MAPPA DA CAPITAL DA P.cia DE S. PAULO
seos Edifícios publicos, Hoteis, Linhas ferreas, Igrejas Bonds Passeios, etc.
publicado por Fr.do de ALBUQUERQUE e JULES MARTIN em 1877
- Escala gráfica
- Dimensões originais do original impresso: 715 x 525 mm
- Em bom estado de conservação.
- Impressão litográfica sobre papel colado sobre tecido, em cores.
- Exemplar pertencente ao Museu Paulista
No Museu Paulista há uma cópia, sem data, em papel translúcido (vegetal), colado sobre papel japonês, em estado precário, indicada como
de autoria de J. D. Santos F.º. Há ainda uma outra, de autoria de Francisco Sansoni, do Cadastro Municipal, conforme assinalado na parte
inferior, à direita do documento, que é a cópia aqui reproduzida. Esta última versão não foi encontrada nos arquivos do museu.
- Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954.
ANÁLISE
O documento gráfico que ora analisamos se restringe à parte mais ocupada da cidade. Ao norte, atinge o Jardim Público; ao sul, o Largo da
Liberdade; a leste, a Várzea do Gasômetro; a oeste, o Largo 7 de Abril (atual Praça da República). Conforme anotações constantes no
verso da carteira que protege a versão impressa existente no
Museu Paulista, o documento foi redigido pelo engenheiro F.
Albuquerque, que era o engenheiro santista Fernando de Albuquerque, então a serviço da Província (e não Francisco de Albuquerque como a
coleção do IV Centenário afirmou erradamente e muitos pesquisadores inadvertidamente têm repetido, nem Frederico de
Albuquerque, como querem outros), e desenhado e litografado pelo litógrafo francês Jules Martin, bem conhecido dos paulistanos não
só por se ter empenhado na construção do primeiro Viaduto do Chá (1879-1892), como também por ter publicado vários outros mapas
importantes na época, tais como a carta ilustrada da Província de São Paulo, de 1875, com vistas das estações das estradas de ferro
paulistas mais importantes; a planta da cidade de Santos, de 1878, feita nos moldes da planta paulistana ilustrada do ano anterior,
e a planta da Capital paulista, de 1890, que analisaremos adiante (Planta n.13). Mapas litografados tanto em formato de bolso, em
encadernação portátil, para fins turísticos, como para serem pendurados em paredes.
Como afirmamos acima, a cópia aqui reproduzida da planta de 1877 foi executada pelo desenhista Francisco Sansoni, que, descobriu-se
agora, era funcionário público municipal, trabalhando na Diretoria de Obras e Viação (2ª Divisão), segundo o relatório de prefeito de
1918. Cotejando essa cópia com o exemplar litografado depositado no Museu Paulista, originalmente acondicionado em carteira de papelão,
notamos ser gritante a diferença de qualidade artística e informativa existente entre ambos os exemplares.
Na versão litografada podemos observar as verdadeiras ilustrações de Jules Martin feitas para representar cada um dos edifícios importantes da Capital. Importantíssima documentação iconográfica referente a uma época muito carente desse tipo de registro. Igrejas, conventos, estações de estrada de ferro, hotéis, hospitais, teatros, escolas, sedes de repartições públicas, sedes de redação de jornais, jardins públicos e... (novidade!) fábricas, as primeiras fábricas a vapor da capital paulista.
A intenção do engenheiro Fernando de Albuquerque e do litógrafo Jules Martin com a criação desta planta era certamente orientar as pessoas
do Interior que vinham tratar de negócios em São Paulo e os estrangeiros que chegavam para trabalhar na Capital. Afinal, o
presidente da Província João Teodoro Xavier (1872-1875) iniciara durante seu governo uma campanha de embelezamento da cidade,
pensando especialmente nos fazendeiros de café que com regularidade vinham a São Paulo ou até mesmo se mudavam para cá. Muitos
deles, na verdade, se mostravam tão interessados em expandir seus negócios, que começaram a se dedicar a atividades econômicas
urbanas. Graças à pujante riqueza gerada pela economia agro-exportadora do Oeste paulista e à farta distribuição de concessões de privilégios
feita pelo governo, passaram os representantes desse novo setor empresarial a explorar rendosos serviços urbanos numa cidade até então
quase totalmente desprovida de infra-estrutura. Seriam assim organizados, ao longo dos decênios de 1870 e 1880, vários serviços
públicos: o transporte coletivo (carros à tração animal), em 1872; a luz a gás, nesse mesmo ano; a rede de água e esgotos, em 1883;
o telefone, em 1884, e a luz elétrica em 1888.
Também os edifícios da cidade haviam evoluído bastante. Desde o final dos anos 1850, construía-se com tijolos e de acordo com uma estética
divulgada a partir da Corte, o estilo neoclássico. As mais importantes edificações da cidade de então, geralmente desse estilo,
foram devidamente ilustradas por Martin: o feio e inacabado
Teatro São José (n.48), erguido de 1858 a c.1862, mas totalmente
reformado entre 1875 e 1876 por Antônio da Silva Prado, então atuando como empresário teatral; o belo
Hospital da Beneficência
Portuguesa (n.51), projetado em 1866 pelo arquiteto português Manuel Gonçalves da Silva Cantarino, construído entre 1873 e 1876;
o portão do
Cemitério da Consolação, executado pelo canteiro alemão João Beck em 1863 (n.31), e o
Palácio do Tesouro (n.32).
Este último fora iniciado no tempo de João Teodoro (1873) como um edifício de destinação completamente estapafúrdia: no térreo,
com arcadas, funcionaria um mercado de verduras, enquanto o primeiro andar seria reservado para uma repartição pública,
o Tesouro Provincial. Pessimamente construído pelo capitão da Guarda Nacional Antônio Bernardo Quartim, protegido de
João Teodoro, o edifício foi inteiramente modificado no tempo do presidente Sebastião Pereira (1875-1878), sucessor de Teodoro.
A obra ficou a cargo do engenheiro militar a serviço da Província Felipe Hermes Trigo de Loureiro, sendo o edifício
inaugurado em 1877. Tido como o melhor edifício público de São Paulo da época, nele se deu no mesmo ano o baile de inauguração da
Estação do Norte, também ela um prestigioso edifício de estilo neoclássico (18 V).
Mas na mesma década de 1870, ao lado das construções neoclássicas, começaram a surgir edifícios que seguiam outras
tendências estilísticas, de cunho historicista, características do período do Ecletismo: a
Igreja Evangélica (L), de 1873,
em estilo gótico inglês – desprovida de torre, porque a Constituição de 1824 proibia a construção de elementos externos
que denunciassem a natureza religiosa das construções destinadas a templos acatólicos –; a
escola de primeiras letras (16 IV)
construída pelo governo da Província no Largo do Arouche e inaugurada em 1877, de autoria do inspetor de
Obras Públicas Elias Fausto Pacheco Jordão, diplomado e doutorado nos EUA (o estilo da escola adotava elementos do Gótico
Perpendicular inglês, usado em escolas americanas); além da própria
Escola Americana (39), erguida entre
1875 e 1876, com projeto trazido dos EUA. Esta não seguia propriamente nenhum estilo historicista, porque, na verdade, se
baseava nas construções domésticas norte-americanas de tendência vernácula.
Não devemos nos esquecer ainda que a planta ilustrada de Martin foi objeto de uma edição posterior, com a mesma data (julho de 1877),
acrescida da imagem da importante construção eclética do
Grande Hotel (n. 82), projetado e construído entre 1876 e 1878, segundo os
padrões neo-renascentistas, de autoria do engenheiro alemão Hermann von Puttkammer (1842-1917) e seu sócio Carlos Arno Gierth. Ao que
parece, a representação desse marco da história da hotelaria paulistana foi considerada tão imprescindível pelo ilustrador, que justificou
a edição revisada da planta aqui em análise. (Ver trecho da edição atualizada em TIRAPELI, Percival.
São Paulo Artes e etnias.
São Paulo:Unesp, 2007. fig.97).