INTRODUÇÃO
Dentre as edições comemorativas que vieram à luz durante as festividades que marcaram o transcorrer dos 400 anos da cidade de São Paulo,
destaca-se o álbum de plantas históricas intitulado
São Paulo Antigo: Plantas da Cidade, que a Comissão do IV Centenário houve por bem mandar publicar em 1954. Compõe-se esse álbum de reproduções de 11 das plantas da cidade que cobrem o período compreendido entre 1810 e 1897.
Na época, era intenção da Comissão do IV Centenário, conforme prefácio de autoria de Sérgio Milliet (e dentro do espírito ufanista e de otimismo que presidiu todas aquelas comemorações), não apenas documentar o extraordinário fenômeno demográfico, econômico e social ocorrido na cidade de São Paulo durante o século XIX, mas infundir aos cerca de dois milhões e trezentos mil habitantes da cidade gigante de 1954 a confiança necessária à continuação de um esforço de crescimento e progresso, até então sem precedente na história brasileira.
Ao longo dos últimos 55 anos, esse conjunto de plantas históricas revelou-se muito mais do que mera curiosidade posta ao alcance do público; passou a constituir um imprescindível instrumento de pesquisa para todos aqueles que se interessam em aprofundar seus conhecimentos sobre a São Paulo do período colonial, imperial e da Primeira República. São inesgotáveis as informações que se podem extrair desses documentos gráficos: dados relativos às diferentes etapas de desenvolvimento urbano, reconstituição do traçado de antigos caminhos, determinação da posição de ângulos de tomada de velhas fotografias, identificação e datação de construções antigas da cidade, etc.
As 11 plantas então reproduzidas eram todas pertencentes ao Museu Paulista da USP – importante fato omitido na edição de 1954. Dessas 11
plantas, três eram reproduções de plantas originais (
Planta da Cidade de S. Paulo, de 1810,
Mapa da Imperial Cidade de São Paulo,
de 1855 e
Planta da Cidade de São Paulo, de 1868); duas, reproduções de cópias impressas (
Planta da Capital do Estado de S. Paulo,
de 1890, e
Planta Geral da Capital de São Paulo, de 1897) e seis, cópias executadas por desenhistas na primeira parte do século XX,
a partir de documentos gráficos originais ou de cópias mais antigas ou ainda de exemplares impressos (
Planta da Imperial Cidade de S. Paulo,
levantada em 1810 e redesenhada com atualizações em 1841, copiada em 1915 e recopiada em 1918;
Mapa da Cidade de São Paulo e seus
Subúrbios, de data desconhecida – entre 1844 e 1847, certamente –, desenhada em 1919;
Planta da Cidade de São Paulo, de 1841,
copiada em 1861 e de novo copiada em 1918;
Carta da Capital de São Paulo, de 1842,
Mapa da Capital da Província de S. Paulo, de
1877, e
Planta da Cidade de São Paulo, de 1881).
Infelizmente, as cópias executadas por desenhistas, encomendadas certamente pelo insigne historiador Afonso D’Escragnole Taunay, quando
diretor do Museu Paulista, apresentam hoje um problema grave: por haverem sido confeccionadas tendo papel translúcido (vegetal) como
suporte, esses documentos resistiram muito mal à passagem do tempo. Embora recentemente restauradas pelas mãos hábeis de técnicos do
Museu Paulista, a degradação desses documentos é irreversível. Diante dessa constatação, torna-se preciosíssima a edição de 1954,
ficando elevadas algumas reproduções à condição de fontes originais.
Como forma de assinalar a proximidade da passagem do 455º aniversário da cidade de São Paulo, a Divisão do
ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL (DPH, SMC), decidiu colocar online as onze plantas publicadas em 1954. A edição original de 3000 exemplares encontra-se há muito esgotada e sua disponibilização eletrônica vai, certamente, ao encontro da expectativa de pesquisadores e do público em geral. Sobretudo quando se atenta para a dramática situação acima referida relativa à maioria dos documentos cartográficos então reproduzidos.
A edição que ora o Arquivo Histórico Municipal dá a lume não se limita, porém, à mera divulgação do álbum do IV Centenário. Optou-se por
uma edição crítica, que reproduzisse as onze impressões cartográficas publicadas em 1954, cronologicamente reordenadas, acompanhadas
de informações técnicas básicas relativas aos documentos que deram origem a essas reproduções e de minuciosa análise das informações
que eles contêm.
Com as novidades introduzidas, esperamos que se possa apreender com facilidade a fantástica transformação da tímida cidadezinha do tempo
colonial, com nove mil e tantos moradores, numa aglomeração humana de fins do século XIX, em rápido e desordenado crescimento, então
considerada uma das mais importantes cidades do País, contando com mais de 200.000 habitantes.
Arquiteto Eudes Campos
Pesquisador do
Arquivo Histórico Municipal
Para citação adote:
CAMPOS, Eudes. São Paulo antigo: plantas da cidade.
INFORMATIVO ARQUIVO HISTÓRICO MUNICIPAL, 4 (20): set/out.2008 <http://www.arquivohistorico.sp.gov.br> (consulta em dd.mm.aaaa)