificamos as Avenidas Vieira de
Carvalho, São João e Rio Branco e a Rua Santa Ifigênia. A São João e a Santa Ifigênia preexistiam ao arruamento criado por Rendon
(um pequeno trecho da São João que seguia além-Anhangabaú teria surgido por ocasião da construção da ponte do Marechal, de 1786-1788)
e provavelmente foram apenas encompridadas e realinhadas em 1808. Interligando o ex-caminho do Ó com a estrada da Luz, já havia, ao
menos em parte, a Avenida Senador Queirós e as futuras Ruas Washington Luís e Mauá; nas imediações da
Capela de Nossa Senhora da
Consolação observamos a Rua Araújo e um trecho da Bento Freitas, e, mais aquém, a atual Avenida São Luís.
Chama atenção na planta de Rufino o fato de ela, com o tempo, ter sofrido atualizações e retificações, “enxertos” como dizia Taunay.
Provavelmente por não dispor de instrumentos adequados, o engenheiro militar acabou por cometer erros na orientação de algumas ruas e
na localização de certos equipamentos. Assim, vemos a correção na localização do
Cemitério dos Aflitos, ao sul, e do
Convento da Luz,
ao norte. Também o traçado da Rua da Consolação sofreu correção posterior, o mesmo acontecendo com a depois chamada Rua Episcopal
(atual Washington Luís). Quanto às atualizações, podemos surpreendê-las nos traços a lápis feitos na esquina da antiga Rua do Rosário
(atual 15 de Novembro) com Largo da Sé. Aí seria criado um dos primeiros cantos quebrados da cidade (o mais antigo teria surgido na casa
do futuro brigadeiro Luís Antônio por volta de 1810, na esquina das atuais São Bento e José Bonifácio), ao ser concedido o alinhamento
para a construção do sobrado do alferes Joaquim Ribeiro dos Santos em 1823. Essa medida foi tomada pela Câmara em razão de a construção
estar situada num ponto extremamente estrangulado do arruamento colonial. O prolongamento da Rua da Esperança, situada no lado direito
da catedral, até o Largo da Sé foi uma obra só realizada em 1825 e na Rua da Casa Santa (Rua Riachuelo) podemos observar a retificação
de seu traçado, que também é posterior à confecção da planta que aqui retém nossa atenção.
No letreiro
Explicação, nota-se que
g é um acréscimo posterior, pois só em 1825 é que o
Hospital de Caridade foi
instalado na sede da Chácara dos Ingleses, na saída de Santos. Por outro lado, constata-se que não se assinalou na planta a derrubada do
quintal dos franciscanos. Ocorrida em 1829, a intervenção urbana teve como propósito aumentar o Largo de São Francisco, em função da
criação da Academia de Direito ocorrida um ano antes.
Ainda na
Explicação, aparece em
P a “Ponte da [sic] Franca”, que na realidade era a “Ponte do Franca [e Horta]”, nome do
governador que mandou erigi-la, também conhecida como
Ponte do Carmo, construída entre 1805 e 1808, e temos em
T o
“projeto de outro Hospital”, que se refere ao projeto não realizado do
Hospital Militar, de autoria de Costa Ferreira,
idealizado por volta de 1799 e destinado ao terreno hoje ocupado pela Pinacoteca do Estado. Em
d lemos ainda
“Chacara do Secret.º Velho”, alusão a Luís Antônio Neves de Carvalho, antigo secretário do governo da capitania, que havia construído
em fins do século XVIII (c.1798) a casa que depois iria tornar-se a residência do brigadeiro Rafael Tobias de Aguiar e,
já no início do século XX, seria ocupada pela Escola de Medicina.
Antes, porém, de concluirmos a análise desta planta, devemos chamar a atenção para um curioso detalhe. Na cartela do título,
faz-se menção à Ilha do Ferro, tomada como referência para o cálculo da longitude da cidade de São Paulo. Trata-se da ilha mais
ocidental do arquipélago das Canárias, usada como origem das longitudes em cartas internacionais até 1884.
Na época áurea do imperialismo britânico foi substituída por Greenwich, tal como nos conta o Professor Irineu Idoeta em seu livro
São Paulo vista do alto, 75 anos de aerofotogrametria (2004).