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São Paulo, setembro/outubro de 2008
Ano 4 N.20 

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  • 1897

  • PLANTA N. 11

    PLANTA GERAL DA CAPITAL DE SÃO PAULO

    PLANTA GERAL DA CAPITAL DE SÃO PAULO,1897
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    PLANTA GERAL DA CAPITAL DE SÃO PAULO
    Organisada sob a direcção do Dr Gomes Cardim
    – 1897 –
    Escala de 1:20.000.
    • Dimensões originais: 600 x 845 mm
    • Documento íntegro, com perdas nas bordas. Muito escurecido pela acidificação do suporte.
    • Técnica do original: impressão sobre papel.
    • Exemplar impresso pertencente ao Museu Paulista-USP.
    • Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954.


    ANÁLISE

    A planta de 1897 apresenta limites extraordinariamente expandidos: ao norte, atinge o Largo de Santana; ao sul, a Vila Clementino, num ponto abaixo do sítio em que o Matadouro Municipal fora inaugurado dez anos antes (Rua Loefgren); a leste, a recém-loteada Vila Gomes Cardim, e a oeste, o bairro da Água Branca e a Freguesia do Ó, localizados na saída da estrada de Jundiaí e Campinas. Registra a verdadeira explosão urbana ocorrida na cidade durante a última década do século XIX, quando a população saltou de 65 000, em 1890, para 240 000 habitantes em 1900.

    Como vimos anteriormente, desde o final dos anos 1850 se vinha desenvolvendo em São Paulo uma forte tendência especulativa, em razão da iminente construção da primeira ferrovia paulista (Santos-Jundiaí). Mais tarde, tornaram-se comuns os loteamentos particulares, sobretudo em conseqüência da crise inflacionária de 1875. E por essa mesma época, fizeram-se igualmente freqüentes as manobras executadas pelas elites para atrair o desenvolvimento urbano para suas terras. A esse respeito, por exemplo, é bem conhecido o caso de membros da família Pais de Barros – de fato, uma aglomeração de várias famílias influentes da cidade – que, na qualidade de irmãos ou aspirantes a irmãos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, forçaram, em 1880, a instituição a transferir o seu hospital, que ia ser construído no bairro da Bela Vista, na zona sul da cidade, para um lote por eles adquirido nos altos de Santa Cecília (hoje Vila Buarque), na zona sudoeste, próximo dos terrenos de que já eram proprietários.

    Em virtude de todo esse processo especulativo, foi-se configurando em São Paulo uma nova estrutura urbana. A área central, chamada Triângulo, agora quase totalmente dominada pelo comércio e serviços, adensava-se e era tomada por nova tipologia arquitetônica: construções de três pavimentos que começavam a se alastrar pelo Centro a partir dos últimos anos 1880 – sedes de instituições bancárias e prédios com lojas no térreo e apartamentos residenciais ou salas de escritórios nos andares superiores. Concomitantemente, iam os loteamentos particulares tomando o lugar das antigas chácaras. Com suas ruas ortogonalmente dispostas, esses empreendimentos imobiliários, desde então, passaram a ser a forma característica de criação do espaço urbano paulistano.

    Os terrenos mais procurados para a expansão da Capital eram os de melhor localização, encontráveis ao longo dos antigos caminhos que percorriam as terras altas, preferentemente os situados ao norte e a oeste, atuais bairros da Luz, Santa Ifigênia, Campos Elísios e, pouco mais tarde, nos anos 1890, Vila Buarque e Higienópolis (em geral bairros residenciais ocupados pelas camadas mais altas da sociedade). Os mais desfavoráveis eram os situados em regiões ribeirinhas, inundáveis durante o período das chuvas, em parte adquiridos pelas companhias ferroviárias que por aí estenderam suas linhas. A presença de linhas férreas nessas regiões desocupadas atrairia as primeiras indústrias e, conseqüentemente, as moradias da massa trabalhadora, sempre em constante aumento. Isso ocorreu no Brás, no Pari, na Mooca (cujas datas pantanosas já estavam sendo distribuídas a imigrantes em 1876) e no Bom Retiro, que segundo Raffard vinha sendo ocupado por operários desde 1890. Aos poucos, São Paulo adquire uma conformação tentacular, com grandes vazios em seu interior (compostos de glebas reservadas para a especulação e vales profundos de difícil acesso e ocupação), praticamente inexistindo ligações viárias entre suas diferentes partes.

    Com a crescente atuação da iniciativa privada, deixa o Estado de ser o agente da produção do espaço da cidade, como ainda acontecia em meados do século XIX. Passa agora a atuar apenas normativamente, ou quando se torna necessário estabelecer a interligação entre os vários loteamentos esparsos, na busca de conferir alguma coesão à colcha de retalhos a que se reduz daí por diante a estrutura urbana paulistana.

    Um relatório encaminhado em 1891 ao governo estadual descrevia muito bem a situação vivida por uma cidade submetida a um processo de intensa e descontrolada expansão. Embora fundada havia três séculos, São Paulo podia ser considerada uma cidade nova. Dois terços da cidade eram de data muito recente. As edificações antigas desapareciam com rapidez, ao mesmo tempo em que bairros novos se formavam da noite para o dia. A Capital apresentava então todos os defeitos inerentes às cidades de desenvolvimento rápido: desigualdades nos arruamentos, irregularidades nas construções realizadas sem plano premeditado, largas superfícies sem os ora indispensáveis melhoramentos reclamados pela higiene, grandes espaços desocupados ou muito irregularmente utilizados, e a par de tudo isso uma população que triplicara em apenas dez anos.

    O advento da República também foi responsável por introduzir novidades na esfera administrativa dos municípios: as Câmaras haviam sido suspensas e substituídas pelos Conselhos de Intendência Municipal e a Lei Estadual n. 16, de 13 de novembro de 1891, art.38, §1°, estabeleceu que, uma vez extinto o tradicional rossio (área que constituía o patrimônio municipal e dentro de cujos limites exerciam o seu poder as Câmaras Municipais), ficava criado em seu lugar nas povoações de mais de mil almas um círculo com seis quilômetros de raio. As terras devolutas contidas nesse círculo poderiam, em caso de necessidade, ser alienadas como forma de aumentar as rendas municipais. Fato que desencadeou um processo de natureza privatista que, no caso de São Paulo, se arrastava desde 1852, quando a Câmara havia cogitado pela primeira vez pôr à venda os terrenos desocupados de seu patrimônio.

    A Planta de 1897 reflete muito bem tudo o que vimos descrevendo. Confeccionada por ordem do Intendente de Obras o advogado Dr. Pedro Augusto Gomes Cardim (1864-1932), parece ter sido elaborada, no entanto, para atender mais os interesses particulares do intendente do que o interesse público. O que adivinhamos por trás da execução desta carta são os supostos negócios de Gomes Cardim, provavelmente preocupado em convencer eventuais compradores de que o loteamento de sua propriedade, denominado Vila Gomes Cardim, estava situado numa região já bastante desenvolvida, entre a 5.ª e a 6. ª parada da Estrada de Ferro Central do Brasil.

    Somos levado a desconfiar das intenções do intendente diante da constatação de que parte da área arruada registrada neste documento cartográfico era completamente ilusória – em que pese o extraordinário incremento populacional da cidade sofrido ao longo daqueles anos. Ao cotejá-lo com plantas posteriores, verificaremos que, nas últimas, o tecido urbano paulistano se mostrava bem mais esgarçado do que na planta de 1897. Isso acontecia principalmente nas regiões mais remotas da cidade, onde os arruamentos de fato executados sempre se revelavam menos densos e completos do que na planta de Cardim. Se analisássemos as plantas da cidade de 1905 e de 1928, por exemplo, iriamos observar que o traçado viário nos subúrbios adquiriu, por vezes, uma configuração bastante diferente, fazendo-nos acreditar que a área urbanizada em 1897 era bem menos extensa do que Gomes Cardim queria fazer crer. Tal fenômeno pode ser constatado, por exemplo, no bairro do Ipiranga, na Vila Prudente, na Vila Cerqueira César, em Perdizes, na região posteriormente ocupada pelo Parque do Ibirapuera e na própria Vila Gomes Cardim.

    No destaque, vemos a Planta do Município da Capital de São Paulo, na escala de 1: 300 000. Aí, entre outras coisas, se nota um quadrado feito de linhas pontilhadas, representando o Perimetro antigo. Trata-se do velho rossio da Capital, concedido em 1724 pelo governador Rodrigo César de Menezes. Numa época em que esteve em vigor o sistema de propriedade comunal da terra urbana, cabia à Câmara administrar os terrenos integrantes do patrimônio municipal, reservando áreas para logradouros públicos, para a abertura de vias e para a distribuição de datas de terras entre os munícipes. Foi medido pela primeira vez, de forma muito precária, em 1769, quando marcos de madeira foram chantados à beira dos caminhos cuja orientação mais se aproximava dos quatro pontos cardeais. Só se procedeu à sua medição científica em data muito tardia, no ano de 1887, pouco antes de o rossio desaparecer definitivamente em 1891. Parece-nos particularmente relevante essa informação, porque até hoje certos pesquisadores insistem em afirmar que a conformação do rossio era circular, com raio de meia légua (3300 m). Como podemos facilmente constatar neste detalhe, o rossio era na realidade uma área quadrada com uma légua de lado e seu centro, no caso de São Paulo, posicionava-se junto de um dos cantos da porta da catedral. Na verdade, o equívoco cometido acerca da forma do rossio deve ser atribuído ao modo obscuro com que era descrita nos antigos documentos a maneira de proceder à sua medição.

     
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