Informativo Arquivo Histórico Municipal - logotipo
 
PMSP/SMC/DPH
São Paulo, setembro/outubro de 2008
Ano 4 N.20 

Abertura | Introdução | Mapas | 1810 | 1841 a | 1841 b | 1842 | 1847 | 1855 | 1868 | 1877 | 1881 | 1890 | 1897 | Referências

  • 1868

  • PLANTA N. 7

    PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO

    PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO,1868
    Para visualizar uma imagem de maiores dimensões, clique na imagem.
    Salve o arquivo em seu computador para visualização ampliada



    PLANTA DA CIDADE DE SÃO PAULO
    – 1868 –

    • Atribuída a Carlos Frederico Rath
    • Petipé de 100 metros
    • Petipé de 400 braças
    • Dimensões originais: 470 x 500 mm (sem moldura)
    • Documento íntegro, embora muito escurecido pela acidificação do suporte.
    • Técnica do original: Tinta ferrogálica e nanquim sobre papel; o papel foi colado sobre papel, por sua vez colado sobre tecido e esticado sobre chassis (obra de restauração).
    • Original pertencente ao Museu Paulista-USP
    • Reprodução a partir da versão publicada pela Comissão do IV Centenário, em 1954


    ANÁLISE

    Tradicionalmente esta planta é atribuída a Carlos Rath, que a teria confeccionado, tal como a Planta de n.6, para seu uso pessoal. Fê-la, sem dúvida, durante o segundo período em que esteve à disposição da Câmara Municipal de São Paulo, entre os anos de 1868 e 1872.

    É o primeiro documento cartográfico a trazer o percurso da linha férrea inglesa, iniciada em 1860 e inaugurada sete anos mais tarde. A ferrovia aproximava-se da Capital pela Várzea do Tamanduateí, a sudeste, atravessava a área habitada, ao norte, invadindo uma parte do Jardim da Luz, e se dirigia a noroeste em direção a Jundiaí. A planta e, sobretudo, as anotações posteriores feitas por Rath, testemunham as rápidas mudanças que inseririam a pequena cidade provinciana no âmbito da cultura burguesa e capitalista então em difusão nas partes mais adiantadas do Brasil. Até mesmo nomes novos de ruas haviam sido adotados oficialmente em 1865, ficando as tradicionais denominações populares, às vezes tão cruas, substituídas por nomes mais “convenientes”, relativos a pessoas ilustres ou então alusivos a fatos e datas comemorativas da história pátria. Os principais edifícios da Capital continuavam sendo igrejas e conventos, mas agora vemos também assinalados sedes de jornais, tipografias, boticas e colégios, o que demonstra que a cidadezinha começava a ter uma vida urbana mais intensa.

    Embora em funcionamento havia um ano, a ferrovia ainda não produzira alterações significativas. Um artigo publicado na imprensa diária, datado de 1873, censurava o fato de a Província desfrutar naquela altura de boas condições econômicas, garantidas pelo transporte ferroviário, enquanto as cidades não se beneficiavam ainda com esse rápido enriquecimento, principalmente a Capital, sempre às voltas com o problema de abastecimento de água, sem edifícios públicos importantes, sem ruas bem calçadas, sem praças arborizadas, etc.

    A realidade física da cidade permanecia aparentemente imutável, porém, desde alguns anos vinha ocorrendo um importante fenômeno, cujas conseqüências eram ainda impalpáveis. Desde que ficara decidida a construção da ferrovia de Santos a Jundiaí, ligando o interior paulista produtor de café ao porto exportador, a todos ficara evidente que a Capital seria diretamente beneficiada com essa ligação viária. Alçando-se à condição de centro financeiro da Província, São Paulo tornar-se-ia pólo de atração para todos os interessados na comercialização e na exportação da principal produção agrícola da região, o café.

    Certas de que a cidade atrairia grande contingente populacional em decorrência do aumento do volume de negócios, as elites passaram a exercer forte pressão sobre a Câmara para que se iniciasse imediatamente uma farta distribuição de datas de terra aos munícipes. A distribuição de terrenos devolutos estava suspensa desde 1854 e fora condicionado o seu reinício à confecção de uma planta oficial que não só mapeasse todos os terrenos distribuídos e a distribuir dentro do rossio, como também contivessem o traçado de ruas e praças futuras que a administração municipal achasse conveniente mandar abrir. Sem condições para fazer com que essa planta cadastral fosse produzida, a Câmara decidiu solicitar ao governo provincial ser liberada de tal exigência. Alcançado o seu intento em 1859, a Edilidade retomou a distribuição gratuita de datas de terra, de modo a favorecer, como sempre, as camadas dominantes. Os documentos camarários a partir desses anos conservam ecos de uma política de distribuição de datas injusta e discriminatória, que resultou na concentração das datas de melhor localização nas mãos de uns poucos concessionários. Paralelamente aos casos de concentração irregular de grande número de datas nas mãos de um mesmo concessionário, ocorreriam até fins do Império freqüentes casos de apropriação indébita de terrenos devolutos e de uso comum, o que revela a demanda desordenada por terrenos numa cidade que, todos previam, em breve passaria por um período de acentuado crescimento demográfico e de intensa urbanização. Antes que os ricos fazendeiros se transferissem para São Paulo, como era esperado, e antes mesmo que grandes levas de imigrantes inundassem a cidade, já estava configurada uma intensa especulação fundiária na capital paulista. Os indícios são facilmente identificados por meio da documentação escrita, mas ela praticamente não transparece na documentação cartográfica que estamos analisando.

    Os limites da planta de 1868 eram quase os mesmos das cartas anteriores: ao norte, vemos a Ponte Pequena, surgida com a canalização do Tamanduateí, aquém da Ponte Grande; ao sul, o velho caminho do Mar (Rua da Glória e Lavapés); a leste, iam um pouco além da igreja do Brás e, a oeste, até o Largo do Arouche. A cidade, com 31000 habitantes em 1872, ainda conseguia conter sua área urbanizada dentro dos mesmos limites de muitas décadas atrás, embora a Freguesia da Consolação viesse a ser desmembrada da de Santa Ifigênia em 1870.

    Duas coisas, porém, nos chamam a atenção nesta planta: de um lado, as anotações de Rath, feitas à mão livre em papel colado à planta original, referentes à captação de água potável para a Capital, prova de que os problemas de abastecimento perduravam, e, de outro, os arruamentos posteriormente abertos em chácaras situadas nas imediações da Capital, indicadores de uma especulação fundiária tornada visível a partir de meados da década de 1870, e cuja intensidade se fará notar de modo escancarado na Planta de n.11, datada de 1897.

    Os acréscimos rabiscados por Rath são fruto de sua contínua preocupação com as vertentes existentes nos arredores da cidade. Tal como vimos no documento cartográfico anterior, também aqui fez o engenheiro alemão complementações na parte relativa à região oeste da cidade, traçando o curso de ribeirões que alimentavam o Tanque Reúno (Mandiocal, Saracura e Saracura Mirim). À beira da estrada de Sorocaba, em ponto aquém do Cemitério Municipal, situou a Chácara do Capão, então pertencente a um rico negociante e empresário de obras públicas da Capital proveniente de Santo Amaro, major Antônio Benedito da Silva. Nesse local seria instalado anos depois o reservatório de distribuição da Companhia Cantareira (1878-1881). Reservatório cuja entrada se dava por um portão monumental posicionado em frente da embocadura da atual Rua Piauí (demolido com o alargamento da Rua da Consolação na década de 1960). Prolongou ainda Rath os leitos dos Ribeirões do Bexiga e do Anhangabaú até às suas nascentes, e, junto do Anhangabaú, localizou o matadouro municipal. Essa construção fora erguida por Bresser durante os anos de 1849 a 1852, entre o citado ribeirão e o novo caminho de Santos. Aberta entre 1862 e 1863 por um particular, o fazendeiro e comendador José Vergueiro, a nova estrada para o litoral seguia pelas atuais Avenida Liberdade e Rua Vergueiro.

    Na Várzea do Carmo introduziu igualmente complementações em torno do Mercado Municipal. Esse estabelecimento era de autoria de um engenheiro inglês, Newton Benaton, e foi erguido entre 1865 e 1867.

    Ao mesmo tempo que mantinha a atenção voltada para os cursos d’água que poderiam ser canalizados, Rath procurava atualizar, embora de maneira imprecisa, a planta já finalizada, traçando nela os arruamentos posteriormente abertos em antigas chácaras: a do Campo Redondo, por exemplo, na parte que se encontrava, em 1872, em mãos do Barão de Mauá (prolongamento das Ruas Aurora e Vitória e abertura das Ruas dos Gusmões, General Osório e Duque de Caxias); a dos Ingleses, localizada nas proximidades do caminho velho do Mar, loteamento pertencente à Santa Casa de Misericórdia, oficializado em 1874, e ao qual já fizemos menção ao analisarmos a Planta n.6; a do Barão de Itapetininga, cujas ruas demoraram muito para serem abertas (Rua Formosa, em 1855; Barão de Itapetininga, em 1877; 24 de Maio e Conselheiro Crispiniano, em 1881, e Rua 11de Junho – atual D. José de Barros –, em 1882).

    Na região da Luz acrescentou a trama de várias ruas, entre elas, a de João Teodoro, aberta em 1874 a mando do presidente da Província desse nome. Seria essa a via que poria em contato pela primeira vez os bairros da Luz e do Brás, até então localidades completamente isoladas uma da outra.
    No alto da planta, sob a data de 1868, Rath também escreveu o nome da Chácara do Bom Retiro. E perto dessa propriedade identificou as terras então pertencentes ao engenheiro americano Charles D. Dulley, engenheiro chefe da ferrovia de São Paulo ao Rio de Janeiro, inaugurada em 1877. Essas terras seriam loteadas mais tarde, e, por uma planta do loteamento datada de 1904, vemos que tinham por limites as Ruas Correia de Melo, Ribeiro de Lima, da Graça, Silva Pinto e Guarani, estando situadas as construções principais da propriedade na quadra hoje ocupada pelo atual Colégio Santa Inês.

     
    EXPEDIENTE

    coordenação
    Liliane Schrank Lehmann

    edição de texto
    Eudes Campos

    webdesigner
    Ricardo Mendes

    distribuição
    Maria Sampaio Bonafé (coordenação)
    Elisabete De Lucca e Irene do Carmo Colombo


    Normas Editoriais
    (2007) (formato PDF)

     
    Para receber o Informativo Arquivo Histórico Municipal
    - ou suspender a remessa -,
    envie um e-mail para:
    informativoarquivohistorico@prefeitura.sp.gov.br
     




    Prefeitura da Cidade de São Paulo - 2005-2008 ©



    DPH


    SECRETARIA DE CULTURA


    Cidade de São Paulo


    Gilberto Kassab
    Prefeito da Cidade de São Paulo

    Carlos Augusto Calil
    Secretário de Cultura

    José Roberto Neffa Sadek
    Secretário Adjunto

    Paulo Rodrigues
    Chefe de Gabinete

    Walter Pires
    Departamento do Patrimônio Histórico

    Liliane Schrank Lehmann
    Divisão do Arquivo Histórico Municipal Washington Luís
    Informativo AHM